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Pedra no sapato da Uber, a StopClub vai além da calculadora para filtrar corridas e oferece até banco digital aos motoristas de aplicativo

Leonardo Neiva / 18 out 2023
(Foto de Paul Hanaoka na Unsplash) https://unsplash.com/pt-br/fotografias/D-qq7W751vs?utm_content=creditShareLink&utm_medium=referral&utm_source=unsplash
Leonardo Neiva - 18 out 2023
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Em julho deste ano, a Uber entrou com uma ação judicial para tirar do ar um aplicativo que vem dando dor de cabeça para seu sistema de corridas. 

A ferramenta, desenvolvida pela startup carioca StopClub, surgiu para solucionar uma das maiores dificuldades dos motoristas de app. 

Antes, o motorista da Uber tinha cerca de sete segundos para fazer a conta de cabeça e entender se aceitar um determinado passageiro compensava financeiramente. 

Lançada em março, a Calculadora de Ganhos da StopClub resolve o problema informando quanto o profissional vai ganhar por minuto ou quilômetro rodado com a corrida. É possível até programar um limite mínimo, recusando automaticamente os chamados abaixo dessa faixa.

Alegando concorrência desleal e violação de propriedade intelectual ou autoral, a Uber pede uma indenização de 100 mil reais. Uma liminar chegou a tirar a Calculadora de Ganhos do ar por dois dias, antes de ser derrubada pela Justiça (a Uber decidiu recorrer da decisão).

COMO O APP DA STOPCLUB CALCULA OS GANHOS POTENCIAIS DOS MOTORISTAS A CADA CORRIDA

“O motorista tem que escolher corrida, ou vai tomar prejuízo”, diz Luiz Gustavo Neves, cofundador e co-CEO da StopClub, em entrevista ao Draft.

Segundo ele, enquanto os custos para motoristas brasileiros aumentaram nos últimos anos, a precificação das plataformas do gênero no país não mudou. 

“A gente não é contra a Uber ou a 99, mas as plataformas não conhecem o custo de cada motorista. As empresas querem oferecer um valor ótimo para o passageiro com a maior comissão possível para elas. Só que, nessa relação, quem acaba amassado é o motorista”

Luiz explica como a StopClub desenvolveu essa ferramenta de cálculo de ganhos e recusa automática: 

“A Uber mostra várias informações na tela quando oferece uma corrida: o valor, a distância entre ele e o passageiro, entre o pickup e o destino final, e a relação de tempo”, diz Luiz. “O que a gente faz é somar isso, dividir pelo valor e mostrar na tela em números grandes, cores vibrantes para que ele possa olhar o mínimo possível para a tela.”

Além de refutar a acusação de “concorrência desleal”, mesmo porque a StopClub não é uma empresa de mobilidade, o empreendedor nega que a startup armazene dados de passageiros ou motoristas: 

“Não fazemos nada disso. Esses dados ficam no telefone do usuário, nada vem para os nossos servidores.” 

A Calculadora de Ganhos roda em um app à parte da plataforma da StopClub. E se alinha ao objetivo de facilitar e tornar mais seguro o dia a dia dos motoristas. 

A PANDEMIA PÔS A SOBREVIVÊNCIA DA EMPRESA EM PERIGO E FORÇOU UMA MUDANÇA DE ROTA

Anos atrás, quando o Draft conversou pela primeira vez com os sócios, em 2018, o momento e a proposta da empresa — fundada em 2017 por Luiz, Rafael Béco, Pedro Inada e Marcus Pais — eram bem diferentes. 

A ideia então era criar uma rede de estacionamentos e pontos de apoio aos motoristas, espaços físicos onde eles poderiam fazer refeições, usar o banheiro e o wi-fi, tomar um café, descansar um pouco e até cortar o cabelo.

“Primeiro quisemos focar nos problemas mais viscerais, as questões do dia a dia. Mas, se parar para pensar, tinha um elemento muito em comum com a ferramenta que oferecemos hoje: um espaço de convívio, ou seja, uma comunidade”

Na época, a startup conquistou um aporte de 200 mil dólares do fundo Canary e chegou a ter 12 pontos de apoio funcionando no Rio de Janeiro. O plano era inaugurar outros dois em São Paulo, mas tudo mudou em 2020, com a pandemia de Covid-19.  

A necessidade de isolamento social trazida pelo coronavírus forçou a StopClub a fechar os dois pontos, pausar contratos e dispensar parte da equipe. 

Tínhamos 20 funcionários e reduzimos para 12 na pandemia. Ter que demitir gente é sempre muito chato, mas demitir por videoconferência é horrível” 

Depois de fazer os movimentos necessários para manter o negócio vivo, o passo seguinte era ouvir os colaboradores que restaram — e traçar uma nova estratégia.

DO BRAINSTORMING SURGIU A IDEIA DE REUNIR SOLUÇÕES NUMA ÚNICA PLATAFORMA DIGITAL

O time trazia na bagagem conhecimento adquirido em muitas conversas cara a cara com motoristas, durante a  pesquisa para o primeiro plano de negócio. 

Luiz confessa, porém, que naquele momento eles não sabiam como seguir em frente. 

“Tínhamos muitas ideias. Mas como em todo brainstorming, 98% [eram] ruins, e só uns 2% realmente interessantes. Foi o período mais crítico”

A solidão e o isolamento durantes longas jornadas de trabalho, entreveros com passageiros e a insegurança nas ruas eram algumas das principais dores dos motoristas e serviram de ponto de partida para a StopClub desenvolver sua plataforma digital.

O app foi lançado em outubro de 2020. Entre as funcionalidades, chats e salas de áudio que os motoristas podiam usar para criar grupos de monitoramento, compartilhar sua localização, pedir socorro em caso de perigo e transformar o celular numa câmera de segurança — gravando tudo que acontece dentro do carro. 

Para atrair os primeiros usuários, a startup alugou uma máquina de desinfecção de carros contra o coronavírus, oferecendo o serviço num dos estacionamentos usados inicialmente como pontos de apoio. 

“Para marcar a desinfecção, os motoristas baixavam nosso app, que virou [também uma] ferramenta de agendamento”

A estratégia deu certo. Em um mês, segundo a StopClub, o número de usuários cadastrados decuplicou, saltando de 2 mil para 20 mil.

O APLICATIVO DA STOPCLUB TORNA AS VIAGENS MAIS SEGURAS PARA OS MOTORISTAS

De lá para cá, segundo Luiz, essa base de usuários explodiu. Hoje, são mais de 500 mil, dos quais cerca de 250 mil utilizam o serviço todos os meses. 

O co-CEO afirma que a StopClub recebe muitos relatos sobre o impacto positivo da plataforma no dia a dia dos motoristas, inclusive em relação à segurança.

Os casos incluem o de uma motorista de Foz do Iguaçu sequestrada por homens que se apresentaram como passageiros. Graças à funcionalidade de câmera do app, ela teria conseguido pedir socorro aos colegas. 

“Quando chegaram, encontraram os bandidos fugindo para a mata e ela amarrada dentro da mala do carro”

Outro exemplo, diz, foi o de um motorista que se recusou a fazer uma corrida de graça e levou um cuspe de uma cliente; a situação acabou degringolando numa troca de cusparadas que viralizou na internet

Segundo Luiz, o episódio poderia ter terminado mal para o motorista se ele não tivesse gravado toda a interação. “Com certeza estaria banido da Uber, sem conseguir se defender. A palavra da passageira teria prevalecido.”

A GERAÇÃO DE RECEITA VEM DE UM MARKETPLACE LANÇADO RECENTEMENTE NO APP

Hoje, a plataforma StopClub é gratuita. Basta baixar, fazer o cadastro e começar a usar. 

A monetização depende de uma área do app destinada à oferta de produtos e serviços, lançada há cerca de três meses; nela, o usuário encontra desde venda de celulares até contratos de seguro para o automóvel.

“Ganhamos uma comissão em cima de tudo isso. Nosso objetivo era primeiro criar uma plataforma útil e entrar no cotidiano desses trabalhadores, obviamente oferecendo produtos e serviços de que eles precisam” 

Entre essas marcas que aparecem hoje na plataforma, Luiz cita empresas como Mycon (consórcio), Iza (seguro de proteção de renda) e SAT (rastreadores e recuperação de furto).

“Toda semana entra um parceiro novo no app, de parcelamento de multa a venda de tapete”, diz Luiz. 

Há também o Seguro Auto StopClub, uma parceria da startup com a Globus e a Split Risk que oferece seguro “com preço e condições acessíveis aos trabalhadores de app”.

COM SEU BANCO DIGITAL, A STARTUP OFERECE CRÉDITO E QUER AJUDAR A EVITAR GOLPES NO PIX

Em julho de 2023, a startup lançou uma nova frente: o banco digital StopClub Bank.

A ideia é abordar a dificuldade de acesso a crédito, uma demanda antiga dos motoristas, identificada lá atrás, durante as pesquisas para estruturar o negócio

“Essa foi uma das coisas que mais chocaram a gente: um terço dos motoristas ganhava mais dirigindo por aplicativo do que no emprego anterior, mas [mesmo assim todos eles] tinham um acesso pior ao crédito”

Os juros do StopClub Bank dependem do perfil de crédito calculado pela Bankuish, parceira da startup. “Acabamos de iniciar essa parceria e estamos chegando aos 100 primeiros clientes.” 

A expectativa, diz Luiz, é que essa frente se torne a principal fonte de receita da startup. Além da oferta de crédito, o objetivo é trazer um fluxo de pagamento de usuários para dentro do ecossistema da StopClub.

Hoje, segundo ele, boa parte dos motoristas ainda não possui app do banco instalado no celular. Assim, afirma, ainda é comum a ocorrência de golpes usando o Pix. 

“Quando o passageiro paga uma corrida em Pix, o motorista não é notificado. Então muita gente começou a agendar o Pix e cancelar o pagamento assim que sai do carro”

O StopClub Bank fornece uma ferramenta que permite receber Pix de forma segura. 

“Ele digita o valor que quer receber, gerando um QR Code na tela”, diz Luiz. “O passageiro lê, não consegue mexer na data nem no valor, faz o pagamento e o motorista é notificado em segundos.” 

“TIRANDO A BRIGA JUDICIAL COM A UBER, ESTAMOS NO NOSSO MELHOR MOMENTO”

Ao longo dos anos, a StopClub recebeu aportes da Redpoint, gestora de venture capital e investimento-anjo dos fundos Columbia Angels e MIT Angels, e do Orla Ventures. Agora, está com nova rodada aberta. A meta, segundo Luiz, é captar 1 milhão de dólares.

Como a geração de receita ainda é recente, os sócios não abrem o faturamento, mas dizem que ele vem crescendo na proporção de 80% ao mês.

Atualmente, a startup tem 15 funcionários. Quanto aos mais de 500 mil usuários, 2% da base estão fora do Brasil:

“Temos usuários em mais de 50 países, sendo os mais relevantes hoje Portugal, Estados Unidos e Paraguai. A expansão internacional aconteceu organicamente, sem nenhum tipo de campanha nossa” 

Se a primeira fase do plano era acelerar a adesão dos motoristas ao aplicativo, o foco hoje está em tracionar o marketplace, encorpar o faturamento e investir esforços no novo banco digital.

“Tirando a briga judicial com a Uber, estamos no nosso melhor momento”, diz Luiz. “Nunca estivemos tão satisfeitos com o feedback dos nossos usuários.” 

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