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A sustentabilidade atrelada à produção de alimentos: saiba como a Korin equilibra inovação e respeito ao bem-estar animal

Maisa Infante / 14 out 2021
Luiz Demattê, diretor-superintendente da Korin Alimentos (crédito: Paulinho de Jesus).
Maisa Infante - 14 out 2021
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Existe um mundo ideal? O fundador da Igreja Messiânica, Mokiti Okada (1882-1955), acreditava que esse seria um mundo sem doenças, pobreza e conflitos. E para sustentá-lo, um dos pilares era a Agricultura Natural.

Foi com base nessa agricultura que surgiu, em 1994, a Korin, uma empresa idealizada pela Igreja Messiânica no Brasil e construída com recursos dos seus membros. Até hoje, a igreja é a principal controladora da companhia, que tem 638 funcionários e já se mantém com recursos próprios. 

Luiz Demattê, diretor-superintendente da Korin Alimentos, explica qual o objetivo da empresa:

“Nosso grande objetivo é produzir uma agricultura inspirada pela natureza, gerando alimentos e serviços agrícolas que contribuam na espiritualização das pessoas e na construção de um mundo ideal”

Em consonância com o conceito de Agricultura Natural, a Korin produz frango, carne bovina, peixe, ovos e insumos biológicos (utilizados na produção agrícola e na pecuária orgânica e natural). A empresa também trabalha com parceiros para embalar e distribuir outros produtos orgânicos e naturais, como milho de pipoca, arroz, café, mel e feijão.

Esse portfólio é dividido entre quatro empresas que compõem a holding. A maior delas é a Korin Alimentos, que abrange toda a cadeia de suprimentos e de produção, e responde por 70% do faturamento (de 190 milhões de reais em 2020, 15% a mais do que em 2019).

A Korin Agricultura e Meio Ambiente atua em pesquisa, desenvolvimento e inovação, e tem sua atividade principal focada na produção e comercialização de insumos biológicos voltados para a agricultura, pecuária e meio ambiente.  

O grupo engloba ainda a Korin Retail & Franchising, responsável pelas três lojas próprias e franquias da marca; e a Korin Messiânica Alimentos, que gerencia um restaurante no Solo Sagrado de Guarapiranga (templo da Igreja Messiânica).

O BEM-ESTAR ANIMAL ENTROU DESDE CEDO NA PAUTA DA EMPRESA

O core da Korin Alimentos é a produção de frango com certificação orgânica e de bem-estar animal. Essa foi, também, a frente em que tudo começou. 

Demattê explica que, segundo Mokiti Okada, todos os seres são sencientes, ou seja, capazes de sentir de forma consciente. 

E foi diante dessa ideia que, lá em 1994, começou-se a pensar em como seria possível produzir frango de uma forma respeitosa com os animais e com a natureza sem usar mecanismos típicos da indústria, como antibióticos, melhoradores de desempenho e de crescimento.

Naquela época não se usava o termo “bem-estar animal”. Mesmo assim, as condições de criação imediatamente entraram na pauta da empresa, que questionou práticas de mercado. Por exemplo, as luzes da granja acesas 24 horas por dia para forçar os animais a passarem mais tempo comendo (e engordando). 

“Na medida em que reduz o uso de antibióticos e medicamentos, se não der bem-estar, o animal adoece. Porque se o estresse é constante, o sistema imune simplesmente deprime e fica suscetível a doença”

Na concepção da Korin, a produção e a inovação precisam vir acompanhadas de bem-estar animal, o que inclui acesso a ambientes ao ar livre, alimentação sem o uso de proteína animal e com grãos não-transgênicos. 

Mas faz sentido falar de bem-estar animal para depois abatê-los? 

Todos os seres, incluindo os animais, existem dentro de um propósito”, diz Demattê. “E nós entendemos que a missão desses animais é contribuir na nossa capacidade de cumprirmos o nosso trabalho.” 

O DESAFIO DE CRESCER E INOVAR SEM ABRAÇAR DE VEZ A “LÓGICA PRODUTIVISTA”

Para garantir que os 52 produtores de frango e ovos que fazem parte da cadeia da Korin seguem os princípios da Agricultura Natural, a empresa fornece  a ração, os pintinhos e a assistência técnica, coordena e fiscaliza esse trabalho.

“A certificação de livre de antibióticos e quimioterápicos foi um protocolo que nós escrevemos, submetemos a uma certificadora e, hoje, é usado nas grandes empresas também. Somos um benchmark para as maiores companhias produtoras do mundo” 

Uma delas é a Tyson Foods, empresa americana com mais de 30 marcas no portfólio, que fez uma visita a Korin para conhecer os processos da companhia.

Além do frango, a Korin também produz carne bovina e peixe. Os pescados, aliás, ajudam a ilustrar o exemplo da relação respeitosa da companhia com a natureza. 

Uma prática comum no mercado é o uso de hormônios para forçar a reversão sexual dos peixes recém-eclodidos, garantindo maior predominância de espécimes masculinos (que atingem o peso desejado mais rapidamente). A Korin vai na contramão e dispensa o uso de hormônios em sua produção.

“Todas as nossas produções têm esse apelo de gerar inovações em como se produzir sem a lógica produtivista. Não que a gente não queira ter produtividade. Produtividade é essencial, mas a gente tem que entender que precisamos de alguns limites” 

No caso da carne bovina, produzida no Pantanal, a Korin possui contrato com produtores de gado orgânico da região e fiscaliza o abate para garantir o alinhamento com as diretrizes da Agricultura Natural.  

COMO SUPERAR OS GARGALOS QUE ATRAVANCAM A SUSTENTABILIDADE

O diretor-superintendente da Korin Alimentos afirma que o maior desafio da companhia para manter a produção em linha com a sustentabilidade e a Agricultura Natural é a falta de apoio oficial para mecanismos de pesquisa e desenvolvimento. 

“São muitos os gargalos que fazem com que a gente enfrente mais dificuldade para ganhar um pouco mais de escala. E são gargalos que poderiam ser solucionados com trabalho dedicado e sistematizado” 

A produção de grãos orgânicos, segundo ele, é um desses gargalos porque precisa lidar com as plantas espontâneas de forma natural, sem o uso de produtos químicos que é praxe no mercado. 

Demattê conta que já existem, por exemplo, ferramentas que fazem uma capina selecionada dessas plantas espontâneas, o que ajudaria no ganho de escala, mas ainda é muito cara e não está disponível para todo mundo, principalmente para os pequenos produtores. 

Precisamos de recursos, apoio e políticas públicas para que o agricultor tenha condições de aderir, porque é assim que a agricultura em países ricos é feita. E isso seria benéfico para toda a sociedade porque criaria emprego a partir da inovação.” 

A HOLDING INCORPOROU UM CENTRO DE PESQUISAS ANTES LIGADO À FUNDAÇÃO

Além da produção de alimentos, a Korin atua na produção de insumos biológicos por meio da Korin Agricultura e Meio Ambiente.

Esse braço surgiu quando a holding incorporou o Centro de Pesquisas Mokiti Okada, em 2016. Até então, o centro era ligado à Fundação Mokiti Okada, mantida pela Igreja Messiânica. 

Na prática, o centro sempre esteve envolvido nas soluções desenvolvidas pela Korin, como a produção de frango sem antibiótico. A diferença é que, agora, ele faz parte do business e fortalece a frente de pesquisa e desenvolvimento da empresa.

“Existe um conjunto de conhecimentos e oportunidades grandes que foi acumulado no centro, mas, enquanto parte da fundação, ele estava em um ambiente mais restrito. Aí tivemos a ideia de construir uma Korin que lida com esse aspecto de pesquisa, desenvolvimento e inovação”

Coordenador do centro de pesquisa desde 2011, Demattê atuou também como diretor de indústria da então Korin Agropecuária (hoje Korin Alimentos) e liderou esse processo de incorporação, entre 2016 e 2018. 

“Nos anos seguintes houve um trabalho intenso de planejamento estratégico e a definição mais apurada de nossas atividades.”

AGORA, UMA NOVA FÁBRICA ALAVANCA A APOSTA NOS INSUMOS BIOLÓGICOS

Em 2020, a Korin inaugurou uma nova fábrica de insumos biológicos, em Ipeúna (SP), com capacidade de produção de 150 mil litros/mês. O projeto exigiu um investimento de 3 milhões de reais.

Dentre os insumos produzidos na fábrica estão o Bokashi, um fertilizante natural que ajuda a preservar a biodiversidade, sementes orgânicas, além de produtos específicos para serem usados na produção de aves e bovinos. 

Os clientes são pequenos, médios e grandes produtores rurais que já atuam ou querem atuar em agricultura sustentável. 

“A demanda por insumos biológicos vem crescendo, o que é bom para o Brasil e o mundo porque ajuda a agropecuária a ficar mais biológica do que química, como tem sido até o momento” 

Por falar em Brasil, Demattê assinou em nome da Korin a carta-manifesto “Empresários pelo Clima”, que pede que o país assuma seu protagonismo na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26), em novembro, na Escócia. 

O executivo acredita que as corporações têm olhado cada vez mais para o tema, até porque parece não haver outra saída. 

“Ou as empresas se relacionam melhor com as questões ambientais atreladas ao seu negócio… Ou elas também estão fadadas a desaparecer no curto e médio prazo.” 

 

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