A responsabilidade pela gestão de resíduos industriais é um dos pontos cruciais das práticas ESG. No caso da Vapza, que produz alimentos cozidos e embalados a vácuo, o que faz bem para o ambiente também fez bem ao bolso: o caminho para zerar a quantidade de lixo enviado a aterros sanitários levou a uma diminuição de 20% nos custos com esse processo.
Neste mês, a empresa paranaense recebeu a certificação “Aterro zero”, após auditoria de uma consultoria especializada em destinação de resíduos, e com isso um selo que garante que todo o lixo gerado pela atividade industrial da Vapza é encaminhado a algum tipo de reaproveitamento ou tratamento, dispensando a coleta da Prefeitura de Castro (PR), onde a empresa está instalada.
Em uma operação que gera 4,5 toneladas de lixo por dia, entre material orgânico (principalmente cascas de vegetais) e plástico de embalagens, a economia com as taxas municipais gera um ativo importante, que segundo o CEO da empresa, Enrico Milani, passa a ser investido no aperfeiçoamento das práticas de governança voltadas à sustentabilidade e ao impacto social positivo gerado pela Vapza.
“Pesquisando, vimos que tínhamos um custo alto para destinar nosso lixo [ao aterro]. Hoje a gente doa. Para cada tipo de resíduo, achamos um tipo de doação, o que nos permite reduzir o custo, melhorar a destinação, e ter impacto ambiental e social positivos.”
A organização em torno da meta de aterro zero acabou ensejando uma reestruturação de gestão dentro da empresa, que tinha foco disperso quando o assunto era impacto ambiental e social, apesar de manter uma preocupação com esse pilar.
“Tínhamos muitas iniciativas interessantes, mas estavam separadas, em áreas que não se conversavam direito. A questão ambiental ficava uma parte com [o setor de] qualidade, e outra com [o setor de] manutenção. A parte social de atendimento da comunidade ficava com o marketing, com o RH. Então começamos um trabalho com uma consultoria no ano passado para melhorar isso”, explica Milani.
CADA RESÍDUO COM SEU DESTINO CORRETO
Atualmente a destinação de resíduos da Vapza encaminha o material orgânico, restante do beneficiamento de alimentos, para uma cooperativa especializada em gerar energia a partir de biodigestores e distribuí-la a cooperados. São cerca de 120 toneladas por mês encaminhadas a esse processo. Nos planos da empresa, há ainda estudos para implementar a captação de energia solar na fábrica, para reduzir custos com eletricidade utilizando fontes limpas.
O esgoto gerado pelos banheiros da fábrica também é condicionado no local e enviado para a produção de energia via biodigestores.
A parte de embalagens é doada a uma associação local de reciclagem, que recolhe e separa papel e plástico para a reutilização, o que gera impacto econômico positivo no local de atuação da empresa. O plástico sujo, inviável para a reciclagem direta, é processado na fabricação de cimento.
Milani conta que a Vapza já mantinha, antes da certificação aterro zero, um índice de reciclagem de cerca de 90% dos resíduos que produzia, porém a destinação de materiais que demandam processos mais complexos de reciclagem permanecia um desafio. “A gente sempre fez a destinação correta de nossos resíduos, com laudo, com certificação, sempre buscando a melhor alternativa, mas alguns produtos tínhamos dificuldade de incluir em uma economia circular.”
O tratamento da água utilizada pela Vapza na sua operação industrial é feito na própria área da fábrica no interior do Paraná, e devolvida limpa ao rio que abastece a empresa. “Dá até para tomar”, garante o CEO.
CERTIFICAÇÃO DE EMPRESA B É O PRÓXIMO PASSO
A certificação como empresa B é a próxima meta dentro dos planos de escopo ESG da Vapza, para valorizar seu comprometimento e a transparência de iniciativas em relação ao ambiente, aos seus trabalhadores, clientes e fornecedores.
“Nosso objetivo é inspirar as empresas para que se tornem empresas melhores. Falo muito que não queremos ser a melhor empresa do mundo, mas uma empresa melhor para o mundo. Fazemos o que está ao nosso alcance. É claro que temos um limite de investimento, mas fazemos o possível.”
A Vapza produz hoje aproximadamente 600 toneladas de alimentos, comercializados prontos para consumo ou semiprontos, como legumes cozidos a vapor e carnes cozidas, que podem ser usadas no dia a dia. Com uma fábrica em Castro (PR), escritório em Curitiba e um time de vendas espalhado pelo país, a empresa hoje emprega 360 pessoas.
O CEO tem uma história familiar com a Vapza, indústria fundada no Paraná em 1994 após a importação de tecnologia francesa para o beneficiamento de alimentos. “Tinham vários sócios e meu pai entrou em 1997, e desde 2007 compramos a participação dos outros sócios. Eu comecei em 2005 na empresa, e em 2019 virei CEO depois de passar por várias áreas. Desde o início a Vapza se preocupou com responsabilidade ambiental e social”, conta.
O faturamento da operação vem subindo, com alta de 21% registrada em 2021 e, no primeiro quadrimestre de 2022 uma nova alta, de 28%, em um momento de muito investimento pessoal do CEO na ampliação das receitas.
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