Trabalhar em uma grande empresa e ser bem sucedida profissionalmente parece uma boa premissa para qualquer um. Izabella Ceccato, hoje com 45 anos, nasceu em Campinas (SP), e vinha cumprindo tudo o que “se espera” das pessoas: estudou, se formou, casou, começou a trabalhar. Durante 20 anos ela deu expediente em agências de publicidade, como a JWT, e na comunicação corporativa de grandes empresas, entre elas Gradiente, Grupo Iguatemi e Votorantim. Neste último, trabalhou diretamente com sustentabilidade e responsabilidade social e, ela acredita que ali criou vínculos fortes e capazes de fazer a diferença na empresa. Mas ainda era pouco. Não era o bastante para a publicitária e bailarina. Ela estava com 40 anos começou a se questionar: “Que legado quero deixar no mundo? O que posso fazer para deixar o planeta melhor? Como posso ajudar mais pessoas?”.
Tais questionamentos a fizeram repensar uma série de coisas na sua vida. Diante de si ela tinha a consciência de que as carreiras estáveis e lineares ficaram no passado, assim como a obrigação de seguir a vida inteira um único caminho, escolhido na faculdade, estando feliz com ele ou não. Nos últimos anos, a forma como o trabalho é encarado mudou radicalmente e as pessoas estão cada vez mais buscando carreiras com propósito e pensando na felicidade, no outro e também no planeta.
Era hora de mudar de verdade e Izabella deu o grande salto: pediu demissão — só assim, ela acredita, seria possível partir em busca da felicidade e de descobrir o seu propósito. Ela fez uma série de cursos, viagens e experiências importantes, e em 2013 acabou criando o Eco Rede Social, uma plataforma que promove uma transformação social abarcando o financiamento coletivo, artigos, livros, cursos e palestras presenciais, cursos online e consultoria. Mas, de onde veio essa inspiração?
UM CURSO QUE TRANSFORMOU A SUA VIDA
Izabella tinha morado em Manaus, Londrina e São Paulo, mas foi na Inglaterra, na pequena cidadezinha de Totnes, ao fazer um curso na Schumacher College em maio de 2011, que ela descobriu que podia muito mais. Cursou alfabetização ecológica (Ecoliteracy) durante três semanas e voltou para lá em outubro do mesmo ano, já como co-facilitadora e voluntária, e permaneceu mais cinco meses.
A partir dessa experiência, Izabella começou a pensar em uma plataforma de conteúdo que também fosse uma forma de “sensibilizar mais as pessoas e divulgar iniciativas incríveis”. Assim nascia a Eco Rede Social, fortemente inspirada em Satish Kumar, o fundador da Schumacher College. Em busca de saber o que poderia fazer, durante os meses que esteve na escola, ela não perdia a oportunidade de ouvir suas sábias palavras.
Um dia ela lhe perguntou sobre o futuro e ele, na sua calma e sabedoria, respondeu: “O futuro? O futuro não existe. Para construirmos o futuro, precisamos agir agora. Futuro não é amanhã ou o próximo ano, o futuro é neste exato momento. Então, o que você escolher fazer agora é o que colherá daqui para frente. A única coisa boa sobre pensar no futuro é agir agora para construirmos um futuro melhor”.
A frase ecoou no coração de Izabella por meses até que a Rede tomasse forma.
Em março de 2013, a ideia tomou forma. A Eco Rede Social tem como objetivo disseminar informações e criar vínculos para que as pessoas se tornem mais humanas e sensíveis ao planeta em que vivem. Izabella conta que a plataforma surgiu para dar voz a iniciativas por um mundo melhor que não conseguiam espaço para divulgação, ainda que ela não soubesse exatamente como iria funcionar:
“Podemos fazer escolhas a qualquer momento de nossas vidas e a minha foi sair da zona de conforto, de um emprego fixo numa empresa incrível, e me arriscar para seguir um propósito que eu considerava importante, mas ainda não sabia bem como fazer”
O Eco Rede Social tem quatro diretrizes norteadoras: sustentabilidade, participação, conteúdo e conexão. “É uma rede do bem espalhando coisas boas por aí”, afirma Izabella. Na plataforma é possível encontrar artigos e conteúdo de cursos e palestras formatados para “ampliar horizontes, promover reflexões e nos mostrar como podemos incluir a sustentabilidade em nossa vida e manter um respeito frente ao universo”. É possível conhecer iniciativas como a do grupo Práticas Políticas Transformadoras, que de tempos em tempos promove encontros e discussões em uma espécie de “retiro” fora da capital paulista. Na plataforma também há links para a venda de livros e consultoria para startups e empresas na área de sustentabilidade.
Além disso, dentro do Eco Rede Social há uma área destinada especialmente para o financiamento coletivo, chamada Eco do Bem, que apoia projetos que sejam “empreendedores, criativos, inovadores, sustentáveis, artísticos e do bem”. A ideia é ajudar os criadores a realizarem seus sonhos e um dos diferenciais aqui são as recompensas: os parceiros da plataforma oferecem recompensas a preços negociados para os criadores de projetos. Tais recompensas fazem bem para alguém ou para o Planeta, criando um círculo virtuoso.
Para tornar seu sonho real e montar o site do Eco Rede Social, Izabella investiu inicialmente 20 mil reais. Um ano depois, colocou mais 28 mil para montar o financiamento coletivo Eco do Bem. Todo o dinheiro veio das reservas dos seus 20 anos de trabalho na iniciativa privada. A empresa tem dois sócios: Izabella e Ricardo Young. Izabella está na direção geral, e Ricardo (que é conselheiro do Instituto Ethos e vereador paulistano) foi muito importante em 2014, ao ajudar a dar voz para as iniciativas do negócio. “Nossa sociedade é feliz e queremos compartilhar isso com todas as pessoas e projetos que chegam. Afinal, tem algo mais maravilhoso do que ajudar as pessoas a realizarem os seus sonhos?”, diz Izabella. Eles não têm funcionários, mas quatro empresas os ajudam na gestão de conteúdo, design, área financeira e TI.
A empresa também não tem sede fixa. Izabella costuma trabalhar no coworking, a Casa Vida, de Bill e Julia, uma construção charmosa dos anos 1920 no coração de São Paulo, entre a Av. Paulista e a rua da Consolação. Izabella comenta as muitas dificuldades que enfrenta para manter o negócio. Umas delas é que muitas pessoas no Brasil ainda não sabem o que é o financiamento coletivo. Fazer crescer este mercado é o grande desafio que ela enfrenta, uma vez que a Eco Rede Social está fundamentada na economia colaborativa, algo que está emergindo pelos quatro cantos do mundo, mas ainda não é mainstream.
O QUE AINDA SE PODE FAZER PELO MUNDO E AS PESSOAS
A vida mudou, ela já sabe o que quer — e precisa — fazer como propósito de vida. Mas Izabella questiona bastante sobre o que ainda pode fazer pelas pessoas e isso também diz respeito a sua Rede. Em 2015, ela reformulou a Eco Rede Social, pensando em oferecer mais maneiras de as pessoas se conectarem com o mundo e em formas das pessoas conhecerem esse novo ‘cardápio’. Ainda que seja também seu grande desafio, o maior diferencial da Rede Eco Social no mercado é atuar na nova economia colaborativa. O ideal é inspirar as pessoas por vários meios como artigos, livros, cursos presenciais e online, ajudando a captar recursos para projetos inovadores.
“Nos últimos dias, conversando com pessoas queridas sobre amor, economia, felicidade e empreendedorismo, me peguei pensando se é possível empreender e crescer com felicidade e amor”, diz ela, sobre a sua atual condição de empreededora “do bem”. E prossegue listando seus objetivos nessa nova economia: “Manter a essência da empresa de pensar nos outros acima dela mesma, fazer o bem acima de tudo gerando oportunidades e criando felicidade. Pensar no nós antes do eu. No coletivo antes do individual. Unir alma, mente e corpo em ação para o mundo sonhado. Empreender ouvindo as aspirações mais profundas das pessoas e não sonhando apenas com o crescimento econômico como nos ensinam por todos os cantos. Espalhar e compartilhar, sim, todo amor possível, palavra que parece ainda proibida no mundo dos negócios”. A lista é grande, inspira e dá trabalho, e ela sabe que o caminho é longo. Mas o futuro é hoje, e aí está ele.
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Minha frase favorita para a liderança é “cuidar de quem cuida” - e a palavra equilíbrio revela uma atividade poderosa de gestão de polaridades que deveria ser matéria obrigatória em qualquer curso de administração.