Sobriedade energética não tem nada a ver com substituir o consumo alcoólico por bebidas estimulantes, embora a expressão possa sugerir.
Trata-se de uma política pública visando a redução do consumo de energia a partir de pequenas mudanças em hábitos comuns, como limitar a temperatura de aquecimento interno em casas e escritórios a 19 ºC, abolir anúncios luminosos à noite, diminuir a temperatura de piscinas e ginásios esportivos, entre outras intervenções.
Quem teve a ideia foi a França, que divulgou, em outubro de 2022, 15 medidas para aumentar a eficiência energética no país. Além de cumprir metas energéticas acordadas com a União Europeia, há o objetivo de depender menos do gás natural russo.
No curto prazo, a sobriedade energética tem como objetivo evitar blackouts no inverno. No longo prazo, a ideia é preparar o país para medidas de economia energética que façam frente às mudanças climáticas.
Na ocasião, a ministra da transição energética francesa, Agnès Pannier-Runacher, convocou os cidadãos para uma mobilização geral a fim de reduzir o consumo energético em 10% até 2024 – a base de comparação seria 2019.
Esses seriam os primeiros passos para o país atingir a meta de diminuir em 40% o consumo energético, necessária para o país ser carbono neutro até 2050.
No caso da França, o carro-chefe é o já mencionado limite de aquecimento para ambientes internos, tanto privados como públicos – a restrição já é prevista em lei desde 1978, mas nunca foi levada a cabo.
Para viabilizar essa medida, o governo federal francês destinará 150 milhões de euros para modernizar caldeiras e instalar termostatos em instalações públicas.
A intervenção francesa é baseada em dados: de acordo com o governo, 10% do consumo energético do país é relacionado a aquecimento de água. Esse montante equivale ao consumo energético total da capital, Paris.
Outras medidas propostas são:
• Desligar luzes de monumentos;
• Estimular o home office (inclusive com incentivos financeiros para o trabalhador que ficar em casa), diminuindo o gasto energético de grandes edifícios de escritórios;
• Diminuir a temperatura em instalações esportivas: redução de 1 °C em piscinas e de 2 °C em ginásios;
• Reduzir a iluminação em arenas esportivas antes e depois de eventos;
• Diminuir a velocidade no transporte de esquiadores (por teleféricos ou esteiras), bem como a produção de neve artificial.
A campanha francesa pela sobriedade energética não é mandatória, ou seja, não tem força de lei. Trata-se de uma sugestão do poder público para que a população tome parte do movimento para o bem comum.
Para convencer a população, o governo se vale de duas estratégias: o exemplo federal e incentivos financeiros.
Como o governo detém quase um terço dos imóveis do país – cujo consumo energético é quase o mesmo da região metropolitana de Paris –, a água aquecida foi cortada de prédios públicos e o aquecimento reduzido aos já mencionados 19 °C.
Além disso, funcionários públicos estão sendo orientados a se locomover por trens ou reduzir a velocidade em seus trajetos de carro a fim de reduzir em 20% o uso de combustível em seus deslocamentos.
Entre os incentivos para a população estão:
• Descontos em contas de energia para quem diminuir o consumo elétrico e de gás;
• Cerca de 100 euros para quem se inscrever em plataformas de compartilhamento de carro (poupando combustível ao oferecer caronas);
• Até 9 mil euros para troca de caldeiras a gás por sistemas de aquecimento por bomba de calor.
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