Tal qual o lambe-lambe estampado no poste, a proposta é convidativa: “Trago candidato qualificado”. Mas, diferentemente das amarrações de amor que aparecem pelas esquinas e oferecem soluções esotéricas, na Taqe a promessa é resolvida com inteligência artificial e algoritmos. A startup desenvolveu um aplicativo que, por meio de um jogo online, ajuda jovens de 16 a 24 anos, das classes C, D e E, a encontrarem o emprego que mais se adeque ao seu perfil. A ideia é beneficiar também o outro lado do balcão, já que a contratante usa a ferramenta como filtro e evita o desperdício de tempo analisando (muitas vezes) milhares de currículos.
Aos mais familiarizados com os termos em inglês do meio empreendedor, a Taqe é uma HR Tech, ou seja, um negócio que tem por objetivo automatizar, otimizar e facilitar os processos burocráticos da área de Recursos Humanos das empresas. Colocado para funcionar em abril de 2017 (depois de três meses de teste), o aplicativo já coleciona bons números: 85 mil jovens cadastrados — 700 deles já empregados. Atualmente, a Taqe tem 12 clientes e oferece cerca de 100 vagas por mês. A meta para este ano é chegar a mil vagas por mês.
A expectativa de crescimento vem junto com uma nova fase: a Taqe é uma das nove startups selecionadas pelo Facebook para ser acelerada nos próximos seis meses na Estação Hack. A equipe, hoje com sete funcionários, se muda no dia 15 para o prédio da Avenida Paulista, onde funcionará o centro de inovação da principal rede social do mundo. Um dos fundadores da Taqe, o publicitário com pós-graduação em administração pela FGV, Renato Dias, 37, fala do diferencial de seu app:
“Criamos algo na linguagem do jovem não só na gamificação, mas no contexto das situações colocadas nas aulas e testes, nos textos, ilustrações e até nos vídeos, que têm Youtubers como apresentadores”
O aplicativo é baixado gratuitamente pelo candidato (no sistema Android ou iOS) e a Taqe ganha dinheiro com a empresa contratante, que oferece as vagas. O valor cobrado, no entanto, varia bastante e tem complexidade de região para região. A startup trabalha com vagas em todo o Brasil. Renato diz, por exemplo, que o valor cobrado por uma vaga de atendente do Burger King em São Paulo é bem diferente do cobrado por uma vaga de balconista de farmácia em Blumenau (SC).
“Temos vagas que valem 400 reais e temos vagas que valem mil reais. É uma variável bastante complexa”, diz o fundador. Quando as vagas são bastante recorrentes e a contratante já utiliza o Taqe, existe a opção de pagar um fee mensal, que também tem variáveis: vai de cinco mil reais por mês a 40 mil por mês. Renato diz que o valor flutua tanto porque a startup pode fornecer apenas a plataforma e permitir que seu cliente faça todo o processo. Ou, também, pode se comprometer a cuidar de tudo e entregar o número exato de candidatos pedidos para a entrevista pessoal.
COMO É O PROCESSO DE CONTRATAÇÃO
Renato conta que a primeira rodada com a empresa toma mais tempo, porque é necessário entender a cultura do negócio. Há reuniões com os diretores de RH e também há testes realizados com os principais funcionários na posição que a empresa está buscando. Todo esse processo leva duas semanas. Elabora-se um processo com testes e requisitos específicos para aquela empresa. Depois, mais duas semanas para atrair candidatos.
No entanto, para as empresas que já estão cadastradas e o pedido por contratações é mais recorrente, é um processo semanal. Renato conta: “Temos clientes que tem três ciclos de entrevista por semana. O cliente tem um link específico onde o candidato vai ser recebido pela empresa e daí vai falar quantos passos faltam para se candidatar. Ele vai fazer o teste X, o teste Y e o teste Z. A trilha é customizada em cima de testes padronizados. No final, o cara sabe se deu match ou não deu match. E se candidata.”
A gestão dos candidatos é feita pelas empresas, por meio de um website que traz o perfil de cada um, baseado em seu desempenho nos testes de conhecimento e personalidade, além de filtros como escolaridade, idade e local de moradia (falaremos disso, especificamente, mais abaixo).
Construir um canal de comunicação que otimize o encontro do candidato com a vaga, porém, surgiu quase por acaso, em um lento processo que envolve negócios anteriores dos sócios empreendedores: Renato Dias, 37, Ernesto van Peborgh e Denise Asnis. A Taqe tem outros quatro sócios (os investidores Nercio Fernandes, Alexandre Lindenbojm e Rafael Vasconcellos; e o sócio-consultor de tecnologia, Helder Araújo).
UMA REDE DE ACASOS ATÉ SURGIR UM BUSINESS EM CONJUNTO
O trio principal da Taqe se conheceu na Natura, na década passada. Renato trabalhou na gigante de cosméticos entre 2003 e 2008 (foi head da área de meios digitais e responsável pela estratégia de entrada da empresa nas redes sociais). Denise foi diretora de RH por lá, e Ernesto apareceu como “um argentino que pretendia transformar a maneira como se comunica digitalmente no Brasil”, ou aquele outsider que implode e ressignifica o jogo todo.
Parênteses. Antes de empreender no meio digital, Ernesto foi executivo do mercado financeiro, chegou a ser sócio de fundo de investimento, participou de transações gigantescas, mas teve um momento de crise existencial e abandonou tudo. Ao se aprofundar no conceito de Web 2.0, descobriu um novo propósito de vida e escreveu o livro Sustentabilidade 2.0.
Em cima desses aprendizados, Ernesto criou a Odiseo, uma consultoria especializada em colocar pessoas e empresas em rede, em 2007. A Natura foi um dos primeiros clientes a lhe abrir as portas. Seu projeto era tão inovador que levou o então chefe de Renato a pedir demissão. Renato conta: “Fui surpreendido. Meu chefe me avisou que estava indo embora por causa de um argentino que havia chegado com uma ideia completamente diferente da dele. E falou: ‘Cola nesse argentino porque o que ele está falando é genial.”
Renato foi, então, selecionado para ser o líder do projeto de Ernesto na Natura. O ex-chefe tinha razão, o argentino sabia das coisas e a Natura passou por um novo ciclo de comunicação, focado em compartilhamento, formação de comunidades de nicho etc.
Em 2008, com o Orkut no auge, na onda do engajamento, a empresa criou um programa sugerindo aos funcionários que apresentassem ideias de negócios que sonhavam criar. O intuito era encontrar confluências com a Natura. Mas Renato, ao pensar sobre o assunto, reparou que o que realmente gostaria de fazer nos próximos anos não estava ali dentro:
“Percebi que poderia ter um impacto maior fora da Natura e tive a decisão de sair”
Comunicou a demissão e passou a analisar propostas. Como também tinha experiência em publicidade (havia passado pela Fulano.com e Agência Click, de comunicação digital), cogitou voltar para o antigo mercado. Até que veio o Ernesto, novamente, e fez uma proposta de sociedade. O argentino a essa altura morava em Buenos Aires e precisava de alguém de confiança no Brasil para ajudar a tocar novos projetos de sua empresa.
APRENDER ANTES DE INOVAR
No final de 2010, Renato entrou para a Odiseo — e a Taqe começou a nascer, muito discretamente, em paralelo. Os dois seguiram com a missão de “colocar empresas em rede, gerar conversa entre os públicos e fazer emergir novos conhecimentos”. Renato conta que o estalo para o novo negócio viria após duas experiências. Na primeira, com a Coca-Cola, eles criaram um projeto para capacitar o ponto de venda do pequeno comerciante em Buenos Aires.
Basicamente, consistia em criar uma plataforma online no site da Coca-Cola e oferecer aulas de capacitação para esses vendedores. O processo deu super certo, conseguiu melhorar o negócio dessas pessoas, fortaleceu o vínculo com a marca e, de quebra, aumentou as vendas do refrigerante.
Outra experiência inspiradora, conta Renato, foi com a agência de comunicação digital Monster.com, o maior site de empregos do mundo (que esteve no Brasil por alguns anos). Na parceria, a Odiseo tinha a função de usar a mídia online para atrair candidatos e atender ao alto volume de vagas de algumas empresas (vagas para call centers, redes de restaurantes e redes de farmácias, basicamente).
No início de 2012, a Monster saiu do Brasil e a Odiseo passou a atender alguns clientes diretamente. De cara, notou dois problemas: os jovens candidatos não tinham muita clareza de suas potencialidades e a maioria ficava com uma experiência péssima do processo seletivo, pois nem era chamado. Do outro lado, as empresas não possuíam critérios muito objetivos para fazer a triagem e muitas vezes erravam na hora de contratar. Mesmo com os indícios de que a ideia era boa, Renato conta que nunca tinha passado por sua cabeça ter uma startup:
“Eu via aquilo de longe e pensava que ter uma startup era meio que querer fazer estilinho. Coisa da moda. Me parecia mais um lifestyle”
Mas, à medida que passou a colocar a ideia no papel e a pesquisar material relacionado ao assunto, um universo se abriu. Foi nesse período, por volta de 2016, que a Denise foi convidada a fazer parte do negócio. Ela conhecia todas as dinâmicas do processo seletivo e poderia ajudar na criação de métodos para testar e ensinar os candidatos.
O trio passou a se reunir com regularidade e, a partir das conversas com os primeiros investidores, notou que havia um grande negócio a ser explorado. Desde o início queriam uma plataforma com score card, que resume as características do candidato, inspirado nos testes realizados para entrar nas grandes universidades dos Estados Unidos. Também utilizariam a inteligência artificial para cruzar dados e ser assertivo na indicação do candidato à vaga disponível.
Mas ainda faltava encontrar a melhor linguagem para engajar esse jovem. Afinal, preencher ficha com seu histórico profissional não é das atividades mais interessantes, ainda mais quando se é jovem e não se sabe nem como preencher essas informações. Foi quando surgiu a ideia da gamificar totalmente o aplicativo.
Denise, então, passou a colaborar na elaboração dos testes a fim de o candidato descobrir mais sobre sua personalidade e habilidades e também criou as aulas (hoje são 30 aulas diferentes com temas como propósito de vida, como se comportar numa entrevista, comunicação, atendimento a clientes etc.), com lições básicas para quem pretende entrar no mercado de trabalho. É ali que tem a sacada de usar personalidades do Youtube para engajar o jovem.
COMO ENFRENTAR OS PRIMEIROS OBSTÁCULOS DO NOVO NEGÓCIO
A Taqe testou seu app entre janeiro e abril de 2017 com três grandes empresas: Burguer King, Cobasi e Cinemark. Nesse período, percebeu que o game funcionava legal, que era realmente atrativo e adequado ao seu público. E enfrentou o primeiro problema: a geolocalização estava mal calibrada.
O aplicativo oferece vagas para a base da pirâmide de empregos, muitas vezes em cargos que não exigem experiência anterior. Em alguns pontos da cidade, em áreas nobres, não havia como encontrar candidatos próximos do local de trabalho – inicialmente, a busca por candidatos era feita em um raio de 14 quilômetros da contratante.
Renato cita o case do Burguer King como solução. Depois de não aparecerem muitos candidatos no raio de distância estabelecido, eles tiveram a ideia de pedir o CEP das pessoas que já trabalhavam nesse restaurante. Ao plotar no mapa, ficaram evidentes alguns bolsões de mão de obra, mais afastados, na periferia, mas com transporte direto para o local. “Aí mudamos o sistema. Em vez de colocar a geolocalização de um único ponto, passamos a colocar no meio desses bolsões, com busca para um raio de três quilômetros. Funcionou.”
Então, Taqe!
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