Em São Paulo, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) recebe cerca de 600 chamadas diárias que exigem o envio de equipes de socorro. Pelo menos 40% são atendimentos graves, como acidentes e infartos. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, o tempo médio de chegada da ambulância são 36 minutos, uma eternidade (a Organização Mundial de Saúde recomenda no máximo 12 para emergências).
Acelerar o atendimento é o principal motivo que leva uma das empresas terceirizadas de ambulâncias da capital paulista a contratar a Cobli, uma startup de monitoramento e gestão de frotas para micro e pequenas empresas. Um rastreador (do tamanho de uma carteira) instalado nos veículos coleta e transmite mais de 5 mil dados diários. COO e cofundador, Rodrigo Mourad, 29, explica:
“Oferecemos o mesmo pacote de informações para todos os clientes, mas cada um pode utilizá-lo com objetivos diferentes. No caso do SAMU, conseguimos reduzir em 40% o tempo de resposta a um resgate nas unidades monitoradas”
Fundada em 2015, a Cobli hoje opera em mais de 100 cidades, com foco sobretudo no Sudeste. Em 2018, faturou R$ 17 milhões e cresceu 500%, segundo Rodrigo. “Temos projeção de crescimento semelhante em 2019.”
EXPERIÊNCIAS NA ÁREA DE LOGÍSTICA MOLDARAM A VISÃO DO EMPREENDEDOR
Rodrigo é engenheiro de produção mecânica graduado pelo Instituto Mauá de Tecnologia, em São Caetano. Logística sempre fez parte da sua trajetória profissional. “Até quando trabalhei para o mercado financeiro, atendia a uma empresa de logística. Mais tarde, dei aulas sobre esse tema em bancos de investimentos.”
Ele era consultor na Bain & Company quando teve o estalo de que os micro e pequenos empresários ficavam descobertos na sua gestão de frotas — e essa necessidade poderia embutir um negócio promissor.
“O que já existia, como monitoramento via satélite, era caro demais e nem sempre eficiente para esse público… Eu queria abrir uma empresa que unisse rapidez e eficiência por um preço justo”
O empreendimento só começaria a tomar forma depois que Rodrigo conheceu (por um amigo em comum) o americano Parker Treacy, seu sócio. “Ele já tinha experiência como empreendedor nos Estados Unidos, onde criou, em 2006, o First Help Financial, que concede crédito para a compra de automóveis”, diz Rodrigo.
DEPOIS DE MUDAR DE FOCO, A STARTUP ARREBATOU UM PRÊMIO EM HARVARD
O começo da operação da Cobli não foi como eles imaginavam. “Começamos pelas pessoas físicas, mas logo percebemos que o valor gerado era bem maior para as empresas.” Os veículos corporativos rodam cinco vezes mais por dia e os motoristas operam rotas muito mais complexas do que o cidadão comum. “Na prática, a gente não ficou mais do que três meses com pessoas físicas.”
Quando a plataforma foi readequada para micro e pequenos empreendedores, era a vez de compreender quem acessaria as informações: o dono da empresa, o motorista ou um gestor?
“Um dos grandes desafios foi entender quais seriam as necessidades desse novo público-alvo. Quando dominamos essa fase, as coisas ficaram mais fáceis”
Um ponto de virada se deu em 2016, quando a Cobli foi a primeira latino-americana a vencer o Harvard Business School – New Venture Competition, um desafio promovido pela universidade para alunos e ex-estudantes interessados em lançar negócios inovadores e empreendimentos de impacto social.
“Parker é formado em Matemática e Economia pela Duke University e tem MBA por Harvard, por isso pudemos nos inscrever no desafio.” A Cobli superou 190 startups e arrebatou o prêmio principal, de US$ 50 mil. Mais do que pelo dinheiro, valeu pela chancela de Harvard, que encheu os sócios de confiança para seguir em frente.
A FERRAMENTA INFORMA A LOCALIZAÇÃO DOS CARROS DE 5 EM 5 SEGUNDOS
Nos Estados Unidos, segundo o COO, 50% dos veículos comerciais são rastreados por dispositivos semelhantes ao da Cobli (que desenvolveu tecnologia própria); no Brasil esse número estaria abaixo de 10%. Por pouco tempo, se depender da startup.
“Antes, os gestores não tinham como gerenciar aquilo que não sabiam.” Os dados coletados e enviados pelo aparelho da Cobli podem ser acompanhados em tempo real pelos clientes e também são analisados por um programa de inteligência artificial e transformados em relatórios.
“Conseguimos informar a localização dos veículos de cinco em cinco segundos, algo marcante, especialmente para clientes de atendimento de emergência. Os dados em tempo real permitem tomar decisões mais rápidas e certeiras”
Rodrigo diz que os gestores de frotas passam até três horas por dia conectados na plataforma da Cobli (“Estamos competindo com o Instagram no tempo de conexão”, brinca), acompanhando tudo ao vivo.
Pela ferramenta, é possível fazer a gestão de combustível, programar manutenções e saber se o motorista está respeitando as leis de trânsito, percorrendo rotas eficientes, fazendo todas as paradas previstas e cumprindo os horários certos.
ENTRE OS CERCA DE 1 000 CLIENTES, 80% TÊM MENOS DE 50 VEÍCULOS NA FROTA
A Cobli tem hoje 115 funcionários; segundo a empresa, a maior parte do time está alocada na construção de produto. “Dispomos também de um time de customer success, responsável por ajudar os novos clientes a configurar a plataforma e ensiná-los a tirar proveito do sistema”, diz Rodrigo.
O portfólio inclui cerca de mil clientes; 80% são empresas de serviços, com menos de 50 carros. Há desde transportadoras e firmas de manutenção até empresas de entrega de produtos do e-commerce e consultores de vendas do varejo (que tiram pedidos de restaurantes, bares e supermercados).
A mensalidade varia conforme o tamanho da frota, mas na média gira em torno de R$ 100 por veículo. Entre os clientes estão a startup de decoração Mobly, a desentupidora Império e a Bem Emergências Médicas, terceirizada que presta serviço para o SAMU.
Há seis meses, a startup vem monitorando veículos em Portugal e no Chile. “Eles chegaram até nós pelo site, em busca orgânica. Por sinal, 90% de nosso crescimento foi inbound”, diz Rodrigo.
Por ora, porém, o foco é ampliar o mercado nacional. “A Internet das Coisas para logística está em expansão. As empresas daqui já estão observando o diferencial competitivo dessas tecnologias, isso nos deixa otimistas para investir numa escala maior.”
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