Uma aventura na estrada, ao longo de 13 meses, percorrendo 19 países e 72 mil quilômetros, de São Paulo até o Alasca, ida e volta. A jornada a bordo de um 4×4, espremidos junto com mais três companheiros de viagem, fortaleceu a amizade de Gustavo Gracitelli e Leonardo Fernandes Libório, então colegas do curso de Economia da Universidade de São Paulo.
Empreender também é uma aventura cheia de solavancos. E aquela road trip inesquecível, realizada por volta de 2013, ajudou a plantar a semente de um futuro negócio. Segundo Gustavo:
“Quando voltamos para casa, tivemos um incômodo visceral ao olhar para o trânsito paulistano e ver no máximo duas pessoas em cada veículo. Começamos a pensar em algo para amenizar essa dor”
A “dor”, no caso, foi amenizada com empreendedorismo. Junto com o engenheiro da computação Abraão Barros Lacerda, Gustavo e Leonardo são os sócios-fundadores do Bynd, um aplicativo de caronas corporativas.
Lançada três anos depois da viagem, em 2016, a plataforma tem hoje 17 clientes (como Bradesco, Coca-Cola, Schneider Electric e Sanofi) e já viabilizou 150 mil caronas para mais de 37 mil usuários.
AS CARONAS JÁ EVITAM A EMISSÃO DE 547 TONELADAS DE CO2
Em 2018, o faturamento do Bynd foi de R$ 795 mil. E, segundo os sócios, as viagens realizadas por usuários (que, ao pegar carona, abdicam de usar o próprio carro) já evitaram a emissão de 547 toneladas de CO2 e gases causadores de efeito estufa na atmosfera.
A startup já nasceu com foco no B2B. Gustavo, 31, CEO, elenca como o tráfego pesado do dia a dia de uma metrópole se reflete negativamente nas empresas:
“Há problemas de baixa produtividade, atrasos, falta de qualidade de vida e gastos com mobilidade dos funcionários. Identificamos essa necessidade e desenvolvemos uma solução que unisse carona e tecnologia em ambientes seguros”
Segundo o empreendedor, a área de Recursos Humanos dos clientes do Bynd relata uma economia mensal de 15% a 20% em itens como vagas de estacionamento, vale-combustível e ônibus fretados.
Também houve redução de despesas com deslocamentos para escritórios, fábricas e unidades em cidades diferentes. “O aplicativo permite cadastrar uma agenda de compromissos e as caronas podem ser programadas”.
UM APORTE DE R$ 200 MIL DA OXIGÊNIO “DEU UM GÁS” NA OPERAÇÃO
Antes de compartilhar o 4×4 durante a aventura ao Alasca, Gustavo e Leonardo já dividiam o mesmo teto na república estudantil onde moravam. Durante a faculdade, estagiaram em finanças e, depois de formados na USP, ainda permaneceram por quase dois anos trabalhando na área.
Hoje, olhando pelo retrovisor, Gustavo lembra do seu sentimento de inadequação profissional:
“Trabalhei em um banco americano de investimentos. Foi uma experiência de muito aprendizado, mas totalmente desconectada de propósito, do que poderia significar uma carreira para mim”
Decididos a empreender, e desligados enfim do mundo das finanças, os dois economistas e o novo sócio, Abraão, levaram quase um ano fazendo pesquisas e tentando encontrar um modelo de negócio que unisse os conceitos de mobilidade e sustentabilidade. Registraram o CNPJ em 2014, mas ainda não tinham, até aquele momento, nem recursos, nem clientes.
A sorte mudou no começo de 2016, quando entrou na conta um aporte de R$ 200 mil de capital-semente da Oxigênio, a aceleradora da Porto Seguro. “Conseguimos fazer uma jornada de crescimento investindo em tecnologia e contratação de pessoal. Em três meses, ganhamos três empresas”.
NA FASE DE TESTES, PRECISARAM DESCARTAR TECNOLOGIAS
Um dos primeiros clientes foi o Mercado Livre, que permanece até hoje. “Os demais foram projetos-piloto. Ainda não tínhamos produto, mas foi ótimo para aprender”. Esse know-how, segundo o empreendedor, foi construído ao longo do desenvolvimento da plataforma, num processo de tentativa e erro.
“Jogamos ‘tecnologia fora’ umas quatro vezes. Na fase de testes, percebíamos que a interface não funcionava. É difícil acertar ‘de cara’, especialmente quando os recursos são limitados”
A inexperiência e a “a vontade de abraçar o mundo” atrapalharam no começo, diz Gustavo. “Aprendemos a segurar a ansiedade e realizar uma tarefa por vez”. Aos poucos, foram acertando, recolhendo feedback dos usuários para ajustar a usabilidade, a proposta de valor e até a comunicação.
O CEO hoje afirma que o modelo do Bynd é único. “Praticamente não temos concorrentes. Todos os modelos existentes são de carona compartilhada aberta, como a BlaBlaCar e o Waze Carpool. Nenhum faz contrato com empresas ou oferece uma solução 100% segura.”
Trabalhar exclusivamente com redes fechadas, diz Gustavo, é uma decisão de negócios e não uma limitação de produto. “Segurança é o fator mais relevante para nosso usuário. Ele precisa se sentir confortável para acessar o serviço”.
A ADESÃO É INCENTIVADA COM PONTOS EM PROGRAMAS DE MILHAGEM
O aplicativo da Bynd aproxima pessoas em rotas compatíveis. O algoritmo interpreta rotinas e faz recomendações automáticas de possíveis caronistas.
“O uso é espontâneo e grátis, basta se cadastrar. É possível ver a foto do colega, detalhes do carro, horários. Tudo é integrado ao Whatsapp e os trajetos são planejados no Google Maps”
As empresas pagam uma mensalidade que varia de R$ 1 a R$ 10 mensais por colaborador. “Quando alguém se desliga do trabalho, automaticamente o cadastro é cancelado”, explica o CEO.
Além da licença pelo uso da tecnologia, o pacote de serviços vendido pela startup inclui plano de comunicação (voltado a estimular uma cultura de mobilidade dentro da empresa), suporte técnico e relatório de uso em tempo real, com informações como as distâncias percorridas em cada trajeto e o volume de gases do efeito estufa que deixaram de ser emitidos na atmosfera.
“Trabalhamos com gamificação para incentivar os usuários”. A cada carona dada ou recebida, o colaborador ganha pontos Multiplus ou Livelo. “Se um motorista transporta quatro colegas todos os dias, em pouco mais de um mês conseguirá juntar cerca de 5 mil pontos.”
O USO DO APLICATIVO PERMITIU REENCONTROS INESPERADOS
A carona entre colegas de escritório não é uma novidade em si. Sem a facilidade de um aplicativo, porém, era uma prática restrita a conhecidos do mesmo departamento ou andar. “A rede fechada dá uma segurança de que, se algo desagradável acontecer [durante o percurso], o RH tomará providências.”
De acordo com o CEO, nunca houve uma queixa grave. A plataforma tem um protocolo para inconveniências menos sérias:
“Já recebemos reports sobre música alta, estilo musical que desagrada ao caroneiro e atrasos do colega. Nesses casos, o sistema bloqueia a disponibilidade daquele condutor para o usuário que fez a reclamação”
Segundo Gustavo, o uso da ferramenta vem permitindo encontros e histórias bacanas. Uma motorista, por exemplo, descobriu que o carona era filho de sua antiga professora do primário. “Depois ela foi visitar a senhora, a quem não via há 30 anos!”.
Em outra empresa, duas funcionárias veteranas, de setores diferentes, nunca tinham se esbarrado. Num dia de greve de transporte público, uma resolveu usar o sistema e descobriu que ambas moravam no mesmo condomínio. “Quando o carro chegou, elas se reconheceram como amigas de infância!”
O INVESTIMENTO DE R$ 1,2 MILHÃO PROMETE ALAVANCAR A STARTUP
Nos últimos 12 meses, o time do Bynd tem tido motivos para comemorar. Em dezembro de 2018, após concorrer com mais de 90 empresas, a startup venceu o Desafio InoveMob, que busca soluções inovadoras de mobilidade. O evento, promovido pela Toyota Mobility Foundation (TMF), em parceria com o WRI Brasil, rendeu um prêmio de R$ 400 mil.
Essa premiação foi usada para incrementar a base tecnológica, contratações e área comercial. “Fizemos um planejamento para um ano”, diz Gustavo. “Esse capital está alocado até janeiro do ano que vem.”
Mais recentemente, em setembro deste ano, a startup recebeu R$ 1,2 milhão em investimentos por meio da plataforma EqSeed, de equity crowdfunding. A ideia é que essa grana ajude a impulsionar a performance e mais do que dobrar a carteira de clientes:
“Decidimos abrir a rodada de captação para crescer mais rápido. Com esse valor, queremos fechar 2020 com pelo menos 40 empresas no portfólio. E realizar até 30 mil caronas por mês — hoje fazemos 18 mil, em média”
Outra expectativa, alavancada pela captação, é lançar em breve novas funções no aplicativo, como uma ferramenta de pagamento: “Os usuários poderão dividir o combustível e até oferecer uma ‘gorjeta’ para o motorista”.
PRÓXIMA PARADA: UM INDICADOR DE MOBILIDADE CORPORATIVA
Desde agosto, e até o fim de janeiro, a startup está sendo acelerada na Estação Hack, em parceria do Facebook com a Artemisia. “Temos acesso aos processos de inovação, tecnologia e conteúdo das duas empresas, além da mentoria e acompanhamento para nosso crescimento e escala de negócios”, diz Gustavo.
A empreitada mais recente do Bynd poderá ser conferida no mês que vem, entre os dias 6 a 10 de novembro, durante o Welcome Tomorrow 2019, evento voltado à discussão dos caminhos para a mobilidade urbana que vai reunir palestrantes ligados ao tema no São Paulo Expo.
“Estamos desenvolvendo um indicador de mobilidade corporativa junto a 50 empresas. Trabalhamos em parceria com o Instituto Ethos, o Instituto Parar, o Ibope e Great Place Work (GPTW)”.
Os resultados serão divulgados no evento. Gustavo, porém, já adianta que hoje o grosso das empresas gasta recursos de forma errada. O objetivo, agora, é usar o indicador para incentivar as companhias a encarar a mobilidade enquanto fator estratégico.
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