Nasci em Niterói (RJ), mas a vida me levou para além das margens iniciais — eu nunca me senti de lá. Nasci de um parto marcado por um hospital público em greve.
Infecções desafiaram a saúde da minha mãe e a minha, tirando dela a felicidade de uma noite tranquila, e de mim, a possibilidade de ser amamentada pela mulher que me deu à luz
Sempre vivi na Pedra de Guaratiba, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Mais tarde, o amor me guiou até a Barra da Tijuca, onde construo minha vida com o João Esposito, também meu parceiro de Yapuana, nosso negócio sobre o qual vou falar mais à frente.
Minha mãe é pedagoga e vem de uma família carente de uma vila de pescadores. A separação dos meus pais, antes mesmo do meu nascimento, criou distâncias que o tempo não conseguiu preencher.
Meu pai, falecido, me viu uma ou duas vezes. Sobre os meus avós paternos, sei que vieram de Aveiro, Portugal, em uma expedição.
Meu avô tem três livros publicados sobre a sua história, porém, a pessoa mais interessada por ela nunca teve a oportunidade de ouvi-la por inteira. O restante da família sempre manteve-se distante, receosos de intenções que nunca tive.
Na fase adulta, as coisas começaram a melhorar. Minha mãe tomou o espaço que a maioria das mulheres possui: me criou sozinha, desempenhando um trabalho de “pãe”.
Confesso que nunca fomos próximas, pois ela sempre estava na rua ou no trabalho. Nossa aproximação aconteceu recentemente, após a minha depressão.
Antes disso, não tinha colo, carinho ou atenção. Ela sempre me dizia: “Te criei para o mundo, para ser independente”.
Minha infância e a escola eram como uma dança solitária, mesmo sendo privilegiada. Eu era sempre a menina que tinha boas notas pela pressão de ser filha da dona da escola.
Eu precisava ser o exemplo não para um irmão ou amigo, mas para a escola inteira, e isso era cansativo demais. Então, na maioria das vezes, preferia ficar sozinha. Imagina só uma jovem de nem 15 anos tendo a responsabilidade de ser a melhor
Mais tarde, me formei em Direito. Na época, lembro que eu não sabia o que queria ou qual era o meu propósito. Fiz porque tinha que fazer algo.
Como a vida me veria se eu não tivesse alguma formação? Essa jornada envolveu transferências, desistências, desafios e superações.
Passei na OAB e, em 2018, abri meu próprio escritório que funciona até hoje. A advocacia foi por necessidade, mas o empreendedorismo, que só veio depois, é paixão!
Desconfiei do burnout quando comecei a ter crises no trabalho, durante a pandemia. Tinha muita carga e responsabilidades na época.
Psicossomática, tive crises abdominais e de barriga. Passava mal ao ver um e-mail, tinha sudorese excessiva, além de crises de pânico.
Como demorei para ouvir meus sinais, tudo isso desencadeou uma depressão. Já o TDAH e outros transtornos foram diagnosticados pelo psiquiatra após o burnout e a depressão.
Um diagnóstico tardio, aos 31 anos, mas que foi um divisor de águas e, na verdade, deu um novo sentido à minha vida. Finalmente, consegui me enxergar
Entender o processo por outra perspectiva me fez ser mais gentil comigo mesma. Passei a ter uma vida mais leve, fluida e com uma rotina de busca para o bem-estar.
Logo depois, ainda descobri que tenho gliose, um tumor no cérebro que pode levar à demência…
Meu processo de cura foi longo, dolorido, mas valeu a pena. Tomei medicamentos por quase dois anos, mas não desisti de mim, e esse foi o melhor presente que eu poderia me oferecer.
Já tive alta, mas ainda tomo remédios para dormir porque a minha cabeça não me deixa descansar. Enquanto durmo, meu interior insiste em me acordar.
O meu médico foi fundamental no processo e me pediu para que cuidasse da tríade corpo, mente e alma. Me indicou também que eu me espiritualizasse e buscasse terapias holísticas
Frequentei templos, centros, recebi reiki e, embora eu não tenha uma religião, de certa forma a espiritualidade também me ajudou nesse processo.
Acredito no bem maior e no amor, fiz práticas integrativas, terapia com aromas e, hoje, posso dizer que devo minha vida ao médico e ao João.
Conheci meu marido porque seu pai era contador da escola da minha mãe quando eu ainda era criança. Em 2016, tive meu primeiro contato real com ele, quando discutimos o processo de um cliente em comum.
O nosso debate gerou uma faísca. No ano seguinte, em 2017, começamos a conversar pelo Instagram, marcamos um encontro e, desde aquele dia, nunca mais nos soltamos.
Nos juntamos em três meses, noivamos, casamos e estamos juntos há seis anos construindo uma família.
A Yapuana nasceu dessa percepção que fui tendo ao longo do meu tratamento a respeito da importância do bem-estar e do autocuidado.
Dois dos meios para combater o burnout foram a aromaterapia e a aromacologia, que é a ciência dos efeitos psicológicos e fisiológicos dos aromas. A primeira funciona de forma natural; a outra, adicionando outros compostos na formulação.
Esses tratamentos holísticos e espirituais recomendados pelo meu médico psiquiatra fizeram toda a diferença no meu processo.
O João percebia pela minha jornada de cura como esses tratamentos e métodos conversavam entre si, mas não existia um canalizador para um tratamento mais efetivo, algo que unisse os tratamentos e gerasse incentivos.
Mesmo ainda desanimada, decidi que ia empreender e o meu objetivo passou a ser ajudar outras pessoas que estivessem passando pelas mesmas experiências que eu.
Foi em uma conversa no carro com João, em um túnel onde no fim havia uma luz (literalmente) e, ao som de “Dog Days Are Over”, de Florence and The Machine, que veio o estalo:
“Vamos fazer um incenso com diversas aplicações de essências — o primeiro incensário eletrônico em cápsula do mundo, acionado e controlado por aplicativo”
Aos poucos o Intenso foi criando forma e a Yapuana nasceu como uma empresa de tecnologia olfativa e bem-estar.
A ideia é que as pessoas possam controlar o fluxo do aroma com as Intensidades, cápsulas de incenso sólido recicláveis com fragrância funcional personalizada e exclusiva desenvolvidas por nosso líder de aromas Theo Bibancos, neurocientista e perfumista especializado em psicologia do olfato.
Elas possuem duração de 24 meses e são divididas em uma escala de 1 a 10, em que a 1 possui um aroma mais leve e a 10, o mais intenso. Cada Intensidade possui benefícios e indicações para auxiliar a sua busca pelo bem-estar.
Em todo esse processo, nos preocupamos com a sustentabilidade. Por isso, diferentemente dos difusores, não usamos água nem óleos essenciais, provenientes de um extrativismo predatório
Para se ter uma ideia, se utilizarmos diariamente o Intenso por 30 dias seguidos, só teremos consumido 100 gramas de matéria-prima, enquanto um difusor com óleo essencial consome pelo menos 9 quilos, além de precisar de água para seu funcionamento.
Em dezembro, finalizamos a fase de pré-venda por meio de um crowdfunding na Benfeitoria. Esses recursos vão nos permitir finalizar a primeira produção industrial. As entregas estão previstas para julho.
Desde que essa ideia nasceu, temos colhido muitos frutos, conhecido as pessoas certas, como se tudo em nossa volta nos lembrasse de que estamos em um bom caminho.
E claro, para os dias em que isso não fica evidente, meu lema é: “Tudo bem não estar bem hoje”.
A rotina real é minha bússola para o equilíbrio. Após a autodescoberta recente, abraço uma vida mais leve, sem máscaras ou retoques.
A Bruna de hoje é uma mulher que encontrou seu propósito, que amadureceu, mas que ainda está em evolução. É mais colaborativa, consegue conectar melhor seus valores e faz questão de gerar conexões
Confesso que a ideia de ser inspiração para outras empreendedoras tem me feito brilhar os olhos. Digo adeus à culpa, ao complexo de perfeição, às angústias e cobranças comigo mesma. Eu estou e quero permanecer aberta para o mundo e para a vida.
Nessa jornada, também destravei habilidades e reconectei até com quem sou ancestralmente.
Gosto de desenhar, pintar, bordar e andar de patins! Descobri que minha mãe, antes de ser pedagoga, era topógrafa e meu pai, desenhista.
Foi em um curso de desenho profissional que eles se conheceram: isso me faz ver que quando você vai ao encontro de si, a conexão é muito mais forte e profunda. E eu gosto de profundidade
Para mim, a Yapuana não é só uma empresa, é a extensão da minha jornada de autodescoberta e cura.
Como nossa essência está no coração e em tudo o que fazemos, eu desejo que existam outras pessoas esperando para florescer e exalar o aroma da esperança por dias melhores e do bem-estar conosco, com o outro e com o mundo.
Bruna Estima é advogada e fundadora da Yapuana.
Nascida na periferia de Manaus, Rosângela Menezes faz parte da primeira geração de sua família a ingressar na faculdade. Ela trilhou carreira no marketing digital e conta como fundou uma edtech para tornar esse mercado mais diverso.
Fabrício Moura cursou direito para trabalhar em uma multinacional, encarou um burnout, se reinventou como designer gráfico e, numa nova guinada, largou o emprego para desbravar o planeta com o blog Vou na Janela, há nove anos no ar.
Zélia Peters e a filha, Luana Lumertz, nunca tinham falado entre si sobre sexo. Depois que a mãe superou um relacionamento abusivo e comprou seu primeiro vibrador, as duas decidiram empreender a Egalité Sex Shop, com foco no prazer feminino.