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“Graças a dois transplantes, tive o privilégio de nascer três vezes. E aprendi dez coisas sobre a vida que divido agora com você”

Fabio Madia / 26 jan 2024
Fabio Madia, consultor, mentor e CEO da Academia Brasileira de Marketing.
Fabio Madia - 26 jan 2024
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Poucas pessoas têm o privilégio que eu tive: nascer três vezes numa mesma vida.

A primeira, em 25 de novembro de 1976, quando cheguei nessa existência.

A segunda, em 27 de março de 2019, quando passei por um transplante de medula autólogo.

E a terceiro, em 23 de outubro de 2021, quando uma família iluminada me ofereceu o rim do seu ente querido que havia acabado de falecer, transformando sua dor em amor.

Em novembro de 2016, quando completei 40 anos, fui celebrar com amados amigos em Buenos Aires. Lá, além do privilégio e alegria da companhia deles, fiz um texto que chamei de “Manifesto dos meus 40”, que entreguei a cada um deles, além dos meus pais e filhos

Nele, coloquei muita gratidão e amor e o real desejo de grandes mudanças na minha vida. Sentia uma necessidade de ser e estar que naquele momento não sabia explicar.

Uma angústia por não ser aquilo que vim para ser e uma frustração por não estar aqui em minha plenitude. Papo cabeça né? Eu sei, mas calma que na sequência tudo fará sentido. Confie.

AO DESCOBRIR QUE ERA UM PACIENTE RENAL, GANHEI TAMBÉM O DIAGNÓSTICO DE UM CÂNCER

Meses antes tive uma fratura do osso esterno fazendo uma sessão de pilates. Fui ao médico, ele pediu alguns exames e me recomendou uma biópsia. Mas como os outros exames estavam bons e sofria de “complexo de super-homem”, não fiz… A fratura calcificou e vida que segue.

Em maio de 2017, comecei a sentir muito cansaço, frio e principalmente dificuldade de digestão. Na época, procurei um gastroenterologista que me pediu uma endoscopia e descobriu uma pequena gastrite. Comecei o tratamento, mas os sintomas não melhoravam.

Então procurei uma médica clínica geral que pediu uma série de exames de sangue e depois do resultado só lembro que estava internado, diagnosticado como paciente renal crônico e fazendo hemodiálise três vezes por semana

O motivo? Mieloma múltiplo, diagnóstico que só chegou oito meses depois. O MM é um câncer raro, que atinge aproximadamente 1% dos pacientes oncológicos no mundo e que afeta a medula óssea e ocorre com maior concentração em pessoas a partir de 60 anos, sem causa conhecida ainda pela medicina.

Fabio no dia em que realizou o transplante de rim.

Ou seja, tinha um câncer que não tinha cura, mas tinha tratamento e, uma vez tratado, tinha uma função renal para recuperar.

Entre 2017 e 2021, foram quatro anos e dois meses de tratamento. Nesse período, passei por 660 sessões de hemodiálise, cada uma com a duração média de quatro horas, o que dão 2 640 horas sentados e, pelo menos, 1 300 vezes em que meu braço foi puncionado.

Também contabilizo 20 sessões de radioterapia, seis meses de quimioterapia, infusões semanais de imunoglobulina (que realizo até hoje), um transplante de medula óssea autólogo, incontáveis transfusões de sangue e plaquetas, três biopsias e uma fístula arteriovenosa (que segue ativa e linda comigo)

Além de uma drenagem do pericárdio, um transplante de rim e uns 40 pontos espalhados pelo corpo, que carinhosamente chamo de minhas figurinhas premiadas. Amo cada um deles, conquistados com muito orgulho em aproximadamente 90 dias de internações.

Parece muito e foi. Mas essa batalha não foi uma exclusividade minha.

TIVE A OPORTUNIDADE DE CONHECER PESSOAS MARAVILHOSAS AO LONGO DO MEU TRATAMENTO

Ao longo dessa jornada, conheci outros guerreiros como eu, muitos inclusive que vêm de batalhas bem mais longas e difíceis do que a minha.

Pessoas extraordinárias, maravilhosas e únicas, que seguem suas vidas com doçura nos olhos, amor no coração e uma fé simplesmente inabalável. Conheci uma nova família.

Conheci também uma legião de pessoas cujo propósito único de vida é a caridade: salvar outras pessoas. Enfermeiros, copeiras, auxiliares de limpeza e médicos que farão você entender o sentido das palavras compaixão e confiança

Para vencer esse desafio não bastava muito empenho e vontade de viver, eu precisava do melhor dos times que existe no mundo.

Ao meu lado, me suportando incondicionalmente, a Vanessa (minha esposa), Isabella e Bruno (meus filhos) e o Bruce (nosso cachorro que chegou à família 30 dias antes de tudo começar, acreditem). E, além deles, “o cara”, que para mim é Deus.

Fabio no dia do transplante de medula.

Se me perguntarem se em algum momento senti raiva, tristeza, mágoa, culpa ou medo, eu direi que o amor sempre foi muito maior que todos eles. Não trocaria por nada tudo que vivi e aprendi com esse processo.

Passados dois anos, hoje virei exemplo. Impossível explicar o tamanho que isso tem: olharem para você todos os dias e sentirem esperança de que também vencerão seus desafios e coragem para lutar as suas batalhas.

Lembra quando falei das minhas frustrações aos 40? Sete anos depois, todas elas se foram.

Descobri que na vida a cura não é o caminho, mas que o caminho sim é a cura. Cada um com o seu caminho em busca da sua cura. Não há maior nem menor, pior ou melhor; só há caminhos e curas

No final de dezembro, em consulta, dois anos após a conclusão desse lindo processo, recebi mais uma nota 10 da equipe médica que cuida de mim. E hoje sou o saldo de um câncer em remissão, sem fazer hemodiálise, estou saudável, vivo e feliz.

O QUE APRENDI COM TUDO ISSO? COMPARTILHO ABAIXO OS MEUS PILARES DE VIDA:

1) Os desafios que se apresentam em nossas vidas são presentes de Deus. Eles são oportunidades divinas para que possamos nos transformar, evoluir e melhorar; ainda que não tenhamos a maturidade para compreender isso num primeiro momento;

2) Nunca duvide de você. Você é maravilhoso(a) e capaz de tudo. Não é mensagem de autoajuda, é fato. O simples ato de ter acordado hoje de manhã é um milagre; você é um milagre; logo, não há nenhum desafio em sua vida que você não dê conta. Faça sua parte que Deus fará a dele;

3) Você não controla o resultado, mas é o único que controla o caminho para alcançá-lo, logo, faça a sua parte. E cuidado com a procrastinação, ela é mais forte do que se possa imaginar;

4) Faça o seu melhor todos os dias, com foco e disciplina, até que isso faça parte da sua rotina. Foco para saber aonde quer chegar e disciplina para fazer o que é preciso ser feito. Mas cuidado, pois o seu melhor hoje é diferente do seu melhor de amanhã. O limite do nosso melhor varia diariamente para cima e para baixo: saiba respeitá-lo;

5) Todos que estão ao seu lado são parte fundamental do seu tratamento, da sua cura, seja ela física, emocional, mental ou espiritual. Saiba pedir ajuda para eles. Pedir ajuda é um ato de autoconfiança e não de fragilidade;

6) Tenha fé. Pode ser em Deus, em Jesus, em Maomé, em Buda, na mãe natureza, nos Orixás, não importa, mas acredite que há algo além da ciência e da razão. Na hora que o medo apertar, será a fé que irá te salvar;

7) Ame. Ame você, ame o outro, ame os que vieram antes, ame os que chegaram depois, ame os iguais, ame ainda mais os diferentes. O amor é o único remédio comum capaz de curar todas as doenças que existem. Portanto, ame, fale que ama, sinta e seja amor;

8) Seja feliz. A felicidade não é algo que podemos delegar a nada e nem a ninguém, a felicidade é uma decisão que temos que tomar todos os dias. Seja feliz, senão todo esforço e todas as batalhas terão sido em vão;

9) Gratidão e caridade não são aquilo que falamos ou escrevemos. São, na verdade, como decidimos conduzir as nossas vidas. Ser grato é como estar apaixonado, só que neste caso é por alguém que você nunca viu. Ser caridoso é o caminho único para a ascensão. Mas cuidado, generosidade e caridade não são do ego, são do coração.

10) Compaixão é aceitar as pessoas como são. Muitas vezes, no caminho, precisaremos mais dos diferentes do que dos iguais. Compaixão é ficar feliz com as suas conquistas e ainda mais com a dos outros. Fuja do modelo da comparação, por mais simples que seja, é tóxico.

É como disse Dom Bosco: “Eu não disse que seria fácil. Disse que valeria a pena”.

Fabio com a esposa e os dois filhos.

Para todos vocês, meus amigos queridos, que dedicaram seu tempo em ler esse texto, gostaria de agradecê-los bem lá do fundo do meu coração e lembrá-los que no final do dia, com todos os nossos acertos e erros, virtudes e defeitos, bom humor e mau humor, manias e chatices, somos todos humanos. Nada mais, nada menos. E isso é um baita privilégio.

Com todo meu amor,

Fabio Madia, CEO da Academia Brasileira de Marketing, consultor e mentor de empresa. Minha paixão é ajudar pessoas e empresas a construir um caminho bonito, de sucesso, sustentável, considerando todas as tecnologias disponíveis e respeitando, acima de tudo, pessoas. 

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