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Com programação cultural democrática e ao ar livre, Mostra 3M de Arte ocupa Parque Ibirapuera

Giovanna Riato / 12 nov 2020Mostra-3M-de-Arte
Evento celebra a sua 10ª edição, agita o calendário cultural de São Paulo e propõe reflexão sobre coletividade na cidade.
Giovanna Riato - 12 nov 2020
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Todo mundo já sabe: nenhum remédio é melhor para combater a pandemia do que distanciamento físico, uso de máscara e um capricho ao lavar as mãos e usar álcool gel. Agora, qual é o medicamento capaz de acalmar as emoções das pessoas que passaram parte do ano com o convívio social restrito, com medo do contágio pela Covid-19? A resposta está na arte, em um respiro criativo – de preferência, ao ar livre.

Esta é a proposta da Mostra 3M de Arte, que celebra a sua 10ª edição entre 7 de novembro e 6 de dezembro no Parque Ibirapuera, um dos pulmões verdes e principais pontos de encontro de São Paulo. “Para esta edição comemorativa, elegemos este símbolo, este espaço tão democrático da cidade, que reúne uma diversidade incrível de paulistanos e turistas do mundo todo”, diz Fernanda Del Guerra, sócia-diretora da Elo3, a produtora cultural responsável pela realização da Mostra.

Ela lembra que, antes da pandemia, o parque recebia 200 mil pessoas por dia em um fim de semana. Este número é menor no novo contexto, mas ainda de grande alcance – principalmente com a recente retomada da abertura do espaço aos fins de semana.

QUAL É O ESPAÇO DA COLETIVIDADE EM UM MOMENTO DE PANDEMIA?

O evento é viabilizado pelo patrocínio da 3M via Lei Federal de Incentivo à Cultura e acontece com a enorme responsabilidade de dar força à retomada do calendário cultural brasileiro, tão afetado pela pandemia. O tema da exposição é Lugar Comum: travessias e coletividades na cidade.

Camila Bechelany, pesquisadora de arte e política e curadora desta edição do evento, fala sobre a importância de propor uma reflexão sobre o tema em um ano como o de 2020: “Antes da pandemia, esta abordagem representava uma crítica ao individualismo da cidade, à solidão”, diz. E prossegue:

“Depois da Covid-19, esta edição da Mostra ganhou dimensão ainda maior e passou a incluir uma série de outras questões: como o nosso pertenci=mento ao coletivo. Hoje enfrentamos um desafio global que mostra a nossa interdependência. Passamos por um momento que só será superado se trabalharmos de forma colaborativa, afinal ninguém controla o vírus sozinho”

A especialista lembra também que a dissonância entre o urbano e a natureza representado pelo parque instalado em uma megalópole como São Paulo também ganha outra proporção. “É neste conflito que a gente constrói. As reflexões e a mudança nem sempre são pacíficas, elas surgem do choque e isto é algo que os artistas quiseram representar”, diz.

Mostra 3M de Arte

Obra “Geografia”, de Cinthia Marcelle, questiona os privilégios na sociedade e o acesso a recursos tão fundamentais quanto a água.

OBRAS ESPALHADAS POR TODO O PARQUE

Na edição em que a Mostra 3M de Arte celebra uma década de história, nada mais simbólico do que reunir 10 obras, cada uma de um artista diferente. Os projetos ficarão distribuídos pelo parque – evitando aglomerações, como manda a nova cartilha pandêmica. Dos participantes, quatro foram selecionados por meio de um edital que recebeu 338 propostas de todo o Brasil – um recorde. “O número tão expressivo indica a importância que a Mostra ganhou para os artistas em um ano tão difícil para a área cultural quanto 2020, em que muitos projetos foram interrompidos”, lembra Fernanda.

O evento, que tanto busca impactar um público diverso, também tem a preocupação em ter pluralidade entre os artistas. Por isso, há profissionais do eixo Rio-São Paulo, mas também de Minas Gerais, Piauí e Espírito Santo. “Com tantos desafios, foi um processo muito emocionante ver o desenvolvimento das obras”, conta Camila.

“Alguns artistas sequer conheciam São Paulo. Outros saíram pela primeira vez de casa depois da quarentena justamente para a visita técnica no parque, com toda a potência de um espaço ao ar livre com aquela dimensão. As reações de cada um ao chegar ali eram incríveis: emoção, choro, paralisia. Foi muito especial”

REALIZAR OU NÃO REALIZAR A MOSTRA, EIS A QUESTÃO

Fernanda, da Elo3, diz que mesmo diante da imprevisibilidade do ano, ela estava confiante na realização da Mostra em 2020. “Também tínhamos esta responsabilidade de manter esta história viva para os artistas, de fomentar o mercado cultural”, diz.

Para Camila, que estava em contato direto com os autores das obras por meio do trabalho de curadoria, lidar com a incerteza gerada pela pandemia foi um desafio. Inicialmente, a exposição aconteceria em setembro.

“Em julho, um mês antes da data original de abertura, vários artistas começaram a ficar bem preocupados com a viabilidade do projeto. Usamos este sentimento de incerteza para promover uma conversa horizontal, para nos aproximar e trazer o espírito coletivo da Mostra para o processo de elaboração das obras.”

A curadoria, a Elo3 e os artistas fizeram uma reunião virtual em que colocaram todos os sentimentos na mesa: inquietudes, inseguranças e dúvidas. O grupo debateu e, no fim, votaram se deveriam e, acima de tudo, se era ético seguir com o projeto para este ano. O consenso foi positivo, mas com o adiamento da exposição para novembro.

A decisão, agora, parece ter sido a mais acertada possível. “A Mostra 3M de Arte acontece justamente quando os parques de São Paulo acabaram de reabrir aos fins de semana, em um momento em que circular pela cidade, principalmente ao ar livre, já é mais seguro”, diz Fernanda.

Mostra 3M de Arte

A possibilidade de cada um exercitar a própria voz em um lugar comum é um dos temas levantados pela obra Púlpito Público, de Maré de Matos.

MOSTRA 3M DE ARTE: UM CASAMENTO DE LONGO PRAZO

A sócia-diretora da Elo3 lembra que a Mostra 3M de Arte está entre um dos casos mais longevos de patrocínio de uma empresa a um projeto cultural ligado às artes. “É um marco muito positivo para nós e, ao mesmo tempo, uma preocupação notar que somos exceção, que poucas marcas investem de forma tão contínua em iniciativas assim”, observa Fernanda.

Luiz Serafim, Head de marketing da 3M, conta que a iniciativa é uma expressão da cultura da organização de criatividade, inovação e, principalmente, de que só é possível gerar impacto real quando se assume um compromisso de longo prazo.

“Nosso objetivo sempre é apoiar iniciativas com continuidade, promovendo este ecossistema de forma robusta, levando cultura ao público de forma consistente. Movimentar toda esta rede para realizar algo pontual não faz sentido para nós porque não transforma com verdade”

Desta forma, a Mostra 3M de Arte celebra uma história de 10 anos. Começou experimental no Centro Histórico Mackenzie, migrou para o Memorial da América Latina, no terceiro ano ocupou o Instituto Tomie Ohtake, partiu para a Fundição Progresso, no Rio de Janeiro e, em 2017, ganhou a rua pela primeira vez, instalada no Largo da Batata, um espaço democrático de circulação, carnaval, manifestação e, enfim, arte.

Agora, no Parque Ibirapuera, a exposição busca público, reflexões e interações ainda mais amplas. Tudo para celebrar a primeira década de história e, claro, abrir o caminho para que venham muitas outras.

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