Da infância nas montanhas da Suíça às encostas desafiadoras do snowboard, minha jornada foi moldada pela paixão pelo esporte e pela busca por novos horizontes.
Nasci e vivi até os 7 anos no Brasil, mas é na Suíça — para onde minha família foi transferida por conta do trabalho do meu pai — onde guardo minhas memórias de infância, adolescência e início da vida adulta
Durante 22 anos, esse país europeu, famoso por seus relógios e chocolates, foi o que chamei de casa.
Foi lá que nutri meus primeiros sonhos, paixões, frustrações e medos.
E também foi lá que descobri o snowboard, não em um passeio escolar, mas imerso na cultura alpina, onde as montanhas se tornaram meu playground natural.
Um desses sonhos que o frio de Lausanne (102 km de Berna) me trouxe foi o de me tornar um snowboarder profissional.
A paixão pelas pistas de neve era avassaladora e eu estava determinado a alcançar o topo do mundo dos esportes radicais.
No entanto, ao mergulhar mais fundo nesse universo, percebi que os desafios e dificuldades eram ainda maiores do que imaginava.
O esqui e o hóquei no gelo são os esportes mais tradicionais na Suíça, junto com o futebol. Já esportes radicais, como o snowboard, não são tão prestigiados Por consequência, o investimento, incentivo e até locais seguros para a prática são quase inexistentes em alguns locais
Para que eu pudesse exercer e realizar minha paixão, tive que abrir mão de muitas coisas e me esforçar dobrado. A Suíça me ensinou muito sobre perseverança e superação.
Apesar de todos esses aprendizados no país que me acolheu desde cedo, em 2003, tive que tomar uma decisão significativa.
Decidi retornar ao Brasil, mais especificamente para a cidade de São Paulo. Aproveitei minha formação em marketing e resolvi me arriscar na selva de pedras em busca de oportunidades, além de realizar o desejo de voltar a viver por aqui.
Em 2017, em um período em que estava na Suiça durante uma viagem com amigos, em meio às aventuras na neve, surgiu a semente da minha empresa.
Enquanto explorávamos novas trilhas, um de meus amigos avistou uma criatura peculiar, uma espécie diferente do comum. Digamos que ele nos descreveu como uma ave que hibernava tal qual um urso…
A expressão foi: “Its looks like a chicken! But sleeps like a bear!”.
Logo batizamos o animal de “Ursofrango”. Esse termo, na verdade se referia ao Tétras lyre, uma espécie natural do leste suíço
No fim, “Ursofrango” se tornou mais do que uma simples piada entre nós, mas um símbolo de coragem, ousadia e espírito aventureiro.
Em 2018, sofri uma lesão no ombro durante uma competição na Suíça. Foi um momento difícil, mas também uma oportunidade para reavaliar minha vida.
Após um ano de recuperação e fisioterapia, decidi voltar aos campeonatos. Foi uma jornada desafiadora, mas com determinação e esforço, consegui dar a volta por cima e conquistar uma medalha.
Quando retornei ao Brasil, após a recuperação, me deparei, de novo, com as dificuldades enfrentadas pelos praticantes de esportes radicais. A realidade por aqui também era muito dura nesta área.
Então, me lembrei do conceito de “Ursofrango” e sua referência à coragem, à ousadia e ao espírito aventureiro.
Isso me impulsionou a fundar a Ursofrango (UF), não apenas como uma marca de roupas streetwear, mas como um movimento para transformar sonhos de jovens atletas de esportes radicais em realidade e inspirar uma nova geração de esportistas a alcançar novos patamares
Começamos com uma coleção de bonés, em 2019. E aos poucos, expandimos para outras peças de roupa. A marca ganhou visibilidade no Campeonato Brasileiro de Snowboard — um marco importante para nós. Já participamos também das duas primeiras edições do Campeonato Brasileiro de Patinete.
O caminho até aqui não foi fácil, longe disso. Enfrentei desafios que me fizeram questionar minhas próprias capacidades e, em alguns momentos, até mesmo meus motivos para seguir em frente.
A incerteza do empreendedorismo, a pressão para alcançar o sucesso, o medo do fracasso… Todos esses sentimentos se tornaram meus companheiros de jornada, muitas vezes me levando ao limite da minha resistência emocional
Mas, como em toda boa história, também houve momentos de glória. As conquistas da Ursofrango — pequenas e grandes — foram como bálsamo para minha alma.
Hoje a marca atua não somente com venda de produtos, mas sobretudo na gestão e profissionalização de atletas apoiados pela Ursofrango.
Destinamos 100% do lucro das peças de roupas vendidas pela Ursofrango para o apoio a jovens atletas em modalidades radicais
Essa decisão não foi fácil, afinal, o mundo dos negócios é implacável e exige sacrifícios, muitas vezes dolorosos.
Mas, ao olhar para trás, vejo que foi a escolha certa. Afinal, o verdadeiro propósito de uma empresa não é apenas gerar lucro, mas também fazer a diferença na vida das pessoas.
Ver o impacto positivo que nossa marca tem na vida desses jovens, assistir ao crescimento deles tanto dentro quanto fora das pistas, é algo que me enche de orgulho e renova minhas energias a cada dia.
Acredito que um atleta de ponta precisa de três pilares principais: ambiente favorável, infraestrutura e talento. O terceiro é uma predisposição, não podemos fazer nada.
Já em relação aos demais, é nossa missão supri-los e é assim que destinamos nossos esforços e investimentos.
A Ursofrango conta com um time talentoso nas modalidades de skate, BMX (bicicross), snowboard e surf, com resultados grandiosos no cenário nacional e mundial
Temos histórias inspiradoras de atletas que se destacaram com nosso apoio. Alguns deles são verdadeiros talentos e estão conquistando seu espaço no cenário internacional.
Atualmente são quatro jovens apoiados: Andrey Toledo (10 anos, BMX), Manu Ramos (10 anos, BMX), Carol Suzaki (9 anos, skate) e Maya Reis (10 anos, surf).
Cada atleta apoiado, cada sonho realizado é uma pequena vitória em nossa jornada rumo a um mundo em que o esporte seja acessível a todos, independentemente de sua origem ou condição social.
Sei que ainda há muito a ser feito, muitos desafios a serem enfrentados, mas estou decidido a seguir em frente, com coragem e determinação, tal como um “Ursofrango”.
A vida é uma jornada cheia de altos e baixos, de vitórias e derrotas. Mas, no final do dia, o que realmente importa é o legado que deixamos para trás.
Espero que, mesmo ainda engatinhando no universo do empreendedorismo, nossa história tenha inspirado alguém a seguir seus próprios sonhos, seja qual for o desafio que enfrente
Da minha parte, continuo me aventurando nas pistas de esqui, mas sem a ambição de competir profissionalmente. Tenho uma boa relação com a Confederação Brasileira de Desportos na Neve (CBDN), acompanho a delegação em alguns campeonatos e até participo de alguns treinamento.
Mas meu maior desejo hoje é continuar apoiando atletas e promovendo os esportes radicais no Brasil. Quero ver mais jovens seguindo seus sonhos, superando obstáculos e alcançando o sucesso.
Stefan Santille é atleta de snowboard, fundador e proprietário da marca de roupas streetwear Ursofrango, que também atua como gestora de jovens atletas de modalidades radicais.
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