Não é de hoje que vivemos em meio a um turbilhão de informações vindas de todos os lados e por todos os meios. Somos diariamente bombardeados por conteúdos de redes sociais, sites, veículos de imprensa, propagandas e tantos outros que afetam nossa percepção da realidade e, consequentemente, nossas escolhas e decisões.
De acordo com recente pesquisa do Datafolha, 60% das pessoas entrevistadas acreditam que as notícias falsas podem influenciar a votação deste ano. Já dados revelados pelo estudo Iceberg digital, desenvolvido pela Kaspersky, revelaram que 62% dos brasileiros não conseguem reconhecer uma notícia falsa e 42% ocasionalmente questionam o que leem na internet.
A maneira como nos relacionamos com as informações, seja na hora de consumir, produzir ou compartilhar, é carregada de responsabilidades e possui papel fundamental em uma eleição.
Hoje, com apenas um clique, somos tomados por um mar de mensagens e conteúdos, mas muitas vezes carregados de opiniões que podem confundir e desinformar. Por isso, a leitura crítica é um dos caminhos para fortalecer a democracia.
Pensando nos quase 7 milhões de eleitores brasileiros entre 16 e 20 anos (dados do TSE) que votarão pela primeira vez neste ano e que, portanto, ainda precisam se familiarizar com diversos temas e procedimentos relativos ao nosso sistema democrático, o Instituto Palavra Aberta desenvolveu a iniciativa #FakeToFora: Quem Vota se Informa.
O projeto de educação política e midiática disponibiliza uma série de materiais voltados a educadores e estudantes do ensino médio para que o combate à desinformação e o fortalecimento da democracia sejam temas desenvolvidos em sala de aula. Os recursos são gratuitos e enfatizam o papel da educação na construção de uma cidadania crítica e responsável.
No Palavra Aberta, defendemos a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa e, consequentemente, a educação midiática, o que nos conduziu à criação do EducaMídia, nosso programa que forma professores e alunos há mais de três anos.
O #FakeToFora nasce dentro desse contexto, como uma ação contundente no combate à desinformação política e ódio eleitoral, envolvendo os jovens desde cedo em posturas cidadãs
O #FakeToFora é composto por sete módulos que debatem temas como eleições, pesquisa eleitoral, resultados das pesquisas, processo eleitoral, urna eletrônica e difamação e desinformação.
Além disso, oferece uma metodologia para que os estudantes criem um coletivo ou clube de checagem, em que terão a oportunidade de praticar a leitura reflexiva das informações que recebem em período de eleições (mas também fora dele).
Como uma extensão – ou aprofundamento – do clube de checagem, mas também anexo ao programa, foi lançada a campanha VAR – Verifique Antes de Repassar, que carrega o slogan “É fake news? A pergunta é sempre a melhor resposta. E na dúvida, pratique o VAR”.
É interessante observar como os jovens têm abraçado o projeto de uma forma muito bacana. Por pertencerem à geração digital, o assunto está muito atrelado ao dia a dia deles.
Então, muitos acabam tornando-se “checadores” em suas famílias, ensinando pais, avós ou aquele tio do grupo de WhatsApp que sempre repassa tudo que recebe
Com pouco tempo de #FakeToFora, já conseguimos impactar jovens de diferentes faixas etárias e classes sociais. Tivemos oficinas presenciais que levaram o clube de checagem tanto a escolas públicas quanto particulares, para ensino fundamental e médio. Recentemente, também estivemos em ONGs e comunidades no Rio de Janeiro.
Mesmo sendo uma iniciativa voltada para jovens em idade escolar, no Palavra Aberta acreditamos que checar informações e evitar repassar boatos e mentiras é uma tarefa de todos e todas.
Por isso, compartilhamos algumas dicas presentes nos materiais do #FakeToFora mas que servem para cidadãos e cidadãs.
1) Pause
Olhe um pouco para a mensagem antes de tomar qualquer atitude. A informação te causou choque, surpresa ou raiva?
Melhor ainda não passar adiante e investigar um pouquinho do que se trata. Não corra o risco de compartilhar boatos. Seu engajamento importa!
2) O que você sabe sobre quem publicou?
Considere todos os envolvidos na publicação e divulgação: quem escreveu, quem repassou, quem publicou, quem financiou, quais são os agregadores de conteúdo, usuários das mídias sociais etc.
Procure informações que possam ser verificadas como nomes, números, lugares e documentos. Por fim, questione-se: eu posso confiar nesta fonte?
3) Busque informações mais completas
Onde mais essa mensagem pode ser encontrada? Está em algum site? Qual ou quais? É recente?
Procure pistas sobre a motivação: a missão do editor, linguagem ou imagens persuasivas, táticas de monetização, agendas explícitas ou implícitas, chamados à ação.
4) Conheça o contexto
Qual é a história completa que envolve essa mensagem? Avalie se isto é toda a história ou parte dela e considere as outras forças em jogo: eventos da atualidade, tendências culturais, objetivos políticos, interesses financeiros.
Identifique tentativas de agradar a um público específico através de escolha de imagens, técnicas de apresentação, linguagem ou conteúdo.
Com esses quatro passos, estamos nos condicionando a não agir por impulso, mas sim a consumir a informação de forma responsável.
É claro que existem fake news muito bem disfarçadas, até mesmo para os profissionais mais habilitados a lidar com informação, como jornalistas.
Costumo dizer que entre o que é falso e verdadeiro, habitam “cinquenta tons de cinza”. Cada tom, do mais claro ao mais escuro, é um grau entre o que é 100% verdadeiro e totalmente falso. Por isso, precisamos treinar muito nosso olhar e senso crítico para nos questionarmos sempre.
Mais do que um programa de combate à desinformação para professores e jovens estudantes, #FakeToFora é um serviço de utilidade pública, que pode chegar a todos os cantos do país independentemente de estarmos vivenciando um período eleitoral.
Não avançaremos no fortalecimento da nossa democracia se não nos conscientizarmos da importância da educação política e midiática.
Patricia Blanco é presidente do Instituto Palavra Aberta
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