Aos 17 anos, o gaúcho Antony Oliveira de Carvalho sonha com Medicina ao mesmo tempo em que aprende a projetar, montar e manter circuitos elaborados no curso técnico do Instituto SENAI de Tecnologia em Mecatrônica de Caxias do Sul, na Serra Gaúcha. Mas engana-se quem pensa que ele pretende esquecer todo esse conhecimento depois que passar no vestibular.
“Quero trabalhar juntando as duas coisas no futuro. A Mecatrônica já chegou à Medicina, já temos cirurgias feitas por robôs. Até tenho um projeto de tentar desenvolver um robô com sensores que consiga diagnosticar um paciente depois de fazer uma varredura nele. Parece ficção científica, mas acho que é o futuro”, diz Antony, que planeja trabalhar na área técnica durante a faculdade. “Para quem tem formação em Mecatrônica, é difícil ficar desempregado aqui no Sul.”
Considerada o segundo polo metalmecânico do Brasil (atrás apenas de São Paulo), Caxias do Sul sofreu com a crise econômica nos últimos dois anos, mas já dá sinais de recuperação. Boa notícia para os alunos do ensino técnico. Em todo o Brasil, os cursos de Automação Industrial e Mecatrônica do SENAI estão presentes em 22 estados. Só em 2017, 1.630 novos profissionais se formaram em Mecatrônica e 2.115, em Automação.
“Formamos profissionais de acordo com a demanda. O técnico nessas duas especialidades tem alta empregabilidade”, afirma o supervisor do Instituto SENAI de Tecnologia em Mecatrônica, Igor Krakheche, ele próprio formado em Automação pelo SENAI.
Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), 60% dos alunos de cursos técnicos já estão empregados na área no primeiro ano de formados – um número que tende a melhorar com a recuperação econômica e voltar a patamares do início da década, quando chegou a 80%.
Um levantamento feito em 2015 pela Page Personnel, empresa global de recrutamento especializado de profissionais técnicos e de suporte à gestão, apontou as áreas de Automação e Mecatrônica como as primeiras entre as sete profissões técnicas mais procuradas – com salários que podem chegar a R$ 8 mil.
Os cursos de Automação Industrial e Mecatrônica têm duração de dois anos (no SENAI, a mensalidade gira em torno dos R$ 450) e formam um profissional já conhecedor das novas tecnologias e capaz de absorver as mudanças que vão se impor com o tempo. Atributos que serão cada vez mais essenciais nos próximos anos, conforme a automação, alavancada pela quarta revolução industrial, seguir transformando o mercado de trabalho.
“O técnico é preparado para ser autodidata e se adaptar rapidamente às transformações em seu campo de trabalho”, diz Igor. “Já se passaram 15 anos desde a minha formação e não me deparei com dificuldade com novas tecnologias. Mas também temos cursos curtos, de 40 a 80 horas, quando há uma demanda de especialização em alguma tecnologia mais recente.”
Exemplos de adaptação não faltam. Ex-aluno do curso de Automação de Caxias do Sul, Henrique Baron, 25 anos, mudou totalmente de área desde que se formou, há sete anos.
No início, Henrique trabalhou na área de automação e robótica na Auttom, empresa do ramo. Cursando faculdade de Engenharia Mecânica, saiu do emprego para fazer um intercâmbio na Alemanha. Quando voltou, foi recontratado pela Auttom, mas para o seu braço voltado para a Educação.
“Eu desenvolvo softwares para bancadas didáticas, que são mesas de estudo ‘inteligentes’. O interessante é que nosso maior cliente é o SENAI. Então eu me formei lá e hoje trabalho, na área, criando ferramentas tecnológicas para lá”, diz Henrique, que em 2013 ganhou uma medalha de ouro defendendo o SENAI na World Skills (torneio de Educação Profissional organizado a cada dois anos pela Internacional Vocation Training Organization), na Alemanha.
A família de Henrique tem três gerações de pessoas que se formaram em cursos técnicos do SENAI, acompanhando as transformações tecnológicas. Seu avô, Leonildo, fez o de Tornearia Mecânica e trabalhou na área por toda a vida (primeiro na Agrale, depois em empresa própria). O pai, Leonel, formou-se em Eletrônica, exerceu por muitos anos a profissão e hoje é dono de uma fábrica de luminárias de LED.
“Meu pai sempre me incentivou a ter uma formação profissional. O SENAI te dá oportunidades, abre portas e permite adquirir e mostrar competências”, diz Henrique.
Pode ainda ajudar a driblar o desemprego. Essa é a aposta de Marcos Pereira Passos Júnior, 27 anos. Formado em Eletrônica no SENAI, em 2013, no Rio de Janeiro, ele logo começou a trabalhar numa indústria de peças para elevadores, na área de assistência técnica. Mas aí veio a crise e Marcos perdeu o emprego. A saída foi voltar a estudar, em busca de novas competências – e novas oportunidades.
“Resolvi olhar o mercado e vi que o espaço para quem trabalha com novas tecnologias era melhor. Entrei para a faculdade de Engenharia de Controle e Automação e para o curso técnico de Automação Industrial. O problema de boa parte dos engenheiros é a falta de experiência de chão da fábrica. Quis complementar a teoria da faculdade com a prática do curso técnico e abrir mais oportunidades de emprego.”
Nas próximas décadas, a automação estará cada vez mais presente – da alimentação à construção civil, do setor de transportes ao de entretenimento, passando por saúde, educação, comércio, finanças… Um mercado tão amplo quanto promissor, que aponta para um futuro que já chegou.
Saiba mais:
Automação Industrial:
O técnico em Automação Industrial é responsável pela instalação, programação, operação e manutenção de sistemas automatizados, lidando com eletrônica, mecânica e controle de processos, incluindo microinformática. O mercado de trabalho é diversificado, e conta com empresas que desenvolvem atividades de processos, manutenção e qualidade de sistemas automatizados; indústrias como petroquímicas, de alimentos e de energia; laboratórios de controle de qualidade, de manutenção e pesquisa; empresas de prestação de serviços.
Mecatrônica:
O técnico em mecatrônica é o responsável por projetar e operar os dispositivos inteligentes, incorporando as novas tecnologias aos mais diversos equipamentos, lidando com robótica, mecânica, eletrônica e elétrica. O mercado de trabalho é considerado um dos com maiores possibilidades de crescimento. Inclui, entre outros, a indústria automobilística e metalmecânica; fabricantes de máquinas, componentes e equipamentos robotizados; laboratórios de controle de qualidade; prestadoras de serviço.