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O Open Health e a reorganização da Saúde no Brasil

Daniella Grinbergas / 7 dez 2022 Daniella Grinbergas - 7 dez 2022
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O sistema de saúde nunca foi tão exigido como nos últimos anos. A percepção da população sobre saúde mudou e a agenda está sendo vista como prioritária para a maioria no pós-pandemia. Pesquisas mostram que o brasileiro reposicionou a saúde em sua classificação de prioridades, deixando de estar no quarto para ocupar o segundo lugar nesse ranking. Ou seja, enxergando que esse é um de seus bens mais preciosos.

“Vivemos uma janela importante de mudança de comportamento. Eu acredito que quem muda é o cliente, ele provoca a disrupção do modelo. Em 2018 encarávamos a saúde de outra maneira, víamos um plano de saúde como um mal necessário. Depois da pandemia, começamos a entender que o benefício da saúde retém as pessoas no trabalho ou que elas passam a renunciar outras coisas para ter uma segurança médica. Assim, a saúde ganha um lugar de bem indispensável. Por isso, é muito importante utilizarmos essa janela e fazermos a transformação”,

comenta Luciane Infanti, sócia-líder da EY-Parthenon.

A percepção de valor deve impulsionar o movimento. Nesse cenário, o open health encontra espaço para melhorar sensivelmente a jornada do paciente e do sistema como um todo. O conceito é praticamente o mesmo do Open Finance, o compartilhamento de dados, só que neste caso, as informações de saúde dos pacientes é que são abertas para as instituições.

Com histórico dos pacientes em mãos, o atendimento se dá de forma altamente personalizada e as tomadas de decisão ficam mais assertivas, colaborativas e ágeis. Até porque, na saúde o tempo é fundamental para diagnosticar, intervir e conquistar melhores respostas. Isso sem contar a transparência na relação médico-paciente e a autonomia do indivíduo, que é fundamental para o empoderamento. O compartilhamento de dados ainda deve deixar a prática acadêmica mais rica e a pesquisa médica, mais colaborativa.

“Todo esse movimento representa uma oportunidade única de reorganização do segmento já que cada elo do sistema de saúde, como hospitais, operadoras de assistência médica e laboratórios atuam praticamente de forma independente, quando, diferentemente disso, poderiam atuar em cooperação, trocando informações valiosas para os pacientes e para as empresas”,

explica Leandro Sanches, sócio-líder de Health Sciences and Wellness da EY para Latin America South.

O uso da tecnologia na saúde tem um potencial fortíssimo de transformação da assistência às pessoas e da gestão das instituições envolvidas. Mas muito além do avanço do digital e da criação de um ambiente virtual unificado, a essência do open health é estimular a concorrência no setor da Saúde, empoderando o paciente sobre a gestão de seus dados.

“O beneficiário é o único dono da informação e as instituições de saúde são os fiéis depositários desses dados. A mola propulsora do movimento será justamente esse empoderamento”, aponta Luciane.

A população brasileira já teve um contato recente bem-sucedido com essa ideia. Durante a pandemia, o Conecte SUS incluiu a carteira de vacinação dos brasileiros e demostrou uma prévia do amadurecimento do conceito de empoderamento. Nesse sentido, o comportamento da população já deu sinais claros de que está mudando, de que estamos nos preparando para tomar posse de nossos dados com consciência.

A redução de custos é outra vantagem que o open health promete. Isso porque, a integração de dados aumenta a capacidade de planejamento e de dimensionamento de recursos.

“Essa é uma mudança importante para cadeia de fornecimento, que permite previsibilidade de estoque, por exemplo. E, em um país com tanta disparidade, a proposta deve proporcionar mais equidade, com a possibilidade de destinar o recurso certo ao local que realmente necessita”, pondera.

As grandes dores dessa jornada

Um dos grandes desafios para destravar valor desse modelo é a interoperabilidade. Essa capacidade de integrar dados de diferentes sistemas de informação será o grande diferencial competitivo em um dos mercados onde a competição é acirrada.

Aqui estamos falando das mais diversas instituições, como hospitais, clínicas, planos de saúde, laboratórios, tanto da rede privada quanto da pública. E o desafio é envelopar a informação clínica de forma que tudo possa ser consultado e comparado.

Não tem muito segredo, somente com alguns dados básicos já seria possível aprimorar a cadeia, a exemplo de CID (Classificação Internacional de Doenças), tipo sanguíneo, doenças crônicas e histórico familiar do paciente.

Vale ressaltar que, graças a LGPD (Lei geral de Proteção de Dados), cada pessoa física é detentora de seus dados e está amparada pela legislação brasileira. Mas será que estamos preparados para toda a agenda de segurança da informação? O open health trata de dados pessoais sensíveis e, por isso, precisa ser amparado por uma robusta infraestrutura de tecnologia.

“Temos visto que todos os elos da cadeia sofreram ataques cibernéticos nos últimos tempos. É necessária uma estrutura mais robusta e temos uma longa estrada a percorrer no quesito segurança”, analisa Leandro.

Sabemos que atualmente a informação de saúde vale mais do que a de crédito do mesmo indivíduo. Isso porque ela traz uma agenda muito forte e comportamento, risco, capturando a atenção dos cibercriminosos. A LGPD foi um grande avanço, mas é preciso uma discussão mais profunda e aprendizados para mitigar as ameaças.

E aqui, entra outra questão relevante que é o risco da monetização de dados. E o Brasil está longe de ter uma política sobre monetização esclarecida. Mais uma pauta para a agenda.

Por fim, a grande questão é: quem será o orquestrador desse ecossistema?

“Com o open health, as barreiras são quebradas, o ecossistema gera uma integração completa posicionando o paciente no centro. Entretanto, não sabemos quem irá orquestrar tudo isso, mas o fato é que a sociedade deve estabelecer limites e regras de compliance e ética”, aponta a líder da EY.

Do ponto de vista de Luciane, a sociedade deve ser representada pelo governo, mas é preciso que entrem nessa discussão representantes de todos os níveis, de todo o ecossistema.

Em que ponto estamos dessa caminhada?

“Eu diria que estamos na fase de validação do piloto. Já passamos da primeira onda e estamos partido para o ponto de validar e começa a estruturar para o negócio ser grande. Percebo que estamos longe de resolver a nossa capacidade de integração, mas muito perto de chegarmos à possibilidade de carregar nossos dados”, explica.

Ainda há muita discussão pela frente, tendo em vista os desafios que uma mudança importante de agenda de políticas públicas como essa acarreta. Vale lembrar que, para 2023, se for mantido o atual projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias, o Ministério da Saúde terá o menor orçamento dos últimos dez anos. Diante disso, como colocar open health em prática?

“Será necessário trazer uma agenda forte da relação do público e do privado e das instituições e rediscutir o papel de cada um no ecossistema”, conclui a líder da EY.

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