De tempos em tempos, uma inovação tecnológica gera uma onda de empolgação, receio e questionamentos que ultrapassa os limites da comunidade científica, e se torna tema de conversas cotidianas.
Esse é o caso do ChatGPT. Desenvolvida pela OpenAI (organização que tem Elon Musk, dono da Tesla e do Twitter, entre os fundadores), a inteligência artificial é capaz de gerar textos, responder perguntas, escrever roteiros e até compor músicas, tudo de maneira automatizada.
Lançado em 2022, o ChatGPT — o nome combina chat, “conversa”, em inglês, e a sigla de Generative Pre-Trained Transformer (“transformador generativo pré-treinado”, em tradução livre) — se popularizou pra valer agora em 2023, atraindo milhões de interessados em testar a ferramenta.
Um desses curiosos foi Tiago Morelli, cofundador da EnablersDAO, startup que cria e acelera projetos na Web3. Ele fez o seu primeiro teste como usuário do ChatGPT cerca de três meses atrás.
“Eu achei incrível, só que tinha que ficar entrando no site, e toda hora ficava caindo”, conta.
Mesmo com as dificuldades de acesso, aquela experiência inspirou Tiago e a EnablersDAO a criarem seu próprio produto ancorado nas funcionalidades do ChatGPT.
Batizada de zapGPT, a solução da startup brasileira visa ajudar negócios a escalar seu atendimento automatizado via WhatsApp — um canal de vendas e relacionamento que cresceu bastante a partir da pandemia.
“Escolhemos o WhatsApp por ser um dos canais mais acessados pelos brasileiros. Porém, ainda existe a barreira de como conversar com a ferramenta para que ela entenda exatamente a necessidade do usuário e desenvolva uma resposta satisfatória”
A ideia é tornar a comunicação com chatbots através do WhatsApp cada vez mais fluida:
“No zapGPT, a gente dá dicas diárias de como utilizar a solução, para que as pessoas consigam se potencializar e ir além por meio da inteligência artificial.”
Segundo Tiago, dois dias após o lançamento, o zapGPT somava mais de 4 mil usuários ativos. Hoje são 80 mil usuários ativos por mês, e 170 mil pessoas já usaram a plataforma até agora.
O zapGPT conta com um plano de acesso gratuito e o PRO, que sai por R$ 29,90 ao mês e permite a troca de mensagens ilimitada.
A experiência do usuário no zapGPT começa com um clique que te direciona para o WhatsApp, e em seguida é preciso aceitar os termos de uso.
Logo de cara, o chatbot já fornece dois avisos importantes. A primeira é que ele pode apenas encontrar informações pela internet até o ano de 2021, então não seria a melhor opção para responder sobre notícias e pessoas do cotidiano. A segunda é que ele ainda é um sistema em fase aprendizado, então algumas respostas podem ser incorretas.
A ferramenta também é um assistente virtual baseado em texto, e não tem acesso às informações em tempo real, como seu local atual e as condições do tráfego. Então não é a melhor opção para calcular o tempo para chegar a um determinado local, por exemplo.
Daí para frente, os próximos passos são escolhidos inteiramente pelo usuário. Você pode pedir para que ele encontre respostas na internet para determinadas perguntas, para que faça cálculos, compare informações, resuma textos, crie slogans e até ideias de novos negócios.
Em meio a tantas possibilidades, o ato de enviar um comando para o robô pode ser confuso, por isso a empresa também compartilha dicas de como conduzir as conversas em suas redes sociais.
Quando perguntado sobre a sua utilidade, o zapGPT responde que é pode ajudar a simplificar e agilizar as tarefas diárias do usuário.
Tiago tem mais de uma década de estrada no mercado de transformação digital.
Como consultor, atuou com grandes empresas, desenvolvendo projetos em laboratórios de inovação com o Grupo Iguatemi, Vivo, Carrefour e Pernambucanas, dentro da sua área de Service Design.
“Dei sorte de aprender muito com profissionais muito qualificados, que me ensinaram muito em um curto espaço de tempo”
Quando se sentiu seguro para empreender, ele fundou, em 2022, a EnablersDAO, a empresa criadora do zapGPT. De lá, saíram projetos como o MetaEXP, metaverso gamer para corporações venderem, promo, em verem e lançarem produtos e serviços à Geração Z, e a EnablersDAO Academy, canal para corporações venderem, promoverem e lançarem produtos e serviços ao público gamer.
No caso do zapGPT, Tiago diz que o maior desafio tem sido desenvolver em integração com o WhatsApp, tarefa que ele descreve como “bem complexa”.
Outro ponto que exige atenção são os cuidados com segurança e a privacidade dos usuários. Afinal, até agora são mais de 4,7 milhões de mensagens trocadas com o bot.
“Hoje, temos um mecanismo para que quando a pessoa comece a interagir, ela já aceite termos e condições de uso de dados. Nós temos acesso às conversas, então nosso time é escolhido a dedo para lidar com isso”
Tiago toca a EnablersDAO com os sócios Rafael Rocha e José Camargo. Na operação do zapGPT são cinco pessoas, incluindo Alexandre Messina, cofundador (com Tiago) do Pedala, startup de entregas sustentáveis vendida para as Americanas em 2019.
Em quatro meses, o time do zapGPT espera atingir o equilíbrio financeiro e pagar seu investimento. Os sócios colocaram 10 mil reais no começo do negócio; de lá para cá, investiram mais grana do bolso, chegando a 150 mil reais.
Tiago conta que sua meta hoje é atingir 100 mil usuários, para em seguida “escalar sem medo”, e que a intenção futura é que o zapGPT seja gratuito para todos. “Mas para isso precisamos monetizar com o B2B primeiro”, diz.
Até agora, a startup abriu uma rodada de investimento em modo “safe”, que funciona basicamente assim: pessoas que acreditam no projeto colocam dinheiro e têm um desconto na próxima rodada.
Ou seja, mesmo depois de um fundo de venture capital fazer um aporte – que é quando de fato o valuation é definido –, quem investiu antes vai poder investir novamente, só que por um valor menor.
“A gente ia abrir só uma rodada de 300 mil dólares, mas agora estamos planejando abrir outra com um desconto de 40% para os primeiros investidores”
Do lado do produto, o plano é evoluir a solução para uma versão multicanais (não só focada em WhatsApp) na qual o usuário traria uma mensagem com o “pedido” do que ele precisa, e a ferramenta possa interpretar e selecionar qual solução de IA acionar para trazer o resultado.
Além disso, Tiago quer otimizar a maneira com a qual essas IAs aceitam os prompts (textos de entrada) do usuário, e permitir que empresas se pluguem direto na plataforma.
Segundo a Universidade de Stanford, o Chat GPT-3 foi treinado com base em 570 GB de textos e tinha 175 bilhões de parâmetros, quantidade 100 vezes maior que seu antecessor, o GPT-2.
Já o GPT-4 é descrito como 10 vezes mais avançado que a sua versão anterior, além de agora responder não apenas comandos por texto mas também por voz.
No site onde é possível testar as funcionalidades, a OpenAI declara: “Passamos 6 meses tornando o GPT-4 mais seguro e mais alinhado. O GPT-4 tem 82% menos probabilidade de responder a pedidos de conteúdo não permitido e 40% mais probabilidade de produzir respostas factuais do que o GPT-3.5 em nossas avaliações internas”.
Para Tiago, essa evolução rápida só evidencia uma coisa:
“A IA vai sim dominar o mercado de trabalho. Existe essa preocupação de que ela também vai controlar e enviesar as pessoas, e se isso acontecer teremos um problema. Por isso precisamos domar essa tecnologia para termos soluções”
Em outras palavras, o empreendedor prefere estar no time daqueles que querem criar em conjunto com a tecnologia — para ajudar a garantir que ela ofereça mais benefícios do que riscos.
Enquanto a Neuralink, de Elon Musk, investe em chips cerebrais, a Orby, de Duda Franklin, aposta em outro caminho. Ainda em busca de regulamentação, a startup de Natal sonha em inovar na reabilitação física com uma tecnologia não invasiva.
Criar um chatbot contra a prescrição indevida de antibióticos. Essa é a próxima missão da Munai, que aposta em inteligência artificial para ajudar hospitais a evitar erros médicos e reduzir o tempo (e o custo) de internação.
Já virou clichê dizer que a nossa atenção e os nossos dados valem ouro. Agora, a SoulPrime, uma rede social brasileira baseada em blockchain, se propõe a pôr os usuários no controle de seus feeds – e pagar por isso. Entenda como funciona.