Operário que trabalha em uma linha de montagem apertando parafusos, Carlitos acha sua função enfadonha e cansativa. Certo dia, atrapalhado com o ofício, acaba sendo engolido por uma máquina – e, lá de dentro de suas engrenagens, nos ajuda a pensar na desumanização do trabalhador.
“Tempos Modernos”, filme de 1936 idealizado por Charles Chaplin, é uma crítica à Revolução Industrial que substituiu as habilidades dos operários por trabalhos rotineiros e alienados.
Oito décadas se passaram e a chamada quarta Revolução Industrial, ou Indústria 4.0, se consolida com a possibilidade de, em vez de automatizar pessoas, automatizar processos – e isso em benefício não só dos negócios, mas dos trabalhadores e do planeta.
Para demonstrar algumas de suas aplicações, a 3M realizou no fim do ano passado, pela quarta vez, o Automation Day.
“Ele é um evento sobre Automação Industrial para toda a comunidade 3M que nasceu dentro da Engenharia de Projetos”, explica Claudino Cintra, engenheiro avançado de projetos da empresa.
“O objetivo é apresentar boas práticas de automação e implementação das tecnologias, claro que com foco em soluções para a Manufatura e temas relevantes sobre o presente e o futuro nesta área.”
Desde 2015, a cada dois anos, colaboradores da 3M realizam palestras e apresentações que demonstram como a automação tem sido implantada na empresa, tanto nos sites do país como da América Latina e de outras unidades do mundo.
“Também trazemos funcionários especialistas em determinados temas para dividir um pouco do seu conhecimento com todos que participam”, conta Marcio Massoco, gerente da engenharia de projetos da 3M.
“Completamos com apresentações dos principais fornecedores que trazem o que têm desenvolvido e implementado em termos de soluções técnicas mais contemporâneas. É uma oportunidade única para que os times da 3M Brasil e América Latina conheçam mais sobre o tema e se inspirem com novas ideias para aplicações no dia a dia de nossas fábricas.”
Em 2019, antes da pandemia, os organizadores do Automation Day fizeram uma espécie de minifeira tecnológica. Nela, fornecedores apresentaram diversas tecnologias usadas pela 3M e os participantes puderam interagir com elas e entendê-las na prática. A ideia é repetir a experiência assim que a retomada acontecer de fato.
Muito se ouve falar sobre Indústria 4.0. Mas o que, de fato, ela representa? Claudino e Marcio respondem com um pouco de história.
“Indústria 4.0 foi um tema apresentado pela primeira vez no Fórum Econômico Mundial em 2015”, diz Claudino. “Ele remete à nova Revolução Industrial, que está em pleno acontecimento com o advento das novas tecnologias de automação e dados à disposição da indústria e das pessoas.”
De fato, o conceito de Indústria 4.0, desenvolvido pelo alemão Klaus Schwab, diretor e fundador do Fórum Econômico Mundial, aponta que a industrialização atingiu uma fase que novamente “transformará fundamentalmente a forma como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos”.
“A história das Revoluções Industriais vem desde 1760 a 1840, na Inglaterra, quando ocorreu a primeira delas”, completa Marcio.
“Basicamente, foi a mudança de modelos agrícolas artesanais para modelos industriais, cujo principal ponto foi a substituição do trabalho artesanal pelo assalariado, com introdução de máquinas industriais. Foi quando houve o advento de máquinas a vapor e de carvão.”
Mais tarde, entre 1850 e 1945, ocorreu a segunda Revolução Industrial. “Ela foi marcada pela introdução da produção em massa, linhas de montagens de veículos e desenvolvimento da indústria química e de petróleo.”
Na terceira, entre 1950 e 2010, o ponto alto foi a substituição da mecânica analógica pela digital. “Ela veio com a implementação dos microcomputadores e da internet, com a invenção e o crescimento da robótica industrial”, complementa Claudino.
“Agora, a quarta Revolução Industrial sobre a qual falamos, engloba um amplo sistema de tecnologias avançadas comparadas às anteriores, com inteligência artificial, robótica avançada, internet das coisas e computação em nuvem, que estão transformando a forma de produção e principalmente os modelos de negócios em todo o planeta”, diz ele.
O Brasil, muito impulsionado pelas empresas globais, tem caminhado e dado passos importantes em direção a todo o potencial da Indústria 4.0.
Estamos, no entanto, em “fase de aprendizado e maturidade”, diz Marcio Massoco. “São necessários muitos investimentos em equipamentos para que possamos tirar o máximo proveito de tudo o que pode ser oferecido.”
Um ponto muito importante nesta quarta Revolução Industrial, aponta Claudino Cintra, é a automação de dados. “Ela vai exigir profissionais que hoje ainda estão em desenvolvimento – os engenheiros de Automação de Dados”, afirma.
“Eles são necessários principalmente para ‘tratar’ os dados e disponibilizá-los para serem avaliados e para que decisões sejam tomadas para benefícios diversos para as empresas.”
Outra questão importante, de acordo com eles, é a evolução dos equipamentos da indústria e de automação de uma forma geral.
“Teremos cada vez mais equipamentos mais produtivos, gerando a necessidade de conhecimento técnico bastante específico para operação e manutenção”, diz Claudino.
O desenvolvimento de mão de obra qualificada é um dos dois principais desafios da indústria brasileira, segundo os líderes da 3M.
“Essa mão de obra é necessária para atender às demandas oriundas da automação, que são os conhecimentos em mecânica e eletroeletrônica. É preciso prover os investimentos necessários para a aquisição da tecnologia disponível”, diz Claudino.
O outro desafio está relacionado aos custos de equipamentos com alta tecnologia, aos vultosos investimentos na fabricação de equipamentos e a um apoio muito bem estruturado para empresas de desenvolvimento tecnológico, como as startups.
“O Brasil precisará avançar muito nos próximos anos em desenvolvimento de fornecedores e de tecnologia, em regulação e infraestrutura”, acredita Marcio. “Além disso, é preciso desenvolver lideranças para todos esses novos desafios.”
No Automation Day, fica claro que a 3M não inova apenas na criação de produtos que compõem um portfólio global com mais de 50 mil itens, mas vem buscando a transformação em todas as dimensões. No evento de dois dias, colaboradores da 3M mostraram os vários benefícios gerados pelo emprego de soluções de automação – a maioria delas como consequência da repetibilidade.
“Com as soluções de automação, conseguimos maior precisão na fabricação e mais rápida identificação de problemas”, afirma Claudino.
“Redução de custos e de perdas e aumento de produtividade são os maiores benefícios que temos pontuado com os projetos de automação.”
Os engenheiros mostraram projetos desenvolvidos nos últimos anos na 3M em que vários riscos ergonômicos foram eliminados e em que houve redução do custo unitário de fabricação de vários produtos.
“Isso aumenta a competitividade no mercado e gera a implementação de novas tecnologias, como equipamentos modernos, com custos menores de manutenção e mais eficientes.”
Uma das soluções usadas na 3M – e apresentadas no Automation Day – é a Automação de Dados: sistemas que geram informações muito importantes para o dia a dia da produção na empresa.
“Outras soluções são os finais de linha de empacotamento, onde temos tecnologias como robótica, armadoras automáticas e sistemas de inspeção para checagem de defeitos”, diz Marcio.
“Vale ressaltar aqui que algumas soluções implementadas geram redução de perdas, como por exemplo máquinas cortadeiras de fitas adesivas, que proporcionam uma melhor performance e automaticamente menor perda de matéria-prima e insumos.”
Os projetos de automação empregam soluções tecnológicas como robôs, Sistemas de Posicionamento de Precisão, Sistemas de Inspeção e Controle por Câmeras, além de toda a tecnologia de redes e dados que propiciam acesso em tempo de real de tudo o que está acontecendo na máquina: quantidade produzida, velocidade, motivos de paradas etc.
Outras tecnologias que tiveram seus usos intensificados na 3M foram a Realidade Aumentada, a Realidade Virtual e os Sistemas de Simulação. “Os óculos possibilitam fazer a simulação de equipamentos e soluções de forma preliminar, ainda em fase de projetos, antes de partirmos para a montagem e execução. Isso nos permite ganhar tempo e evitar retrabalho com a análise praticamente real do funcionamento da solução apresentada, destaca Claudino”
Uma outra solução já bastante conhecida no mercado, mas não menos importante, são os finais de linha de empacotamento.
“Podemos implementar diversas soluções, como sistemas de empacotamento de produtos automáticos, como também máquinas rotativas de montagem de componentes. Isso gera maior segurança para a operação como um todo e, em muitos casos, maior produtividade também, diz Marcio.”
Os benefícios da automação alcançam todos os níveis: os negócios (como vimos acima), os colaboradores, os clientes e o próprio planeta que habitamos.
Para os clientes, ela pode promover uma maior personalização dos produtos. Um dos casos apresentados no Automation Day foi de uma outra empresa, a Nestlé.
“Ela criou um processo que permite a customização de sabores das cápsulas de café na etapa de embalagem de acordo com a solicitação dos clientes. Também criou máquinas que ficam nos pontos de venda para os próprios clientes ‘montarem’ as suas caixas de bombons – ou seja, em vez da caixa padrão de bombom sortidos, eles conseguem escolher exatamente quais ‘sabores’ de bombom querem em sua caixa, que é montada pela máquina, se tornando uma grande ferramenta para pesquisa de mercado sobre a preferência dos consumidores”, explica Marcio.
Em relação à sustentabilidade tão essencial ao planeta, a 3M tem desenvolvido vários projetos com impacto positivo. Um exemplo? “As novas cortadeiras de fitas adesivas, que utilizam tecnologias de enrolamento e controles com muito mais precisão quando comparadas com máquinas antigas”, diz Claudino.
“Essa vantagem traz menor perda de produtos durante o processo de conversão das fitas – e, consequentemente, menos materiais destinados a aterros.”
Outro exemplo foi a instalação de finais de linha de protetores auditivos. “No passado, utilizavam-se etiquetas com o número do lote e validade para cada caixa”, diz Marcio. “Isso foi substituído por impressoras a jato de tinta.”
A 3M ainda instalou na 3M Manaus iluminação LED com o liga-desliga automático, que reduz o consumo no site como um todo. “Existe um trabalho sendo feito também há algum tempo no site da 3M Itapetininga para melhorar sua eficiência energética como um todo.”
Muitas das soluções têm sido empregadas para proporcionar maior conforto aos trabalhadores, evitando principalmente os esforços repetitivos dos operadores, afirmam os engenheiros.
“Outro fator importante é que, com o uso de certas tecnologias, nossa mão de obra está se desenvolvendo tecnicamente para melhor atender a novas demandas”, explica Claudino.
“Tanto nossos operadores como os técnicos de manutenção estão se desenvolvendo nestas tecnologias e, com isso, crescendo como profissionais mais capacitados, agregando conhecimento e valorizando suas carreiras.”
O Carlitos de Charles Chaplin em “Tempos Modernos” agradeceria.
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