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Verbete Draft: o que é Chronoworking

Dani Rosolen / 17 abr 2024
Foto de Miguel Á. Padriñán: https://www.pexels.com/pt-br/foto/desenho-de-relogio-analogico-em-superficie-preta-745365/
Dani Rosolen - 17 abr 2024
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Continuamos a série que explica as principais palavras do vocabulário dos empreendedores da nova economia. São termos e expressões que você precisa saber: seja para conhecer as novas ferramentas que vão impulsionar seus negócios ou para te ajudar a falar a mesma língua de mentores e investidores. O verbete deste mês é…

CHRONOWORKING (OU CRONOTRABALHO)

O que é: Chronoworking é um modelo de trabalho que busca adaptar as horas trabalhadas ao ritmo biológico individual de cada colaborador(a). 

A ideia de adotá-lo é permitir que as pessoas trabalhem nos períodos em que se sintam no pico de sua produtividade, consequentemente, rendendo mais.

Origem: Criado em 2024 pela jornalista Ellen C. Scott, o conceito considera que o fluxo de trabalho deve ser adaptado ao padrão individual que cada um tem de sentir  picos de energia ou cansaço em determinados momentos do dia e da noite, ou seja, ao seu “cronotipo” (pode variar de acordo com idade, genética e outros fatores e relacionado ao ritmo circadiano, que controla o ciclo sono-vigília diário).

A jornalista abordou o conceito na edição de janeiro de sua newsletter Working on Purpose, em que apontava as tendências que considera que irão despontar no universo do trabalho neste ano.

No texto, ela diz que se em 2023 observamos um princípio de desmantelamento da cultura do trabalho de segunda a sexta-feira — com a adoção por algumas organizações da semana de quatro dias —, 2024 seria o ano de questionarmos a jornada de trabalho de oito horas, com horários pré-estipulados (nos EUA, geralmente das 9h às 17h; aqui no Brasil a jornada costuma ser mais longa, das 8h às 18h).

Na newsletter, Ellen destaca: “Os madrugadores podem trabalhar das 6 da manhã às 3 da tarde, os notívagos começarão mais tarde, e talvez consideremos a necessidade de sestas ou intervalos de bem-estar no lugar da queda de produtividade da tarde. Usaremos nosso tempo e energia de forma mais estratégica.”

Os quatro cronotipos e como o chronoworking funciona: Segundo o psicólogo estadunidense e especialista em sono Michael Breus, existem quatro cronotipos (urso, leão, lobo e golfinho). Ele apresentou a ideia em seu livro O poder do quando: Descubra o ritmo do se corpo e o momento certo para almoçar, pedir um aumento, tomar remédio e muito mais, publicado em 2017 e criou um dos testes mais populares para definição de cronotipo.  Segundo as pesquisas de Breus, as pessoas se dividem da seguinte forma, de maneira geral:

🦁 Leões: acordam por volta das 5h, vão dormir antes das 22h e são mais produtivas pela manhã, realizando as tarefas mais intensas até o meio-dia (cerca de 15% das pessoas)

🐻Ursos: acordam por volta das 7h, dormem por volta das 23h e rendem melhor entre 10h e 14h (é o cronotipo mais comum, entre 50% a 55% das pessoas).

🐺 Lobos: têm dificuldade de acordar antes das 9h e de dormir antes da meia noite e sentem o ápice de energia quando a da maioria das pessoas está diminuindo, entre 12h e 16h (entre 15% e 20%)

🐬 Golfinhos”: são propensos a padrões de sono e vigília fragmentado (insones), mas têm uma janela grande de produtividade, geralmente das 10h às 14h. (10%)

Essa análise não é uma desculpa esfarrapada para menos dedicação ou preguiça, mas uma forma de entender e respeitar em qual horário seu corpo e sua mente rendem mais.

Na prática, uma pessoa que se sente mais disposta à noite, por exemplo, poderia adaptar sua rotina de trabalho aos horários noturnos, com chances de entregar neste período o seu melhor desempenho. Ou ainda optar por um fluxo não-linear, trabalhando algumas horas no período da tarde e as demais, à noite.

Para que esse modelo de fato funcione os especialistas indicam focar na gestão de tempo e de ciclos de trabalho organizados (valendo-se, por exemplo, de técnicas como a de Pomodoro) e no cumprimento de demandas dentro do prazo estipulado, independente de quando e do quanto se trabalha nelas.

Vantagens: A principal vantagem seria o aumento do desempenho, já que a pessoa só trabalhará no momento em que estiver mais disposta e atenta, realizando mais em menos tempo.

Outro ponto positivo seria a melhora na qualidade de vida, já que esse modelo possibilitaria um equilíbrio entre trabalho e as outras tarefas do dia a dia, como acompanhamento da rotina dos filhos, prática de atividades físicas, cuidados domésticos etc.  

Pelo lado das empresas, uma vantagem seria o aumento da retenção de funcionários, já que uma maior autonomia para gerir a rotina de trabalho tende a gerar mais satisfação.

Desafios e desvantagens: Entre os desafios estaria a necessidade de adaptação, já que nem todo mundo consegue fazer uma boa gestão do próprio tempo e acaba “precisando” de regras estipuladas por terceiros.

Além disso, pessoas que não estão acostumadas com a autogestão poderiam se sentir mais estressadas ao ter que balancear a otimização do tempo e a produtividade.

As leis trabalhistas e a resistência das lideranças também são um obstáculo. Num Mundo VUCA ou BANI, no entanto, um modelo de trabalho com horários engessados não parece mais fazer sentido em muitos casos. Apesar disso, ainda é o modus operandi da maioria das empresas.

Para driblar essa situação em que o corpo e a mente precisam operar em toda a sua capacidade em um momento que não condiz com o ritmo biológico, os trabalhadores acabam adotando algumas estratégicas.

Segundo uma pesquisa realizada em janeiro de 2024 com um grupo de 1 500 trabalhadores estadunidenses, 94% afirmaram trabalhar fora do seu pico de produtividade. Já sobre os truques apontados por eles para enfrentar essa situação estão: tirar uma soneca durante o expediente (50%); tomar café (42%); e usar técnicas de gestão do estresse, como meditação (43%).

Outro desafio para a adoção do chronoworking por completo é a necessidade, em algumas empresas e funções, de reunir o time para discutir projetos comuns. 

Vale destacar ainda que esse modelo não funciona para todos os trabalhos, como o de médico de um pronto-socorro ou uma pessoa que trabalha com a coleta de lixo, com horários bem definidos.

Como implementar esse modelo: O chronoworking tende a ser adotado com maior facilidade por profissionais autônomos, freelancers e empreendedores solo. 

Porém, alguns especialistas e executivos que conseguiram ajustar o chronoworking à dinâmica de uma empresa defendem que esse sistema de trabalho também pode ser viável para times maiores.

Em entrevista à Forbes, a consultora de bem-estar corporativo Tawn Willians sugere que, para testar a eficácia desse modelo, uma empresa pode se valer de uma adoção gradual, começando com pequenos ajustes no horário de trabalho e monitorando os indicadores de desempenho.

Por sua vez, Molly Johnson-Jones, CEO da Flexa, plataforma de empregos, contou à BBC  que conseguiu implementar esse modelo com seus 17 funcionários, estabelecendo um período em que toda a equipe deve necessariamente estar online para trocas, das 11 às 15 horas. 

O perfil do LinkedIn The Startup Scoup publicou algumas dicas para a implementação do chronoworking, incluindo fazer uma pesquisa como os funcionários para entender seus padrões naturais de sono e vigília; abraçar a flexibilidade (desde opções de horário até trabalho remoto); e usar ferramentas de colaboração e software de gerenciamento de projetos para facilitar a comunicação assíncrona e a conclusão de tarefas. 

Perspectivas futuras: O termo Chronoworking pode ser apenas mais uma palavra da moda do mundo do trabalho, como outros que já tiveram seu momento (por exemplo, quiet quitting, great resignation, lazy girl jobs etc). 

Mas num mundo pós-pandemia, em que vem ganhando relevância a adoção de formatos de trabalho mais flexíveis, com a popularização do trabalho remoto e híbrido, cabe a reflexão e o conhecimento da existência desse modelo.

Ainda mais em um momento em que a geração Z começa a ingressar no ambiente de trabalho. Segundo uma pesquisa de 2022 da Asana, 53% desses jovens dizem que “não têm um horário claro de início ou término para seu dia de trabalho”, contra apenas 37% do resto dos entrevistados de outras gerações que disseram o mesmo.

Independente do modismo e da possibilidade real de aplicação, uma coisa é certa: a atual tendência de se repensar o trabalho, encontrando um equilíbrio maior entre vida pessoal e profissional.

Para saber mais:
1) Leia na BBC: “The ‘chronoworking’ productivity hack that helps workers excel”;
2) Confira na Forbes: “‘Chronoworking’: Another Career Trend To Achieve Work-Life Balance In 2024”;
3) Veja no Olhar Digital o artigo: “Chronoworking: o que é e como aderir à tendência?”;
4) Leia no Huffington Post UK: “The exciting new workplace trend which prioritises your lifestyle”;
5) Confira no Tech.co o texto: “What Is Chronoworking and Could It Be the End of the Traditional 9 to 5?”.

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