O anúncio de Mark Zuckerberg sobre o investimento no metaverso, ao mesmo tempo que popularizou a palavra e o conceito, causou um efeito colateral, principalmente para quem já estava neste espaço bem antes.
O Meta está muito relacionado à realidade virtual e ao produto Oculus Quest, que é o dispositivo necessário para acessar o metaverso de Zuck.
E, de certa forma, no inconsciente coletivo, o metaverso foi encapsulado nessa modalidade e o consumidor associa diretamente metaverso à realidade virtual.
Um pensador moderno da Web3, Diego Borgo, tem uma frase de que gosto muito: “Dizer que os óculos de realidade virtual são o metaverso é a mesma coisa que dizer que seu celular é a internet. Na realidade, são apenas uma das formas de acessar esses ambientes, não a única”.
Nos últimos seis meses, tenho trabalhado lado a lado com algumas das mentes mais brilhantes no assunto, no Brasil, no Vale do Silício e espalhados pelo mundo inteiro. Profissionais que estão empenhando suas carreiras e capital neste tema. São milhares de empreendedores, criativos, tecnologistas — todos determinados a construir este novo espaço.
Posso garantir que o desejo comum desses criadores é que o acesso ao metaverso seja democrático, multi-plataforma e que o usuário comum possa interagir com essa camada virtual de qualquer dispositivo, seja smartphone, PCs, tablets etc. Não tem como existir somente uma forma de acesso
O Gartner Inc. define o metaverso como “um ambiente virtual coletivo e compartilhado, criado pela convergência das realidades física e digital aprimoradas virtualmente”.
Ainda segundo o Gartner, o metaverso proporciona experiências imersivas, podendo ser acessado por qualquer tipo de device, como celulares, tablets, computadores ou óculos de realidade virtual ou aumentada.
Se o metaverso está entre seus pontos de pesquisa, você provavelmente já ouviu falar do Upland, aplicativo lançado em 2019 pela empresa UplandMe Inc., oriunda do Vale do Silício.
A plataforma está conquistando um grande espaço entre os metaversos que rodam baseados na tecnologia da blockchain e utilizam os conceitos da economia Web3 para criar seus modelos de negócio.
Acessível por computador ou celular, o aplicativo está disponível em todas as lojas e utiliza uma interface gráfica que permite ser funcional em qualquer dispositivo.
Simulando uma espécie de banco imobiliário digital, o metaverso do Upland reproduz a cartografia das cidades, mapeando os endereços do mundo real
Essa georreferência das cidades que conhecemos e amamos torna fácil a experiência do usuário, pois fica mais simples imaginar quais são as ruas e bairros mais valorizados, ao tentar obter terrenos nas disputadas cidades já lançadas, entre elas o Rio de Janeiro.
Entretanto, o mais impressionante que o Upland está construindo não é a experiência digital. O maior trunfo do projeto é o forte senso de comunidade formado entre seus membros.
Com quase três milhões de usuários registrados na plataforma, o Brasil está entre as maiores e mais relevantes comunidades dentro do Upland e possui inclusive o Player of The Year, o doutorando em inteligência artificial Lucas Mucida, da Universidade Federal de Viçosa (MG), que foi homenageado pela empresa em um evento realizado em Las Vegas, como o usuário que mais auxiliou a comunidade.
A ideia dos fundadores Idan Zuckerman, Dirk Lueth e Mani Honigstein vem ganhando cada vez mais adeptos e desenvolvendo uma das maiores economias digitais do mundo.
O projeto incentiva os empreendedores e desenvolvedores dessa comunidade a criar seus próprios negócios virtuais dentro do metaverso, os chamados meta-empreendimentos
Através das APIs de integração e das ferramentas de desenvolvimento para a comunidade, é possível abrir uma casa de shows, uma loja com suas artes ou até mesmo instalar jogos competitivos de arcade, acessando a economia e a comunidade do Upland de forma descentralizada.
“A visão é termos milhares, quem sabe milhões de microempreendedores do metaverso que consigam realizar uma parte de sua receita no mundo real a partir de seus negócios dentro do Upland.” Este é o mantra sempre repetido pelo co-CEO Dirk.
E ainda que essa realidade possa parecer distante, os casos reais já existem.
O segundo co-CEO da empresa, Idan Zuckerman, esteve no Brasil em setembro para fazer um chamado aos desenvolvedores de games, programadores, comunidades, para plugar suas aplicações e projetos ao metaverso do Upland.
Para quem já está há algum tempo nas criptos, é fácil entender: O Upland está para os metaversos como o Ethereum está para as blockchains.
Ele funciona como uma espécie de “layer 1” que garante a infraestrutura, a governança, a liquidez e a tecnologia necessárias para instalar as aplicações do “layer 2”, criadas por membros da comunidade, marcas parceiras e startups.
Foi durante esses dias do Blockchain Rio Festival que tive a feliz oportunidade de conhecer alguns “uplanders” que já têm histórias reais de negócios no metaverso.
Nobre, jovem de 23 anos, do Rio de Janeiro, que tem a maior quantidade de Spark no Brasil (um token utilitário usado para construir estruturas e prédios no Upland ), aluga seus tokens como se fosse uma verdadeira construtora do metaverso.
Depois que parou de lutar Muay Thai, ele contou que passou a empreender no metaverso. Com especialidade em caça ao tesouro, hoje o jovem tem um patrimônio maior que 15 milhões de upx (15 mil dólares) em menos de um ano.
Wagon, arquiteto e designer carioca de 56 anos, fez de seu hobby em bonsaísmo uma fonte de renda dentro do Upland. Ele cria, produz e comercializa em sua loja virtual HiTec Bonsai elementos de decoração de jardins em miniatura que serão convertidos para NFTs e comercializados dentro de sua fábrica no metaverso, já em construção, nos arredores de Manhattan
Guerra , atuante e aficionado em tecnologia, começou no Upland por curiosidade e hoje é seu hobby favorito. Reinveste todos os seus ganhos na própria plataforma, realiza estudos e estatísticas diariamente para entender cada vez mais a economia do metaverso.
Mucida, o já mencionado Jogador do Ano também consegue parte de suas receitas provenientes do metaverso. Já vendeu um terminal do aeroporto por 3 mil dólares. Mucida já teve aprovada sua solicitação para construção de uma fábrica, onde produzirá ornamentos para as residências no Upland e venderá aos usuários da comunidade, aumentando seu patrimônio dentro do metaverso.
Nessas histórias, encontramos um ciclo econômico completo, formado de maneira descentralizada, entre a própria comunidade de usuários da plataforma.
O livro Navigating the Metaverse, de Cathy Hackl, Dirk Lueth e Tommaso di Bartolo, aborda a economia do metaverso em quatro pilares:
1) Empreendedores: visionários e inovadores, individuais, grupos ou mesmo empresas que desejam criar algo em torno da atividade econômica digital. No metaverso, são os usuários ou cidadãos que criam valor para a economia do metaverso fabricando e comercializando bens digitais ou prestando serviços a outros;
2) Capital: no mundo real, o capital pode estar em maquinário que produz bens e serviços ou mesmo recursos financeiros, investimentos. Na economia do metaverso, lidamos com a produção de ativos digitais. Então, o capital são as terras (lands), recursos (tokens), estruturas, ferramentas e outros recursos que ajudam a criar novos ativos digitais;
3) Força de trabalho: são as pessoas que fazem a coisa acontecer. Os usuários do metaverso que estão construindo, fabricando e expandindo seus negócios. Há uma possibilidade de parte desse trabalho ser realizado no mundo real, com influencers, designers, projetistas 3D, community managers.
4) Terreno (land) : é o local onde esses empreendedores — por trás do processo de produção — realizam seus planos e montam seus negócios. No metaverso, representa o espaço digital onde os usuários criam suas estruturas, fábricas, arenas de esportes, lojas, e outros meta-empreendimentos.
Como comentei no início, enquanto alguns se perguntam se o metaverso vai decolar, outros já estão entendendo essa economia e os mecanismos para trabalhar dentro dessas realidades digitais, com arte, conteúdo, prestação de serviço, e conseguindo receber no mundo real por isso
O metaverso é desses casos, como diz muito bem meu amigo Walter Longo:
“Parece um besouro! Olhando sua estrutura, diremos que ele tem tudo para não voar, mas voa”.
Ney Neto é músico, produtor de eventos e empreendedor na área de Blockchain. Country Lead da UplandMe no Brasil, tem se especializado em projetos de branding na Web3 e eventos no metaverso.
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