Está com medo de mandar seu filho para a escola? O app Filho Sem Fila promete reduzir os riscos da Covid-19 em sala de aula.
Este era o título da matéria publicada pelo Draft em agosto de 2020 sobre a história da startup Filho Sem Fila – que mudou de nome e agora atende por School Guardian.
Por uma triste ironia, aquela pergunta do título – sobre o medo de mandar os filhos à escola – continua valendo, quase três anos depois. A razão, porém, é outra: os ataques recentes e a onda de ameaças anunciando massacres em colégios.
O Governo Federal criou um canal de denúncias sobre o tema; segundo uma especialista da Unicamp, por trás das mensagens – falsas ou não – que correm pelas redes sociais estaria a intenção de causar pânico na população.
“Mudou o tipo de medo, mas o medo está aí, e está forte”, diz Leo Gmeiner, 47, fundador da School Guardian.
A startup surgiu em Santo André (SP), em 2013, com a proposta de agilizar o embarque e desembarque dos alunos. Daí o nome original, Filho Sem Fila: a ideia era evitar – com ganhos de tempo e segurança – aquele engarrafamento que se forma na porta da escola.
Em março de 2021, a empresa foi rebatizada. A nova marca, School Guardian (“guardião escolar”), se adequava melhor aos planos de internacionalização e abrangia outras funcionalidades que já estavam em implementação ou desenvolvimento.
Desde a origem, a startup foi, cada vez mais, saindo de um foco mais exclusivo em logística para incorporar, no seu escopo, um olhar mais agudo e abrangente para a questão da segurança.
Leo fala sobre essas funcionalidades mais recentes – criadas, em alguns casos, com o pensamento já no mercado externo.
“A gente passou a fazer, por exemplo, [monitoramento da] localização interna, para poder saber – no caso de um terremoto ou de um atirador que entre na escola – onde está cada pessoa, seja um estudante ou um professor ou profissional”
Basicamente é o seguinte: por meio do sistema da School Guardian a escola pode criar ambientes virtuais que correspondem a seus espaços físicos – a sala de aula, o laboratório, a quadra etc.
Daí, a administração do colégio controla o check-in e o check-out dos estudantes ou profissionais nesses ambientes, gerando um QR Code para cada pessoa ou ainda por meio de reconhecimento facial ou biometria (leitura de impressão digital).
“Importante: a gente não instala nenhum tipo de app de rastreamento nos devices [smartphones] dos alunos, até por uma questão de privacidade”
Além disso, a startup não tem acesso direto às informações. “A nossa equipe não pode acessar a área administrativa da escola, a não ser que a escola nos peça suporte e autorize.”
Outra funcionalidade implementada recentemente pela School Guardian são os botões digitais de emergência.
“Esse conceito já existia no nosso roadmap”, diz Leo. “Desenvolvemos no finzinho do ano e lançamos agora, entre janeiro e fevereiro.”
Segundo Leo, cada colégio pode criar quantos botões quiser, cada um para uma situação específica.
“Os botões podem ser usados desde para avisar a equipe de manutenção que tem alguma coisa quebrada até avisar a polícia para uma situação como essas [de ataques] que a gente está vendo no Brasil e infelizmente já são frequentes em alguns países…”
O disparo dos botões fica a cargo de funcionários designados pela própria escola, através de um aplicativo e, segundo a School Guardian, em breve também via smartwatches.
A solução pode servir ainda, por exemplo, para notificar os bombeiros em caso de incêndio ou alertar os pais sobre a dificuldade de acesso por conta da chuva:
“Vamos supor que eu tenha uma enchente na porta da escola e quero avisar os pais que não venham, porque está impossível de chegar. Isso também pode ser usado dessa maneira.”
Um terceiro serviço que a School Guardian incorporou nos últimos tempos foi o reconhecimento de placa de veículos por meio de câmeras instaladas no acesso à escola. Assim, é possível garantir apenas a entrada de pessoas cadastradas.
“Também assinamos – isso é bem recente – um contrato com a Sem Parar, que permite que a gente use as etiquetas deles para fazer essa mesma validação”
A funcionalidade original da plataforma – agilizar o embarque e desembarque de alunos por meio de alertas antecipados – segue firme. Até hoje, já foram quase 10 milhões de chamados. Ou seja, 10 milhões de vezes que um pai ou responsável acionou o botão do app que notifica a escola de que ele ou ela está a caminho.
Para dar mais fluidez ao processo, a School Guardian usa a tecnologia para estabelecer “cercas virtuais” em torno do colégio e identificar, pela geolocalização do celular dos pais, quando eles estão se aproximando do perímetro:
“O pai ficar menos tempo exposto do lado de fora – correndo o risco, nas capitais brasileiras, de um assalto –, esse acaba sendo o grande benefício. Acelerar o processo acabou virando um benefício colateral”
Há ainda o serviço de monitoramento do transporte escolar. Nessa frente, a startup integrou outra funcionalidade, adotada no auge da pandemia: a notificação sobre o estado de saúde do estudante
“Então, se eu reporto que o meu filho está doente, o transportador sabe que ele não pode embarcar na van ou no ônibus.”
A School Guardian hoje está presente em mais de 400 escolas do Brasil, impactando 115 mil alunos e cerca de 250 mil pais e responsáveis. Segundo Leo, o perfil de clientes é amplo, inclui desde escolas de elite até colégios de bairro.
O pacote básico custa algo em torno de R$ 1,60 por aluno por mês. A partir daí são oferecidas funcionalidades extras – os botões de emergência, o reconhecimento de placa, o rastreamento de transporte escolar etc. –, com um custo adicional.
O empreendedor destaca uma das funcionalidades que vem contando com boa adesão:
“Os QR Codes têm sido bem aceitos pelas escolas, porque facilitam muito o uso do dia a dia e elevam a segurança – por exemplo, mostrando para a equipe de portaria se uma determinada criança pode sair desacompanhada ou não. Essa gestão está lá no aplicativo dos pais”
A internacionalização segue em curso. Os primeiros clientes internacionais foram a Avenues School, em Nova York, e o St. Patrick’s, em Montevidéu. No momento, a School Guardian está presente em quatro escolas nos EUA, duas no estado de Nova York, uma em West Virginia e outra em Maryland.
Além de uma operação com 12 pessoas no Brasil, a startup mantém um escritório em Chicago, para captar investidores e identificar oportunidades.
“Temos algumas pessoas part-time nos Estados Unidos. Um C-level estratégico e mais gente nos ajudando na parte financeira, e com marketing e vendas.”
O próprio Leo deixou, em janeiro de 2023, o cargo de CEO da School Guardian (hoje ocupado por Marianne Vital) para assumir uma nova função: head de vendas internacionais e parcerias.
A internacionalização de olho no mercado estadunidense, onde os tiroteios em escolas são uma trágica realidade há bastante tempo, acabou levando a School Guardian a reforçar o viés de segurança em sua oferta de serviços.
Nos últimos meses, reforçar a segurança se tornou justamente uma das demandas mais urgentes das escolas brasileiras, em meio aos ataques e ameaças recentes:
“Infelizmente isto começou a acontecer aqui. Tem muito boato, com certeza, temos que tomar cuidado e verificar as informações… Mas ameaças têm acontecido de fato”
Leo tem um filho na faculdade e outro no Ensino Médio. “Essas informações estão deixando muita tensão nos estudantes também”, afirma. Até por isso, a empresa resolveu ampliar seu olhar para incluir a saúde mental dos estudantes.
Por meio de uma parceria com a U4Hero (startup brasiliense da qual Leo é membro do Conselho), a School Guardian vem oferecendo, como serviço adicional, uma solução de monitoramento socioemocional das crianças.
“É algo supertranquilo, nada invasivo. São jogos desenhados para que as tomadas de decisão [dos estudantes, durante a atividade] digam para os professores, num dashboard, como os alunos estão se sentindo…”
A ideia é abastecer educadores e psicopedagogos com informações que ajudem a identificar tristezas, medos e angústias – que, fora de controle, podem degringolar numa espiral de violência.
“Estamos olhando para trazer mais soluções que ajudem os gestores e professores a gerenciar a segurança”, diz Leo. “E quando se fala nessa parte socioemocional, isso está muito conectado a segurança, também.”
A neurociência pode ajudar a destravar o potencial dos alunos. Virgínia Chaves conta como a startup Athention usa aparelhos portáteis de eletroencefalograma (entre outros recursos) para incorporar a tecnologia de dados na educação.
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