O desenho é um dos primeiros recursos que todas as crianças usam para representar e compreender o mundo. Enquanto elas crescem, as linhas no papel ganham complexidade e impulsionam seu desenvolvimento cognitivo e expressivo. O que muitos esquecem é que a importância do desenho não é restrita à educação dos pequenos. Aqueles que seguem exercitando essa habilidade na vida adulta encontram variados campos de atuação, que vão desde as artes plásticas até o design gráfico e de produtos.
Pensando na força de transformação pessoal e profissional que o desenho é capaz de motivar, profissionais do Design Center da FCA na América Latina iniciaram, em 2019, uma parceria com o Instituto Árvore da Vida (IAV), para oferecer aos jovens do projeto uma Oficina de Desenho. Valéria Carvalho Santos, designer de cores e acabamentos da FCA e uma das idealizadoras da oficina, revela que desenvolver um trabalho com o IAV era uma vontade antiga do time.
“Faço parte do Comitê de Sustentabilidade da FCA Latam, representando o Design Center. Nas conversas sobre possíveis projetos, o designer Renan Oliveira sugeriu a criação de um curso para compartilhar conhecimentos de desenho com os jovens. Até então, nosso relacionamento mais estreito era com os artesãos da Cooperárvore”, conta.
Nessa cooperativa, são produzidos acessórios e bolsas com os materiais remanescentes da produção dos automóveis. A aula piloto aconteceu em junho de 2019 com um grupo pré-selecionado de educandos do IAV.
“Durante nossa oficina de Formação Humana, que reúne todos os 176 educandos do instituto, convidamos aqueles com gosto pelo desenho que nos trouxessem um trabalho, sem menção à oficina. Em conjunto com os designers da FCA, selecionamos os trabalhos mais promissores e montamos duas turmas, nos turnos da manhã e da tarde”, detalha Maiara Wenceslau, gerente de projetos do IAV.
No primeiro ano, as turmas contaram com aproximadamente 10 alunos cada, com idades entre 13 e 15 anos.
Para compartilhar seus conhecimentos, os designers da FCA tiveram que exercitar suas habilidades como professores, algo inédito para a maioria deles.
“Éramos dez designers envolvidos na preparação das aulas da edição de 2019. Nosso objetivo era apresentar aos jovens uma visão geral da habilidade do desenho”, recorda Leonardo Campi, um dos designers-professores.
Durante os encontros mensais realizados ao longo do segundo semestre do ano passado, os estudantes conheceram as diferenças entres os muitos tipos de lápis, postura e gestos adequados para um bom traço, se informaram sobre a criação de formas geométricas e fizeram exercícios de luz e sombra. As aulas tinham, aproximadamente, quatro horas de duração por turno.
“Queríamos repassar esse conteúdo de uma forma leve, que cumprisse o objetivo de ensinar e mantivesse vivo o interesse dos alunos”, conta Alexandre Raad, designer do time do Design Center.
Alexandre não esconde a empolgação de imaginar que um desses jovens da oficina se torne seu colega de profissão no futuro.
“Ficaria extremamente feliz, pois sei que, de alguma forma, terei colaborado para sua capacitação. Nossa missão na oficina é manter o interesse deles aceso”.
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No início de dezembro, os alunos da oficina participaram de uma cerimônia de encerramento, com a presença de Peter Fassbender, diretor do Design Center. Além de visitar a fábrica, os jovens contemplaram seus próprios desenhos emoldurados e expostos no espaço do showroom do Design Center e receberam seus certificados de conclusão da oficina diretamente das mãos do diretor.
“Ver o entusiasmo dos meninos e meninas e o orgulho ao conseguirem realizar um desenho foi uma experiência incrível. O simples ato de usar um lápis pode ser uma direção para um novo futuro. Esperamos que um dia um deles ache o caminho para o nosso Design Center”, diz Peter.
A estudante Evellyn Karoline de Azevedo, de 13 anos, não esconde a emoção que viveu no dia em que recebeu seu certificado.
“Eu não tenho palavras para descrever. Foi emocionante. Quero muito me tornar designer e criar automóveis. Eu nem acreditei quando vi o carro que desenhei exposto na galeria do showroom”, conta com entusiasmo, e avisa: “me esperem, que um dia eu chego lá!”
O lápis e o papel sempre fizeram parte da vida do estudante Kauã Ítalo Martins, de 16 anos. Nas linhas retas e curvas que traça no papel, surgem as mais variadas formas. Mas ele confessa: sua paixão é criar personagens e histórias de aventura. Inspirado pelos animes, como são chamadas as animações japonesas, Kauã já criou várias histórias.
“Tenho um personagem chamado Gail, que é uma mistura de humano e alienígena. No passado também já fiz muitas histórias de um guerreiro chamado Malos”, conta.
Apesar de não disfarçar a empolgação para falar das suas criações, Kauã reconhece que a timidez o impedia de mostrar o seu trabalho para outras pessoas.
“Sempre tive receio de não gostarem”.
Ao participar da Oficina de Desenho, ganhou mais confiança para mostrar seu talento, graças ao incentivo dos professores.
“As histórias em quadrinho que o Kauã cria são sensacionais. Outro dia, ele nos mandou uma nova que criou. É muito bacana participar do processo de lapidação desse talento. Queremos ver o futuro profissional desses meninos e manter contato para ajudá-los no que for preciso. Eles têm uma dedicação impressionante”, afirma Valéria.
Quando tudo estava sendo preparado para dar início ao segundo ano da oficina, abateu-se sobre o mundo o dilema da pandemia da Covid-19. Os designers envolvidos na preparação das aulas tiveram que se reunir para pensar em formas de adaptar o conteúdo para aulas remotas.
“Os alunos que se interessaram foram distribuídos em dois grupos de WhatsApp. Começamos a produzir vídeos com temas e técnicas variadas”, diz Valéria.
“Nós não tínhamos certeza se haveria engajamento dos meninos em função da distância física, então escolhemos esse tema que é quase unanimidade entre os mais jovens: o desenho japonês. E o resultado foi além das expectativas!”, recorda Renan.
Paradoxalmente, a impossibilidade dos encontros presenciais aumentou o contato entre professores e alunos por meio das ferramentas digitais. As trocas de ideias e compartilhamento de novos conteúdos se tornaram quinzenais. O número de jovens participantes também aumentou, indo além dos educandos do IAV e contemplando interessados que vivem nas comunidades do entorno do instituto.
“Além das duas turmas compostas pelos nossos educandos, criamos uma turma externa, que tem uma faixa etária mais abrangente, indo dos 12 aos 18 anos. Este ano, a oficina tem 30 participantes no total”, detalha Maiara.
Mesmo com as dificuldades impostas pela pandemia, os professores e o IAV querem dar continuidade ao projeto.
“Acredito que o maior legado dessa experiência é o de descortinar possibilidades de atuação dentro de uma atividade da qual já gostam. Além disso, é perceptível o impacto positivo no comportamento e na autoestima desses jovens”, conclui Maiara.
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