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Verbete Draft: o que é ESG

Dani Rosolen / 3 mar 2021
O termo ESG serve para medir o quão engajada uma empresa está em minimizar impactos ambientais, cuidar de seus funcionários e comunidades e melhorar seus processos de administração interna (foto: Pexels).
Dani Rosolen - 3 mar 2021
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Continuamos a série que explica as principais palavras do vocabulário dos empreendedores da nova economia. São termos e expressões que você precisa saber: seja para conhecer as novas ferramentas que vão impulsionar seus negócios ou para te ajudar a falar a mesma língua de mentores e investidores. O verbete de hoje é…

ESG

O que é: ESG é o acrônimo, em inglês, de Environmental, Social and Governance. Em português também é utilizada a sigla ASG (Ambiental, Social e Governança).

O termo serve para medir o engajamento de uma empresa em minimizar impactos ambientais, cuidar de seus funcionários e das comunidades em seu entorno e melhorar seus processos de administração interna, combatendo fraudes e garantindo atividades éticas. Ou seja, o compromisso da empresa com a sustentabilidade, em todos esses quesitos.

ESG também serve como critério para investidores e fundos aportarem ou não dinheiro em uma companhia. Em vez de avaliar apenas questões financeiras, os fundos ESG ou verdes se preocupam com como aquela empresa lida com o meio ambiente, a questão social e a governança. É o famoso “entre ganhar dinheiro e mudar o mundo, fique com os dois”.

 Pilares: E, de Environmental ou Ambiental

Denota o que a empresa faz para preservar o meio ambiente e quais medidas toma em relação a questões como poluição, emissões de gases de efeito estufa, gestão de resíduos etc.

“Esse pilar não é só sobre fazer coleta de lixo ou plantar mudas de árvore. Quando falamos de meio ambiente, podem ser práticas mais simples e, ao mesmo tempo, mais amplas, como a questão do uso da água, por exemplo”, afirma Jefferson Kiyohara, diretor de Compliance & Sustentabilidade na ICTS Protiviti.

S, de Social

Refere-se aos cuidados que a empresa tem com seus funcionários e também com as comunidades. Internamente, pode ser assegurar o cumprimento das leis trabalhistas e o bem-estar dos funcionários, manter medidas de segurança para os colaboradores ou adotar uma política de contratação focada na diversidade, levando em conta gênero, raça e orientação sexual.

Com o público externo, os clientes, se aplica neste pilar as práticas de diretos do consumidor, proteção de dados e privacidade. E com a comunidade do entorno, a manutenção de uma boa relação, apoio e fortalecimento da economia local.

Segundo Jefferson:

“Hoje não basta a empresa falar que cumpre seu papel social, gera empregos e paga seus impostos. Ok, bacana isso é mais do que a obrigação, mas o que é esperado além disso? Que, de fato, as empresas ajudem a construir um mundo melhor”

– G, de Governance ou Governança      

Esse pilar tem como foco os princípios levados em conta na hora de gerir a empresa, como instauração de auditorias, definição de responsabilidades, manutenção da transparência, composição equilibrada e diversa do conselho, prestação de conta, gerenciamento de conflitos de interesse etc.

“Em Governança há também a preocupação com compliance, código de ética e canais de denúncia”, afirma.

Polêmicas da terminologia: Jefferson diz que o termo é uma maturação do conceito de sustentabilidade, tema que, segundo ele, já é discutido desde o século 16.

“Por volta e 1560 começou na Alemanha um movimento de preocupação com o uso da madeira, usada para a fabricação de navios e carvão. À medida que a população foi crescendo, a demanda por esse tipo de material também aumentou e começou a faltar. Então, eles precisaram criar uma cultura para conseguir usar o recurso e, ao mesmo tempo, ter de novo quando fosse necessário.”

Já no século 20, de acordo com ele, um divisor de águas foi quando, em meados da década de 1960, o mercado financeiro começou a se preocupar com questões como o envolvimento da empresas que estavam apoiando ou ganhando dinheiro de regimes totalitários.

“Essa divulgação do conceito de sustentabilidade corporativa ganhou ainda mais relevância em 1997, com o lançamento do livro Canibais com Garfo e Faca, de John Elkington, que trazia o conceito do Triple Bottom Line, com os três “Ps”: Profit [lucro], People [pessoas] e Planet [planeta].”

Mas há quem discorde que ESG é uma evolução ou tenha relação com o termo sustentabilidade ou sustentabilidade corporativa. Heiko Hosomi Spitzeck, professor e gerente do Núcleo de Sustentabilidade da Fundação Dom Cabral, escreveu a respeito na Época Negócios (link no item “Para Saber Mais”), rebatendo a ideia de quem pensa que os termos, apesar de diferentes, significariam a mesma coisa:

“Eles argumentam que ESG é só um novo conceito na ‘sopa de letrinhas’ e dão ‘boas-vindas ao museu das grandes novidades’. Citam que o mercado financeiro já olhou para a sustentabilidade com conceitos como os princípios de investimentos responsáveis inaugurados pelas Nações Unidas em 2006. Olhando para a discussão dos últimos anos, este grupo também observa que a nomenclatura mudou várias vezes começando com o balanço social, indo para responsabilidade social corporativa, sustentabilidade corporativa e agora ESG. Então veem ESG como mais um nome para a mesma coisa.”

No seu artigo, ele diz ver os conceitos de forma diferente — mas conclui que pouco importa como os executivos chamam isso, e sim o impacto: “[o termo] ESG é particularmente útil porque vem do mundo financeiro e isso colocou a discussão na alta liderança. E isso é novo! Precisamos aproveitar o momento e não estragar a oportunidade de conversar com a alta liderança por insistir em nomenclaturas [como “sustentabilidade”] que não façam sentido para eles.”

Quando surgiu: A sigla ESG apareceu, de fato, pela primeira vez em um relatório de 2004 da ONU chamado “Who Cares Wins – Connecting Financial Markets to a Changing World” (“Ganha quem se importa — Conectando o Mercado Financeiro para Mudar o Mundo”).

Na ocasião, 20 instituições financeiras de nove países, entre eles o Brasil (representado pelo Banco do Brasil), se reuniram para elaborar diretrizes sobre como incluir questões ambientais, sociais e de governança na gestão de ativos.

Em 2006, enfim, foi criado o Principles for Responsible Investment (PRI), uma rede internacional de investidores apoiada pelas Nações Unidas que propagou o conceito de investimento responsável.

De volta ao radar: Apesar do termo ter despontado no início dos anos 2000, ESG ganhou maior dimensão nos últimos anos — sobretudo em 2020.

Há alguns motivos para isso. O primeiro é a maior atenção das pessoas às mudanças climáticas, de acordo com Jefferson.

“A população começou a se preocupar com o meio ambiente, surgiram nomes como o da Greta Thunberg trazendo o assunto para o debate, documentários e a própria mídia. As pessoas começaram a perceber o impacto no dia a dia. Com o vazamento de óleo que aconteceu no Nordeste [em 2019], por exemplo, desde as pessoas que caminhavam e comiam frutos do mar até os pescadores e os comércios ao redor foram afetados”

O olhar dos fundos de investimentos para o tema também ajudou a turbinar o conceito. Em janeiro de 2020, Larry Fink, diretor da BlackRock, maior gestora de investimentos do mundo (com mais de 8 trilhões de dólares em ativos), escreveu, em sua carta anual a diretores executivos das empresas investidas, pedindo que ajustassem o impacto de seus negócios levando em conta as exigências climáticas. Agora, em 2021, ele focou, entre outros temas relacionados à sustentabilidade, na transição para uma economia neutra em carbono (acesse a carta aqui):

“Tendo em vista que a transição energética será um tema central para as perspectivas de crescimento de todas as empresas, estamos pedindo que elas divulguem um plano de como o seu modelo de negócios será compatível com uma economia neutra em carbono, ou seja, na qual o aquecimento global fique limitado bem abaixo de 2 °C, de acordo com as aspirações globais de zero emissões de gases do efeito estufa até 2050. Estamos pedindo que você divulgue como esse plano será integrado na sua estratégia de longo prazo e analisado pelo seu conselho de administração.”

A Covid-19 também intensificou o olhar corporativo para o ESG, dentro da percepção de que a interferência desenfreada da humanidade na natureza contribuiu para a disseminação do vírus. Além disso, em momentos de incertezas, é normal que investidores busquem empresas que ofereçam menos riscos — ou seja, que sigam critérios de sustentabilidade em relação ao meio ambiente, à sociedade e à governança.

Quais as vantagens: Para as empresas que adotam os pilares de ESG, há chance de conquistar mais investimentos. No Brasil, o Índice de Sustentabilidade Empresarial da B3 apresenta rentabilidade de 297% desde sua criação, em 2005, contra 245% do Ibovespa no mesmo período.

A vantagem não é apenas econômica, diz Jefferson:

“Uma empresa que trabalha com diversidade e inclusão é mais criativa, consegue identificar novos nichos e novas oportunidades”

Esses negócios se tornam, ao longo do tempo, mais eficientes (reduzindo custos e problemas legais) e adaptáveis a mudanças.

Para os investidores que apostam em empresas com essas credenciais, há menos riscos e maiores retornos. Segundo um relatório da BlackRock, 94% dos produtos de investimento sustentável apresentaram desempenho superior aos convencionais em 2020.

Como aplicar no dia a dia: Jefferson explica que não é necessário ter dentro da empresa um especialista em ESG para adotar práticas sustentáveis. “No entanto, algum executivo precisa ficar responsável por cobrar prioridade e orçamento para essa agenda e é necessário que haja o patrocínio da alta direção em relação ao assunto.”

O passo inicial deve ser fazer um diagnóstico para entender como cada um dos pilares está representado dentro da organização, o que isso tem de relevância para o negócio e o que ainda precisa ser feito. “O diagnóstico deve gerar uma análise de materialidade e de riscos, então é possível priorizar o que é mais importante de ser executado e o que cabe no orçamento.”

Mesmo pequenas empresas podem adotar práticas ESG:

“Ainda que no negócio atuem apenas os dois fundadores e nenhum funcionário, eles podem apoiar uma campanha a favor da diversidade, fazer filantropia ou mesmo criar um produto que ajude nessa questão”

O importante é garantir a coerência. “Imagine uma indústria que polui o ar, usa água de rio e polua esse rio, mas destaca que no aspecto social ajuda a creche da comunidade… Não funciona assim, não adianta querer compensar.”

Quem usa: Segundo um levantamento do IBGE, de julho de 2020, a maioria das empresas brasileiras que investe em inovações ambientais (59,4%) está apenas de olho em melhorar sua imagem institucional, enquanto 54,3% disseram que as medidas são para se adaptar aos códigos ambientais.

Ou seja: a importância e o impacto positivo do ESG ainda não foi totalmente compreendido. Por outro lado, há muitas empresas brasileiras de grande porte com ações práticas e importantes no aspecto ambiental, social e de governança. Jefferson cita a Natura, a Localiza, a Klabin e a Renner. “No caso da Natura, por exemplo, o ESG está em seu DNA mesmo antes desse conceito surgir”, diz.

Com cosméticos feitos à base de ingrediente naturais e venda direta, a Natura figurou entre as dez empresas com melhores ratings de ESG dentro da cobertura da XP. Em 2020, entre as diversas práticas adotadas, a empresa de cosméticos treinou suas revendedoras para trabalharem online durante a quarentena, criou programas contra a violência doméstica e se comprometeu a, até 2030, ter 30% de seu time composto por colaboradores com diversidade de raça, gênero, orientação sexual e PCDs.

Uma das últimas ações da Natura foi o lançamento do perfume Kaiak Oceano. Parte da embalagem da fragrância é feita utilizando plástico reciclado retirado do litoral brasileiro por cooperativas de coletores e vidro reciclado. Como indica o site: “Com essa iniciativa, usaremos cerca de 7 toneladas de plástico reciclado, isso equivale a 3,4 milhões de tampas de garrafas de água. Se colocadas lado a lado, estas tampas formam uma distância capaz de cruzar o Brasil de Norte a Sul.”

Algumas empresas, incluindo Apple e Volkswagen, já atrelam os bônus dos executivos ao cumprimento das metas ESG. Uma boa fórmula para estimular que as práticas em prol do ambiental, do social e da governança virem realidade.

No caso dos fundos, só nos Estados Unidos existiam 281 com foco em ESG em 2019, de acordo com dados compilados pelo Morgan Stanley. O Principles for Responsible Investment conta com mais de 3 mil signatários no mundo todo. E segundo a Global Sustainable Investment Alliance, os investimentos responsáveis já alcançaram a marca de 31 trilhões de dólares globalmente, representando 36% dos ativos totais.

No Brasil, ainda não há dados precisos, mas só em 2020 foram criados pelo menos seis fundos que levam em conta esse conceito. As principais gestoras com opções de fundos ESG por aqui são Brasil Capital, Fama Investimentos, Constellation, JGP e XP. Segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), os fundos de Ações de Sustentabilidade/Governança acumularam mais de 543 milhões de reais em 2020.

Impacto negativo de não adotar o ESG: Perda de dinheiro (no caso de investimentos) e de reputação, já que cada vez mais o mercado e a própria sociedade — em especial os mais jovens, da Geração Y (os millennials) e da Geração Z — cobram posicionamento das empresas. Um exemplo foi a queda nas ações da Vale, na esteira dos rompimentos de barragens em Mariana (2015) e Brumadinho (2019).

A lição que fica é que não adianta fazer discurso de sustentabilidade sem cumprir a palavra. A sociedade também está de olho no greenwashing, no socialwashing e no diversitywashing.

Para saber mais:
1) Leia, na Fast Company, “ESG isn’t just about feel-good investing. It can be a framework for global accountability”;
2) Acompanhe, na Época Negócios, a coluna “Sustentabilidade Corporativa morreu. Vida longa ao ESG”;
3) Confira, no site da XP, “A era do ESG – Investimentos e negócios além do lucro”;
4) Veja, na Exame, “Os melhores fundos ESG para investir, ganhar dinheiro e melhorar o mundo“;
5) Leia, no blog do Quintessa, “A inovação aberta como aliada das metas de sustentabilidade e práticas ESG das grandes empresas”.

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