Hoje, 17 de dezembro, o Flamengo entra em campo em Doha, no Catar, para enfrentar o Al-Hilal, da Arábia Saudita. Se tudo sair como esperado, o time brasileiro passará à final para repetir a decisão de 1981, contra o Liverpool, da Inglaterra, quando Zico e cia. se sagraram campeões (no Japão).
Bruno Pessoa, 28, certamente será um dos rubro-negros de olhos grudados na partida. Sua ligação com o esporte, porém, vai além da paixão clubística. Ele é o fundador e CEO da Tero, uma plataforma que se propõe a conectar jogadores e aspirantes, dos 13 aos 23 anos, a clubes e treinadores — algo como um “Tinder do futebol”.
“O esporte no Brasil movimenta muito dinheiro. Há 1 milhão de atletas que fazem escolinha [de futebol], com ticket médio de R$ 100 por mês”
Em fase beta desde o fim de 2018, a Tero tem hoje cerca de 30 mil inscritos, que descobriram a plataforma via redes sociais ou por indicação de amigos. Rio e São Paulo respondem pela maioria dos cadastrados (cerca de 90% do sexo masculino).
E se o modelo de negócio por enquanto permanece incerto, as expectativas são muito ambiciosas: o empreendedor quer chegar até o fim de 2020 com meio milhão de candidatos a jogador de futebol em sua plataforma.
NA PRIMEIRA RODADA DE INVESTIMENTOS, A TERO CAPTOU R$ 1 MILHÃO
Um filão obsoleto como o do futebol pode assustar de início, devido às barreiras burocráticas; hoje, afinal, um pequeno grupo de empresários toma conta da compra e venda dos principais atletas nacionais e internacionais. Bruno diz que sua startup entra nesse campo para buscar, também, a democratização de oportunidades.
Numa primeira rodada de captação, a Tero conseguiu R$ 1 milhão de apporte, contou com a participação de nomes como Daniel Orlean, fundador da Biz Capital e ex-VP de marketing do Flamengo, André Barros, criador do canal de Youtube Desimpedidos, além de empreendedores e investidores-anjo ligados a empresas como Volanty, QuintoAndar e Uber.
O dinheiro, segundo Bruno, será destinado ao aperfeiçoamento e ampliação do número de atletas cadastrados na plataforma.
“O mercado esportivo tende a aderir à tecnologia depois. São poucas startups de esporte. Há alguns bloqueios. A forma como o futebol é gerido no Brasil, com dirigentes de clubes não-remunerados, leva à ‘não inovação’. Por outro lado, se tem um modelo engessado, alguém precisa entrar para mudar”
Esse olhar empreendedor, Bruno cultiva desde os tempos de universitário. Como muitos jovens brasileiros, ele também sonhava ser jogador de futebol — mas não abriu mão da faculdade. E o talento com a bola nos pés, somado ao inglês afiado, ajudou-o a conseguir uma bolsa integral numa universidade na Califórnia.
O TALENTO COM OS PÉS RENDEU UMA BOLSA INTEGRAL NA CALIFÓRNIA
Bruno é filho de Helvecio Pessoa, preparador físico com passagens por Flamengo e Fluminense. Por conta do trabalho do pai, ele morar, aos 13 anos, em Doha, no Catar — sim, o mesmo país que recebe hoje o jogo do Flamengo (e abrigará a Copa do Mundo de 2022). Pouco depois, a família mudou-se para Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, onde o rapaz concluiu o ensino médio.
Aos 19 anos, Bruno retornou ao Brasil. Fez teste e chegou a atuar por uma temporada nas categorias de base do Flamengo, como centroavante. Foi aí que surgiu a oportunidade para estudar em Fresno, cidade de 500 mil habitantes na Califórnia.
Em 2010, o futuro empreendedor cursava administração com ênfase em marketing na Fresno Pacific University, disputava competições nacionais de futebol, conhecia atletas e técnicos de outras universidades e começava a formar um networking, ainda sem qualquer pretensão.
Amigos do Brasil pediam dicas, amigos dos amigos também queriam jogar bola e estudar nos Estados Unidos… Bruno teve então o primeiro estalo:
“Ajudei um dois, dez… E aí veio a ideia: montar um negócio e fazer o meio de campo dos brasileiros com as universidades”
Foram dois anos daquela sacada até botar de pé seu primeiro negócio, a Next Academy, uma agência de intercâmbio voltada a atletas — o esporte ajudava na tentativa de bolsa nas escolas e universidades dos Estados Unidos.
A NEXT VIROU FRANQUIA COM INVESTIMENTO DE UM JOGADOR FAMOSO
O início da Next foi meio na raça. Bruno criava eventos no Facebook como se fossem “peneiras” de futebol… As datas tinham de bater com suas férias, quando ele vinha ao Brasil e, com apoio de amigos, filmava, apitava, editava e disponibilizava o material para os técnicos dos Estados Unidos. “Fechava contrato com a família [do atleta] e fazia todo processo burocrático”, afirma.
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A Next crescia, prosperava. Em 2015, ano em que voltou a morar no Brasil, Bruno mandou 100 atletas para os EUA. Notou que dava para expandir e montou um modelo de franquia graças ao investimento de um boleiro profissional: Felipe Melo.
O hoje volante da Palmeiras (que, naquele ano, atuou pelo Galatasaray, da Turquia, e depois pela Inter de Milão) estava procurando um negócio ligado a futebol. Foi apresentado a Bruno por indicação de amigos e acabou investindo R$ 3 milhões — adquirindo 20% da empresa.
“PENSANDO NA NETFLIX — DENTRO DA BLOCKBUSTER”
Entre 2015 e 2018, na esteira desse investimento, foram criadas 31 unidades da Next no Brasil (e outras duas em Portugal), com faturamento de R$ 20 milhões por ano. Nos números, o negócio parecia ir bem, mas, na conversa com seu público, Bruno percebeu um obstáculo.
“O modelo que criamos começou a me incomodar… Havia atletas que de fato queriam ir morar fora, mas a maioria não tinha condições, pois nem sempre as bolsas são de 100%. Fui entendendo que o negócio limitava o mercado de atuação”
Uma pesquisa interna, em 2018, confirmou a teoria do empreendedor. “Estávamos muito segmentados”, diz Bruno. “Queria fazer algo maior, mais escalável. Em certo momento, entendi que seria difícil ser global. Não dava para criar uma plataforma digital dentro do modelo de intercâmbio esportivo, de franquia… Hoje eu vejo que estava pensando na Netflix — dentro da Blockbuster.”
“SUDERJ INFORMA…”: SAI A NEXT E ENTRA EM CAMPO A TERO
Em outubro de 2018, Bruno vendeu o restante das ações para Felipe Melo e convidou outro sócio da Next, o COO (diretor de operações) Felipe Piovesan, a pensar em um novo modelo. Os dois investiram juntos R$ 150 mil no negócio, batizado com o nome, em espanhol, do quero-quero, ave que aparece no logo da Tero e serve de mascote à empresa.
A Tero disponibiliza uma plataforma digital em que o atleta se cadastra, preenche seus dados, coloca vídeos, informa seus objetivos e aguarda para ver se vai dar match com algum clube. A mudança de formato de atuação fez com que a dupla deixasse de lado um pouco o faturamento mensal e desse mais atenção à base de dados.
“Entendemos que o usuário vale mais do que receita. Quanto mais usuários a base cresce“
O escritório funciona na Barra da Tijuca, em frente ao Parque Olímpico. A conta básica é criada gratuitamente. O jogador preenche suas informações com experiências prévias, características físicas, qualidades — se é alto e tem facilidade na bola aérea, se é rápido e gosta de jogar pelas beiradas do campo –, e pode ainda anexar fotos e vídeos com seus melhores momentos.
Cada perfil é analisado digitalmente e avaliado por treinadores independentes, que classificam e destacam as particularidades dos atletas. Dessa maneira, os clubes e universidades têm acesso a uma base de talentos já avaliados.
Segundo Bruno, a ferramenta já tem cases de sucesso. Os estudantes Guilherme Bussato, 16, e Ana Caroline Lopes, 21, garantiram vagas em times de futebol universitários dos Estados Unidos graças ao aplicativo. O rapaz atua como lateral-esquerdo na St. Benedict Prep, em Nova Jersey; a moça joga de volante na Western Nebraska Community College.
A MONETIZAÇÃO DA PLATAFORMA AINDA ESTÁ EM ESTUDO
A monetização da plataforma ainda está em estudo. Bruno diz que ele e o sócio estão esperando a base de dados crescer para ver a melhor maneira de ganhar dinheiro com a plataforma. Sabem apenas que a forma de faturamento da Tero deverá ser diferente e mais abrangente do que a de uma agência de intercâmbio esportivo.
“A CBF disponibilizou para empresários por volta de R$ 200 milhões em comissão de agentes no ano passado… É um mercado bilionário que existe ainda de maneira ‘manual’. Por isso há vários caminhos”
Um deles seria vender planos aos atletas que possam ajudá-los a melhorar o currículo, incluindo um “personal coach” e séries de treinos táticos ministrados por vídeo. Há também a ideia de se cobrar uma taxa para que treinadores tenham acesso à base de dados dos atletas. Ou ainda trabalhar com publicidade na plataforma (“pode ser que tenha mix também”, afirma).
“Estamos no momento de descoberta, de qualificar a base”, diz Bruno. “Queremos monetizar a partir de 2020, quando chegarmos a 500 mil usuários. Podemos fazer acordos com ligas, com os clubes… Há muitas possibilidades.”
Recém-fundada, a Bepass encarou o desafio de instalar a biometria facial no Allianz Parque. Além de agilizar o acesso e combater os cambistas, a solução permitiu identificar o suspeito pela morte da torcedora Gabriela Anelli.
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