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Verbete Draft: o que é Economia Espacial

Dani Rosolen / 27 mar 2024
Image by SpaceX-Imagery from Pixabay
Dani Rosolen - 27 mar 2024
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Continuamos a série que explica as principais palavras do vocabulário dos empreendedores da nova economia. São termos e expressões que você precisa saber: seja para conhecer as novas ferramentas que vão impulsionar seus negócios ou para te ajudar a falar a mesma língua de mentores e investidores. O verbete deste mês é…

ECONOMIA ESPACIAL

O que é: Segundo definição da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), durante o Fórum Espacial de 2012, a economia espacial se refere à “todas as aplicações e o uso de recursos que criam e fornecem valor e benefícios aos seres humanos durante a exploração, compreensão, gerenciamento e utilização do espaço”. 

Ou seja, o conceito inclui todos os pesquisadores e empresas (públicas ou privadas) envolvidos no desenvolvimento, fornecimento e uso de produtos, serviços e produção científica relacionados ao espaço.

De acordo com a Space Foundation, o valor da economia espacial global deve alcançar 800 bilhões de dólares até 2028 (em 2023, alcançou a marca de 546 bilhões de dólares).

Uma série de áreas englobam a economia do espaço, incluindo: lançamentos e serviços de satélites para serviços de comunicação, monitoramento ambiental, observação da Terra, exploração espacial por meio de missões, turismo espacial, manufatura e mineração espacial; pesquisa e desenvolvimento de tecnologias para uso no espaço e com aplicações terrestres.

Privatizando o espaço: Em fevereiro de 2024, pela primeira vez na história, uma espaçonave privada pousou na Lua. Foi a Odysseus, fabricada pela Intuitive Machines, com sede em Houston, no Texas. 

A sonda transportava instrumentos científicos da Nasa, a agência espacial americana, que não enviava uma missão à Lua desde 1972 (quando os astronautas da Apollo 17 estiveram por lá). 

Em 1966, no contexto da Guerra Fria, entre Estados Unidos e União Soviética, quando a corrida espacial pegava fogo, o orçamento dos EUA destinado à Nasa era de 5,9 bilhões de dólares (cerca de 4,4% do orçamento federal na época – ou 45 bilhões de dólares, em valores corrigidos para 2022).

Porém, com o colapso soviético, no começo dos anos 1990, a posição de única superpotência no planeta se refletiu na queda (relativa) dos gastos governamentais dos EUA com o setor, ao longo das décadas. Dois anos atrás, esse investimento federal ficou em 24,9 bilhões de dólares, ou 0,4% do orçamento, de acordo com a revista Time.

Esse “desinvestimento” trouxe como consequência a abertura de mercado. Empresas privadas viram a oportunidade de apostar neste setor, em parceria com a Nasa – pavimentando o caminho para a nova “corrida espacial 2.0”. 

Corrida que, por sinal, já tem outros concorrentes na pista: em janeiro, semanas antes da Odysseus, a Agência de Exploração Aeroespacial do Japão (Jaxa) confirmou a primeira alunissagem do país, com a sonda Smart Lander for Investigating Moon (Slim). 

Pelo lado dos Estados Unidos, a nova fase de exploração da Lua (agora em modelo “parceria público-privada”) vai contar com duas verticais: a Commercial Lunar Payload Services, responsável por levar cargas e equipamentos a diferentes pontos do satélite; e o programa Artemis, que planeja enviar a primeira mulher e o primeiro homem negro ao satélite, em 2026. 

Para a primeira vertente, a Nasa já fechou acordos com 14 empresas privadas, em contratos que giram em torno de 2,6 bilhões de dólares.

O espaço como playground dos ricaços: Até recentemente, parecia que o destino do espaço era se transformar em puxadinho e parque de diversões dos ultra-bilionários.

Famoso como o fundador da Amazon, Jeff Bezos é também o dono da Blue Origin, que vem concentrando sua atuação em voos suborbitais e lançamentos de foguetes reutilizáveis, como o New Shepard. A ideia da empresa de Bezos é tornar o espaço “mais acessível” (com muitas aspas) ao turismo espacial. 

Dono do X (ex-Twitter) e da Tesla, Elon Musk é também o proprietário da Space X. Musk já anunciou sua vontade de colonizar Marte, um objetivo obviamente ainda muito distante. 

A SpaceX foca em fornecer serviços de lançamento comercial e carga para a ISS, a Estação Espacial Internacional (além disso, a Reuters divulgou neste mês de março que a SpaceX estaria construindo rede de satélites espiões para inteligência dos EUA); há duas semanas, o propulsor de sua nave Starship explodiu durante um voo de teste, sem tripulantes.

Por sua vez, a Virgin Galactic, de Richard Branson, investe no turismo espacial suborbital, com viagens no veículo espacial VSS Unit para endinheirados a fim de curtir breves momentos de gravidade zero. 

Da mineração no solo lunar à carne de laboratório em gravidade zero: A economia espacial, porém, não é um território exclusivo de apenas três empresas. 

Entre outros players investindo em diferentes nichos do setor estão: Astrobotic, Sierra Space, Relativity Space, a Redwire, Varda Space, Lockheed Martin, ispace…

Uma dessas empresas é a Interlune, fundada em 2020 por dois engenheiros espaciais e ex-funcionários da Blue Origin, Rob Meyerson (que foi presidente da empresa) e Gary Lai. A startup prospecta a possibilidade de minerar hélio-3- no solo lunar; acredita-se que essa forma isotópica do hélio pode revolucionar a geração de energia limpa na Terra, por meio da fusão nuclear.

Outra empresa, a israelense Aleph Farms, investiga a impressão 3D de carne cultivada em laboratório no espaço, pensando em formas alternativas de obter alimentos neste momento em que estudos indicam que a produção de carne e leite contribuem para agravar a crise climática. 

Quando comparada à bioimpressão na Terra, o espaço ofereceria uma vantagem imbatível: a gravidade zero, que supostamente acelera o amadurecimento dos órgãos e tecidos produzidos de maneira artificial.

(Por falar em alimentação, a SpaceVIP promete oferecer, em 2025, a primeira refeição com estrela Michelin no espaço a bordo da Spaceship Neptune, na verdade uma cápsula puxada por um balão para levar os comensais à estratosfera; o cardápio ainda não foi divulgado, mas o preço da experiência, sim: 495 mil dólares.)

Os prós e contras da corrida espacial: A nova era da exploração espacial pode trazer impactos positivos diretos e indiretos para diversos setores, como:

🚀 Conectividade global (rede de satélites usada nos serviços de internet, telefonia, televisão, comunicação de dados);
🚀 Previsão do tempo (satélites meteorológicos);
🚀 Observação da Terra (satélites de monitoramento de recursos naturais, agricultura, urbanização etc.);
🚀 Navegação (satélites de GPS);
🚀 Benefícios médicos (estudos da gravidade zero no corpo para desenvolvimento de novos tratamentos e remédios);
🚀 Desenvolvimento Tecnológico (novos materiais, sistema de energia, sistema de transporte etc.).

Por outro lado, cientistas temem que os lançamentos, que devem aumentar conforme a exploração espacial evolui, tragam impactos negativos, entre eles:

💥 Geração de poluentes e lixo espacial (gases expelidos pelos foguetes nas camadas imaculadas da atmosfera terrestre e detritos espaciais);
💥 Poluição luminosa de satélites (o que pode interferir nas observações astronômicas);
💥 Impacto em ecossistemas espaciais (a exploração de recursos por meio da mineração espacial pode causar danos ainda não conhecidos neste ecossistema);
💥 Risco à saúde (exposição prolongada à radiação espacial em missões muito longas).

E o Brasil? Onde entra nessa história?: Previsivelmente, o Brasil ainda desempenha um papel muito pequeno na nova corrida espacial. 

A Agência Espacial Brasileira (sim, ela existe!, e desde 1994) tem buscado parcerias para desenvolver tecnologias espaciais, lançadores e satélites. O país chegou a desenvolver um Veículo Lançador de Satélites (VLS) e conta com algumas startups neste ecossistema, e uma feira para promover o setor – a SpaceBRShow, que já foi pauta aqui no Draft

Entre essas spacetechs verde-e-amarelas estão a Acrux Aerospace Technologies (que procura parceiros para construir foguetes e lançadores nacionais a preços competitivos) e a Epic of Sun, dedicada a desenvolver nanossatélites para monitorar a Terra). Outras três – Quasar Space, a All2Space e a Acosta Aerospace – buscam usar a tecnologia espacial para melhorar a agricultura aqui na Terra.

A startup brasiliense Ideia Space promete levar o país ao espaço em outubro deste ano, quando lançará três satélites educacionais. Os equipamentos foram construídos por alunos de escolas públicas brasileiras.

O Brasil tem um ativo nessa indústria: o Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão. Sua localização, próxima à Linha do Equador — onde a velocidade de rotação da Terra é maior — serve como um empurrãozinho para que os foguetes lançados de lá ganhem impulso e economizem combustível. Em março de 2023, a sul-coreana Innospace se tornou a primeira empresa privada a lançar um foguete de Alcântara.

Outra participação indireta do Brasil na nova corrida espacial se deu com o projeto Artemis. A estadunidense Lonestar Lunar, provedora de cargas científicas e tecnológicas que teve seus equipamentos de armazenamento e processamento de borda transportados pela Odysseus, em fevereiro deste ano, é investida pelo fundo brasileiro 2Future.

Para saber mais:
1) No The Washington Post, leia: “The most significant industrial revolution in history is underway in space and the U.S. must lead it”;
2) Acesse na Time: “From NASA’s Moon Program to Climate Science, Space Agency Adds Big Boost to the Economy”;
3) Leia, no site do G4: “Economia espacial e o cada vez mais vasto universo de oportunidades”;
4) Na BBC, confira: “Por que as viagens espaciais comerciais podem agravar a poluição atmosférica”;
5) Na National Geographic Brasil, veja a análise:Como a corrida espacial lançou uma era de exploração para além da Terra”;
6) Na Bloomberg, leia: “Corrida espacial: SpaceX e Blue Origin impulsionam mercado de equipamentos“;
7) Acesso o artigo “How will the space economy change the world?”, publicado no site da consultoria Mckinsey.

 

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