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Sua meta para 2023 é emagrecer? Ele perdeu 25 quilos e se uniu ao médico para criar uma startup e ajudar você a entrar em forma

Dani Rosolen / 28 dez 2022
O médico Eduardo Rauen (à esq.) e Fernando Vilela, cofundadores da Liti.
Dani Rosolen - 28 dez 2022
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Fernando Vilela, 30, chegou a pesar 103 quilos, com 1,90 metro de altura. Ele não sabia que estava obeso (detalhe: mais de 41 milhões de brasileiros estão!), apenas se sentia cansado.

Em busca de ajuda clínica, Fernando entrou no consultório do doutor Eduardo Rauen, 42, médico nutrólogo e do esporte. Seguindo o tratamento, perdeu 25 quilos em cerca de seis meses, e nunca mais “encontrou” esses quilos. Isso porque o processo de emagrecimento se baseou em reeducação alimentar e, claro, adoção de prática de atividades físicas. 

A história poderia ter terminado aí. Mas a relação entre paciente e médico se desdobrou em um novo capítulo. Ambos resolveram combinar suas trajetórias e conhecimentos — Fernando é ex-sócio e ex-CMO da Rappi; Rauen já foi dono de academia e faz parte do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein — e juntos empreenderam a Liti.

Fundada em janeiro de 2022, a healthtech se propõe a acompanhar as pessoas no processo de perda de peso e melhoria da saúde metabólica, além de redução de doenças associadas ao sobrepeso, por meio de uma solução online. O nome em de lit, gíria em inglês que significa “excitante”, “emocionante”, “energizante”. Fernando afirma:

“A Liti é muito mais sobre reeducação alimentar e muito menos sobre regime e dietas para perder peso. Tanto que o Edu brinca que regime tem data para começar e acabar – e no geral dão errado. O que não tem data para começar e acabar é como você aprende a comer”

A proposta da startup consiste em consultas mensais com um time de saúde multidisciplinar, além de acompanhamento diário do paciente no seu próprio grupo de WhatsApp, envio de uma balança de bioimpedância com tecnologia proprietária, que se conecta ao app da Liti, e o monitoramento dos dados gerados pelo cliente, para saber se o plano alimentar estabelecido (e personalizado) está dando resultado.     

Em menos de um ano de operação, a Liti captou um aporte seed de 21 milhões de reais — e, segundo Fernando, já ajudou seus clientes a eliminarem 2 toneladas de gordura.

A seguir, ele conta como foi o seu processo de emagrecimento e os principais desafios para mudar seu estilo de vida e empreender um negócio que se propõe a fazer o mesmo pelos outros, sem neuras, fórmulas mágicas ou dietas malucas.

 

Quando você começou a buscar tratamento para a obesidade e quais foram os sinais de alerta que te fizeram procurar ajuda profissional?
Em 2019, comecei a me sentir muito cansado e pensei que estava com algum tipo de exaustão, até um burnout. Busquei ajuda médica e num primeiro momento, fui parar numa profissional que me recomendou o uso de manipulados. Para ter uma ideia, eu tomava mais de sete cápsulas por dia, um negócio surreal. Até então, ela me falava que meu nível de cortisol era alto, coisas assim mais vagas.

Quando entrou a pandemia, me dei conta de que estava há um tempo indo naquela médica e seguia cansado, achei que tinha algo errado. Aí uma amiga minha me apresentou o Rauen e ele, de primeira, me colocou numa balança de bioimpedância e disse que meu problema não era burnout, mas obesidade. Ele me mostrou que eu estava 25 quilos acima do peso e com percentual de gordura acima de 30%. 

Fiquei meio chocado. Lembro de falar assim: “Doutor, estou cansado, não vim aqui para emagrecer e fazer regime, vim para ficar tranquilo”. Ele me explicou o quanto aquele excesso de gordura impactava o meu metabolismo e quais eram as dinâmicas por trás daquilo e do meu cansaço

Me disse que a única forma de mudar isso era perdendo peso. Como eu já estava lá e a consulta era cara, resolvi seguir o que ele falou e deu certo!

Como foi todo o processo de mudança de estilo de vida para emagrecer 25 quilos e qual foi o principal desafio neste processo de transformação?
No primeiro mês, junho de 2020, eu perdi oito quilos. E aí foi “uau”, algo muito impactante. Nos meses seguintes, até novembro, perdi um total de 25 quilos e sigo acompanhando até hoje. Eu tinha 103 quilos e hoje estou com 80,5 quilos. Mas mudei por completo minha alimentação.

Antes, eu não comia frutas, salada, nada disso… Só que num processo de reeducação alimentar bem feito, não uma dieta louca, não se sente muito o impacto, é mais questão de ter composições corretas, balanceamento e opções conectadas ao tipo de atividades físicas praticadas.

É óbvio que gera um estresse no começo, mas o ganho que se tem é muito maior do que o estresse da mudança, como a sensação de uma roupa ficar mais confortável ou o sono com mais qualidade. Não é fácil, mas quando se aprende que dá para fazer trocas, tipo substituir o pão com manteiga por ovo e uma fatia de pão, e ficar igualmente saciado igual, dá para ser um processo gostoso.

Mas atividade física para mim foi o maior desafio, um parto. Eu tinha zero a cultura de me exercitar, nunca fui uma pessoa disciplinada

Começar a ir na academia para levantar peso era algo impensável para mim num primeiro momento. Então, comecei caminhando, depois tentei fazer aula de spinning online, mas descobri que tenho um problema no quadril e não posso pedalar. 

Aí, enfim, fui fazer musculação uma vez na semana, depois duas, três, cinco e hoje faço sete dias, porque virou algo essencial. Por mais chato que seja acordar cedo e ir até a academia, o dia que não faço sinto muita diferença no meu humor, bem-estar e produtividade.   

Você chegou a ficar com receio de um “efeito sanfona”? E como passou a lidar com a saúde e a alimentação depois disso tudo?
Para mim, é um pouco mais fácil evitar e entender isso porque convivo neste ambiente que tem todo um time falando o tempo todo sobre esse assunto.

Eu diria que o medo do reganho, do “efeito sanfona”, é um dos motivos que mais me estimulou a pensar na importância que um negócio como a Liti teria na vida das pessoas.

Pois, a gente não só ajuda no processo de reeducação alimentar, mas segue acompanhando os pacientes nesse processo, sabendo biologicamente que o seu maior peso é o melhor peso para o seu organismo, ou seja, seu corpo vai sempre lutar para tentar voltar a ganhar esses quilos.

Em que momento você percebeu que aquilo que você vivenciou poderia ser transformado em um negócio com a ajuda da tecnologia e como o Eduardo recebeu a ideia de sociedade?
Depois de quase oito meses como paciente do Edu, em uma consulta de rotina, ele comentou comigo de uma pesquisa que tinha acabado de sair e mostrava que o Brasil era o país em que mais rápido tinha crescido a incidência de sobrepeso e obesidade na história da humanidade. Foram 14 pontos percentuais em uma década.

Ele estava meio para baixo com a notícia, com o lado de enxugar gelo, achando que não conseguia mudar a sociedade, apesar de ser um bom médico. E aí sugeri que ele aumentasse sua equipe para assim cuidar de mais gente. Mas ele achava que isso não mudaria a dinâmica, o contexto. Então, propus que a gente montasse algo online.

Esse pingue-pongue entre a gente gerou várias discussões e decidimos fazer um teste, que apesar de pequeno teve um resultado muito bom.

Fomos estudando o tamanho do impacto, o quanto isso gerava de valor e era uma dor — e uma dor que ia para além da consulta, ou seja, como uma plataforma online ajuda a capturar esses momentos fora do consultório

Mudar o estilo de vida é complexo, exige engajamento para além do momento de consulta, então como usar o online para estimular isso. E também do lado de saúde, como ao capturar dados, a gente tem um desfecho clínico mais relevante

Sua experiência no ecossistema de startups, mesmo não empreendendo diretamente, contou pontos na hora de fundar a Liti?
Sim, eu entrei na Rappi como um dos primeiros funcionários do Brasil. A gente operava apenas em quatro quarteirões de São Paulo.  

Lá, como fiquei bastante tempo e tinha uma relação bastante próxima com os fundadores, ajudei em vários pontos de cultura, de recrutamento, questões que iam além do que montar um time de marketing growth e liderar essa equipe. A empresa tem toda uma cultura de estimular o empreendedorismo dentro de casa, hoje já são mais de 65 pessoas ex-Rappi empreendendo.

Antes, a Liti era um negócio paralelo, quase como um investimento-anjo, eu tinha outros, mas deste eu participava mais ativamente. Quando começamos a coletar feedback e entender o tamanho do potencial, falei com o pessoal da Rappi e decidi sair porque estava apaixonado pelo propósito e ideia.       

Na prática, qual a proposta da Liti?
Nossa proposta começa com aquilo que é mais importante para as pessoas e o que a ciência mostra que é o mais importante, a alimentação. Então, a jornada inicial é muito sobre como encontramos a alimentação que mais se adequa à rotina e à resposta metabólica do paciente.

Para isso, a gente aloca um time de saúde multidisciplinar, com médica, nutricionista e cientista comportamental, que vai conhecendo a fundo o cliente e, junto com ele, definindo a estratégia inicial para aquele objetivo que ele quer perseguir.  A parte de dados é muito importante — não tanto para o cliente — mas para o time de saúde entender se aquela estratégia está gerando efeito. 

Então, mandamos para a casa dele uma balança de bioimpedância proprietária, que a gente mesmo desenvolveu conectada ao nosso app, para poder acompanhar e ver se o plano que propusemos está, de fato, mudando a composição corporal

E aí, não fica uma métrica cega. No primeiro mês, recomendamos que a pessoa se pese todos os dias. Temos sempre um time de plantonistas no grupo de WhatsApp analisando essas informações. Enviamos também uma balança de pesar alimentos, porque a pessoa não tem noção do que é 120 gramas de proteína, 100 de carboidrato.

Com os dados coletados da balança, a equipe médica e o próprio paciente conseguem acompanhar sua evolução pelo app da Liti.

O tempo inteiro a gente está fazendo este looping entre os dados dos clientes, a composição corporal dele, os dados qualitativos, gerados por coleta de pesquisa e pelas consultas e conexão com o time de saúde pelo WhatsApp e sempre com feedbacks de quão isso está adequado para a sua rotina. E aí com isso, a gente vai ajustando e chegando na combinação ideal para que o cliente atinja os objetivos desejados.

Depois disso, da meta alcançada, a gente busca entender como segue acompanhando a pessoa de uma maneira menos dependente da consulta e mais assíncrona. Para além disso, entendemos que essa jornada de uma vida mais saudável não é fácil, então a gente ajuda a entender os processos de atividades físicas, a achar fornecedores de alimentação congelada saudável, de suplementos, enfim, vamos conectando o cliente com o que ele precisa.

Qual foi o principal desafio no desenvolvimento da startup?
Todos! Um desafio muito grande que a gente teve e já superou foi questão de prontuário eletrônico, porque temos algo que ninguém tem, que é um cuidado sincronizado entre diferentes profissionais de saúde, com captura de dados de diversas fontes, do app, da balança, de Google Health, Apple Fitness, Apple Health, e sempre colocando o indivíduo no centro e conectando tudo isso a um plano alimentar.

A Liti Box, com a balança de bioimpedância de alta precisão e a balança de alimentos.

Há toda uma complexidade por trás que nenhum prontuário tinha a capacidade de fazer, então a gente teve que montar isso do zero. E é algo muito importante quando se pensa em desfecho clínico, pois ajuda muito nossos clientes a ter uma experiência fluida, e não toda a hora ter que repetir a mesma história ou as informações se perderem.

A conexão com a balança via bluetooth sempre teve muita emoção em termos de tecnologia. Mas eu brinco que o bluetooth da Apple ou mesmo dos carros às vezes, né…    

Em 9 meses, a Liti calcula que ajudou os clientes na redução de 2 toneladas de gordura. Como esse cálculo foi feito? Isso parece muito. Ou vocês já estão com muitos clientes ou as pessoas emagreceram bastante. Qual das duas opções?
É um dado próprio. A Liti tem um desfecho clínico bem relevante, então conseguimos fazer as pessoas perderem bastante peso. Não revelamos o número de clientes, mas tem vários amigos meus que perderam 10 ou 15 quilos aqui com a gente, e isso vai compondo junto as 2 toneladas.

Para validar isso, a gente recém contratou, de forma terceirizada, um livre docente da USP para fazer toda a parte de pesquisa clínica e garantir que, de fato, nosso resultado é verdadeiro, que os dados fazem sentido, para ter esse lado da auditoria. 

Emagrecer vai muito além da estética, mas o que mais vemos difundido hoje geralmente são fórmulas milagrosas, que levam em conta apenas a aparência. Como a Liti trabalha isso com seus clientes?
Acho que o ponto que melhor explica isso é que a gente usa uma médica na jornada. E quando a médica começa a explicar que aquilo tem impacto na sua saúde, a gente vai mostrando esse lado da saúde e não só da beleza. 

Obviamente, tem clientes que chegam aqui com objetivos puramente estéticos, com foco no fim de ano, no Carnaval, em um casamento. E tudo bem, cada um tem o seu gatilho que pode fazer com que mude o estilo de vida

Nosso desafio é mostrar que aquilo vai além. Eu claramente não sou o estereótipo de uma pessoa que está “bombadona”, aquele cara que perdeu peso e está um “ogro” por fazer academia todo dia, não é meu objetivo, não malho para ficar definido e trincado. É mais sobre saúde e, obviamente, o Edu tem todo esse lado.

E até uma forma de a gente proteger a Liti em relação a isso é que nosso valor é: “Ciência acima de tudo”. Tudo o que a gente faz e está olhando e estudando tem que ser validado pelas principais publicações científicas do mundo.  

Não estamos falando da necessidade de perder peso pela beleza, mas como um problema de saúde que, se ignorado, tem todo um custo de expectativa de vida, socioeconômico, de piora da qualidade de vida

Uma analogia que fazemos muito com nossos pacientes não é sobre quantos anos você vai viver, mas como você vai viver.

Hoje, a assinatura mensal da Liti custa 700 reais, com redução para 150 reais a partir do 6º mês. Há planos para baratear esse valor inicial e assim impactar mais pessoas?
Sim, sempre falo que saúde é para ser inclusiva. Hoje, dado o nosso contexto, a gente é exclusivo e eu tenho plena consciência e noção sobre isso.

Toda vez que eu entro no escritório, toda vez que eu anda na rua reflito sobre pessoas que talvez desejem nosso serviço, mas que não podem pagar 700 reais por mês, porque às vezes isso representa metade ou um terço da renda delas

O ponto é que a Liti tem dez meses de vida e ainda precisamos criar a tecnologia, o produto e a interface para que a gente não dependa tanto do time de saúde, que é o grande custo no fim do dia, para ter produtos mais acessíveis e poder cuidar da população como um todo.

Atualmente, a gente não consegue abrir mão de preço porque compromete a margem e a sustentabilidade do negócio. Então, é melhor ter um pouco de calma, para chegarmos ao nosso grande sonho no momento certo. 

Além do seu próprio caso, você pode citar alguns exemplos de sucesso de emagrecimento e superação de pessoas que usaram o serviço da Liti até aqui?
Teve um caso emblemático de uma paciente que chegou aqui e queria engravidar, mas não conseguia, estava fazendo vários tratamentos e acompanhamentos. E com toda a ansiedade gerada por essa situação, acabou engordando mais.

Existe toda uma literatura que mostra que estar com o peso em dia ajuda no processo de gravidez. Apresentamos isso a ela, que foi super aderente ao processo e conseguiu engravidar depois de emagrecer.

Tem outro caso de uma paciente que tinha gordura no fígado e, depois de seis meses com a gente, eliminou esse problema e nem toma mais medicação relacionada a isso, teve a alta. 

E por fim, um outro caso que para mim é muito especial é de uma menina de 13 anos, pois a gente atende crianças, desde que acompanhadas pelos responsáveis.

A mãe dela nos contou que ela sofria bullying na escola, gordofobia, tinha vergonha de sair de casa, todos os estigmas sociais relacionados ao excesso de peso

E esse acompanhamento com a Liti não só fez com que ela superasse isso, mudou sua autoestima, como fez com que essa menina se tornasse embaixadora na casa dela de um estilo de vida mais saudável. 

A mãe ainda falou o quanto isso mudou a dinâmica familiar e o quanto agora a filha ama ir para a escola. Antes, ela tinha trauma de fazer educação física, hoje faz atividade física todos os dias e chama os pais para fazer. É um caso do quanto a mudança impacta não só a vida do paciente, mas repercute também ao redor, no ambiente, na família. 

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