Auxiliar agricultores e empresas a identificarem a maturação de frutos, a presença de pragas e a falta de nutrientes nas plantações (de cana-de-açúca, citrus, milho, soja e café) através de visão computacional e inteligência artificial. Em resumo, é este o objetivo da cromAI. Fundada em 2017, pelos sócios Guilherme Castro, 29, e Marcos Fogagnoli, 57, a startup quer aumentar a produtividade e proporcionar melhorias no manejo de fertilizantes e defensivos — bom para o bolso e para o meio ambiente.
A previsão para 2018 é de que o negócio fature quase 1 milhão de reais. Além do retorno financeiro, os reconhecimentos começam a aparecer. Em abril deste ano, a empresa foi selecionada para participar da final, ao lado de mais quatro startups, da HackBrazil, programa do MIT-Harvard, em Boston, nos Estados Unidos. Ainda neste ano, em junho, parte do time também participou de uma imersão no Google Campus de Tel-Aviv, em Israel, como destaque na área de agritech no cenário mundial. Apenas dois representantes eram brasileiros.
A solução desenvolvida pela empresa funciona da seguinte forma: um sensor é acoplado a um veículo da fazenda — como um trator — e capta imagens da plantação. O próprio dispositivo processa as imagens em tempo real com um algoritmo que utiliza técnicas de visão computacional e inteligência artificial. Esse algoritmo analisa tanto a coloração quanto a morfologia das plantas e gera um mapa-diagnóstico da plantação. Esses dados alimentam uma plataforma web e os resultados também ficam disponíveis na nuvem. O software ainda pode ser acessado por aplicativo para celular e processa imagens de drones e satélites.
DE DISSERTAÇÃO DE MESTRADO A UMA NOVA TECNOLOGIA
O embrião da cromAI surgiu nos anos 2000, quando Marcos, engenheiro agrônomo pela Esalq, cursava seu mestrado na Unicamp, onde desenvolveu seus estudos sobre máquinas agrícolas, especificamente como usá-las para identificar visualmente as deficiências nutricionais das plantações. No entanto, na época, ele não encontrou tecnologia compatível com o projeto que pretendia desenvolver.
Somente em 2015, ele teve o ímpeto de resgatar seu projeto de mestrado e vislumbrou em Guilherme, que se formou como engenheiro mecatrônico pela Poli, USP, um futuro sócio para a empreitada. Uma informação curiosa: Marcos foi colega de faculdade no curso de Engenharia Agronômica dos pais de Guilherme.
Os dois começaram, então, uma investigação sobre as possibilidades de criar um sistema de automação capaz de diagnosticar as deficiências nutricionais nas plantações. No campo da visão computacional, Guilherme criou um algoritmo para processar as imagens capturadas nas plantações. A dupla encontrou, no laboratório da Esalq, o lugar adequado para validar a tecnologia recém-criada. Marcos fala mais a respeito desse processo: “Percebemos que, além das deficiências nutricionais, o diagnóstico deveria ser mais abrangente e olhar também para a incidência de pragas e doenças e monitorar a maturação dos frutos”.
Em resumo, poderiam oferecer um serviço mais completo, visando o aumento da produtividade no campo. Neste meio tempo, Marcos começou a sondar empresas de fertilizantes como potenciais clientes, entendendo que o caminho comercial não poderia ser diretamente feito com os agricultores, pois isso demandaria uma capilaridade que eles, como negócio, não teriam, como diz o empreendedor. Mesmo assim houve entraves:
“Encontramos dificuldades na conversa com as empresas de defensivos, pois nosso serviço pressupõe a diminuição de agrotóxicos”
No entanto, Guilherme identificou uma mudança de mindset nesses negócio, mais voltada para a valorização da venda de serviços do que a de produtos, unicamente. A startup passou a se desenhar com esse foco e retomou os projetos com mais energia somente no final de 2016, já que Guilherme estava às voltas com sua tese de doutorado no Japão. Em setembro daquele ano, ele começou uma conversa com Miguel Chaves, conhecido da época de Poli e criador do Caos Focado, sobre a possibilidade de a empresa de inovação se tornar sócia minoritário da cromAI. Miguel topou entrar na sociedade, oferecendo estrutura administrativa, financeira e jurídica para a startup.
Em fevereiro do ano passado, o negócio começou a rodar pilotos, sem nenhum ganho financeiro. O primeiro trabalho efetivamente remunerado da cromAI foi para uma consultoria de café e o serviço contratado foi o de identificar o grau de maturação dos frutos e determinar o momento ideal para a colheita.
Um dos desafios mais complexos deste mercado é justamente a duração de um ciclo completo de uma cultura (que pode ser de até dois anos) para que se possa, de fato, medir melhorias. “Tínhamos de criar uma base de resultados do nosso serviço. Por isso, neste momento assumimos o risco de que financeiramente eles não seriam tão lucrativos”, conta Marcos. Já na metade de 2017, a startup conseguiu um investimento-anjo de 150 mil reais.
QUANDO AS REAIS NECESSIDADES DO CAMPO MOLDAM O NEGÓCIO
Os serviços da cromAI são vendidos por “camadas de diagnóstico”, hoje focadas nas culturas da cana-de-açúcar, milho, café e citrus. O mapa-diagnóstico completo identifica o grau de maturação dos frutos e localiza, de maneira precoce, a presença de pragas, doenças e deficiências nutricionais.
Também é possível contratar projetos customizados com foco em alguma das camadas de diagnóstico. A startup opera com quatro clientes, que juntos representam 10 milhões de hectares. Os planos anuais variam entre 10 e 100 reais por hectare, a depender do pacote contratado, pelos clientes, com quem os empreendedores têm uma relação de ganha-ganha, como fala Marcos:
“Entendemos que os usuários são nossos parceiros, já que as informações que eles proveem com as imagens cedidas das plantações servem para calibrar o nosso sistema”
Ele complementa: “Além disso, eles nos ajudam a identificar e priorizar os problemas mais significativos dos produtos, o que nos permite sermos mais assertivos”.
O QUARTO DA REPÚBLICA FICOU PEQUENO PARA A EMPRESA
O que começou, literalmente, no quarto de uma república estudantil, se tornou uma empresa com escritório próprio em uma região nobre de São Paulo, próximo ao parque Villa Lobos, que conta com 13 profissionais, entre engenheiros, cientistas da computação e designers. O plano para 2019 é triplicar este time, dando ênfase à pesquisa e ao desenvolvimento. “Queremos expandir em área atendida, chegando a um milhão de hectares até o final deste ano”, diz Guilherme. Isso implica em investir em uma tecnologia mais robusta e na estrutura de atendimento ao cliente, como diz o sócio:
“Estamos sendo precursores em determinada tecnologia e sujeitos a bugs. Aplacar a ansiedade e atender os clientes rapidamente são grandes desafios”
Guilherme conta que já foram procurados por empresas de cosméticos e farmacêuticas, mas abarcar novos setores produtivos ainda não é o foco da startup. No entanto, ao menos para 2019, pretendem incluir a cultura do algodão nos serviços de diagnóstico e monitoramento oferecidos, aumentando, de plantação em plantação, o escopo da empresa.
Como incrementar a produtividade no campo sem agredir o planeta? A Cromai emprega tecnologia para ajudar seus clientes (sobretudo grandes produtores de cana-de-açúcar) a evitar perdas e reduzir o consumo de água e agrotóxicos.
A pecuária de precisão vem ajudando o Brasil a catapultar sua produção de leite. Saiba como a COWMED usa tecnologia e analisa fatores como a ruminação das vacas para diagnosticar doenças e garantir o bem-estar animal.
Ter acesso a crédito e serviços financeiros pode ser uma saga para pequenos produtores. A Culte ataca esse problema com microfinanciamento, conta digital, marketplace e até uma criptomoeda para alavancar as vendas no campo.