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Inovação impressa a laser: a Cliever é pioneira nacional em impressoras 3D

Flávia Ribeiro / 26 nov 2018
Rodrigo Krug, da Cliever, cercado por alguns dos objetos fabricados por sua impressora (crédito: Divulgação Cliever)
Flávia Ribeiro - 26 nov 2018
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Gaúcho de Candelária, a 180 km de Porto Alegre, Rodrigo Krug “cresceu” na pequena marcenaria do pai, onde trabalhou na adolescência. Em 2001, aos 15, foi cursar Automação no SENAI de Santa Cruz do Sul – e, enxergando uma ponte entre o mundo do trabalho manual e o da tecnologia, montou uma fresadora CNC (máquina que corta, desbasta e modela a partir de controle computadorizado) que acabou sendo bastante usada na marcenaria.

“Ainda tenho aquela fresadora”, conta Krug. “Meu pai sempre diz que a primeira coisa que a gente faz, a gente nunca deve vender ou jogar fora.”

Dez anos mais tarde, o jovem fabricaria a primeira impressora 3D com tecnologia 100% brasileira. Krug, 32 anos, é o CEO da Cliever, startup fundada por ele em 2011, uma época em que a tecnologia – hoje, um dos pilares da Indústria 4.0 – ainda parecia restrita à ficção científica.

A Cliever produz e vende cinco modelos de impressora, inclusive uma de altíssima precisão, todas desenvolvidas com tecnologia nacional; a fresadora está no catálogo, renomeada Minimilll CNC e repaginada para a prototipagem de placas eletrônicas, recortando-as e esculpindo nelas as conexões.

“A ideia é a mesma. Mas enquanto a fresadora esculpe retirando material, a impressora 3D faz isso acrescentando material”, diz Krug, referindo-se às resinas e filamentos usados para dar forma aos objetos.

Quando construiu sua primeira impressora, ele cursava Engenharia de Controle e Automação na PUC-RS e teve apoio da incubadora do Tecnopuc, parque científico e tecnológico da universidade. Uma tentativa anterior de empreender com uma empresa de eletrônicos tinha fracassado. Na época, ainda não se falava muito em impressoras 3D no Brasil, mas o assunto fazia “barulho” lá fora. “Despertou meu lado empreendedor”, diz Krug.

Após pesquisas junto à Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), Rodrigo viu que havia um mercado potencial e colocou na cabeça que criaria uma impressora 3D para “mudar o mundo”. Começou a alardear o plano – e um conhecido o convidou para apresentar sua impressora na Campus Party, o megaevento de inovação e empreendedorismo.

O problema é que tudo ainda estava no campo das ideias. “Eu tinha três meses e meio para montar uma empresa e uma impressora 3D”, diz Krug. “Dois dias antes da Campus Party, o equipamento imprimiu pela primeira vez. Fiz um chaveiro, que mantenho guardado comigo desde então.”

Ele imprimiu cartões, criou um site, botou a máquina numa caixa e pegou um ônibus para São Paulo. Na Campus Party, fez demonstrações e repetiu a quem quisesse ouvir que a impressora era de tecnologia 100% nacional, da sua fábrica – que na verdade nem existia ainda.

Um repórter de uma revista especializada em tecnologia quis saber o preço da impressora. Surpreendido, Krug “chutou” R$ 4.500, mais ou menos o valor que havia investido na fabricação.

“Botei preço de custo, totalmente errado. Na época, as impressoras 3D eram importadas e custavam cerca de R$ 80 mil. Imediatamente, começaram as encomendas. Foram tantas que tive de largar faculdade, o emprego”, lembra o empreendedor. “Peguei R$ 100 mil emprestados no banco, com juros a 28%. Em um ano, montei e vendi 30 unidades. Mas quebrei. No segundo ano, um amigo veio trabalhar comigo e conseguimos alguns investidores.”

Um desafio foi lançar a primeira impressora 3D nacional de alta precisão, visando um nicho pouco explorado na época: as áreas médica e odontológica. Em 2013, Krug concorreu a um Edital SENAI de Inovação e ganhou. Nos dois anos seguintes, as equipes da Cliever e do SENAI trabalharam em conjunto no desenvolvimento daquela que viria a ser a grande estrela da empresa, a SL1.

“Sou ex-aluno do SENAI, tive essa parceria com eles na primeira fase do desenvolvimento da SL1 e, hoje, SESI e SENAI são meus clientes. É um relacionamento antigo e importante na minha vida.”

Nesse meio tempo, a Cliever conseguiu um investimento de R$ 2 milhões do fundo Criatec 2 e virou S.A., o que implicou em outro desafio: enfrentar a carga tributária brasileira. “Do dia para a noite, nossa margem de lucro baixou de 35% para 15% por causa dos impostos. Mas era um passo necessário.”

A Cliever SL1 foi lançada em 2016 com hardware e software “feitos em casa”. Mesmo as resinas foram criadas sob medida para a máquina, que usa a tecnologia da estereolitografia, pela qual um feixe de laser esculpe formas complexas e de pequeno porte com precisão de 25 mícrons (ou um terço da espessura de um fio de cabelo!); isso permite, por exemplo, a confecção de modelos para próteses e coroas dentárias com rapidez e alto grau de detalhamento, resultando num encaixe perfeito na boca do paciente.

Hoje, a empresa fabrica e vende três impressoras 3D FDM, no qual o filamento plástico derrete e vai construindo o objeto, a preços que variam de cerca de R$ 4 600 a R$ 11 mil; uma de estereolitografia, a SL1, que custa em torno de R$ 20 mil; e o Minimill, a R$ 11 mil. Desde 2012, já vendeu mais de 1 200 unidades – além das vendas de filamentos, resinas, sprays e software.

Nos últimos dois anos, a competição ficou mais acirrada. Krug começou a estabelecer prioridades. Não basta “gerar manchetes”; é preciso gerar receita.

“Há alguns anos, houve um enorme investimento de empresas em impressoras 3D domésticas. Foi um sucesso de mídia, mas um enorme fracasso de venda. Porque as pessoas não vão modelar em casa, a não ser de brincadeira”, diz Krug. “Temos a meta de nos tornarmos a referência do setor no Brasil. Vamos usar a credibilidade que conquistamos ao longo desses anos, e estamos nos reformulando em busca de um preço mais competitivo e de uma qualidade ainda maior, com investimento no setor de desenvolvimento.”

Com esse foco, a Cliever captou mais um fundo de investimentos, o Confrapar, e está de mudança para Belo Horizonte, de olho no mercado mais forte do Sudeste e, especificamente, nos setores médico e odontológico, que exigem um grau de precisão que só máquinas como a SL1 podem alcançar.

O empreendedor brinca que, se tudo der errado, vai reabrir a marcenaria do pai. Embora, definitivamente, ele não parece alguém com medo de arriscar: “Nunca tive receio de ‘dar a cara a tapa’. Até porque todo tapa na cara te dá um choque de realidade. E isso é bom.”

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