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Entre taças e pincéis, a Vinho Tinta injeta criatividade e descontração no mercado de eventos corporativos

Leonardo Neiva / 18 mar 2024
Marcos dos Santos e Nátaly Sicuro, o casal de sócios da Vinto Tinta.
Leonardo Neiva - 18 mar 2024
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Tomar uma taça de vinho é a forma que muita gente encontra para relaxar no fim de um dia corrido e estressante. Para outras, sentar-se em frente a uma tela em branco e fazer nascer cores e formas com o pincel pode ser, além de arte, também uma terapia.

Mas já pensou em unir essas duas atividades numa só? Pois os empreendedores paranaenses Marcos dos Santos, 30, e Nátaly Sicuro, 26, já. Hoje, à frente da Vinho Tinta, eles oferecem experiências personalizadas envolvendo pintura e vinho como ferramenta para incentivar a interação em equipes no ambiente corporativo ou em grupos de amigos e famílias.

A empresa oferece três tipos de experiência: na Vinho & Tinta, os participantes são guiados a pintar uma tela enquanto degustam uma taça da bebida; o Mosaico leva cada time a desenvolver uma imagem que no fim integra um mosaico de telas; e, com a Academia do Vinho, as equipes têm a oportunidade de criar o próprio vinho, da composição à elaboração do rótulo. 

Saber pintar ou ter talento para a arte não chega a ser requisito. A ideia é cada um se soltar enquanto segue o passo a passo proposto pelo artista que guia o grupo, de forma que todos acabem se engajando na atividade e entre si.

Apesar de lúdica, a proposta do empreendimento está longe de ser brincadeira. Em 2023, a empresa faturou 2 milhões de reais, atendendo profissionais de marcas do porte de Google, Boticário, Uber, Nubank, BMW e Grupo Globo, entre outras. Marcos, que atua como CEO, conta:

“Quando o cliente nos contrata, ele quer solução, não problemas. Então todos os materiais a gente é que leva, os vinhos, as taças, as ferramentas de pintura, seja uma experiência presencial ou remota. Para o online, enviamos um kit com uma caixa toda personalizada”

Além de juntar vinho e arte num só negócio, a dupla integrou essa parceria na vida profissional àquela que já mantinha na vida pessoal. Os dois, que fundaram a empresa lá em 2019, quando ainda namoravam, são noivos e fazem planos para o casamento.

“A gente passa 24 horas por dia juntos, da vida pessoal até trabalhar no mesmo escritório”, diz Marcos. Segundo ele, o que poderia parecer um desafio acaba sendo vantagem. “É incrível, porque eu olho para o lado e sei que tenho ali uma pessoa em quem posso confiar de olhos fechados, e vice-versa.”

UMA PASSAGEM PELOS EUA E A EXPERIÊNCIA COM A MÃE LEVARAM MARCOS A INICIAR O NEGÓCIO

Embora a Vinho Tinta tenha saído do papel em 2019, a semente do negócio foi plantada ainda em 2016, quando Marcos recebeu uma bolsa para estudar em Nova York. 

Após fazer amizade com colegas americanos, o empreendedor começou a ir além da Estátua da Liberdade e do roteiro turístico tradicional, passando a frequentar lugares que só os moradores locais conhecem.

“Um dia, me levaram num ateliê onde um artista guiava as pessoas passo a passo enquanto iam bebendo. Eu ia pintando minha tela, bebendo, e pensei que era muito legal, algo que não tinha no Brasil”

Durante a atividade, Marcos não hesitou: tirou do bolso o bloquinho de notas que levava sempre consigo e anotou a ideia de fazer algo semelhante no Brasil. Só que, quando retornou ao país, o bloco e a ideia acabaram esquecidos. 

No retorno, o empreendedor continuou tocando as aulas de engenharia de produção, área que cursou na universidade. Mais tarde, acabou empregado como estagiário no RH de uma multinacional de Curitiba, setor diferente de sua formação. Ali conheceu Nátaly, que cursava administração e também estagiava na empresa. Os dois logo começaram a namorar.

O bloco de anotações voltou à tona por acaso. Foi quando Marcos percebeu a animação de sua mãe, que na época enfrentava uma depressão, ao ajudar a filha a completar um dever de casa de veia mais artística, pintando os prédios de uma maquete.

“Minha mãe, que lutava contra uma forte depressão, quis cozinhar, deu risada, conversou. Ou seja, ela conseguiu se conectar com a gente. Naquele jantar, tive um estalo: era isso que queria fazer da vida: trazer momentos gostosos e leves como esse para as pessoas”

E assim ressurgiu na cabeça de Marcos a ideia de replicar no Brasil o conceito de experiências corporativas misturando arte e vinho.

A PANDEMIA ATRAPALHOU OS PLANOS DE OFERECER EXPERIÊNCIAS NUM ESPAÇO FÍSICO

Em 2019, trabalhando num emprego fixo e recebendo um bom salário, com uma carreira pela frente já toda delineada, Marcos precisou tomar uma decisão controversa: largar tudo para apostar numa ideia de negócio arriscada. 

“A única pessoa que me apoiou foi a Naty”, lembra o empreendedor. A própria Nátaly logo seguiu seus passos, para que ambos pudessem se dedicar a construir a Vinho Tinta, ele como CEO e ela, especialista em novos negócios.

Nesse momento, o casal teve que juntar as economias, contar com um empréstimo do banco e o auxílio de amigos e familiares. Levantaram cerca de 150 mil reais para investir no empreendimento. 

Como no início a ideia era oferecer as experiências num mesmo lugar, boa parte dessa grana foi para conseguir e reformar um espaço físico em Curitiba.

Inaugurado em dezembro de 2019, ele funcionou por apenas três meses por conta da pandemia. Nátaly conta:

“Tivemos que nos readaptar 100%. Nesse momento, a gente precisou enxergar novas possibilidades para remodelar o produto e abrir um novo mercado totalmente diferente do que tinha imaginado”

O processo envolveu abandonar qualquer ideia de ter eventos presenciais naquele momento. “Falamos que a empresa começou no negativo, porque investimos dinheiro num espaço que não deu para usar”, diz o CEO. 

Em vez disso, a Vinho Tinta passou a enviar kits com pincel, tela, tintas e vinho, para que cada um pudesse fazer a experiência em casa, numa videoconferência coletiva guiada por um artista. Nátaly considera que a transformação foi bem-sucedida.

“Foi perfeito para esse momento. Teve gente que fazia fielmente com a gente toda semana, gente dizendo que conseguimos mudar essa vivência da pandemia, trazer uma leveza e esquecer um pouco todos os problemas”

Outra mudança envolveu pivotar o público-alvo. Voltado inicialmente para o consumidor final, o modelo de negócio se adaptou para o B2C, passando a atender equipes corporativas.

A guinada começou em outubro, quando a demanda por experiências sofreu quedas drásticas, que os executivos atribuem a uma fadiga dos eventos online na pandemia. 

Com o negócio perto de quebrar, uma cliente que realizou a experiência com a família propôs fazer um evento semelhante, só que na empresa onde trabalhava: o Grupo Boticário.

A VINHO TINTA ALINHA AS EXPERIÊNCIA DE ACORDO COM AS NECESSIDADES DA EQUIPE

Por serem jovens — no início, Nátaly tinha 22 anos e Marcos, 25 —, os dois tinham receio de não serem bem acolhidos pelo mercado quando passaram a atuar diretamente no ambiente corporativo. 

A bagagem de trabalhar com Recursos Humanos numa grande multinacional, no entanto, ajudou a dar confiança, diz Nátaly; e o fato de iniciarem a trajetória com uma empresa do tamanho do Boticário — “sorte de principiante”, segundo ela — foi um empurrão a mais. 

Curiosamente, nenhum deles entendia muito de arte ou vinho. Para atender aos clientes em ambas as áreas, eles decidiram se dividir, como ela lembra:

“Eu aprendi a pintar vendo vídeo no YouTube, testando várias vezes na mesma tela. O Marcos foi se especializar em vinho. A gente não sabia nada, mas abriu a empresa mesmo assim. Hoje ele é o homem do vinho, e eu sou da tinta”

Segundo Nátaly, os objetivos da dinâmica são sempre discutidos com os gestores, adaptando as três experiências para que cumpram o foco da empresa, seja desenvolver trabalho em equipe, solução de problemas ou formação de lideranças. 

Até por isso, a empresa não costuma fechar contratos maiores. Geralmente, é por experiências individuais, com valores de acordo com as particularidades e demandas de cada empresa. Já no B2C, a modalidade online sai por cerca de 157 reais por participante.

No online, o kit é enviado para todos os participantes, no Brasil ou até no exterior. Segundo Marcos:

“Já atendemos uma equipe com umas 70 pessoas em mais de 20 países. Fizemos a logística, enviamos e colocamos um guia bilíngue”

Com o fim da pandemia, a Vinho Tinta também voltou a oferecer a opção de experiências presenciais. Nesses casos, em lugares mais distantes, a empresa envia os materiais e faz parcerias com artistas nas proximidades, criando uma rede deles pelo país. 

Embora haja um mínimo de quatro participantes, o máximo costuma ser bem elástico. Recentemente, diz o CEO, a empresa atendeu um time de mais de 1 500 pessoas de forma híbrida entre o presencial e o online.

DEPOIS DE AUMENTAR O FATURAMENTO EM QUASE 300%, ELES AGORA QUEREM ATINGIR OUTRAS REGIÕES

Até hoje, a Vinho Tinta atendeu 320 empresas, impactando 22 mil pessoas. Algumas delas, como Boticário, Uber e Nubank, ofereceram o serviço aos seus colaboradores dezenas de vezes, segundo o casal de empreendedores. 

“Temos grande recorrência”, diz Marcos. “Queremos continuar atendendo esses clientes e alcançar novas empresas em territórios diferentes.”

As empresas também têm a opção de oferecer a experiência a clientes selecionados. “Hoje, todos querem promover experiências para seus clientes, não é só na hora da venda. Se no começo as pessoas acham chato, quando veem que envolve arte e vinho, todo mundo quer”, conta o empreendedor. E continua:

“Teve uma empresa que passou o ano inteiro chamando o pessoal para um café, e ninguém aparecia. Eram arquitetos muito renomados em Curitiba. Quando contrataram a gente, foi um sucesso gigantesco. Faltou até espaço, algumas pessoas tiveram que ficar de fora”

Embora já tenha atuado em todas as regiões do Brasil, o foco da Vinho Tinta está no Sudeste, especialmente em São Paulo, onde chega a realizar mais de 30 experiências por semana. Ainda assim, diz o CEO, um dos objetivos para 2024 é alcançar as regiões Norte e Nordeste, onde a empresa ainda atua pouco.

Outro objetivo é manter o nível de crescimento no faturamento, que passou de 50% ao ano a um salto de quase 300% em 2023. O número de colaboradores dobrou, passando a cerca de 30, incluindo artistas, enólogos e sommeliers; sem um escritório fixo, a Vinho Tinta  mantém estoques em São Paulo e Curitiba, de onde vai enviando os materiais pelo Brasil.

Embora a atenção principal esteja na arte, Nátaly considera a relevância do vinho para a experiência como um todo. 

“É um complemento, porque a experiência fica mais leve e o pessoal acaba se soltando mais. A gente brinca que entra o vinho e sai o artista, todo mundo se liberta mais na pintura”

Para Marcos, o negócio vai muito além da parte financeira, mas se trata de uma questão de amor e propósito.

“Vimos gente chorando, dizendo que foi a melhor coisa que ela fez na pandemia. Isso vale muito”, diz o CEO. “É uma empresa nova, ainda vamos ter concorrência, mas estamos tranquilos. A gente ama o que faz, o que para nós é muito importante como empreendedores.”

 

DRAFT CARD

  • Projeto: Vinho Tinta
  • O que faz: Oferece experiências artísticas envolvendo vinho a equipes corporativas e ao consumidor final
  • Sócio(s): Marcos dos Santos e Nátaly Sicuro
  • Funcionários: 30
  • Sede: Curitiba
  • Início das atividades: 2019
  • Investimento inicial: R$ 150 mil
  • Faturamento: R$ 2 milhões (2023)
  • Contato: contato@vinhotinta.com
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