Amigos desde a época do colégio, Thales Akimoto, 27, e Caroline Dallacorte, 27, frequentaram a mesma Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó), mas cursando engenharias diferentes: ele, a elétrica; ela, a de alimentos. O empreendedorismo voltaria a colocá-los lado a lado. Caroline e Thales são os fundadores da PackID, que desenvolve soluções de monitoramento de temperatura e umidade para a indústria de alimentos.
Em março, a startup chapecoense, criada em 2016, conquistou um aporte de 1 milhão de reais. A rodada foi liderada pelo fundo GVAngels, formado por ex-alunos da Fundação Getulio Vargas (FGV). Um diferencial da empresa seria a capacidade de estender o monitoramento à toda a cadeia de produção: câmara fria, transporte refrigerado, centros de distribuição e ponto de venda. “Temos concorrentes, mas eles atuam em apenas uma das etapas, e não em toda a cadeia”, diz Thales, CEO.
Desenvolvidos pela startup, os sensores (um deles do tamanho de um cartão de crédito) se conectam com o servidor do cliente via cabo ou Wi-Fi, permitindo o monitoramento em tempo real, inclusive com alertas gerados por WhatsApp, que agilizam a tomada de decisão — outra vantagem, segundo o empreendedor, em uma indústria em que ainda seria comum empregar a checagem manual, com um técnico conferindo o termômetro e anotando os dados em uma planilha.
“Se um produto precisa ser armazenado entre 5 e 7 graus Celsius, quando a câmara fria passa de 7 graus, ele perde qualidade. E se fica abaixo de 5, a empresa gasta mais energia do que deveria. O sistema avisa o cliente antes de a temperatura chegar ao limite, evitando perdas”
Os desvios de temperatura, seja no transporte, no armazenamento ou no ponto de venda, podem ocorrer por uma série de fatores, como abertura frequente de portas, queda de energia ou falhas e instabilidades no sistema. Além dos alertas pontuais, relatórios de desempenho energético emitidos pela startup possibilitam traçar estratégias para reduzir o consumo de eletricidade e aumentar a eficiência.
“Os relatórios conseguem mostrar se distorções de temperatura são recorrentes e quando elas acontecem, construindo um histórico”, diz Thales.
Sem abrir o nome do cliente, ele cita o caso de uma empresa que, em dois meses, no segundo semestre do ano passado, conseguiu reduzir em quase 85% o desperdício de energia graças ao monitoramento — os desvios dos parâmetros de temperatura estabelecidos, que somavam 906 horas em julho, despencaram para 138 horas em setembro.
OS PROGRAMAS DE ACELERAÇÃO AJUDARAM A DEFINIR PRIORIDADES
Alçada à fama mundial após o desastre aéreo que vitimou quase todo o time da Chapecoense, em novembro de 2016, Chapecó é um dos maiores polos nacionais de produção de proteína animal, com foco em aves e suínos. Caroline trabalhava como Controladora de Produção num frigorífico da cidade, no Oeste catarinense, quando se deu conta do impacto de ineficiências no monitoramento da temperatura, tanto no armazenamento quanto no transporte dos produtos.
Daquele insight nasceria a PackID, com a sacada de aplicar a sensorização da Internet das Coisas (IoT) à indústria de alimentos.
Caroline convidou Thales para empreenderem juntos, os dois escreveram o projeto da startup e submeteram ao Sinapse de Inovação, programa do governo catarinense que oferece recursos financeiros, capacitações e suporte para tirar ideias inovadoras do papel. O projeto foi aprovado e a dupla recebeu 60 mil reais para desenvolver a empresa.
Essa busca, na raça, por fontes de financiamento seria uma constante. Ainda em 2016, eles se inscreveram no Advanced Materials Competition, uma competição de startups em Berlim. Ficaram com o primeiro lugar e ganharam mais 10 mil euros. Foram três meses morando na Alemanha para participar do programa. “Desenvolvemos mais o produto, a solução. Foi um momento de virada, pois ali senti que havia um futuro para a PackID”, diz Thales.
Em 2017, vieram o primeiro lugar no BioStartup Lab, o maior programa de aceleração de startups em ciências da vida do Brasil, e outra aceleração, pela Inovativa Brasil, que originou o contato com o GVAngels, responsável pelo aporte milionário. Thales reforça a importância dessas participações:
“Já tínhamos usado o dinheiro das premiações e precisávamos buscar mais para a empresa continuar. E, além do dinheiro, esses programas de aceleração ajudam a estabelecer prioridades e mercados, não atirar para todo lado, tomar as decisões corretas”
Mais recentemente, em 2018, a PackID conquistou a subvenção do StartUp Brasil para bolsas CNPq, e recebeu mentoria também da ACE Startups, que injetou R$ 150 mil na empresa.
O MERCADO FARMACÊUTICO AGORA ESTÁ NO RADAR DA STARTUP
Atualmente, a PackID tem dez funcionários (entre financeiro, desenvolvimento e comercial), além de três sócios — o terceiro é Duan Bressan, 26, também natural de Chapecó, que se juntou em 2018. “Ele entrou porque precisávamos de alguém com ‘background’ de programação”, diz Thales. Formado em Ciência da Computação, Duan ocupa o cargo de CTO (Chief Technology Officer).
A startup acaba de assinar contrato com a gigante BRF, dona de marcas como Sadia e Perdigão. O acordo deve ajudar a alavancar o faturamento. A PackID começou 2019 faturando R$ 5 mil ao mês, já dobrou para R$ 12 mil e espera encerrar o ano com R$ 50 mil mensais. O serviço é vendido por meio de uma assinatura mensal, com valores que variam conforme o recorte da cadeia que será monitorado e a quantidade necessária de sensores.
A maioria dos 19 clientes está ligada ao setor de alimentos: frigoríficos, indústrias de laticínio, transportadoras frigorificadas e supermercados. A Minerva Foods, maior exportadora de carne bovina da América do Sul, usa a solução da PackID em câmaras e docas, centros de distribuição e no transporte. A rede Los Paleteros, por sua vez, adota em toda a cadeia, das câmaras na indústria, passando pelas tinas de maturação e o transporte até os centros de distribuição e alguns pontos de venda.
As farmacêuticas entraram no radar da PackID depois da participação no BioStartup Lab. A ideia é adaptar a solução atual para o controle de temperatura de remédios e vacinas, tanto no estoque quanto no transporte. “Ainda não atuamos na área médica porque precisamos de algumas certificações”, diz Thales. “Está no roadmap de expansão, porque é um mercado potencial.”
Os sócios pretendem fazer essa expansão deslanchar de vez com o aporte de R$ 1 milhão recebido em março. O dinheiro deverá ser usado na estruturação da equipe de desenvolvimento e fortalecer a área comercial, uma estratégia que inclui avançar a presença para além de Chapecó. “Vamos abrir um braço em São Paulo, que é onde as decisões acontecem.”
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