De um lado, fornos enormes derretendo sucata para virar aço. De outro, um robô faz compras sem interferência humana. No meio disso, uma companhia que busca se aproximar de startups pelo mundo e outra que estuda a exploração de grafeno.
Nada mau para uma empresa que começou como uma fábrica de pregos, em Porto Alegre, em 1901.
Aquela fábrica hoje é a gigante Gerdau. A siderúrgica — que em 2021 completa 120 anos — hoje mantém escritórios e usinas espalhadas por dez países (Brasil, Argentina, Canadá, Colômbia, Estados Unidos, México, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela), onde trabalham 28 mil colaboradores.
Em 2020, a Gerdau produziu 12,5 milhões de toneladas de aço bruto. Agora, está usando a inovação e a digitalização para ser, também, uma fornecedora de bens e serviços com valor agregado.
A companhia está investindo na transformação digital, com processos orientados por Inteligência Artificial e uso de dados, além de uma forma de trabalhar pautada nas metodologias ágeis. Em 2020, os investimentos em inovação e iniciativas digitais representaram cerca de 2% da receita líquida, de 43,8 bilhões de reais.
Diretor global de Digital e TI da Gerdau, Gustavo França ocupa o cargo desde 2019, mas tem um “tempo de casa” é bem mais extenso: já são quase 20 anos de companhia.
Ele lembra que a virada de chave da Gerdau veio em 2014. Naquele ano (o mesmo em que o Brasil levaria um histórico 7 a 1 da Alemanha), caiu a ficha de que a empresa se arriscava a tomar uma goleada se não mudasse seu jeito de trabalhar.
“Em 2014, estava claro que não teríamos resultados diferentes frente a um cenário de maior globalização e competição se continuássemos fazendo as coisas do mesmo jeito… Começou, então, um trabalho de modernização da cultura”
O objetivo, diz, era tornar a Gerdau “uma empresa com menos estruturas hierárquicas, menos guardrails em determinados processos e maior abertura para tomada de risco”.
“Paralelamente, intensificamos o uso da inovação, o que ajudou a validar essa modernização cultural.”
Em 2017, contamos aqui no Draft como a Gerdau vinha conduzindo a sua jornada de inovação. Mais tarde, naquele mesmo ano, a companhia fez um grande anúncio: pela primeira vez em sua história centenária, a cadeira de CEO seria ocupada por alguém de fora da família fundadora.
Gustavo Werneck assumiu a presidência em janeiro de 2018. Com ele no cockpit, a transformação digital foi intensificada. É o que conta seu xará Gustavo França, o diretor global de Digital e TI:
“Para a Gerdau, a transformação digital é a transformação do negócio. Ela é horizontal e acontece tanto nos processos de produção quanto no back office. Não é uma mudança só de sistemas. É usar a tecnologia para desbloquear e de fato impactar os resultados do negócio”
Esses impactos já são realidade. Por exemplo: uma economia de 120 milhões de dólares, em 2020, atribuída ao jeito mais ágil de trabalhar que, aliado à tecnologia, levou a novos processos, como o uso do robô GABI (acrônimo de Gerdau Autonomous Buying Intelligence).
Desenvolvido internamente pelos times de suprimentos e de tecnologia da informação da Gerdau (a companhia não divulga o valor investido), sem apoio de consultoria ou de qualquer fornecedor externo, GABI é uma plataforma completamente autônoma de compras, sem interação humana. Ela identifica demandas internas, faz cotação para selecionar potenciais fornecedores e emite os pedidos de compras.
Ao automatizar o processo de ponta a ponta, o robô produz o equivalente, segundo a Gerdau, ao volume de trabalho de quatro pessoas. Outra vantagem, claro, é que GABI (praticamente) não precisa de descanso: opera 24/7, exceto por pausas para manutenção do sistema. Enquanto isso, a força de trabalho humana dedica sua atenção a atividades mais estratégicas na área de suprimentos.
A área core da Gerdau — produção de aço — também se beneficia da jornada digital. Uma modelagem de Inteligência Artificial foi criada para otimizar o consumo de energia nos fornos da aciaria (onde a sucata vira aço).
Essa modelagem ainda permite simular o comportamento das plantas fabris por meio do uso de dados, o que ajuda a otimizar a utilização das fábricas buscando redução de custo e desperdício e aumento de rendimento.
“Dois mil e vinte foi um ano em que conseguimos potencializar estas iniciativas, até pela maturidade que atingimos por sermos uma empresa que tem capacidade digital”
Gerar processos mais eficientes por meio do uso de dados é outra aposta da Gerdau. Nas plantas da empresa no Brasil, segundo Gustavo, são mais de 700 equipamentos conectados através de sensores inteligentes, capacitando os gestores para tomadas de decisão mais assertivas.
“No passado, um negócio fabril como o nosso decidia as paradas de manutenção baseada no tempo de uso. Hoje, é possível fazer essa manutenção usando como base os dados e o comportamento dos próprios equipamentos.”
Para ir além do aço e diversificar o portfólio, a Gerdau lançou, em 2020, a Gerdau Next, que tem a missão de diversificar globalmente o portfólio de negócios da companhia por meio da criação e incorporação de novas empresas em segmentos estratégicos.
Gustavo liderou a criação do escritório de inovação da Gerdau no Vale do Silício, em 2018. A experiência seria decisiva para o surgimento da nova divisão:
“Aquele escritório foi um MVP que a Gerdau fez, lá atrás, para entender o mercado. Agora, temos a expectativa de, em dez anos, trazer impacto em Ebitda [lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização] através da Gerdau Next”
A Gerdau Next tem a meta de aumentar as receitas totais da companhia por meio de novos negócios, com foco em três pilares: construção civil, mobilidade & logística e sustentabilidade. Os novos negócios podem vir de diferentes fontes, como iniciativas de intraempreendedorismo, parcerias, participações, fusões e aquisições.
Já fazem parte do portfólio da Gerdau Next as empresas Brasil ao Cubo, Paris Ventures, Gerdau Graphene, G2L, G2 Base, Nima, Juntos Somos + e Ventures Gerdau.
A Brasil ao Cubo já foi pauta aqui no Draft. A startup catarinense desenvolveu um método próprio de fabricação de estruturas de aço fora do canteiro de obras que
viabiliza construções em tempo recorde (a analogia já meio gasta, mas eficiente, é dos blocos de Lego que vão sendo encaixados uns nos outros).
A Brasil ao Cubo é vista pela Gerdau como um “case de aquisição”. No final de 2020, a Gerdau Next viabilizou a compra de 33% do negócio. O faturamento da startup, que segundo a Gerdau ficava abaixo de 2 milhões de reais, decolou para outro patamar, agora em torno de 150 milhões de reais.
A Gerdau Graphene, por sua vez, nasceu dentro da própria companhia. Seu foco, como o nome sugere, é o desenvolvimento e comercialização de produtos com a aplicação de grafeno, um derivado do grafita.
O grafeno é, ao mesmo tempo, forte, leve, flexível e supercondutor. Tem sido muito pesquisado como aliado na área de energias sustentáveis, desenvolvimento de borrachas mais maleáveis e até plástico mais sustentável. Na indústria do aço, ajuda na proteção de peças contra a corrosão em ambientes industriais e na construção.
O material vem ganhando mais atenção da Gerdau desde 2017. Hoje, a companhia pesquisa sua aplicação em concreto, sensores eletrônicos, polímeros, lubrificantes, entre outros.
Com a Gerdau Graphene, a companhia quer tornar a produção desse material viável comercialmente e em larga escala. A ideia é comercializar tanto o produto quanto o serviço atrelado a ele, oferecendo mais tecnologia para os setores da construção civil, borracha, termoplástico, tintas e sensores em mercados globais.
Para diversificar o portfólio, uma das funções da Gerdau Next é se aproximar de startups. Isso tem sido feito via programas de aceleração liderados pela Ventures Gerdau.
O primeiro ocorreu em 2020. Das 236 startups inscritas, foram cinco selecionadas, entre elas a OrçaFascio. Fundada no Amapá, a plataforma de orçamento e acompanhamento de obras também foi pauta aqui no Draft.
Completavam o quinteto a Dersalis (solução para gestão de risco e produtividade usando IoT); CMC (startup de construção modular volumétrica com estruturas de aço); Docket (plataforma de aquisição de documentos e certidões imobiliárias); e Construflow (plataforma de coordenação de projetos com inteligência artificial embarcada). Todas passaram por uma jornada de mentorias e desenvolvimento.
Neste ano, a aceleração vai acontecer nos Estados Unidos, com foco na sustentabilidade.
“Como temos olhado a inovação de forma bem global, acessamos também ecossistemas de fora da América Latina. Por isso resolvemos fazer esse batch nos Estados Unidos”
Das 100 inscritas, foram escolhidas seis startups americanas. Entre elas, a Asynos, plataforma de análise de dados para supply chain, e a CarbiCrete, cuja tecnologia permite a produção de concreto sem cimento e com emissão negativa de carbono. As mentorias começaram no finzinho de novembro.
A meta para o futuro, diz Gustavo, é seguir tornando a Gerdau uma empresa cada vez mais data-driven.
“A Gerdau já é uma empresa digital. Temos capacidades implantadas, uma plataforma de tecnologia robusta, e, agora, vamos acelerar as principais apostas transformacionais que temos para os próximos anos.”
A proibição do amianto no país levou a Eternit a uma recuperação judicial. Em entrevista ao Draft, o presidente da companhia fala sobre seu momento atual e a aposta em telhas e placas fotovoltaicas e sistemas construtivos inovadores.
Fabricante de tampas e grelhas em ferro fundido, a Fuminas vivia uma fase difícil. Até que uma visita à Legoland, na Flórida, inspirou um novo negócio: a Fuplastic, que produz tijolos de plástico para o varejo e o setor de infraestrutura.
Em entrevista ao Draft, Marcelo Ciasca, CEO da Stefanini Brasil, fala sobre a estratégia da empresa, que tem 1 bilhão de reais para investir em IA generativa e aquisições com foco em cibersegurança – e projeta crescer 25% neste ano.