Mexer com bancos, contas e pagamentos no ambiente empresarial costuma ser um desafio para quem está entrando (ou até já atua há tempos) no universo do empreendedorismo.
Desde abrir contas e lidar com tarifas até o controle interno de despesas e gastos com cartão corporativo, é fácil se perder em meio ao excesso de burocracia da parte financeira, especialmente enquanto o negócio cresce de tamanho e precisa de soluções cada vez mais complexas.
Rodrigo Tognini, cofundador da Conta Simples, conhece essa dificuldade de perto. Eles já tinham tentado empreender outra fintech lá atrás, em 2018 (na companhia de Fernando Santos, um de seus sócios atuais). Rodrigo, 27, tocava então a parte financeira daquela empreitada e lembra:
“Abrir uma conta no banco foi um parto… Era bem complexo e burocrático me relacionar com o produto. Tinha muita funcionalidade, o relacionamento não era lá essas coisas, o preço era alto, tinha tarifa para tudo…”
Aquele primeiro projeto não avançou, mas os perrengues plantaram a sementinha na cabeça da dupla. Foi assim que nasceu a Conta Simples, que reúne conta corrente, cartões corporativos e gerenciamento de gastos para empresas – tudo numa plataforma só.
O foco da Conta Simples são PMEs, rapidamente escaláveis, que já nasceram com vocação digital e precisam de soluções financeiras ágeis e flexíveis.
A solução envolve o acesso ilimitado a múltiplos cartões físicos e virtuais dentro da empresa, para dividir e organizar os pagamentos entre os departamentos, diz Rodrigo, CEO.
“A Conta Simples permite definir um centro de custo e um usuário responsável para cada cartão, assim como um limite de gastos. Com isso, você gera uma descentralização muito interessante na economia”
Diferentemente dos bancos tradicionais, o limite de gastos dos cartões é o saldo que há na conta.
O modelo de negócios é transacional: a Conta Simples recebe um percentual em cima do volume movimentado em conta e do uso dos cartões.
Inspirados por benchmarks estrangeiros, a dupla deu os primeiros passos para esboçar a Conta Simples em 2019.
“Começamos a entrevistar uma galera, desde startups, PJs de tecnologia, profissionais liberais… Todo mundo reclamava dos grandes bancos”, diz Rodrigo. “Então percebemos que tínhamos espaço e decidimos entrar nisso.”
Outro motivo para investir esforços no B2B foi evitar a concorrência da maioria dos bancos digitais, que acabam atendendo mais pessoas físicas.
“No fim do dia, são coisas muito diferentes. Um CNPJ tem que lidar com contabilidade, fluxo de caixa, conciliação, folha de pagamento, ainda tem mais pessoas que acessam a conta, precisa de vários cartões… O banco não vai conseguir dar conta de tudo isso”
O investimento inicial, de 160 mil reais, veio de investidores anjo. Com o orçamento modesto de uma startup em construção, eles tiveram de encarar a busca por talentos, especialmente acirrada na área de tecnologia.
Finalmente, com a equipe montada, a Conta Simples se dedicou a desenvolver sua plataforma, lançada em agosto de 2019.
Com a plataforma no ar, os sócios da startup sacaram que faltava mirar em um recorte mais definido de clientes e soluções:
“A gente percebeu que, se fosse tentar oferecer ‘tudo para todo mundo’, ia virar “pato”, que nada, anda e voa – mas não faz nada direito… Então tínhamos que escolher uma coisa e fazer muito bem feita”
No começo de 2020, com a pandemia e a crise batendo à porta, eles sabiam que gerar fluxo de caixa – e rápido – seria crucial para a sobrevivência do negócio.
Pensando nisso, os empreendedores se debruçaram sobre a sua própria base de clientes, que contava então com cerca de mil CNPJs. Nessa investigação, tiveram um insight importante:
“Vimos que mais de 90% da receita vinha [apenas] de 10% da base de clientes ativos. Eram empresas da nova economia que precisavam usar cartão para gastos com anúncios, plataforma, software, compras online… Ali estava um nicho”
A partir desse ponto, a Conta Simples redirecionou a sua estratégia e passou a desenvolver soluções voltadas especificamente para empresas de tecnologia.
Rodrigo conta que foi então que o negócio pisou no acelerador. Apesar da pandemia e das finanças patinando naquele início de 2020, a startup fechou o ano gerando caixa – e crescendo.
Segundo o CEO, um aspecto importante foi a conclusão de que não bastava oferecer uma conta PJ, mas sim construir toda uma jornada financeira, que incluía três pilares: conta corrente, plataforma de gestão de cartões corporativos e soluções de gerenciamento de despesas.
A oferta, diz Rodrigo, faria sentido para empresas da nova economia, caracterizadas por grandes despesas e altos gastos com cartão, mas que também tinham dificuldades para obter acesso a todas essas funcionalidades num banco tradicional.
No final de 2020, a Conta Simples captou 2,5 milhões de dólares numa rodada liderada pelo fundo Quartz. Em 2021, levantou o mesmo valor junto à aceleradora americana Y Combinator. E, finalmente, já no fim de 2021, captou 121,4 milhões de reais em uma rodada liderada pelo JAM Fund e Valor Capital.
A fintech transaciona 650 milhões de reais mensais e vem crescendo de 10% a 15% ao mês. No ano passado, o faturamento foi seis vezes maior do que no ano anterior.
Hoje, a Conta Simples tem mais de 40 mil clientes, entre empreendedores, startups e e-commerces. O CEO cita como um case interessante a relação com a revista Exame, que atualmente integra o BTG Pactual.
A publicação entrou em contato com a Conta Simples relatando uma enorme dor de cabeça com a gestão de cartões corporativos, além de uma dificuldade para controlar os gastos e o orçamento, problemas que surgiram com o crescimento rápido do negócio.
A solução acabou sendo o uso de múltiplos cartões corporativos, inicialmente apenas no setor de marketing, mas cujo uso depois se expandiu para um total de oito áreas do cliente, descentralizando os pagamentos que antes aconteciam em uma única fatura.
Assim, além da autonomia que garantiu para cada departamento, a Exame passou a categorizar as despesas no cartão de crédito por centro de custo, facilitando a operação e economizando tempo.
“Foi interessante porque foi um cliente inesperado, a gente não estava focando nesse perfil. Dali percebemos que era importante abrir estruturas para conseguir clientes maiores”
Entre esses clientes mais parrudos hoje estão scale-ups que já foram pauta aqui no Draft, como Buser e idwall, além de “outras nesse perfil que a gente já atende super bem”.
A pandemia, claro, forçou a Conta Simples a migrar para o home office. Hoje, apesar do escritório físico em São Paulo, a maior parte da equipe trabalha de casa e está espalhada pelo Brasil.
O time, que tinha 15 colaboradores lá no começo, cresceu mais de dez vezes. São 170 funcionários que se dividem entre três áreas (operações de receita; tecnologia e produto; e administrativo).
Um dos principais desafios é como manter o engajamento nas alturas, mesmo em meio ao trabalho remoto, e preservar a cultura interna ágil e flexível – algo mais fácil quando a estrutura é mais enxuta.
Enquanto isso, a Conta Simples se prepara para seguir crescendo e antecipar os próximos passos. No longo prazo, afirma o CEO, a empresa deve evoluir para se tornar uma Sociedade de Crédito Direto (SCD), regulada para realizar operações de crédito e financiamento.
“Lá atrás diziam que a gente era um bando de moleques querendo competir com bancos tradicionais: ‘esse negócio não vai dar certo, o mercado é competitivo, esse jogo é só para quem tem muito capital…’”, diz Rodrigo. “Provamos que ainda tem muito espaço [no setor].”
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