O estilo de vida contemporâneo afeta de diferentes modos o ambiente. A evolução tecnológica facilitou a vida, mas também traz consequências negativas nem sempre percebidas ou compreendidas, como o grande aumento na produção de diferentes tipos de resíduos. Dessa forma, temos contrariado a premissa de que na natureza tudo se transforma.
O consumo de eletrônicos deu um enorme salto nas últimas décadas e causou também uma revolução no que se refere à produção de resíduos. Segundo pesquisa da Green Eletron, a grande maioria das pessoas, 87% dos entrevistados no estudo, já ouviu falar em lixo eletrônico, ainda que não entenda muito bem o que ele significa, e 71% apontam que não há muita informação disponível sobre o tema.
Segundo a pesquisa, todo ano são descartadas incorretamente 53 milhões de toneladas de equipamentos eletroeletrônicos e pilhas no mundo. O Brasil ocupa a quinta posição nesse ranking e a primeira na América Latina. O estudo mostra que o e-lixo é o resíduo que mais cresce no mundo atualmente, conforme a Universidade das Nações Unidas, cerca de 4% em média por ano. De acordo com o E-Waste Monitor 2020, os resíduos eletrônicos descartados no mundo aumentaram 21% em apenas cinco anos.
Se ainda há dúvidas sobre a destinação correta do lixo eletrônico, há menos informações sobre o lixo digital, dados que são mantidos nos enormes data centers, consumindo energia, mas que não são mais acessados ou utilizados. Levantamento da Veritas Technologies indica que o lixo digital responde por 52% das informações armazenadas em todo o mundo.
Isso não quer dizer que o mundo precisa parar de investir em tecnologia, mas deve otimizar os dados armazenados. A pesquisa State of Dark Data, mostra que a digitalização é fundamental para as organizações, segundo 71% dos líderes empresariais entrevistados. Eles acreditam que os dados vão se tornar mais valiosos nos próximos 10 anos. Para 85% deles, o uso adequado da Inteligência Artificial requer gerenciamento para evitar o lixo digital.
O documento da Veritas lembra que o lixo digital, ou dados obscuros, também representam graves riscos de segurança e é preciso manter a casa limpa. O Relatório de Governança e Empoderamento de Dados de 2022, da Quest Software e Enterprise Strategy Group (ESG), revela que cuidar desse material está entre os principais desafios e inovações em governança e gerenciamento de dados. O relatório revelou que os líderes empresariais não querem apenas entender o que são esses dados, precisam localizá-los para saber sobre sua utilidade, já que eles estão retidos pela organização, mas são incontroláveis e inacessíveis.
Essa otimização das informações digitais é importante não só para a segurança da própria empresa, mas para reduzir o consumo de energia elétrica desperdiçada com o armazenamento de dados que não são utilizados.
A Agência Internacional de Energia (IEA) informa que os data centers e as redes de transmissão de dados respondem, cada um, por aproximadamente por 1% da demanda global de eletricidade. Segundo a IEA, o uso global de eletricidade do data center em 2021 foi de 220-320 TWh, cerca de 0,9% a 1,3% da demanda, excluindo a energia usada para mineração de criptomoeda, que foi de 100-140 TWh em 2021.
O mercado global de data centers foi avaliado em US$ 215,73 bilhões no ano passado pela consultoria Arizton Advisory & Intelligence e a estimativa é de que alcance US$ 289,66 bilhões em 2028, crescendo em média 5% ao ano.
A empresa tecnológica Eveo traz curiosidades sobre o assunto:
Os dados impressionam e os usuários comuns podem contribuir para manter a vida digital em ordem e ajudar a reduzir o consumo de energia dos data centers. As dicas são cancelar a assinatura de todos os e-mails que não são lidos; enviar arquivos por links que expiram, no lugar de anexos; verificar periodicamente e-mails e outras informações que podem ser descartadas e usar aplicativos para liberar espaço no celular e na nuvem. A segurança e o ambiente agradecem.
**Edson Grandisoli é coordenador pedagógico do Movimento Circular, mestre em Ecologia, doutor em Educação e Sustentabilidade pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-doutor pelo Programa Cidades Globais (IEA-USP).
Marina Sierra Camargo levava baldes no porta-malas para coletar e compostar em casa o lixo dos colegas. Hoje, ela e Adriano Sgarbi tocam a Planta Feliz, que produz adubo a partir dos resíduos gerados por famílias e empresas.
Em vez de rios canalizados que transbordam a cada enchente, por que não parques alagáveis? Saiba como José Bueno e Luiz de Campos Jr., do projeto Rios e Ruas, querem despertar a consciência ambiental e uma nova visão de cidade.