Não existe nada mais alinhado às necessidades do mundo atual do que uma empresa que ofereça um produto saudável para quem consome, para quem produz e para o meio ambiente.
É essa cadeia virtuosa que está no core da Juçaí, empresa que produz sorbets à base do fruto da palmeira-juçara (Euterpe edulis), uma prima do Açaí, porém originária da Mata Atlântica.
Fundada em 2009, na Serrinha do Alambari, distrito de Resende (RJ), a Juçaí foi adquirida, dez anos depois, pelo grupo Bio Philia, gestor de projetos de sustentabilidade aliados à hospitalidade.
Gerente-geral da Juçaí, Bruno Corrêa explica por que uma companhia da área de hospitalidade resolveu investir em um produto sustentável:
“A missão das nossas propriedades é integrar as pessoas com a natureza. Em 2019, tínhamos acabado de implementar a Fazenda Bananal, em Paraty, e já estávamos com uma pulga atrás da orelha para lançar produtos. Aí, apareceu a Juçaí, com um produto ótimo e uma conexão direta com a questão da conservação e sustentabilidade”
Por outro lado, afirma Bruno, a empresa estava sofrendo com falta de caixa e estrutura. Assim, a chegada do grupo transformou esse cenário — e a alavancar uma operação que ajuda a conservar o que resta da Mata Atlântica (apenas 12,4% de remanescentes da floresta original permanecem de pé no Brasil).
DESDE 2019, A CAPACIDADE PRODUTIVA DA JUÇAÍ TRIPLICOU
O Bio Philia é dono de quatro hospedagens fluminenses — duas em Paraty (Pousada Literária e Fazenda Bananal) e duas em Petrópolis (Hotel Solar do Império e Pousada Tankamana) — e mais três na Bahia: Pousada Tutabel e Reserva RPPN Rio do Brasil, ambas em Trancoso, e a Pousada Trijunção, em Jaborandi, quase na divisa com Goiás.
O grupo aportou uma visão de mercado e estruturou as equipes de marketing, vendas e comunicação, o que, segundo Bruno, ajudou a Juçaí a decolar. Entre 2019 e 2021, por exemplo, a capacidade produtiva triplicou, passando de 400 litros para 1 200 litros por dia.
“O que fizemos foi organizar a casa e intensificar a visão de mercado do negócio. A marca poderia até crescer mais, mas estamos fazendo isso de forma cuidadosa, sem abrir mão da sustentabilidade”
A missão do grupo, diz Bruno, é provar que dá para manter uma operação comercial rentável e atraente, sem deixar de lado as preocupações ambientais. Hoje, o sorbet Juçaí pode ser encontrado nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo, e também no Chile e no Canadá (onde Bruno vive desde 2015).
“Mas [a operação internacional] ainda é incipiente. Priorizamos o desenvolvimento do mercado doméstico, porque queremos criar a cultura da Juçara no Brasil.”
UM PRODUTO PARA MANTER DE PÉ O QUE RESTA DA MATA ATLÂNTICA
A palmeira Juçara é uma planta nativa da Mata Atlântica e ameaçada de extinção por causa da extração ilegal do palmito, um tipo de negócio em que é preciso matar a árvore para fazer a extração. Para a Juçaí, ao contrário, é fundamental que as palmeiras fiquem em pé — e frutifiquem. E isso também é importante para o ecossistema da Mata Atlântica.
Acontece que o fruto da Juçara faz parte da alimentação de cerca de 70 espécies da fauna, como tucanos, sabiás, gambás, tatus e esquilos. E, detalhe: ele amadurece entre o outono e o inverno, justamente a época de escassez de alimentos. Para não prejudicar a fauna, a empresa colhe apenas dois terços, deixando o resto dos frutos nas árvores.
O custo benefício para as comunidades engajadas na operação também entra no cômputo da Juçaí:
“Fizemos um cálculo de que viabilizamos para as comunidades locais, via cooperativas, o dobro da receita que eles ganhariam vendendo palmito. A diferença é que todo ano tem uma safra para ser vendida, ao passo que o palmito você corta e somente daqui há 10 anos terá outras árvores no lugar para vender”
A colheita é feita diretamente da palmeira e não há uso de fertilizantes sintéticos ou agrotóxicos no manejo. Os coletores escalam as palmeiras e retiram os cachos de frutos inteiros, deixando um terço das frutas intocadas na árvore para a fauna se alimentar. Desse fruto é extraída a polpa — e a semente é usada em novos plantios.
A EMPRESA IMPACTA 800 FAMÍLIAS ENVOLVIDAS NA COLHEITA
Cooperativas do Espírito Santo, Rio de Janeiro e Paraná são as fornecedoras de frutos para a Juçaí, um trabalho que impacta positivamente a vida de 800 famílias. Com relação ao meio ambiente, estima-se que, em 2020, tenham sido conservadas 8 942 palmeiras.
“O nosso grande impacto nessas comunidades é viabilizar a demanda e encontrar uma escala de produção”, diz Bruno.
Uma das formas de fazer isso é, por exemplo, enfrentando junto com os produtores a sazonalidade, com a implantação de um sistema de compra e venda que beneficia os dois lados: a Juçaí consegue frutos em quantidade para congelar e utilizar o ano todo, enquanto os produtores têm a compra garantida.
“Para nos garantirmos na entressafra, precisamos antecipar a demanda e formalizar a relação com esses parceiros. E o contrato de compra e venda futura de safra facilita o acesso deles a crédito bancário.”
COMO CRESCER SEM DEIXAR DE CONSERVAR A NATUREZA
A companhia não abre o faturamento, mas diz que a meta da empresa é crescer 50 vezes em cinco anos sem perder o foco na sustentabilidade.
O grande desafio dessa jornada é a disponibilidade de frutos para sustentar a produção. Por isso, uma das frentes de trabalho de Juçaí é mapear onde existe Juçara no Brasil para desenvolver novas oportunidades, fornecedores e cooperativas — e fomentar o desenvolvimento via mudas e sementes.
Hoje, a empresa já acessa muitas sementes (cada dois quilos de fruto coletado rende 1,5 quilo de semente para plantio) e quer usar esse recurso para colaborar com o ecossistema sustentável da palmeira-juçara.
Uma das primeiras iniciativas desse movimento foi plantar 1 500 mudas na Fazenda Bananal, propriedade do grupo Bio Philia.
“Sabemos que tem muito mais oportunidade por aí. Já conversamos com a SOS Mata Atlântica para nos ajudar a identificar projetos para os quais possamos canalizar as mudas e sementes”
Fazer as coisas devagar, um passo de cada vez, olhando para todas as pontas da cadeia é uma das estratégias para não perder o foco da sustentabilidade. Isso pode até gerar mais lentidão no crescimento, mas é a garantia de que a empresa não vai perder um de seus principais valores.
Para isso, está em desenvolvimento uma avaliação de desempenho para ser aplicada junto aos fornecedores, um pouco inspirada no Sistema B, do qual Juçaí faz parte desde 2017.
Cada fornecedor terá que preencher uma série de requisitos e, se em uma primeira auditoria houver alguma não-conformidade, terá um prazo para se regularizar. Caso o problema se repita em uma segunda auditoria, haverá uma pausa no contrato de fornecimento até que esteja tudo regularizado.
“A missão conservacionista é o nosso grande desafio”, diz Bruno. “E essa é uma maneira de tentar influenciar as cooperativas para atuarem de forma responsável.”
Marina Sierra Camargo levava baldes no porta-malas para coletar e compostar em casa o lixo dos colegas. Hoje, ela e Adriano Sgarbi tocam a Planta Feliz, que produz adubo a partir dos resíduos gerados por famílias e empresas.
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