Seja em consoles, no computador ou no celular, os games são não só uma forma de entretenimento, mas cada vez mais uma estratégia de engajamento importante. Não é à toa que diversas áreas, da educação ao comércio, vem aplicando a gamificação para atrair e cativar seus públicos.
A startup mineira RadarFit nasceu com a proposta de unir games e saúde para estimular pessoas a se alimentarem melhor e a realizarem exercícios periódicos. O aplicativo apresenta um jogo em que o usuário completa missões para subir no ranking, aumentar de nível e ganhar prêmios (desde vouchers da Uber ou do Spotify até iPhones e smart TVs).
Jade Utsch, 28, CEO e cofundadora da empresa, resume como a plataforma funciona:
“A cada missão, o usuário tira uma foto de seu prato de refeição saudável, do copo de água com que se hidratou ou uma selfie após aplicar uma técnica de mindfulness… Na parte de atividade física, ele vai registrar uma caminhada ou corrida com GPS, contador de passos e uma selfie pós-treino”
A plataforma conta com um sistema de reconhecimento de imagens que analisa expressões faciais, tipos de alimentos e a presença de líquidos. Ou seja, ela detecta automaticamente se a pessoa está suada, por exemplo, e usando roupa de treino. Quando a atividade física é comprovada, o usuário recebe fitcoins, moeda corrente no aplicativo, e pode usá-los para resgatar ou concorrer aos prêmios.
“A gente traz uma plataforma de game de saúde que funciona como um super app”, diz Jade. “Nele tem tudo que é necessário para conquistar o que se deseja em questões de saúde e corpo: personalização da rotina, mecanismos de gamificação para te motivar a praticar hábitos saudáveis diariamente, premiações e recompensas — além dos gatilhos de competição, como os rankings de desempenho.”
Embora hoje aposte 100% na gamificação como estímulo para um estilo de vida mais saudável, a RadarFit não teve essa vocação desde o início. Na realidade, ela começou lá em 2017 com uma pegada diferente: era um marketplace de produtos e serviços fitness e de bem-estar.
A startup nasceu de um reencontro de Jade com Jennifer de Faria, hoje CFO da empresa. As duas foram colegas de faculdade, no Ibmec, mas trilharam cursos diferentes: Jade estudou engenharia de produção, e Jennifer, administração.
Em 2017, enquanto apresentavam a primeira versão da Radarfit em um programa de aceleração, elas conheceram Tatiany Ribeiro, publicitária especializada em gamificação que então comandava a startup Mamoote, plataforma que reunia vídeos do universo musical.
Como a RadarFit vinha patinando financeiramente, Tatiany se juntou às duas e o trio então deu uma guinada radical nos rumos da empresa:
“Descobrimos que a dificuldade de ter hábitos saudáveis era pela falta de resultados imediatos. A pessoa não faz uma atividade física ou come uma única refeição saudável e fica instantaneamente com a saúde e o corpo que quer. Hábitos saudáveis geram resultados a médio e longo prazo”
Além de sócia, Tatiany hoje é CTO e CMO da RadarFit Seu know-how na área de gamificação e programação (com a qual atuava de forma amadora desde a adolescência) foi essencial naquele reinício.
“A primeira versão da RadarFit foi toda construída pela Tati em 48 horas”, diz Jade. “Ela criou nosso primeiro produto da noite para o dia sozinha.”
A RadarFit começou a rodar pra valer em 2018, a partir dessa primeira versão.
Na época, a empresa nem sequer tinha uma equipe de programação. Para botar o projeto de pé, as sócias investiram, do seu próprio bolso, cerca de 100 mil reais.
Jade relembra aquela fase, e como elas foram prospectando clientes e moldando o produto:
“A gente batia na porta das empresas ainda com um protótipo e acabou desenvolvendo exatamente o que as pessoas precisavam. Sempre fizemos tudo escutando nosso cliente final, nunca foi no achismo”
Para chegar à versão atual, a plataforma ainda passou por um desenvolvimento contínuo ao longo de três anos. A cada upgrade lançado no mercado, as sócias coletavam os feedbacks dos clientes, já de olho na próxima versão.
“Para chegarmos no estado atual de robustez tecnológica, levou anos e muito investimento. Nossas primeiras rodadas de captação foram praticamente 100% investidas em tecnologia.”
Jade avalia que um dos desafios no começo foi tangibilizar para o público a proposta da RadarFit, pela falta de produtos similares. “As pessoas não conseguiam nem visualizar o que era. Então a gente foi ‘cortando mato alto com facão cego’.”
Ao entrar na plataforma, o usuário faz um cadastro, que inclui informações como idade, gênero, peso, altura, histórico de saúde e rotina de atividades físicas e alimentação.
Ele também precisa selecionar o objetivo que pretende alcançar usando o app: saúde; saúde e emagrecimento; ou saúde e fortalecimento.
Baseada nesse perfil, a inteligência artificial da plataforma cria uma rotina personalizada de hábitos saudáveis, com um plano alimentar, um cronograma de treinos, a frequência diária em que a pessoa precisa se hidratar e atividades ligadas a práticas de mindfulness. A CEO explica:
“Essas tarefas surgem em formato de missões saudáveis que devem ser cumpridas ao longo do dia, do café da manhã até o jantar, com uma dieta especial para aquele perfil físico e objetivo, treinos personalizados em vídeo, a quantidade de copos de água que o usuário vai tomar e uma técnica para cuidar da saúde mental”
Hoje a empresa funciona com foco (não exclusivo) no modelo B2B, vendendo pacotes a companhias que pagam R$ 4,90 ao mês para cada usuário que utiliza o sistema.
Através de um painel com estatísticas, o RH monitora a evolução da equipe, avaliando questões como a redução do sedentarismo, a melhoria do clima organizacional e o combate ao burnout. As empresas com o maior número de missões completadas ganham uma placa comemorativa da RadarFit.
Recentemente, a plataforma passou a atender também o consumidor direto, que baixa o app e navega na versão gratuita, com funcionalidades limitadas, ou paga uma mensalidade de R$ 15,90 para ter acesso à ferramenta na íntegra.
Conforme completa missões e coleta fitcoins, o usuário desbloqueia consultorias por videochamadas com nutricionistas, médicos, psicólogos e educadores físicos.
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Entre 2019 e 2020, a RadarFit passou por uma aceleração pela Startup Farm e recebeu 1 milhão de reais num investimento liderado pela gestora de venture capital Domo Invest. Em 2021, veio um novo aporte, desta vez de 3 milhões de reais, dos fundos Domo e Bossa Nova Investimentos.
Hoje, a startup atende empresas do porte de Votorantim, Banco do Brasil, Sicoob, Unimed e DPA Brasil, em sedes no Brasill e em outros 14 países, com o produto disponível em versões em português, inglês e espanhol.
Na Votorantim, por exemplo, o app da RadarFit chega a funcionários no Brasil e no Peru. Por lá, segundo Jade, o uso da plataforma vem há três anos reduzindo o sedentarismo e absenteísmo, melhorando a produtividade e o clima organizacional.
“Eles receberam várias premiações de bem-estar no ramo da mineração com a RadarFit, então é nosso maior case. Se a gente consegue fazer com que trabalhadores no escuro das minas bebam água, se alimentem, façam atividade física e tenham resultados na saúde e no corpo, não tem ninguém que seja impossível engajar.”
Com o isolamento decorrente da pandemia e a dificuldade de as pessoas realizarem exercícios físicos, a RadarFit acabou ganhando um impulso. Entre 2020 e o início de 2022, o faturamento cresceu cerca de 1 600%.
Recentemente, a plataforma bateu o número de 1 milhão de missões saudáveis concluídas, com uma base de 100 mil usuários. “Aumentamos nosso engajamento em 33% e tivemos um crescimento de 1 000% de faturamento em comparação com o primeiro trimestre de 2021”, festeja Jade.
A versão atual do aplicativo integra um avatar 3D que o usuário cria no momento do cadastro. Jade define essa nova funcionalidade como um primeiro passo dentro do metaverso.
A partir da próxima atualização, o usuário poderá registrar seus exames de sangue na plataforma, interagir dentro de uma rede social de bem-estar e “batalhar online” contra outros usuários.
Ainda neste ano, a empresa planeja lançar a fitcoin como uma criptomoeda do mercado de bem-estar. Outro projeto é investir em realidade aumentada:
“A ideia é implementar a realidade aumentada de forma acessível, utilizando o próprio celular. Quando a pessoa fizer uma caminhada, ela vai seguir uma rota onde vai captando fitcoins e, pela câmera, vai poder acompanhar todo o teor de proteínas e carboidratos que tem num prato”
Agora, superados os principais obstáculos, a RadarFit tem, nas palavras da CEO, “uma máquina de vendas funcionando, uma receita recorrente e crescente, e um produto que engaja muito”.
O próximo passo, ela diz, é buscar se tornar líder de mercado, seja batendo de frente ou se aliando à concorrência. Neste ponto, o maior investimento tem sido no marketing, com a meta de crescer de forma mais acelerada e consolidar a marca.
“Nosso foco [agora] é o Brasil. E, quando tivermos a maior parte do market share aqui, vamos iniciar a internacionalização.”
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