Um contexto pessoal, vivido na infância, instigou Maximiliano Carlomagno, hoje com 40 anos, a desbravar o tema da inovação corporativa. A companhia onde seu pai trabalhava foi à falência, o que despertou nele a curiosidade de entender por que algumas empresas ficam pelo caminho enquanto outras mantêm uma performance continuamente melhor do que a da concorrência.
A inovação, claro, é um dos elementos dessa equação. Em 2006, com Felipe Ost Scherer, Max fundou a Innoscience. Baseada inicialmente em Porto Alegre, a consultoria transferiu-se para São Paulo em 2008, aproximando-se de grandes clientes potenciais. Sua missão: estimular corporações a pensar, trabalhar e inovar como uma startup, absorvendo lições desse ecossistema.
“As grandes empresas se percebem como pouco aptas para inovar. Esse talvez seja um paradigma interessante. A startup, basicamente, ou inova ou não existe. A grande empresa, por mais que tenha recursos, enfrenta desafios organizacionais incríveis para inovar.”
Em entrevista para o Sebraecast concedida a Adriano Silva, publisher do Draft, Max traçou paralelos de aprendizados entre grandes e pequenos negócios. Destacou como as corporações se beneficiam ao adotar atitudes similares a startups para viver o problema do cliente e testar com ele sua solução. E sugeriu, ainda, aos que se habilitam ao intraempreendedorismo:
“Pare de fazer contas no Excel e estudos de viabilidade. Dedique esse tempo para conhecer a dor do seu cliente, entender como ele toma decisões sobre essa dor e que alternativas ele considera na hora de resolver esse problema.”
A partir daí, o caminho é criar uma solução melhor do que as já existentes – e não apenas “diferente”, porque o cliente fará comparações. O passo seguinte é testar a solução em pequena escala, a fim de expor pouco os recursos da companhia. De posse de um feedback realmente positivo, aí sim, é hora de acelerar para escalar, usando as tecnologias disponíveis.
A via de conhecimentos é de mão dupla. As startups, diz Max, também podem aprender com o mundo corporativo como gerir negócios maduros, de maior escala, o que requer controle de orçamento e abordagem distinta de simplesmente querer descobrir novas necessidades do cliente (seja uma empresa ou o consumidor final).
“Nesse momento, você muda a dinâmica da gestão. É preciso adotar procedimentos que tendam, em alguma dimensão, a coibir o erro. Porque você precisa gerir o novo com eficácia até buscar um outro negócio, de forma que esse ciclo não se acabe.”
Esse raciocínio conduziu a entrevista ao papel do erro como um agente para que a inovação aconteça. Aqui, não se trata do erro por desatenção, pela falta de conduta adequada ou por despreparo no que a empresa já está (ou deveria estar) acostumada a fazer.
Segundo Max, existem erros bons e erros ruins. O erro bom é aquele que acontece quando o intraempreendedor tenta ir ao limite do que a empresa faz – quando ele dá um passo ao desconhecido.
“O processo que melhor se adapta para gerir esse tipo de erro é a experimentação disciplinada. Trata-se da criação de um ambiente controlado, com clareza do que se quer testar, onde se pode ter desvios no que seria o resultado almejado. Essa disfunção entre o que se queria e o que efetivamente aconteceu é a única matéria-prima que o intraempreendedor tem para poder adequar a sua solução – na nomenclatura das startups, diz-se ‘pivotar a solução’ – e fazer algo incrível”.
Entretanto, é muito comum a ausência de mecanismos que alinhem a ambição que a empresa tem de inovar e o apoio de que os profissionais inovadores precisam para errar (e aprender com o erro).
“Dentro da grande empresa, o indivíduo que quer fazer algo diferente precisa não só ter clareza de qual é a estratégia da empresa, mas também se predispor a tomar algum nível de risco e a articular toda a organização para caminhar no sentido daquela oportunidade incerta, em que ele acredita que vale a pena investir tempo e dinheiro.”
O momento mais difícil, enfrentado com alguma frequência por Max na Innoscience, é quando o intraempreendedor investe o seu tempo e a empresa não corresponde à demanda que ela própria fez.
“O indivíduo busca criar soluções fora do que é convencional, mas a empresa opta por transformar aquilo que tem potencial inovador em algo mais próximo do que já faz, para reduzir o nível de risco.” Essa incoerência, explica o consultor, gera frustração e a sensação de que o profissional devia ter tentado algo menos ambicioso.
Fica a dica para as corporações: é preciso prover o intraempreendedor não só com equipamentos e estrutura, mas também com a mentalidade e as condições necessárias à jornada de criar e desbravar a inovação.
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O Sebraecast apresenta uma série de entrevistas com empreendedores sobre startups, negócios criativos, negócios sociais, inovação corporativa e lifehacking. Confira a websérie em youtube.com/sebrae e o podcast em soundcloud.com/sebrae!