Space Hunters. “Caçadores Espaciais”. Soa como o nome de algum videogame ou fliperama das antigas.
A proposta da startup gaúcha, porém, é coisa séria. Fundada por dois arquitetos, a Space Hunters municia empreendedores com uma análise detalhada de onde instalar o seu negócio. Os espaços “caçados”, claro, são pontos comerciais.
Identificar o melhor ponto para a sua loja ou empresa nem sempre é simples. Pode ser que aquela via primordialmente comercial já esteja saturada, ou que a rua onde pintou um imóvel bacana fique longe dos olhos de seu público-alvo… E essa decisão tem o potencial de influenciar o sucesso — ou o fracasso — do seu empreendimento.
A Space Hunters se dedica a ajudar empreendedores a encarar esse dilema. A startup aplica big data e conceitos de urbanismo para mapear os endereços mais promissores, dentro do panorama específico de cada cidade.
UM DOS PRODUTOS DA STARTUP É UMA PLATAFORMA DE USO “SELF-SERVICE”
A empresa trabalha com três serviços principais. O primeiro é o aluguel da plataforma Space Data (99 reais ao mês), que auxilia o empreendedor a identificar por si próprio as características das regiões em que pretende instalar seu negócio.
CEO e cofundador da startup, Francisco Zancan, 33, explica:
“Funciona num sistema como o Google Maps, com um visual bem semelhante. Você vai trabalhando na exibição de layers que quer acrescentar, como densidade populacional, renda, verticalização da cidade… E a plataforma vai acrescentando manchas ao mapa: quanto mais escuro, mais próximo do que está buscando”
A navegação é simples, diz Francisco. O usuário pode buscar as informações por endereço, seja num raio de caminhada ou de alguns quilômetros no entorno.
“Dá para ver qual o potencial de consumo [na região], divisão socioeconômica, padrão de potencial de consumo a domicílio ou fora de casa, quanto se gasta com automóvel naquela população… E comparar esses dados entre si.”
A SPACE HUNTERS COMBINA TECNOLOGIA E O TRABALHO DE ARQUITETOS
A segunda vertical é de assessoria a empreendedores. A Space Hunters oferece pacotes de consultoria dentro de 12 categorias — desde avaliação de pontos já existentes e busca por novos endereços até análise interna de shopping centers e rankeamento de cidades a partir de potencial de mercado.
Quando o empreendedor compra um desses pacotes, a startup insere no seu sistema os parâmetros específicos daquele negócio, mapeia os concorrentes e cruza com uma base de dados relativos à cidade — desde densidade populacional a indicadores econômicos e de educação.
Com esses dados em mãos, arquitetos dedicados à prospecção de imóveis vão atrás das melhores opções segundo as preferências do cliente. Ao final do prazo (de até três semanas), a Space Hunters entrega um relatório “enxuto, de fácil leitura”.
“Várias empresas pararam de contratar plataformas de geomarketing para utilizar nossa assessoria justamente por essa personalização. As pessoas não queriam necessariamente ter acesso aos dados, mas sim a uma resposta”
Esse serviço para franquias e varejos custa entre 2 mil e 5 mil reais, dependendo da complexidade.
O SERVIÇO VOLTANDO A EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS VEM CRESCENDO
Há ainda um terceiro pilar, voltado a incorporadoras. A Space Hunters ajuda a entender o território, as tendências urbanas e determinar preços adequados para cada imóvel.
“Trabalhamos com tendências da cidade”, diz Francisco. “Mesmo que do lado tenha um ponto mais caro, pode ser que ele esteja numa rua com uma tendência melhor.
A assessoria para incorporadoras e construtoras varia de 12 mil a 25 mil reais.
“Para empresas com foco em grandes empreendimentos e condomínios, mostramos matematicamente que elas podem estar perdendo dinheiro, pois esse foco reduz a permeabilidade urbana — [a região] fica menos ‘caminhável’, o que tem impacto no valor do imóvel”
Francisco diz que 70% dos estudos da Space Hunters são para abertura de novos pontos comerciais. O share desse serviço já foi até maior e vem se reduzindo. Em contrapartida, aumentaram as buscas por projetos de real state — ou seja, a análise do potencial de um empreendimento imobiliário, sua curva de venda etc.
“Isso é bom, porque empreendimentos imobiliários é um setor que tem muito mercado. Até agora, poucas incorporadoras colocam muita inteligência nessa tomada de decisão.”
UM ENCONTRO CASUAL REAPROXIMOU OS DOIS SÓCIOS FUNDADORES
Francisco e Leonardo Lima cogitaram empreender ainda nos tempos da faculdade de Arquitetura e Urbanismo, que cursaram pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Na época, a ideia não avançou.
Depois de formados, eles se reencontraram na formatura de ex-colegas da UFRGS. Francisco, na época cursando o MBA em administração e marketing, não via Leonardo há um ano.
Em seu mestrado em planejamento urbano, Leonardo vinha se debruçando sobre o tema da sintaxe espacial — o estudo de como as relações humanas refletem no projeto e no funcionamento de uma cidade.
O assunto fisgou Francisco na hora. Mais tarde, investigando, eles descobriram que havia ali “um potencial de mercado muito grande”:
“A maioria das plataformas hoje funciona a partir de big data, com o cruzamento de dados. O problema é que a resposta que grande parte dos empreendedores quer — que é entender como a cidade funciona — não é trazida por essas plataformas”
Uma das razões, diz Francisco, é a carência de boas fontes de dados no Brasil. Outra seria o fato de que nem mesmo esses dados responderiam a perguntas como por que algumas regiões crescem mais ou se desenvolvem melhor do que outras. “São questões que têm muito a ver com urbanismo.”
A PROPOSTA DA STARTUP: APLICAR A SINTAXE ESPACIAL AO VAREJO
O método pensado pelos dois urbanistas era transformar o desenho da cidade em cálculos matemáticos, aliando sintaxe espacial e big data, num trabalho que poderia ser traduzido em tendências urbanas. A Space Hunters começava a tomar forma.
A tecnologia de análise por sintaxe espacial foi criada ainda nos anos 1980, por pesquisadores da Universidade de Londres, inicialmente como uma técnica de mapeamento. Com os anos, evoluiu e passou a ser usada no planejamento urbano — para identificar, por exemplo, o melhor endereço onde um hospital deveria ser erguido.
A proposta da Space Hunters era aplicar esse conceito para o varejo. No papel, a startup surgiu em 2014. O investimento inicial foi baixo. Francisco conta que usou 8 500 reais próprios para gastos com computador e a incubação do projeto numa sala dentro do campus da ESPM em Porto Alegre, onde fez seu mestrado.
Montar a metodologia levou um ano e meio. Em paralelo, a plataforma Space Data era desenvolvida. A ferramenta, que usa a base de dados do Google, ficou pronta após dois anos (e segue em atualização constante).
AO PROSPECTAR CLIENTES, ELES ESBARRARAM NUM DESAFIO CULTURAL
Em 2017, o administrador Arthur Duarte se tornou o terceiro sócio da startup, ajudando na formatação comercial e de marca.
No começo, prospectando clientes, a Space Hunters deu muito com a cara na porta. E por uma questão cultural, diz Francisco:
“Existia — e existe ainda — um estigma grande entre os varejistas com boa parte das plataformas de geomarketing no Brasil. Todo mundo falava: ‘ah, já tenho acesso a outra plataforma, mas não resolve…’ Foi aí que começamos a notar o que era preciso resolver”
Para agir contra esse estigma, a empresa reforçou o pilar de assessoria. Mesmo assim, ouviram muitos “nãos” pelo caminho.
“A maior dificuldade foi atrair clientes para formar um portfólio e chegar num momento como agora, em que o processo de venda é simplificado porque temos histórias de sucesso debaixo do guarda-chuva.”
CONTRARIANDO O SENSO COMUM NA HORA DE ESCOLHER O PONTO COMERCIAL
Francisco diz que a startup já atendeu cerca de 400 clientes. Um case emblemático foi o da SuperForce, uma franquia gaúcha de academias de crossfit que estava buscando a melhor localização para sua unidade em Florianópolis.
O senso comum diria que o lugar ideal era na ilha, próximo de praias badaladas, como Jurerê. No entanto, segundo o empreendedor, a menos que a academia pretendesse bombar apenas na alta temporada, o melhor seria procurar uma região mais eficiente.
“Colocamos vários clientes na zona do continente, que não é muito bonita mas performa bem. Para quem está deslumbrado e não conhece a cidade, a tendência é sempre tentar ir para as praias”
O continente de Florianópolis pode não desfrutar do mesmo prestígio da ilha, mas ganha no fluxo de pessoas e na proximidade de toda a região metropolitana.
Segundo Francisco, a “zona matematicamente mais quente” se posiciona na região que liga o centro (na ilha, conectada ao continente por duas pontes) a bairros de comércio forte, como São José e Campinas. E foi ali que instalaram a academia.
EM HONDURAS, A STARTUP ASSESSOROU O PROJETO DE UMA NOVA CIDADE
Hoje a Space Hunters conta com alguns cases internacionais no Canadá, Estados Unidos, Paraguai e Nova Zelândia.
Francisco detalha outro projeto em Honduras, para Próspera (na ilha de Roatán, no Mar do Caribe), uma cidade charter que está sendo criada para abrigar uma zona autônoma de desenvolvimento econômico.
A startup foi contratada pelo empreendimento para avaliar o plano de uso e ocupação da nova cidade:
“Em menos de uma semana, identificamos que o hospital no projeto estava no lugar errado. Mostramos matematicamente o porquê e onde deveriam colocar. Antes, [eles] estavam debruçados sobre isso havia meses, só no achômetro”
Segundo Francisco, o hospital previsto no projeto estava “deslocado matematicamente em relação ao centro de gravidade morfológico” de Próspera.
“Estava sendo pensado para pegar o público do aeroporto. Sugerimos colocá-lo duas quadras para cima, para ficar melhor localizado numa região mais central, com maior concentração de gente, gerando maior comodidade e um atendimento mais eficiente.”
PARCERIAS VÊM AJUDANDO O NEGÓCIO A CRESCER NA CRISE
Hoje, a startup faz parte do grupo Safeweb, de segurança da informação. A Space Hunters abriu mão de 5% do capital; em troca, ganhou acesso a equipamentos, canais de distribuição, assessoria jurídica e de negócios, e ao imóvel onde hoje está baseada.
Segundo Francisco, graças em parte a essa parceria, a Space Hunters vem conseguindo resultados 30% acima da meta anual. A expectativa é mais que dobrar o time até o fim do ano — dos atuais seis para 15 colaboradores.
Quando a pandemia obrigou o comércio a fechar as portas, o faturamento mensal da startup chegou a despencar pela metade. Com reservas financeiras, a empresa se segurou e voltou a crescer no segundo semestre.
Funcionar em marcha lenta por um tempo ajudou a rever estratégias e firmar acordos com franquias como Waffle King, Mormaii e SuperForce. O objetivo é se manter como o braço de inteligência desses negócios e garantir um fluxo constante de projetos.
No horizonte, diz Francisco, a Space Hunters vislumbra se dividir em empresas distintas, cada uma focada num serviço — e intensificar sua internacionalização.
“Estamos analisando essas possibilidades. Temos um pé lá fora justamente para alcançar uma resiliência maior a cenários nacionais e conseguir uma melhor capilaridade, com faturamento numa moeda mais forte.”
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