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A Brasil ao Cubo leva o canteiro de obras para dentro da fábrica, agiliza a construção civil e ergue hospitais em tempo recorde

Marília Marasciulo / 1 mar 2021
O empreendedor Ricardo Mateus, fundador da Brasil Ao Cubo.
Marília Marasciulo - 1 mar 2021
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Depois de fracassar em 12 obras e um projeto e levar quatro anos aprimorando conhecimentos e corrigindo erros, o engenheiro catarinense Ricardo Mateus, 33, provavelmente não imaginava que esse esforço todo acabaria ajudando a salvar vidas. 

Mas ajudar a salvar vidas foi o que sua empresa, a Brasil Ao Cubo, fez em 2020.

Graças ao sistema de construção industrializada desenvolvido por Ricardo, a construtech entregou, em apenas 115 dias, quatro hospitais em quatro cidades de quatro estados: Porto Alegre (RS), Ceilândia (DF), Porto Velho (RO) e São José dos Campos (SP) — além de um quinto projeto, uma ala anexa ao Hospital M’Boi Mirim, na Zona Sul da capital paulista.

“Não são hospitais de campanha. São hospitais de verdade, que vão ficar para sempre nessas cidades” 

Só o anexo paulistano, por exemplo, ganhou 100 novos leitos em seus 1 350 metros quadrados, erguidos em 33 dias — para efeito de comparação, uma casa com cerca de 400 metros quadrados leva entre 8 a 12 meses para ser construída usando métodos convencionais.

O segredo é justamente dispensar os métodos convencionais de construção e levar todos os processos para dentro de uma fábrica. “A gente trouxe para dentro da fábrica o que era feito no canteiro de obra”, diz Ricardo. 

Isso permite maior agilidade e padronização nos processos, além de menor desperdício de materiais, em um sistema que não requer uso de água e entrega o resultado final até seis vezes mais rápido do que obras comuns. 

ELE COMEÇOU NA CONSTRUÇÃO CIVIL AOS 13 ANOS, COMO SOLDADOR

Natural de Tubarão, pólo industrial de cerâmica no sul de Santa Catarina, Ricardo começou a trabalhar na construção civil aos 13 anos (sim, 13), como soldador e auxiliar de montagem para o pai, que tinha uma empresa de estruturas metálicas.

Hospital do M’Boi Mirim, em São Paulo: com 100 novos leitos, o anexo de 1 350 m² foi erguido em 33 dias.

A ideia para criar a metodologia da Brasil Ao Cubo surgiu em 2007, quando ele cursava Engenharia Civil na Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul).

Bolsista de iniciação científica, Ricardo estudava Light Steel Framing, um sistema construtivo que utiliza aço galvanizado como principal elemento estrutural. 

No Trabalho de Conclusão de Curso, em 2009, o então futuro empreendedor resolveu estudar o dimensionamento de residências em Light Steel Framing — já com a ideia de apresentar o projeto para a empresa do pai. 

“Eu percebi que a indústria da construção civil era a única indústria que não acontecia dentro de uma fábrica… E queria mudar esse cenário”

Desde aquele tempo, uma de suas inspirações é o empresário Ozires Silva, fundador da Embraer.  

“O Brasil tem o pai da aviação, Santos Dumont, mas não fabricava nenhum avião… Ele [Ozires] queria poder dizer para o mundo que o Brasil fabrica, sim, avião. Acho isso muito inspirador. E eu me questionava: por que a gente não pode fazer uma ‘fábrica de obras’ e entregar isso para a população brasileira?”

QUANDO SÓ CORAGEM E VISÃO NÃO BASTAM PARA EMPREENDER

De 2010 a 2012, Ricardo e o pai chegaram a tentar realizar 12 obras, que não deram certo. 

Foi aí que começaram os aprendizados de verdade. 

“Acho que o maior aprendizado foi que não dá para lançar um produto sem prototipar antes. Nós chegamos a apresentar em uma feira, sem saber se conseguiríamos desenvolver aquilo”

A falta de controle dos processos e ausência de fornecedores de materiais homologados também foi outro desafio. “Eu tinha visão e coragem para empreender, mas ainda não tinha competência”, diz.

Ricardo decidiu, então, ir em busca da competência. Em 2013, ingressou no curso de Engenharia de Produção na FUCAP, já com a ideia de prototipar o que viria a ser a Brasil Ao Cubo — começando pela abertura de um CNPJ. 

No meio do caminho, em 2015, o pai fechou a fábrica, entre outros motivos, devido ao declínio financeiro causado pelos projetos fracassados dos anos anteriores.

PARA BANCAR OS NOVOS TESTES, ELE VENDEU 25% DA SUA EMPRESA

Além de iniciar os testes de construção de duas casas, Ricardo passou a estudar mais sobre empreendedorismo, e chegou a participar do programa de aceleração Scale Up da Endeavor. 

Sua visão de negócios evoluiu com a experiência. Uma das sacadas foi entender a necessidade de aprimorar a força de trabalho.

“Passei a enxergar o mercado de uma forma diferente do que quando era só engenheiro. Hoje, eu entendo que para criar um produto embrionário, eu preciso desenvolver a mão de obra para tê-la”

Para bancar os custos dos testes, Ricardo vendeu 25% da empresa para um investidor. 

Com os 400 mil reais recebidos e dois funcionários, colocou mãos à obra e fez valer o conhecimento técnico de soldador e linha de montagem adquirido nos tempos em que trabalhou para o pai. 

Foram três anos até que as casas ficassem prontas (cada uma acabou vendida por 100 mil reais) — mas a técnica de construção foi validada. 

O SISTEMA MODULAR PERMITE QUE A OBRA SEJA FEITA OFFSITE

A lógica por trás do sistema — que hoje não usa mais Light Steel Framing, e sim estruturas pesadas — é quase como a dos brinquedos da Lego.

Usando o modelo construtivo em módulos, a Brasil Ao Cubo faz toda a obra offsite, dentro da fábrica em Tubarão, e então transporta cada módulo individualmente, para enfim serem acoplados no canteiro.

Para garantir a estratégia do negócio e ganhar escala, faltava buscar recorrência em clientes de grande porte, que valorizam a agilidade da entrega do produto final. 

Não demorou muito para que isso acontecesse. Em setembro de 2016, conquistaram o primeiro grande cliente, a Unisul (onde Ricardo se formou); no ano seguinte, entregaram 17 obras, em um crescimento de 300%.

“Nós fomos a construtech que mais avançou, entregamos muita obra. Qual a diferença da gente em relação aos outros? É que a gente fala que vai fazer — e realmente entrega”

Hoje presente em 13 estados, a Brasil Ao Cubo já entregou 150 obras e faturou 250 milhões de reais no ano passado. Entre os clientes estão empresas como a locadora de carros Movida e a Ambev. 

O PRÓXIMO DESAFIO É ENTREGAR O PRIMEIRO PRÉDIO 100% CONSTRUÍDO OFFSITE 

Em novembro passado, a Gerdau, maior produtora de aço brasileira e principal fornecedora da construtech, comprou um terço da Brasil Ao Cubo por 60 milhões de reais. 

“Fico muito feliz em ver onde estamos hoje, e sei que isso é também muito graças a nossa equipe. O empreendedor não cria uma empresa — ele cria um time e o time cria a empresa. Quando você tem um sonho grande, acaba trazendo todo mundo para dentro desse sonho”

O empreendedor aposta que a construtech ainda tem potencial para crescer mais. 

E esse crescimento é quase literal: o próximo desafio da Brasil Ao Cubo é entregar o primeiro prédio 100% construído offsite do Brasil, com oito andares. 

Se tudo der certo — e, considerando que o prédio já está na fase final de montagem, é provável que dê — toda a obra terá sido concluída em 100 dias.

 

DRAFT CARD

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  • Projeto: Brasil Ao Cubo
  • O que faz: Construção civil dentro de fábricas
  • Sócio(s): Ricardo Mateus (sócio fundador) e outros 12
  • Funcionários: 437
  • Sede: Tubarão (SC)
  • Início das atividades: 2013
  • Investimento inicial: R$ 400 mil
  • Faturamento: R$ 200 milhões (em vendas, previsão para 2021)
  • Contato: (48) 99127-7644
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