Síndrome de Burnout, chefia despreparada, cargas horárias absurdas. Não são questões incomuns para os dias de hoje, não é mesmo?
Se você perguntar para alguém na rua se a pessoa já teve algum desses problemas no ambiente de trabalho ou até mesmo outros, a chance de ouvir um “sim” é grande.
Não à toa, entre janeiro e maio deste ano, 2,9 milhões de trabalhadores brasileiros pediram para sair dos seus empregos, como mostra um levantamento da FIRJAN (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) feito com dados do CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). Este é o maior índice da série histórica iniciada em 2005.
A pesquisa é importante, mas já parou para pensar que é só um registro? Ou seja, e o que não está registrado? E o que está sendo feito debaixo dos panos e nem por isso deixa de ser preocupante?
Pois é, a situação sempre pode ficar pior — e esse é o caso. Por isso não podemos fechar os olhos para o problema, que agora passou a ter outro nome: Quiet Quitting.
O termo em inglês pode ser traduzido como “demissão silenciosa”. A discussão ganhou as redes sociais recentemente por ser um movimento liderado pela Geração Z e e se refere ao ato de executar apenas o trabalho para o qual o colaborador foi contratado. E só, nada mais.
Ou seja, o indivíduo só sai da cama para ter um dia mecânico no seu ambiente profissional, cumprindo a função para a qual é pago, recebendo o dinheiro na conta no fim do mês e ponto
Ele abandona a ideia de “ir além” e abre mão de uma cultura de culto dessa esfera da sua vida.
Obviamente, o “ir além” não está relacionado com aquela falsa romantização do trabalho, em que a pessoa é obrigada a ser “a primeira a chegar e a última a sair” para ter sucesso.
“Ir além” é considerar a sua profissão uma parte importante da vida, junto da pessoal. Afinal, precisamos passar, em média, oito horas por dia, cinco vezes por semana, em um espaço físico ou virtual para pagar boletos e possíveis luxos que possam nos agradar.
Então, no mínimo, essa atividade deve despertar algum tipo de brilho no olhar para nos motivarmos.
O problema mora justamente neste aspecto: motivação. Sem ela, o trabalho não só começa a se tornar uma tarefa chata e automática de todos os dias.
Mas também uma alavanca de sentimentos e emoções negativas. Tristeza, raiva, desgaste, apatia, dentre muitas outras
Por si só, essas características já acendem uma luz de “alerta” — no entanto, podem levar a condições ainda mais graves, como a própria Síndrome de Burnout. E tudo isso, como o nome já diz, de um jeito “silencioso”.
Não é coincidência que a geração Z tenha iniciado as discussões sobre Quiet Quitting, pois é uma faixa etária muito motivada pelo propósito de dar sentido a todas as suas ações
São trabalhadores ansiosos e que têm a necessidade de fazer algo significativo constantemente. Quando isso não acontece, o resultado acaba sendo esse desengajamento, em que o colaborador não enxerga razão alguma para prestar serviços à companhia. Dessa forma, a saída passa a ser pisar no freio.
E não se engane, a empresa não está fora dessa equação. Ela precisa provar ao time que aquele ambiente profissional tem valor.
É um pré-requisito básico para quem está nessa posição ocupar o espaço de “modelo”, motivando os integrantes da equipe em reuniões presenciais, ou mesmo estando presente nos momentos de descontração. Em suma, é abraçar a função de liderança, não de chefia.
Essa é uma missão que não é para qualquer um. É extremamente difícil ser um bom líder, quanto mais engajar colaboradores da maneira correta
Isso acontece, principalmente, porque há uma forte questão comportamental envolvida. Cada colaborador e grupo possuem uma personalidade e forma de agir diferentes, o que faz a empresa recorrer a modelos de gestão baseados em entregas, em que tarefas precisam ser cumpridas pelos funcionários no dia para que fluxos sejam estabelecidos.
Contudo, nesse caso, também há momentos em que o colaborador pode não conseguir cumprir a demanda, seja por estar realizando Quiet Quitting ou ter dúvidas operacionais.
É um cenário desastroso, porque não há abertura para perguntar qualquer coisa para o líder. É nesse sentido que podemos levantar uma ação básica para evitar esse contexto: a comunicação.
Especialmente entre os profissionais mais jovens, há uma grande vontade de fazer a diferença, porém milhares de indagações surgem no meio do caminho. É completamente natural.
Logo, quando o líder assume a postura de estar à disposição e de guiar o colaborador que acabou de ser contratado, é possível amenizar a demissão silenciosa ao invés de acelerá-la por conta de uma rigidez descabida
A aproximação entre time e liderança também traz a grande vantagem de atingir até mesmo os indivíduos que não sabem ao certo qual o seu propósito naquele lugar, pelo motivo de promover uma sensação de pertencimento, que é o primeiro passo para construir motivação e engajamento.
E, se esses fatores se juntam, os profissionais ficam instigados a se desenvolver, crescer e sair da rotina mecânica.
Portanto, a melhor forma de lidar com a diversidade geracional e o Quiet Quitting é trazer o tema para o centro do debate.
Uma boa conversa sem rodeios é o ponto de partida inicial para praticamente qualquer medida que resolvemos tomar em nossas vidas — e aqui não é diferente.
A ampla discussão, por meio de recursos como workshops temáticos, rodas de diálogo ou apenas a pausa para um café, traz a leveza necessária para abordar um tópico delicado, mas que não pode passar em branco nas corporações.
Nessa lógica de conduta, as empresas não podem pensar que estamos falando de um “bônus”. Pelo contrário, o debate é um fator estratégico para uma organização diante da gravidade do assunto.
A construção coletiva de soluções é a única saída dessa espiral sombria que cerca o ambiente profissional e deve fazer parte do planejamento de todas as companhias que desejam crescer de uma maneira saudável
Afinal, a melhor forma de impedir uma demissão silenciosa é quebrando o silêncio.
Richard Uchoa é CEO da Revvo, uma das principais empresas de educação corporativa digital, e reconhecido por implementar estratégias inclusivas dentro do ambiente de trabalho. Mestre em Tecnologias Educacionais pela University of Oxford, atuou na implantação do ensino a distância na Universidade Estácio de Sá até 2009. Fundador e investidor de outras startups de tecnologia educacional, foi CEO e sócio da rede de escolas de inglês Britannia, vendida para a Cultura Inglesa em 2018.
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