Entre julho e agosto de 2021, os olhos do mundo se voltaram para Tóquio. Com um atraso de um ano por conta da pandemia de Covid-19, a capital japonesa recebia, finalmente, os Jogos Olímpicos de 2020.
O skate fez sua estreia olímpica naquela edição. E o Brasil arrebentou, com três medalhas de prata. Uma delas para Rayssa Leal, que com apenas 13 anos brilhou na modalidade street, cativando o público com as suas manobras.
O que muita gente não sabe é que outro medalhista olímpico tem uma jornada paralela como empreendedor. Prata em Tóquio na modalidade park, o catarinense Pedro Barros, 27, é um dos fundadores da LayBack.
A empresa surgiu em 2013, como uma marca de cerveja artesanal. Nos últimos anos, cresceu e criou espaços físicos para a galera viver a experiência do skate, os LayBack Parks. Hoje são 20 unidades, com bar e pista aberta ao público, espalhadas por Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais e Distrito Federal.
Segundo Rafael Alcici, CEO da LayBack:
“O Pedro sempre teve esse sentimento de desenvolver a comunidade, ter o skate como centro e trazer gente, ajudando de todas as formas”
Assim, a empresa deu um passo à frente e anunciou, em outubro de 2022, a realização de um sonho antigo do medalhista: a criação da LayBack Skate School, uma escola para skatistas.
DE TANTO CELEBRAR TOMANDO CERVEJA, ELES PEGARAM GOSTO E RESOLVERAM CRIAR A PRÓPRIA MARCA
Santa Catarina sempre teve uma cultura forte de cerveja artesanal. A cervejaria LayBack nasceu em 2013, criada por Pedro e seu pai, André Barros, no bairro do Rio Tavares, na capital catarinense.
A origem da marca está ligada às viagens para competições, ocasiões em que “tudo acabava em cerveja”, diz Rafael Alcici, CEO da LayBack:
“Se o Pedro perdia um campeonato, ia tomar uma cerveja com o pessoal… Se ganhava, bebia com a galera para celebrar”
Pai e filho pegaram gosto pela ideia de criar uma marca própria. Hoje, são três rótulos: IPA (India Pale Ale), American Pale Ale e uma lager em homenagem a Chorão – o falecido vocalista da banda Charlie Brown Jr. era um apaixonado pelo skate.
Além dos LayBack Parks, o produto é vendido em lojas do Hiper Select e do Bistek, duas redes de supermercados catarinenses. A empresa também mantém um brewpub em Florianópolis.
Hoje, Pedro atua como diretor criativo da LayBack, orientando o desenvolvimento e os rumos da marca.
Rafael, o CEO, foi trazido há cinco anos para comandar a empresa.
Formado em engenharia civil e gestão de projetos, ele recebeu o convite para cuidar das operações – e trazer o sonho do skatista para mais perto do chão.
“O Pedro vivia dizendo que ia quebrar”, diz Rafael. “Eu vim para fazer com que o negócio caminhasse com as próprias pernas.”
Rafael, na época, parecia um intruso nesse universo: seu único contato com o skate vinha dos tempos da infância, em Floripa (onde o esporte, diz, tem bastante força entre os jovens).
Ele precisou vencer também dificuldades para fechar parcerias comerciais; o motivo, segundo Rafael, seria um certo preconceito que ainda existia em relação ao mundo do skate.
Uma das primeiras ações da nova gestão, então, foi investir no lifestyle. E assim nasceram os LayBack Parks, espaços temáticos dedicados ao esporte. Rafael afirma:
“Já que a cerveja simbolizava isso tudo, por que não criar uma casa para a pessoa viver essa experiência?”
O grosso do faturamento da LayBack vem desse ecossistema, com a venda de bebidas, comidas e de entradas para eventos, além de outros serviços (como tatuadores presentes no local).
O ano de 2022 chega ao fim com a LayBack desbravando novas frentes de negócios.
Agora em dezembro, a empresa anunciou a criação da LayBack Wear, grife de roupas vendidas por e-commerce. Outra novidade (divulgada em outubro) foi a estreia da LayBack Skate School, a escola para skatistas.
Durante o desenvolvimento da LayBack Skate School, foram seis meses em conversas com professores e profissionais do ramo, realizando os primeiros testes com turmas esporádicas.
O interesse da molecada pelo esporte, segundo Rafael, ajudou a dar um gás na hora de concretizar o sonho de Pedro:
“Vimos que as crianças estavam todas assistindo a campeonatos para se desenvolver e aí o pessoal enxergou uma brecha para usar o nome do Pedro, trazendo mais crianças ao esporte”
As aulas ocorrem, por enquanto, em três unidades dos LayBack Parks: São Paulo (capital), Santos e Guaratinguetá.
Não há divisão por gênero ou idade: as turmas são agrupadas segundo o nível da performance de cada um. Por enquanto, há em torno de 100 alunos, em média quatro a cinco por turma. A faixa etária é elástica: tem alunos dos 4 aos 40 anos.
A mensalidade custa 250 reais (aulas semanais) ou 400 reais (duas vezes por semana). Além das aulas em si, o curso promove encontros com atletas profissionais, debates, minicampeonatos e sessões de filmes relacionados ao skate.
Com a crescente popularidade do esporte, o setor vem passando por um processo de profissionalização.
Por isso, ex-atletas como o skatista brasileiro Cristiano Mateus têm começado a dar aulas para formar esportistas de alta performance, como a atleta olímpica Yndiara Asp – que integra a equipe da LayBack.
Para Rafael, hoje o esporte passa pelo mesmo movimento que o surfe vinha vivendo há alguns anos, com o sucesso de Gabriel Medina, Ítalo Ferreira e toda uma geração brasileira vitoriosa na modalidade.
“O skate se dividiu em duas vertentes: essa muito profissional, com atletas que têm até agentes; e como manifestação cultural, o skate de rua, o cara que anda sem nenhum acompanhamento”
O público-alvo da LayBack Skate School espelha essa dupla vertente. Segundo Celso Feijó, 48, head de marketing, hoje há dois perfis principais de skatistas na mira da LayBack.
O primeiro é a criança ou adolescente que quer aprimorar a técnica e se tornar um atleta de alta performance; o outro é aquele praticante mais despreocupado, que quer apenas andar de skate com amigos, por lazer.
“Nossa intenção é não ser só uma escola que fabrique robozinhos para competições”, diz Celso.
Celso diz que a maioria das aulas de skate no país ainda acontece em pistas públicas, de maneira meio improvisada, onde professores e treinadores se reúnem com seus alunos.
A empresa ainda planeja desenhar uma metodologia própria em cursos profissionalizantes para professores, com o intuito de unificar o ensino do esporte nas unidades.
“O esporte cresceu muito e abriu portas. Queremos ter professores formados com uma metodologia nossa, para isso ser difundido para todo o Brasil”
Falando em portas abertas, as marcas, segundo Rafael, têm sido cada vez mais receptivas ao mundo do skate.
Hoje, a LayBack tem parceria, por exemplo, com a Metha Energia, que está presente em todos os eventos e campeonatos da empresa, realizando ações para reduzir a emissão de CO2.
De olho no social, a empresa financia a construção de pistas, abre seu espaço a comunidades carentes, e vem mapeando estruturas de skate dentro de favelas, para ajudar a promover a cultura do esporte.
“Daqui para frente, vemos a LayBack como uma ferramenta de inclusão e desenvolvimento”, diz Rafael. “Através do skate, a gente consegue ajudar nesse desenvolvimento, criar uma comunidade e um país melhor.”
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