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Na adolescência, ele sonhava em ficar rico na bolsa de valores. Empreendeu e hoje ajuda a democratizar o investimento em startups

Marília Marasciulo / 22 nov 2022
Guilherme Enck, fundador da Captable.
Marília Marasciulo - 22 nov 2022
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Na adolescência, o portoalegrense Guilherme Enck perguntou ao pai o que poderia fazer para ganhar muito dinheiro. A resposta veio na forma de um convite para que ambos, que compartilhavam do mesmo interesse pelos números e pelas cifras, fizessem juntos um curso básico sobre bolsa de valores. 

Aquele momento pavimentou o caminho para que, 12 anos depois, Guilherme e o administrador Paulo Deitos fundassem a Captable. A plataforma digital faz a ponte entre investidores de varejo e startups promissoras, selecionadas pela equipe da fintech mediante curadoria. Segundo Guilherme:

“Nascemos com o propósito de atuar nas duas pontas: alavancar as empresas que precisam  de capital para o desenvolvimento dos seus produtos ou serviços e, ao mesmo tempo, tornar esse tipo de investimento bem mais acessível para a massa da população”

Isso porque a plataforma funciona no modelo crowdfunding, permitindo aportes de a partir de 1 mil reais. “Isso facilita para quem ganha salário e põe uma parte em renda fixa, outra em fundo imobiliário, outra em ações e gostaria de ter 1% de seu patrimônio em startups, mas não tinha acesso a isso”, diz o empreendedor.

Para as startups, as vantagens incluem a obtenção mais rápida dos recursos (em comparação aos processos tradicionais de captação) e uma taxa de sucesso que já alcança 97%, além da garantia de relacionamento com investidores e demais empresas do portfólio da Captable pelos cinco anos seguintes.

Regulamentada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Captable tem hoje 7 mil investidores ativos e já captou 89 milhões de reais para 54 startups em 58 rodadas. 

O MERCADO DE FINTECHS NA INGLATERRA DE 2014 FOI INSPIRAÇÃO PARA EMPREENDER

Uma das primeiras lembranças da infância de Guilherme é sentar com a família à mesa de um restaurante em Porto Alegre e ouvir o pai, que é engenheiro de formação mas sempre atuou como executivo de grandes empresas, brincar de dissecar o modelo de negócio do estabelecimento com base no cardápio e no número de garçons. 

O empreendedor relembra:

“Com 12 ou 13 anos eu já lia os relatórios de administração que ele escrevia para mandar aos acionistas. Sempre me interessei muito pelo dia a dia do meu pai, que também tinha a tarefa paralela de gerir o patrimônio da família”

Guilherme também seguiu os passos do pai no momento de escolher a faculdade. Optou por cursar Engenharia de Produção na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). E até experimentou o trabalho no chão de fábrica, mas foi mais seduzido pelas áreas numéricas, logísticas e analíticas. “Adorava sujar a mão de graxa, mas vi que não era pra mim”, confessa.

Ao fazer um intercâmbio na Inglaterra em 2014, se deparou com uma realidade tecnológica que ainda não havia aterrissado no Brasil. 

“Havia um ecossistema muito pujante de fintechs. Combinava tudo o que eu gostava: mercado financeiro, tecnologia e empreendedorismo”

Mesmo sendo um jovem ambicioso, Guilherme sabia que ser dono de um banco tradicional era difícil. Mas ser dono de uma fintech não parecia impossível. Ainda no Reino Unido, deu início às pesquisas de mercado, para que pudesse alcançar seu objetivo quando retornasse ao Brasil no ano seguinte. 

A PRIMEIRA EXPERIÊNCIA FALHOU POR FALTA DE MODELO DE NEGÓCIOS VIÁVEL

A jornada até a fundação da Captable, entretanto, não foi uma curva ascendente. Primeiro, Guilherme ajudou Paulo a colocar de pé uma plataforma de investimento imobiliário online. Mas ambos não chegaram a um acordo sobre a coparticipação societária — e Guilherme sentia falta de uma empresa para chamar de sua.

Foi quando ele aplicou seu primeiro business plan e criou a Deal Negócios Digitais, uma plataforma de tecnologia aplicada ao setor financeiro, com automação de coleta e análise de dados. Não deu certo. “Eu tinha uma solução, mas não consegui encontrar um modelo de negócio viável”, reconhece.

Apesar do prejuízo de 10 mil reais, neste caso Guilherme entende que, ao errar, acabou acertando. 

“Ao tocar o negócio da Deal, os potenciais clientes não eram padarias, academias, pequenos negócios tradicionais, mas startups em busca de ‘advisors’ para captação de recursos. Foi o ‘momento Eureka’…”

Em uma espécie de telepatia, Paulo acabou deixando de lado seu negócio anterior e apresentou a Guilherme a ideia de criar algo que ajudasse startups a captarem recursos — justamente a área que Guilherme estava estudando. 

PRESSA PARA JOGAR STARTUP NO MUNDO FOI DECISÃO ARRISCADA

A virada veio quando a StartSe, empresa que conecta 80 mil executivos de startups, topou fazer parte da empreitada. 

Na época, o CEO da Startse, Pedro Englert, hoje advisor da Captable, aconselhou que os empreendedores fizessem uma espécie de projeto-piloto: pegarem uma startup pela mão, prestar assessoria, ajudá-la a captar os recursos e, ao longo do caminho, aproveitar para estudar o mercado, aprender sobre os processos e diagnosticar possíveis pontos de sofisticação.

Guilherme e Paulo foram teimosos. Preferiram abrir a licença na CVM e jogar logo a Captable para o mundo. Apesar de o negócio ter dado certo no fim, Guilherme reconhece que eles correram riscos desnecessários. 

“A gente criou o produto que queria e empurrou ao mercado, em vez de entender a dor do mercado antes e criar um produto para satisfazê-la”

A primeira rodada de investimentos ocorreu em 2019 com quatro startups, das quais três conseguiram captar os recursos requeridos, que juntos somaram 2,45 milhões de reais. O processo exigiu mais “corpo a corpo” do que a proposta digital inicialmente previa, especialmente para apresentar a Captable aos investidores. 

Hoje, este é um problema superado. Os investimentos são 100% automatizados e feitos organicamente pelo site. São apenas quatro passos para concluir a reserva, que depois é efetivada com um PIX, TED ou DOC. Em dois dias úteis, o depósito é validado e o investidor recebe por e-mail um contrato para assinatura, também online.

A curadoria de startups, por sua vez, exige mais da equipe da Captable. “É artesanal”, define Guilherme. 

“A gente entendeu que o nosso investidor não via tanto valor apenas na conexão com a startup. Achar startup qualquer um acha, o amigo do seu filho pode ter uma. O que ele queria era a validação de algum profissional que soubesse selecionar as melhores.”

O PLANO AGORA É SE CONSOLIDAR COMO UM HUB DO MERCADO DE INVESTIMENTOS EM STARTUPS

Desde o surgimento, a Captable foi além do crowdfunding e diversificou a oferta de produtos, levando em consideração o comportamento cada vez mais digital dos consumidores – principalmente a partir da pandemia, que obrigou a sociedade a abrir ainda mais os olhos para as novas tecnologias.

O surgimento da Covid-19 também reduziu a taxa básica de juros às mínimas históricas, tornou as aplicações em renda fixa menos atrativas e levou os investidores a buscarem outras alternativas, cenário que acabou favorecendo a consolidação da Captable. 

A empresa oferece hoje, por exemplo, um serviço de consultoria para grandes corporações investirem em startups, mediante cobrança de mensalidade e taxa de sucesso sobre o volume aportado. A Captable também ajuda associações e entidades de classe a estruturar e operar seus próprios grupos de investimento-anjo em startups.

Há três meses, com uma atualização nas normas da CVM que regulam o setor, a Captable lançou, de forma pioneira, um ambiente digital em que os investidores podem não só comprar suas participações em startups, mas também vendê-las. “É a parte mais divertida, porque é como se fosse uma bolsa de valores”, comemora Guilherme.

Embora a taxa de cobrança no crowdfunding seja mais alta (de 7% a 12%, a depender do porte da rodada e dos valores captados), a expectativa é de que a operação no chamado mercado subsequente alavanque de vez as receitas da Captable, que cobra 2% de cada parte. 

“O plano para o futuro da Captable é a consolidação definitiva como um hub do mercado, onde são feitos investimentos primários, transações secundárias, unindo startups, investidores, pessoas físicas, anjos, aceleradoras e todos os demais players”

Se a Captable cumpriu o objetivo de fazer aquele jovem de 14 anos ganhar muito dinheiro no futuro? 

“A pessoa física ainda não ganhou, mas a empresa está crescendo”, brinca ele. “Acho que o Guilherme de 14 anos ficaria bastante satisfeito com o caminho trilhado até aqui”.

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: Captable
  • O que faz: Conecta investidores a startups com alto potencial
  • Sócio(s): Guilherme Enck, Paulo Deitos, Gustavo Piccinini e Leonardo Zamboni
  • Funcionários: 27
  • Sede: Porto Alegre
  • Início das atividades: 2019
  • Investimento inicial: R$ 200 mil
  • Faturamento: R$ 4.5 milhões (2021)
  • Contato: contato@captable.com.br
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