Como reduzir as emissões de uma frota de quase 300 mil carros? Esse é um dos dilemas que a Localiza tem pela frente.
Com quase meio século de estrada no retrovisor, a empresa de locação de carros (fundada em Belo Horizonte, em 1973) tem hoje 11 mil funcionários e uma frota de 292 mil veículos.
Em 2020, fechou o quarto trimestre com um lucro de 401,8 milhões de reais. E pisou no acelerador em sua agenda de sustentabilidade, passando a integrar o Índice Carbono Eficiente (ICO2) da B3.
“Para coordenar as iniciativas sustentáveis que já aconteciam, como gestão de resíduos e lavagem a seco, criamos o nosso Comitê de Sustentabilidade”, diz Daniel Linhares, diretor executivo de Gente e coordenador do comitê, que se reporta ao Comitê de Governança do Conselho, responsável pelas decisões mais estratégicas.
Essa agenda inclui a neutralização das emissões de carbono e a transformação da empresa em um ambiente mais diverso, além do investimento em educação e empreendedorismo por meio do Instituto Localiza, fundado no ano passado.
A EMPRESA COMEÇOU A NEUTRALIZAR (PARCIALMENTE) SUAS EMISSÕES
Em 2020, a Localiza neutralizou, pela primeira vez, parte da sua emissão de CO2.
Foram neutralizadas 19 540 toneladas de CO2 equivalente referentes às emissões operacionais — como movimentação de frota corporativa, ar condicionado, energia elétrica, transporte de carros entre montadoras, agências e lojas.
Essa neutralização se deu por meio da compra de créditos de carbono da Cerâmica Ituiutaba, uma fábrica de telhas que substituiu a lenha nativa pela biomassa para a alimentação de seus fornos.
A escolha de como neutralizar teve a parceria do Instituto Ekos Brasil, que conecta empresas e projetos sustentáveis para compensação de emissões de gases de efeito estufa.
A partir de agora, segundo a Localiza, essas emissões serão neutralizadas anualmente.
A fase atual é de fazer o inventário das emissões dos carros alugados e planejar a estratégia de neutralização dessas emissões.
“Estamos no estágio de entender o tamanho e fazer o planejamento de como vai ser a ação, tanto do ponto de vista de horizonte temporal como do ponto de vista de melhor formato”, diz Daniel.
O CARRO ELÉTRICO AINDA NÃO É VIÁVEL; O JEITO É PRIORIZAR O ETANOL
Reduzir a emissão de gases de efeito estufa de uma frota de 292 mil veículos que passam parte do tempo na mão dos consumidores não é tarefa simples.
O uso de carro elétrico, segundo o diretor, já foi pilotado pela Localiza algumas vezes. Porém, teve baixa demanda e ainda não é viável em larga escala por causa do preço e da infraestrutura brasileira, sem capilaridade para o reabastecimento.
Segundo pesquisa da Embrapa Agrobiologia, a produção e o consumo de etanol de cana-de-açúcar brasileiro emitem 73% menos dióxido de carbono do que os processos de obtenção e de queima da gasolina comercializada no país.
Assim, a principal medida da Localiza para tornar sua frota menos poluente tem sido priorizar o abastecimento com etanol.
“Pela dinâmica da cadeia produtiva do etanol no Brasil e pelo fato do país ter uma frota concentrada em veículos flex, achamos que acompanhar o abastecimento a álcool é a melhor maneira de diminuir as emissões da nossa operação”
Hoje, quem aluga um carro com a Localiza recebe o veículo abastecido com álcool. A devolução precisa ser feita com o tanque cheio, mas a escolha do combustível ainda fica a critério do consumidor.
UMA ONG RECEBE PARTE DA RECEITA DO NOVO SERVIÇO DE ASSINATURA
No fim de 2020, a Localiza começou a operar o Localiza Meoo, um sistema de assinatura de veículos. E atrelou esse novo serviço a uma missão social.
Para cada carro assinado, uma quantia é direcionada à Gerando Falcões, que vai beneficiar duas crianças de comunidades do Brasil com acesso à internet móvel e a uma plataforma de estudos composta de aplicativo e aulas online.
O Localiza Meoo faz parte de uma estratégia para popularizar o acesso ao carro por assinatura (hoje mais utilizado por grandes empresas).
A precificação depende de variáveis, como modelo do carro, duração de contrato, franquia e cidade de contratação. A assinatura em São Paulo de um modelo econômico, em um plano de 48 meses, com franquia de 1 000 quilômetros, custa em média 1 150 reais por mês.
A Localiza não revela quantas assinaturas já foram feitas nem a porcentagem destinada ao Gerando Falcões por assinatura. Mas afirma que seu compromisso é doar 500 mil reais para o programa até o fim de 2021.
“Acreditamos muito nesse formato da parceria entre iniciativa privada e ONGs para acelerar movimentos de apoio a comunidades mais vulneráveis”
Ainda na esfera social, a Localiza criou, em 2020, o Instituto Localiza, pelo qual 0,5% do lucro é destinado ao fomento de ações de empreendedorismo e educação.
“Estamos na etapa de fazer a curadoria dos projetos para os quais vamos fazer essa alocação de recursos”, diz Daniel, que também é conselheiro do Instituto.
AS DORES DE CADA PÚBLICO SÃO DEBATIDAS EM GRUPOS DE AFINIDADE
Dentro de sua estratégia ESG, a Localiza criou, em 2020, um Comitê de Diversidade e cinco grupos de afinidade, divididos por temas: equidade de gênero; raça; LGBTI+; pessoa com deficiência; e migrantes e pessoas em refúgio.
“A nossa leitura é de que a sociedade está muito distante de onde deveria. Reconhecemos que precisamos evoluir na agenda. Como iniciativa privada, temos o papel de combater a inércia e fazer esse movimento social com alguns programas estruturados dentro da companhia”
Segundo o executivo, os grupos de afinidade são ambientes para escutar e mapear as principais dores desses públicos internos.
Para que não fiquem apenas no discurso, cada grupo tem uma alta liderança da companhia como “madrinha” ou “padrinho”, com a missão de levar essas demandas para as discussões mais estratégicas.
O ano de 2020 foi reservado para os grupos conversarem e alinharem suas pautas. Agora, ao longo de 2021, serão definidas quais ações deverão ser priorizadas.
UM DESAFIO: AUMENTAR A PRESENÇA FEMININA NA ALTA LIDERANÇA
Segundo Daniel, uma pesquisa de clima (realizada de forma recorrente nos últimos sete anos pela consultoria global Korn Ferry) mostrou que 95% dos colaboradores da Localiza “reconhecem que a empresa trabalha bem a diversidade”.
Nas áreas de supervisão, gerência e gerência regional, 50% das lideranças hoje já são femininas. Mas há o que melhorar. Hoje, por exemplo, a Localiza tem apenas uma mulher em seu Conselho de Administração.
“O grupo de equidade de gênero está trabalhando como podemos fazer com que o nosso volume de liderança de média gerência feminina consiga ascender nas posições de alta liderança”
Uma das iniciativas foi a criação de um podcast em que lideranças compartilham sua jornada até o cargo que ocupam.
A ideia é que o relato de gente como Cristina Chaves, Diretora de Atendimento (a principal divisão da companhia, com 5 mil funcionários), inspire outras mulheres da empresa.
Só isso não basta, claro. É preciso mobilizar líderes e executivos no cumprimento de metas que façam avançar as transformações internas da organização.
“O CEO e cada membro do comitê de sustentabilidade têm metas, todos os líderes da empresa têm metas de clima organizacional e engajamento”, diz Daniel. “Isso é uma forma de fazer com que a sustentabilidade não seja somente uma carta de intenções.”
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