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O sono tem sido uma vítima colateral da pandemia. Saiba como a SleepUp quer ajudar você a dormir melhor

Dani Rosolen / 26 abr 2021
As irmãs Renata Bonaldi (à esq.) e Paula Redondo, cofundadoras da SleepUp.
Dani Rosolen - 26 abr 2021
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Vira de um lado. Vira do outro. Checa o celular. Se ajeita de bruços. Muda de posição. Esquece o trabalho, tenta pensar em coisas boas. Vira de lado, de novo. Olha o celular… Caramba, já é quase dia e você nem pregou os olhos.

Se a situação acima parece familiar, talvez valha a pena testar o app da SleepUp. A startup se autointitula o primeiro assistente pessoal do sono. 

Seu aplicativo (disponível por enquanto apenas em Android) se propõe a ajudar o usuário a combater a insônia, com terapia digital e indicações personalizadas por meio de dicas de estilo de vida, músicas e mindfulness.

A Covid, vale dizer, vem bagunçando o sono de muita gente. Em inglês, pintou até o termo coronasomnia, ou “corona-insônia” (aliás, você já leu o nosso verbete dedicado ao vocabulário da pandemia?). No Brasil, segundo pesquisa do Ministério da Saúde com mais de 2 mil pessoas, 41,7% apresentaram algum distúrbio do sono após o início do isolamento. 

E dormir não é apenas “descansar”. Durante o sono, o nosso corpo realiza o fortalecimento do sistema imunológico, a liberação e regulação hormonal, a reposição energética, a consolidação da memória, entre outras funções.

ELA DESPERTOU PARA O PROBLEMA DA INSÔNIA DURANTE UM MBA

A engenheira têxtil Renata Redondo Bonaldi, de 39, tem 15 anos de experiência nas áreas de inovação, tecnologia, gestão e novos negócios (em empresas como BASF e Rhodia Solvay). 

Mesmo com uma carreira consolidada, ela sonhava ter o próprio negócio:

“Apesar de gostar da minha área de atuação no mundo corporativo, queria criar algo com impacto positivo, que melhorasse a qualidade de vida das pessoas e resolvesse um problema maior”

Em 2019, Renata vivia no Reino Unido, cursando um MBA em Inovação na Universidade de Manchester.

No curso, a futura empreendedora pesquisava o uso de wearables (as tecnologias vestíveis) no combate a doenças crônicas. E foi assim que despertou para o problema da insônia — e seu impacto maior sobre as mulheres.

AO SER MÃE, ELA DECIDIU PARAR DE FICAR ADIANDO O SONHO

Renata estava grávida na época. E aquilo ficou em sua cabeça. 

Depois do nascimento da filha, ela saiu de licença-maternidade na Rhodia, mas já sabia que não poderia adiar mais o desejo de empreender. 

“Muitas empreendedoras que são mães falam que os filhos mudam suas vidas, suas prioridades… Foi o que aconteceu comigo. Decidi que era hora de ter meu negócio”

Ela já sabia com o que queria empreender: usando tecnologia para ajudar no combate à insônia. 

Mergulhou de cabeça no tema. Renata já tinha alguma bagagem tecnológica: antes do MBA, fizera um doutorado sobre o uso de wearables na saúde, no qual desenvolveu o protótipo de um sutiã para detectar câncer de mama.

COM A SAMSUNG, ELA FIRMOU PARCERIA PARA UM WEARABLE EM DESENVOLVIMENTO

Ainda em 2019, de volta ao Brasil, Renata levou a ideia do que seria a SleepUp para o programa de aceleração do Founder Institute

Lá, se dedicou a estudar o problema da insônia e a validar a solução, na forma de monitoramento do sono.

Paula Redondo, sua irmã gêmea e cientista da computação, embarcou como cofundadora e CTO. As duas investiram cerca de 500 mil reais para botar a SleepUp de pé. 

Metade dessa grana veio da Samsung, que acelerou a SleepUp em 2019. O investimento de 250 mil reais veio com uma parceria para o futuro wearable da startup — uma faixa de monitoramento cerebral ainda em desenvolvimento — seja integrado a dispositivos da empresa, como Galaxy Watch e Galaxy Fit.

No mesmo período, a SleepUp passou a integrar o hub de inovação em saúde do Distrito, que funciona junto ao Hospital das Clínicas, em São Paulo. 

Mais recentemente, em março, a startup se incorporou ao portfólio da Eretz.bio, incubadora do Hospital Albert Einstein, também na capital paulista.

UM PROTOCOLO DIGITAL PARA O TRATAMENTO DA INSÔNIA

Para ajudar na parte clínica, as irmãs chamaram Gabriel Pires biomédico, mestre e doutor em medicina do sono, e Ksdy Sousa, psicóloga do sono e neurocientista.

Eles se tornaram sócios e desenvolveram um protocolo de terapia digital baseado na Terapia Cognitivo Comportamental para Insônia (Cognitive Behavioral Therapy for Insomnia).

A TCC-I (sigla usada em português) é uma abordagem psicoterapêutica focada nas causas e sintomas da dificuldade em dormir. Nas palavras de Renata:

“Essa terapia é a mais comprovada clinicamente para o tratamento da insônia, sendo mais eficaz que remédio a longo prazo. Enquanto o medicamento é algo paliativo, recomendado por apenas três meses de uso, podendo causar dependência, a TCC-I combate as causas da insônia por meio da mudança de comportamentos”

Com seu aplicativo (lançado em julho de 2020), a startup traz esse conceito para o ambiente digital.

“Nosso objetivo não é substituir os médicos”, explica. “Por isso, trouxemos também o atendimento via chat e vídeo para a plataforma”. 

Hoje, a SleepUp tem parceria com uma neurologista e três psicólogas especialistas do sono. O time completo se compõe de 12 pessoas.

COMO FUNCIONA, NA PRÁTICA, A TÉCNICA TCC-I NO AMBIENTE DIGITAL

A TCC-I é dividida em sete módulos (semanais ou quinzenais). A partir de duas semanas, diz a fundadora, já é possível sentir melhora no sono.

Após o tratamento, que dura cerca de três meses, recomenda-se um acompanhamento de um ano.

Por enquanto, só os três primeiros módulos estão liberados no app; os demais estão sendo ainda revisados pela Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária):

 “Embora nos Estados Unidos já exista uma empresa utilizando a TCC-I no ambiente digital com aprovação do FDA [Food and Drug Administration], aqui a Anvisa ainda está no processo de regulamentar softwares para a área médica”

O primeiro módulo, “Higiene do sono”, tem conteúdos sobre criação de uma rotina e de um ritual da hora do sono, além do tipo de alimentação adequada.

O segundo (“Relaxamento e meditação”) traz orientações sobre meditação e mindfulness, dicas de práticas e informações sobre a importância dessas metodologias no combate à insônia.

“Aprendendo sobre o sono”, o terceiro módulo, apresenta o que é sono normal, cronotipo, fases do sono e quais são consequências da insônia para o nosso organismo.

CONHEÇA OS RECURSOS DAS VERSÕES GRATUITA E STANDARD

O aplicativo da SleepUp tem recursos complementares. 

O plano gratuito dá acesso ao diário do sono (em que você registra a qualidade e duração das suas noites bem — ou mal — dormidas, eventual uso de medicação etc.), além de dicas de vida saudável, um teste clínico e relatórios diários sobre seu tratamento. Segundo Renata:

“Decidimos oferecer uma versão sem custo porque um de nossos propósitos é democratizar o tratamento de combate à insônia, que ainda é muito elitizado”

O plano Standard custa R$ 24,90 mensais (ou 149,90 reais ao ano). Inclui os primeiros três módulos da TCC-I, quatro testes clínicos, monitoramento do sono com recomendações personalizadas e atendimento médico remoto por chat ou vídeo.

Por enquanto, o aplicativo tem 1 000 downloads e 600 usuários ativos. As mulheres são maioria: 85%.

Futuramente, o plano Premium (em desenvolvimento) deverá englobar os quatro módulos restantes, em avaliação pela Anvisa, com assinatura a R$ 69,90 mensais ou R$ 399,90 por ano. 

A STARTUP MIRA O MERCADO B2B E A INTERNACIONALIZAÇÃO

Dois meses atrás, a startup começou a oferecer assinaturas no B2B. 

Nenhum contrato foi firmado por enquanto, mas 15 estão “em análise”, segundo a empreendedora. Entre os potenciais clientes, farmacêuticas (que ofereceriam o app como um complemento aos remédios) e planos de saúde.

A startup também está dando os primeiros passos rumo à internacionalização:

“Lançamos a versão gratuita do aplicativo nos Estados Unidos. Estamos finalizando algumas traduções para a versão Standard, que logo estará disponível lá também”

O próximo alvo é a Inglaterra. No fim de março, a SleepUp foi uma das três vencedoras do Brazil Medtech Awards

A competição, promovida pelo governo britânico, buscava empresas brasileiras com soluções na área de healthtech em saúde primária, prevenção, personalização e home care.

“Agora, passaremos por mentorias e embarcaremos em uma missão paga para entender como estruturar a empresa por lá”, diz Renata.

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: SleepUp
  • O que faz: Aplicativo de tratamento da insônia
  • Sócio(s): Renata Redondo Bonaldi, Paula Villena Redondo, Gabriel Pires e Ksdy Sousa
  • Funcionários: 12 (incluindo os sócios)
  • Sede: São Paulo
  • Início das atividades: 2019
  • Investimento inicial: R$ 500 mil
  • Faturamento: NI
  • Contato: info@sleepup.com.br
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