O primeiro “Mapeamento de Pessoas Trans da Cidade de São Paulo”, divulgado em fevereiro de 2021 pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos, revela que apenas 42% das mulheres transexuais têm alguma formação profissional – número que cai para 36% entre as travestis. Além disso, mesmo as que possuem diplomas e certificações não conseguem emprego, especialmente por causa do preconceito, aponta o estudo. Por isso, a maioria sobrevive com renda vinda de trabalho informal ou autônomo.
Fazer algo para ajudar a mudar essa realidade da comunidade trans era um desejo antigo de Carlos Henrique Almeida – ou CH –, coordenador de experiências do onono, o Centro de Experiências Cientificas e Digitais da BASF na América do Sul. Quando a BASF lançou seu programa de intraempreendedorismo, em 2020, ele apresentou um projeto para promover a inclusão dessas pessoas no mercado de trabalho.
E logo descobriu que seu sonho era compartilhado por mais gente. Ao convidar o LinkedIn, a maior rede social profissional do mundo, para falar sobre empregabilidade em um evento promovido pelo BYOU – grupo de afinidade LGBTI+ da BASF na América do Sul – no onono, em 2020, CH comentou sobre seu projeto com Gabriel Joseph, líder do comitê de diversidade do LinkedIn na América Latina.
Pouco tempo depois, Gabriel ouviu de Gustavo Turquia, diretor da Visa no Brasil, que ele também estava pensando em uma iniciativa para trabalhar com mulheres trans, em parceria com a Natura. Estava feita a conexão: as quatro empresas decidiram, então, unir suas diferentes competências em prol desse objetivo comum. E assim nasceu o SOMA.
“O conceito vem da iniciativa de somar as empresas com o propósito de somar as pessoas trans e travestis à sociedade pela inclusão no mercado de trabalho.
Nós entendemos que temos essa responsabilidade, pelo nosso privilégio de dispor de recursos pessoais, financeiros e da estrutura oferecida pelas nossas empresas”, comenta CH.
Com o projeto em mãos, CH conseguiu reunir colegas da empresa para apoiar a estruturação e auxiliar na mentoria e captou uma sponsor para rodar um MVP: Renata Oki, diretora de personal care da BASF para América Latina. “Sabemos que as mulheres ainda precisam quebrar muitas barreiras no mercado de trabalho, especialmente as transexuais e as travestis. Ajudá-las na jornada de autodescoberta e de valorizar a singularidade é um valor que nós abraçamos”, diz Renata.
O piloto do SOMA começou com 30 moradoras da Casa Florescer, em São Paulo, um espaço que desde 2016 acolhe mulheres travestis e transexuais que vieram de situações de violência. Nesses cinco anos, 103 das 527 mulheres acolhidas conseguiram emprego.
“Elas chegam aqui com vontade de entrar no mercado de trabalho. Mas, para isso, precisam das ferramentas que o mundo corporativo exige e de um processo de autodescoberta do que elas sabem fazer e de que conhecimento trazem de suas existências”, comenta o administrador Alberto Silva, fundador da Casa Florescer.
O time de criação do SOMA foi ouvir essas mulheres para entender suas necessidades e como cada empresa poderia apoiar seu desenvolvimento pessoal e profissional. “Essa escuta foi um diferencial. O SOMA fez uma imersão para pensar as melhores estratégias de acesso para beneficiá-las”, avalia Alberto.
“Elas se sentem contempladas por estar participando do processo, então começam a se apropriar de forma mais assertiva do que foi proposto.”
O SOMA foi oficialmente lançado no dia 28 de junho de 2021, Dia Internacional do Orgulho LGBT, com uma palestra carinhosamente chamada de Despertar, com a especialista em tendências Iza Dezon, que falou, dentre alguns temas, sobre como as emoções afetam a nossa vida e as nossas decisões.
Dada a largada, ao longo de dez semanas, as mulheres da Casa Florescer vão receber conhecimentos básicos para se preparar para buscar um emprego ou empreender. Na grade tem de tudo: desde planejamento financeiro até dicas para fazer uma boa entrevista de emprego.
A BASF, por exemplo, também vai levar seu time de personal care para falar sobre como cuidar da pele e do cabelo. “Queremos ajudá-las nesse processo sensível de descoberta, de autoconhecimento e de ganho de confiança”, explica Renata.
O programa busca preparar pessoas transexuais e travestis não só para ganhar competências básicas – como em português, matemática e programas de redação de texto – mas para conduzir sua vida com mais autonomia e autoestima.
Elas também terão a oportunidade de desenvolver competências socioemocionais, como amabilidade (responsabilidade da BASF), autogestão (Visa), socialização (LinkedIn) e resiliência emocional (Natura).
Um dos pontos focais da Natura, por exemplo, será apoiar as mulheres em sua jornada de autoconhecimento para que elas entendam como podem estar bem consigo mesmas.
“O projeto é muito importante para mim porque tem a ver com a minha história. Eu sou uma transgênero não binária, também venho de um lugar de sobrevivência”, conta a psicóloga Alessandro Oliveira de Souza, RH de Negócios do Brasil e Instituto Natura.
“A diferença é que eu tive oportunidades e acesso. Por isso, nossa contribuição é dar ferramentas para elas serem protagonistas dos seus caminhos.”
Já o LinkedIn vai explicar como funciona o mercado de trabalho, como é um processo seletivo, o que se espera de uma candidata, como treinar a linguagem corporal e elaborar um currículo, entre outras ações.
“Queremos ver as mulheres emancipadas para fazer o que quiserem. Se desejarem ir para uma empresa, que tenham ferramentas para participar do processo seletivo. Se quiserem empreender, que acreditem em si mesmas e saiam inspiradas para fazer acontecer”, diz explica Gabriel Paes de Almeida Joseph, gerente de relacionamento do LinkedIn.
Para sua colega Jaqueline Stecanela Mandelli, também gerente de relacionamento da empresa e parte do comitê de diversidade da empresa, o importante é colocar, cada vez mais, as mulheres transexuais e travestis no centro da discussão. “Queremos ter um impacto duradouro e ter mais vozes trans falando na rede.”
Grande parte do conteúdo educacional do SOMA foi criado pela startup Wakanda Educação incluindo expressões correntes do pajubá, o “dialeto” da comunidade LGBTI+. Os ensinamentos serão recebidos via WhatsApp pelo app ChatClass (a ferramenta também será usada para fazer avaliações usando inteligência artificial).
“Além de promover as conexões para desenvolvermos o projeto, o onono também viabilizou o desenvolvimento dessas startups nesse ecossistema, trazendo suas inovações para a vida prática”, comenta CH.
O propósito é, ao final do MVP, avaliar a eficácia, ajustar e escalar. “Temos várias ideias de desdobramento do programa, e tenho certeza de que vamos aprender muito mais com elas do que ensiná-las”, afirma Renata.
A iniciativa pretende ir além de ajudar a transformar a vida dessas mulheres e outras pessoas trans. A ideia é trazer também um novo olhar para dentro das empresas.
“O SOMA faz parte da mudança que a gente quer promover também dentro das nossas organizações.
Por mais que já tenhamos diversidade e políticas de inclusão nas empresas, ainda existem barreiras. É uma jornada constante de quebrar preconceitos e aprender a integrar as pessoas com suas tantas diversidades e interseccional idades. Jornada bonita essa, né? Penso que é com informação, conversa e respeito que vamos conseguir”, completa CH.
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