“Eu me entendi como criança dentro da mata. Com 12 anos, já comecei a usar a motosserra.”
Morador de Tumbira, na zona rural de Iranduba (AM), Roberto Brito Mendonça, 48, passou mais da metade da vida embrenhado na Floresta Amazônica. Assim como o pai e o avô, Roberto era madeireiro – até então, a única opção de atividade para o sustento familiar.
Em março de 2008, um decreto mudou tudo. A área onde Roberto vive passou a ser parte da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Rio Negro. E ele se viu sem saber como ganhar a vida.
Hoje, o próprio Roberto se espanta ao olhar para trás. Desde 2012, ele está à frente da Pousada do Garrido, um dos 24 empreendimentos da cadeia do turismo apoiados pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS). Somados, esses negócios faturaram 5,4 milhões de reais em 2022.
Por meio do turismo, o ex-madeireiro agora ajuda a proteger a floresta:
“É preciso ter acesso à educação e à tecnologia para a sustentabilidade acontecer. Se todo mundo tiver essa oportunidade, vamos conseguir dar um novo rumo para a floresta, porque a Amazônia que queremos é essa, com vida – e quando falo de vida, estou falando principalmente do ser humano que está dentro dela”
A FAS atua pelo desenvolvimento sustentável em 28 unidades de conservação do estado do Amazonas. O Draft foi conferir de perto* alguns de seus projetos com foco em turismo de base comunitária.
Neste modelo, são os moradores que organizam e gerenciam os empreendimentos, oferecendo experiências locais que geram renda para toda a comunidade, ao mesmo tempo em que protegem seu maior tesouro: a floresta.
A POUSADA DO GARRIDO FOI O PRIMEIRO EMPREENDIMENTO DE TURISMO EM QUE A FAS APOSTOU E HOJE O NEGÓCIO JÁ CAMINHA COM AS PRÓPRIAS PERNAS
Para chegar a Tumbira, vindo de Manaus, é preciso pegar uma lancha na Marina do Davi. Lá, dá para notar como o nível do rio Negro já baixou nesta época de seca (mais do que no ano passado, segundo a população local). Resultado do aumento da temperatura devido às mudanças climáticas; no dia da expedição, fazia entre 35 e 36 graus — mas a sensação térmica era bem maior.
São cerca de 80 quilômetros (ou uma hora e meia de lancha) até o destino. A viagem jamais se torna enfadonha, graças à exuberância da mata e das águas escuras do rio; com sorte, você pode ver despontar um boto.
Na chegada, uma escada de madeira dá acesso à pousada de Roberto, que transformou sua casa em hospedagem: cinco quartos amplos, com banheiro exclusivo, ar-condicionado e ventilador, camas de solteiro, de casal e beliches.
Na alta temporada, a comunidade ainda dispõe de quatro casas para locação, além de famílias que oferecem o aluguel de quartos (são pelo menos 50 vagas). Há também um redário capaz de embalar o sono de 32 pessoas em suas redes, que no dia da visita seriam todas ocupadas: além dos turistas, Tumbira estava recebendo uma excursão com 80 alunos da Escola Parque do Rio de Janeiro (parte dos estudantes dormiria em barcos).
Quem chega encontra uma série de atividades. “Nós oferecemos tudo o que a natureza está nos proporcionado”, diz Roberto. “Temos praias [de rio], trilhas, passeio noturno em igarapés no Parque Nacional de Anavilhanas, focagem de jacaré, pesca e visita à casas de farinha. Aqui, toda família faz sua farinha, mas o visitante não sabe como é isso, então mostramos todo esse processo.”
Mais do que ocupar o tempo, a ideia é mergulhar no estilo de vida dos ribeirinhos:
“Tem gente que vem para a Amazônia ficar em hotel de selva de luxo. Beleza, é escolha de cada um. Mas tem um público que quer vivenciar o que acontece na comunidade, a vida do caboclo. Então, oferecemos o nosso dia a dia, nossas histórias”
A Pousada do Garrido foi o primeiro empreendimento de turismo de base comunitária apoiado pela FAS. Hoje, gera emprego direto para 15 pessoas, além de impactar indiretamente mais de 40, de quem Roberto compra alimentos ou contrata serviços (de guia e de barqueiro, por exemplo).
Edvaldo Correia, gerente do programa Floresta em Pé, da FAS, diz que o principal desafio desses empreendedores é criar uma visão estratégica de seus negócios.
“Para isso, a gente conta com a participação de vários parceiros em capacitações. No caso do Roberto, foram formações para a equipe na questão do atendimento ao cliente, oficinas de culinária para fazer uma comida local com qualidade e cursos de processos de gestão, entrada e saída de recursos financeiros etc.”
Hoje, além de ser o projeto piloto da FAS em turismo de base comunitária, a Pousada do Garrido é um caso de sucesso. Em dois anos, entre 2020 e 2022, o negócio quase quintuplicou o faturamento, de 86 mil para 411 mil reais.
AINDA EM TUMBIRA, A FIBRA DA BACABA VIRA SOUSPLATS E OUTRAS PEÇAS ARTESANAIS DA ENTRELAÇANDO GERAÇÕES
A artesã Neide Garrido, 52, é uma das moradoras de Tumbira beneficiadas pelo turismo de base comunitária. Antes o marido dela também era madeireiro e Neide, “totalmente dependente do trabalho dele”.
Com a instituição da Reserva de Desenvolvimento Sustentável, a família sofreu um baque e pensou até em deixar a comunidade. “A saída para aquela dificuldade imensa seria a gente se retirar, porque não tinha oportunidade nenhuma de geração de renda aqui dentro.”
Mas a família ribeirinha encontrou um novo caminho:
“Antes, a gente era obrigado a fazer um desmatamento por falta de alternativas. Hoje, as pessoas precisam olhar formas de sobreviver dentro da floresta. Mas sei que não é simples sair desse caminho de derrubar madeira e mudar de vida”
Há dez anos, Neide decidiu apostar no artesanato, que já era uma habilidade sua, e teve a ajuda da FAS para criar um CNPJ e estruturar o negócio, o Entrelaçando Gerações.
Além da beleza, o diferencial das peças de decoração produzidas por ela está no material utilizado:
“Todos os tramados dos sousplats, mandalas e outras peças que fazemos vêm dos cachos da bacaba. Usamos as fibras dessa palmeira, que precisam ser lavadas e secadas, para fazer nossa produção”
Ela decora algumas dessas peças, como os sousplats, com sementes de açaí, usadas também na produção de colares e pulseiras.
No início, era a própria Neide quem coletava a matéria-prima utilizada. “Lá atrás, eu tirava o ‘vinho’ da bacaba [bebida feita com a polpa da palmeira] para a produção alimentar e aí sobravam os cachos, então a gente não comprava, porque eu fazia esse reaproveitamento.” Depois, não deu mais tempo de coletar pessoalmente. “Ou você trabalha produzindo as peças ou coleta.”
Isso abriu portas para que, além de empreender, Neide gerasse renda para outras pessoas. São duas colaboradoras diretas na produção, fora Neide e o marido; indiretamente, ela diz impactar outras 15 pessoas de Tumbira e de outras comunidades com a compra do material.
O negócio consome mais de dez cachos de bacaba por semana. As quatro pessoas da equipe, juntas, produzem cerca de 30 peças nesse período. “A época da bacaba vai de agosto a dezembro, então preciso chegar a pelo menos uns 500 cachos armazenados a partir de agora para aguentar até o próximo ano.”
Hoje, Neide tem o próprio ateliê, um espaço amplo dentro de casa onde expõe seus produtos para os turistas, que podem acompanhar as duas colaboradoras confeccionando peças.
Um dos modelos de sousplat de bacaba custa 40 reais; os colares de sementes de açaí, 25 reais. Interessados podem conhecer a arte de Neide por meio do perfil no Instagram, administrado pela filha da artesã. “Explico a situação da logística que a gente tem e, a cada duas ou três encomendas, vou ao correio para despachar.”
Quem mais compra, segundo Neide, são turistas paulistanos, cariocas e os estrangeiros, principalmente os franceses, nesta ordem. O importante para ela, porém, não é onde suas peças irão chegar, mas a mensagem levada:
“Aos poucos, nosso produtos vão saindo daqui e vamos ganhando representação mais longe. Conseguimos ir deixando uma marca para que as pessoas se lembrem da árvore da bacaba — e elas nunca mais sejam derrubadas.”
EM SANTA HELENA DO INGLÊS, UMA POUSADA ADMINISTRADA SÓ POR MULHERES ATRAI TURISTAS ESTRANGEIROS ATRAVÉS DO INSTAGRAM
De Tumbira até Santa Helena do Inglês, outra comunidade ribeirinha que faz parte da RDS Rio Negro, em Iranduba, são menos de 10 minutos de lancha.
Lá, a pousada Vista Rio Negro é outro empreendimento de turismo de base comunitária apoiado pela FAS; foi construída com recursos trazidos pela ONG e a mão de obra ribeirinha.
Adriana Siqueira é a quinta mulher a administrar a pousada, que a cada dois anos troca de gestão. O “mandato” de Adriana vai até outubro; ela pode se recandidatar.
“Na comunidade, nós já temos uma liderança masculina, então é importante ter uma feminina na pousada, senão vão pensar que não existem mulheres empoderadas aqui, capazes de pegar um negócio desses e botar para frente, ser pulso firme.”
Dentro dos princípios do turismo de base comunitária, as atividades na Vista Rio Negro acabam envolvendo e gerando renda para toda a população local, diz Adriana:
“Para atender os turistas, todo dia chamo uma pessoa diferente da comunidade. Quando é um grupo grande de visitantes, chamo quatro pessoas, ficam duas na cozinha e duas nos serviços gerais. E aí também tem os guias, que levam os turistas nos passeios”
A geração e distribuição de renda na comunidade ainda é impulsionada pelas compras feitas pelo estabelecimento.
“Eu compro goma, tucupi, farinha, peixe, macaxeira dos moradores e na taberninha”, afirma. A população de Santa Helena do Inglês, segundo Adriana, hoje consegue pagar tudo o que compra com a renda da pousada. E o que a Vista Rio Negro fatura é reinvestido no empreendimento para manutenção e melhorias.
A pousada tem oito quartos com cama de casal e solteiro, banheiro, ar-condicionado e ventilador, e espaço para quatro pessoas em cada um (o pacote de fim de semana custa cerca de 1 500 reais por hóspede, incluindo passeios e alimentação).
Nos últimos dois meses, segundo Adriana, 100 turistas passaram pela pousada. A maioria é do Brasil; no momento da nossa visita, havia também quatro hóspedes estrangeiros, que conhecem a pousada por meio de agências de viagem ou do Instagram.
O perfil foi impulsionado após um curso de marketing digital oferecido por intermédio da FAS. Adriana não pôde participar, mas mandou no lugar seu filho mais novo, de 17 anos:
“Antes, ele postava as fotos no perfil de qualquer jeito, não tinha a prática de mexer com redes sociais. Com o curso, passamos de 2 500 para 5 mil seguidores. E hoje, estamos chegando aos 10 mil. Futuramente, meu filho já pensa em fazer uma faculdade e trabalhar nesta área, com produção de conteúdo”
A própria Adriana está terminando um curso técnico de turismo, com apoio da FAS. “Se eu fosse fazer uma faculdade na área, ia pagar 400 a 500 reais, mas agora colaboro só com uma pequena taxa por mês, e estou conseguindo trabalhar o turismo na prática e aprender sobre o tema também na teoria.”
A COMUNIDADE SOFRIA COM AS QUEDAS DE ENERGIA, MAS HOJE É PIONEIRA COM UM PROJETO DE UMA MINIUSINA SOLAR
Assim como outros lugares remotos na Amazônia, Santa Helena do Inglês sofria com oscilações no fornecimento de energia, causadas por quedas de árvores ou outras intempéries da região (abastecida desde 2012 pelo programa Luz para Todos, do governo federal).
A comunidade ficava até uma semana às escuras, aguardando a manutenção, o que afetava as atividades escolares, a preservação dos alimentos – e o funcionamento da Vista Rio Negro.
Adriana lembra um perrengue vivido na pousada, em uma gestão anterior:
“Nós estávamos com a pousada lotada, aí a luz foi embora de noite e nenhum gerador estava ligado. Então, os turistas ficaram no calor. Foi uma desilusão, porque eles disseram que nunca mais viriam para cá… Muitos moradores pensaram até em fechar a pousada”
A comunidade, porém, não desistiu do empreendimento. Diante do desafio, em 2019 a FAS começou a estudar como levar uma miniusina fotovoltaica para o local. E assim, em parceria com a Unicoba, o projeto Sempre Luz foi lançado em junho de 2021.
Segundo Edvaldo, da FAS, hoje a miniusina atende as 30 famílias locais, a pousada e a escola com um sistema de energia que utiliza 132 painéis solares, 54 baterias de lítio e nove inversores híbridos.
“Esse projeto foi desenvolvido pela Unicoba, em Minas Gerais, mas depois de alguns experimentos viram que era preciso adaptar o funcionamento à incidência solar amazônica. Essa experiência está servindo como um grande laboratório para a gente avaliar como levar esse modelo a outras comunidades ribeirinhas”
A FAS também se preocupou em desenvolver com os moradores um processo de gestão da miniusina. “A população criou um fundo, alimentada por eles mesmos todo mês com uma cota, para quando o sistema apresentar algum problema, terem recursos para repor peças e fazer manutenção.”
Outra atividade de geração de renda importante para Santa Helena do Inglês é a venda do matrinxã e do jaraqui, e a energia solar também beneficiou muito este setor, pois permite que os ribeirinhos mantenham o pescado fresco por mais tempo até o dia de vendê-lo em Manaus.
Para ir além, a FAS iniciou (em setembro de 2022) junto com a comunidade um novo projeto, o Gelo Caboclo, para erguer uma fábrica de gelo e impulsionar a pesca.
Hoje, os pescadores precisam comprar gelo em Manaus, e isso acaba saindo caro: uma tonelada custa cerca de 90 reais, mais o valor do diesel da lancha. Segundo Edvaldo:
“O viés principal é abastecer a pesca, mas a fábrica também vai beneficiar a pousada, os comércios locais e todos os moradores. Pois se uma pessoa fizer uma festa e quiser gelo para a cerveja, poderá comprar aqui em vez de ir até Manaus”
Segundo a FAS, quando a fábrica estiver instalada, até março do ano que vem, será capaz de produzir 3 toneladas de gelo por dia. A ideia é que, com o tempo, seu abastecimento de energia seja 100% fornecido pela miniusina fotovoltaica.
SUMIMI, UM RESTAURANTE PARA COMER PRATOS REGIONAIS E DA CULTURA INDÍGENA À BEIRA DO RIO CUIEIRAS
O japiim é uma ave muito conhecida no Norte e no Centro-Oeste do país. Ao chegar de Santa Helena do Inglês a Três Unidos, Área de Proteção Ambiental do Rio Negro (APA), é possível encontrar, em várias árvores, ninhos e pássaros dessa espécie de penugem preta com manchas amarelas.
A comunidade, localizada a 60 quilômetros de Manaus e às margens do rio Cuieiras (afluente do Rio Negro), é habitada pelo povo Kambeba. Na língua originária deles, o japiim é chamado de Sumimi.
É este o nome do restaurante comandado há 11 anos pela chef Neurilene Cruz, junto com mulheres da comunidade. Ela explica o porquê:
“O japiim é muito voltado à inovação. Ele sabe tecer sua própria casa e imitar vários cantos de outros pássaros. Então, nós nos identificamos com isso, porque aqui a gente também tem variedade e inovação. Não fazemos só um tipo de prato, cada dia é um”
A chef de 39 anos começou a empreender com artesanato quando se casou, aos 14, e depois se descobriu na cozinha. A oportunidade surgiu quando a FAS iniciou a construção de uma escola na APA, em 2011.
Na época, o arquiteto da obra convidou Neurilene para fornecer as refeições do pessoal que iria trabalhar no projeto. Ela aceitou e chamou mais dez mulheres, inclusive de outras comunidades, para ajudar na tarefa.
A escola levou nove meses para ficar pronta, e muitas colaboradoras foram desistindo pelo caminho – mas não Neurilene. No final, o arquiteto percebeu seu engajamento e a convidou para montar um restaurante, em parceria com a FAS, que poderia atender turistas e parceiros trazidos pela ONG para visitar o local.
“Ele falou que eu tinha cara de empreendedora”, diz. “Eu nem sabia o que era isso, mas fiquei feliz: deve ser coisa boa.” O arquiteto projetou o espaço do Sumimi e, com o apoio da fundação, Neurilene começou a realizar uma série de formações em instituições parceiras como CETAM (Centro de Educação Tecnológica do Amazonas) e Sebrae.
“A gente sabia cozinhar para a própria família, na nossa casa, mas não para pessoas de fora, turistas internacionais, que às vezes não estão acostumados com a comida daqui”, diz Neurilene. “Então, fizemos várias oficinas de manipulação de alimentos, café regional, tivemos também uma experiência em uma cachaçaria.”
A cozinha do restaurante foi melhor equipada em 2016, quando o empreendimento ganhou o Prêmio Consulado da Mulher de Empreendedorismo Feminino (da Consul), sendo contemplado com eletrodomésticos, assessoria e 10 mil reais, que serviram para ampliar a cozinha e o salão.
“A gente fica feliz por ter essas conquistas por meio da nossa comida e apresentando nossas tradições e costumes”
Hoje, o Sumimi é capaz de receber 100 pessoas – o cruzeiro Iberostar Grand Amazon é um dos que levam turistas com frequência para experimentar os pratos regionais e de tradição indígena preparados pela chef e sua equipe. No dia da visita, os 80 alunos da Escola Parque também iriam almoçar lá.
Dependendo da demanda, Neurilene chama de uma a cinco mulheres da comunidade para ajudar nos preparativos do cardápio, que varia de acordo com a disponibilidade de itens da pesca regional, como o jaraqui e o tambaqui.
“Os pratos típicos do povo Kambeba que costumamos oferecer são o fani, feito com macaxeira ralada e peixe, enrolado e cozido na folha de bananeira; a pupeca, um peixe assado na folha de bananeira ou pariri; o tambaqui; a mujica, que é um caldo indígena; e a almôndega de peixe”
Junto com o prato principal, há guarnições, como salada, arroz, feijão e, claro, a farinha, que não pode faltar na mesa dos indígenas e ribeirinhos. E é bem diferente daquela que se consome no Sudeste ou no Sul: tem o formato de bolinhas, parecidas com ovinhos de peixe, por isso também é conhecida como farinha de ovinha ou do Uarini.
A experiência da refeição fica completa com a sobremesa, como melancia, abacaxi ou creme de cupuaçu, e a vista fantástica do entardecer no rio Cuieiras, que convida a um mergulho em sua água morna — de preferência depois da digestão.
Mãe de três filhos e avó de três netos, além de tocar o restaurante, Neurilene é técnica de enfermagem e atua no posto da comunidade. Hoje, por todo o seu trabalho, a empreendedora inspira outras jovens de Três Unidos:
“Essa história de resistência do restaurante é nossa. Digo nossa porque não sou só eu, mas outras mulheres, cunhadas, sobrinhas, minha filha, que estão me acompanhando e correndo atrás de fazer dar certo junto comigo.”
OS PROJETOS DA FAS, COMO O DE TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA, AJUDAM A REDUZIR O DESMATAMENTO E AS QUEIMADAS NA AMAZÔNIA
Os negócios de turismo sustentáveis e de base comunitária apoiados pela ONG tiveram faturamento bruto para a população da Amazônia de 15 milhões de reais entre 2017 e 2022, e mais 85 milhões de reais, levando em conta os de cadeias produtivas da bioeconomia amazônica (2016 a 2020).
Além de contribuir financeiramente para a melhoria da qualidade de vida das populações ribeirinha e indígena envolvidas, a FAS percebeu que houve uma redução significativa de desmatamento — 40% entre 2008 e 2020; e 12% só em 2022 — nas unidades de conservação em que atua por conta de atividades como a do turismo de base comunitária.
“Vamos pegar o exemplo do Roberto, da Pousada do Garrido, que era um grande manejador de madeira, porque dependia disso para o sustento de sua família”, diz Edvaldo. “Quando a fundação chegou, ele viu que podia continuar ganhando até mais recursos utilizando a floresta de forma diferenciada, que ela tinha mais valor em pé do que derrubada.”
Todo esse impacto positivo, de acordo com o gerente do Programa Floresta em Pé, só é possível por se tratar de uma construção coletiva que mantém o protagonismo da população local.
“A fundação nunca trouxe um projeto ‘de cima pra baixo’. Sempre ouvimos o que os ribeirinhos e indígenas precisavam, aliando o saber tradicional deles à tecnologia social que a gente está ajudando a desenvolver”
Outro ponto destacado pelo representante da FAS é a ideia de pertencimento trabalhada com as comunidades. “Os empreendedores precisam se sentir donos daqueles negócios, porque aí a chance de as coisas darem certo é muito maior.”
Se depender de Roberto, o ex-madeireiro que virou dono de pousada, esse pertencimento e protagonismo estão garantidos.
“A gente fica muito grato de ver tudo isso acontecendo aqui. Porque falar da Amazônia em qualquer lugar é bom; mas aqui, o que temos pra mostrar é diferente. É a nossa realidade.”
*A editora Dani Rosolen viajou a convite da Fundação Amazônia Sustentável.
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