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Como as startups estão tornando a gestão pública mais eficiente e ajudando a moldar um futuro melhor para as cidades

Leandro Vieira / 1 abr 2021
Mariana Stocco, diretora de operações da Sigmais, que instalou sensores nas pontes de Florianópolis.
Leandro Vieira - 1 abr 2021
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Cidades inteligentes são aquelas que usam soluções digitais e de telecomunicação para aprimorar sua gestão e eficiência no contexto urbano.

A ideia inclui tecnologias que melhorem a mobilidade, o consumo de água e energia, a utilização de recursos, a emissão de poluentes e o descarte de resíduos.

No centro dessas inovações está a coleta e análise de dados, para garantir que as soluções atendam as necessidades da população da forma mais eficaz possível. Significa também uma administração mais responsiva, organizada e atenta às possibilidades de aprimorar a oferta de serviços.

Em setembro, São Paulo figurou no topo do do ranking Connected Smart Cities 2020, promovido pela consultoria Urban Systems, que analisou mais de 600 municípios a partir de 70 indicadores em 11 eixos temáticos. A surpresa daquela edição foi Florianópolis, que escalou cinco posições e chegou à vice-liderança.

A capital catarinense ganhou um plano elaborado pela Fecomércio-SC para avançar seu desenvolvimento até 2030. A ideia é aumentar as trocas entre poder público, setor privado e a sociedade e transformar a cidade num laboratório vivo para empresas focadas em inovação. As startups são peça fundamental nesse movimento.

Segundo o Distrito Smart Cities Report, o país tem hoje 166 startups dedicadas ao setor. Conheça a seguir algumas dessas empresas que vêm ajudando a turbinar a inteligência e a moldar o futuro das cidades brasileiras.

UMA STARTUP CONTRA O MOSQUITO

Batizada de Combate Aedes, uma plataforma online combinada a um aplicativo vem ajudando na luta contra o mosquito da dengue.

Sérgio Rodrigues, CEO da Lemobs.

Desde 2017, esse programa contabiliza 8 mil focos do mosquito eliminados e mais de 400 mil vistorias cadastradas online, em cidades de todas as regiões do país.

Por trás dessa iniciativa está uma startup do setor de smart cities, a Lemobs.

Totalmente voltado para a gestão pública municipal, o sistema integrado da empresa permite a emissão de relatórios, painéis de gerenciamento, gráficos e acompanhamento em tempo real. A plataforma engloba o gerenciamento de serviços em várias frentes, de manutenção urbana e obras públicas à fiscalização e coleta de resíduos, além de saúde e educação. 

O cliente (no caso, o município) opta por instalar o pacote completo de soluções ou plugar só algumas a serviços já existentes. Nas palavras de Sérgio Rodrigues, CEO:

“Acreditamos fortemente na integração de soluções para gerar um impacto relevante para a população. Nosso foco é empoderar de todas as formas os gestores municipais”

A Lemobs foi fundada em 2013, no Rio de Janeiro. A 1h15 da capital fluminense, Maricá é uma das cidades que implantaram as soluções da startup de forma mais abrangente. 

Hoje, cerca de 500 agentes das áreas de zeladoria, encarregados de obra, diretores de escola e encarregados de coleta e fiscalização utilizam os sistemas da Lemobs, que permitem a gestão remota das respectivas áreas, por meio de aplicativos.

De acordo com o CEO, houve um ganho na eficiência da gestão municipal de Maricá por meio da tecnologia. A Lemobs estima que a digitalização reduziu em 50% a necessidade de intervenção humana, permitindo aos agentes desempenhar mais tarefas em menos tempo.

“Agora estamos investindo mais em analytics e na integração com outras soluções que já existem nas cidades, desde bases de dados até mapas, para oferecer uma gama cada vez mais completa aos gestores”, diz Sérgio.

COMO USAR A ILUMINAÇÃO PÚBLICA PARA CONECTAR OUTROS SERVIÇOS

“Integração” é uma palavra-chave para uma cidade inteligente. 

Com troca constante de informações, setores responsáveis por serviços essenciais — como os de segurança, saúde e limpeza — podem aumentar sua capacidade de atendimento e evitar desperdício de tempo e de recursos.

Sandro Vieira, CEO da SmartGreen.

A startup curitibana SmartGreen tem foco em iluminação pública. Com medidores instalados nos postes de luz (e conectados à internet), a empresa automatiza a gestão do consumo de energia, incluindo leituras em tempo real, cortes e religamentos.

Há dois anos, a SmartGreen lançou uma nova solução. Esses mesmos medidores de energia podem agora ser conectados a outros serviços públicos, como a gestão de consumo de água e o gerenciamento de frotas e da segurança pública — tudo por meio de uma única rede.

O CEO Sandro Vieira explica que a onipresença dos postes de luz, espalhados pelas cidades, torna este equipamento urbano um ponto de apoio perfeito para uma conexão de serviços mais abrangente:

“A iluminação é uma das melhores infraestruturas para cidades inteligentes. Hoje, instalamos um aparelho em cima de cada luminária, com rádio e um minicomputador conectado na nuvem, que acaba criando uma grande rede de conectividade”

Além de disparar alertas automáticos para equipes de manutenção sempre que necessário, o software da SmartGreen permite, por exemplo, conectar a redes de sensores de bueiros ou coleta de lixo, entre outros.

Sandro diz que a startup está em negociação com alguns municípios. Por enquanto, Guaratuba, no litoral paranaense (a duas horas de Curitiba), é a única cidade que tem instalado esse sistema multisserviços. 

Segundo a SmartGreen, o consumo de água e energia em Guaratuba caiu com o uso da solução, tanto na esfera privada quanto pública. O CEO diz que a prefeitura não abriu os dados, mas confirmou também uma redução de gastos com a gestão e manutenção de frotas.

SENSORES SEM FIO AJUDAM NA GESTÃO DO TRÁFEGO EM FLORIANÓPOLIS

Entre janeiro e junho de 2019, a startup capixaba Sigmais manteve seus sensores instalados em Florianópolis, nas pontes que ligam a ilha e o continente.  

O objetivo do projeto era monitorar o fluxo de entrada e saída de visitantes à capital catarinense, permitindo uma gestão estratégica e o disparo de alertas para reforço de policiamento, por exemplo. 

Desenvolvido pela própria Sigmais, o equipamento sem fio tem conexão em rede própria (ou seja, sem necessidade de conectar à internet local) e baixo consumo de energia. 

Mariana Stocco, diretora de operações da Sigmais, desmistifica a ideia de que dispositivos assim são supertecnológicos e complicados: 

“Todo mundo acha que é uma ‘coisa difícil’, mas se trata de um aparelhinho pequeno [do tamanho de um prato], que se autocalibra e emite dados relativos a temperatura, umidade, entre outros. Qualquer pessoa pode ir lá e instalar, o que reduz custos com mão de obra — tornando o que parece complexo em algo simples e eficiente”

Segundo a Sigmais, o sistema permitiu que a prefeitura de Florianópolis descobrisse que uma das faixas era mais usada pelos veículos do que outras; isso levou à decisão de realizar uma manutenção adicional. Mariana diz que os sensores também ajudaram os gestores no controle de tráfego e a mobilizar com mais rapidez ambulâncias e agentes de trânsito, em casos de acidente.

Além de mobilidade, a startup (fundada em 2017, em Vitória) já oferece também soluções para os setores de água e energia. 

“Existem frentes que habilitam um melhor planejamento, como big data, inteligência artificial, eletrificação… Entre elas, a Internet das Coisas tem grande relevância”, diz Mariana. “Mas cada cidade tem sua realidade e necessidades específicas.”

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