Olho atento na vitrine, o consumidor é monitorado por uma câmera com sensor que, por meio de reconhecimento facial e outros inputs de IoT, consegue estimar a idade do cliente, o gênero e suas reações de contentamento, neutralidade ou insatisfação – a chamada análise de clima. Dentro da loja, em uma gôndola, outro sensor mapeia a direção do olhar de quem se detém na frente dos produtos: qual andar de prateleira está observando, qual mercadoria, que parte da embalagem.
Captados frame a frame, os dados obtidos por esses recursos viram rapidamente estatísticas em um sistema robusto como o SAP S/4HANA, que ainda vai combinar o desempenho de vendas dos itens exibidos no dia para, por meio de machine learning e análise preditiva, apontar correções na exposição e melhorar a performance comercial.
Mesmo que sejam protótipos de soluções, os dois showcases apresentados respectivamente por Cognizant e Accenture no SAP Forum Brasil 2018 já são implementáveis e podem fornecer subsídios para outras aplicações, como a realização de ofertas, a personalização do atendimento e a promoção de campanhas de marketing. Realizado no Transamérica Expo Center, em São Paulo, em 11 e 12 de setembro, o megaevento anual de tecnologia da SAP chegou à sua 22ª edição com a presença de mais de 13 mil pessoas ao longo dos dois dias, encerrados com um animado show dos Titãs.
Sob o tema Intelligent Enterprise e a hashtag #SomosTodosInovação, o SAP Forum deste ano engajou mais de 70 patrocinadores nos estandes e nas mais de 380 sessões de conteúdo, quase todas apresentadas ou coapresentadas por parceiros e clientes da SAP. Distribuídas em plenárias pelo enorme pavilhão, as palestras entregavam às lotadas plateias exatamente o que elas esperavam: cases reais e atuais de aplicação das soluções SAP na gestão das empresas (mostrando como e por que as melhores empresas usam SAP e ajudam a tornar o mundo um lugar melhor).
“O conceito de Intelligent Enterprise está relacionado à suíte que combina cinco grupos de soluções SAP: o ERP S/4HANA, que é o centro dessa convergência de tecnologias e produtos; o Customer Experience, para a interação do usuário com lojas e e-commerce; a gestão da cadeia de suprimentos; o engajamento de pessoas, que ajuda no remanejamento dos colaboradores na organização; e a gestão de viagens, feita pelo SAP Concur”, explicou Christian Geronasso, especialista de transformação digital da SAP.
“O evento é focado nas histórias dos clientes”, disse Cristina Palmaka, presidente da SAP Brasil, ao ocupar o gigantesco palco principal para a abertura do Forum. “Esse é o objetivo da tecnologia: poder fazer coisas disruptivas, trazer novos modelos de negócios, redefinir o futuro através do que acontece no presente.”
Ao longo dos dois dias de apresentações, passaram pelo palco do congresso nomes como João Paulo Ferreira, presidente da Natura, Martin Wezowski, chefe de inovação da SAP global, e Claudio Muruzabal, presidente da SAP para a América Latina e o Caribe.
Muruzabal recebeu para um bate-papo o desenvolvedor curitibano Jacson Fressatto, cuja trajetória de vida o inspirou a criar o algoritmo Laura. Em 2010, o analista perdeu a filha nascida prematura para uma sepse (infecção generalizada) contraída na UTI neonatal. O nome da bebê que Fressatto não pôde carregar nos braços deu origem a um sistema SAP que, ao cruzar os protocolos internacionais sobre a doença com os históricos de milhares de pacientes, permite identificar mais rapidamente uma situação de risco e gerar eficientes alertas aos médicos e enfermeiras, ajudando a salvar, na média atual, uma vida por dia.
Outro convidado que roubou a atenção foi Martin Wezowski, o chief futurista da SAP. Barba e cabelos desalinhados à Richard Branson (o empresário figuraça da inglesa Virgin), Wezowski mostrou sua verve criativa ao tocar guitarra para a plateia e lançar uma malcriada interjeição no telão, em letras garrafais: “WTF?“. Como assim?? Irreverente, o palestrante desvendou o trocadilho: What’s The Future? (O que é o futuro?). “A ficção científica está se tornando fato científico”, disse, fazendo parecer que o futuro é agora. Ou que já passou. “Nunca na história humana o presente foi tão temporário.”
Uma das estrelas do evento, a dupla de amigos americanos conhecida como Os Minimalistas também se apresentou no palco principal. Nos idos de 2010, Joshua Fields Millburn e Ryan Nicodemus resolveram abdicar de um estilo de vida com salários de seis dígitos, consumo desenfreado e pouco tempo para os prazeres simples do dia a dia. Para divulgar essa transformação, criaram podcasts que fizeram a audiência de seu website crescer exponencialmente. Em 2015, viraram os protagonistas de um popular documentário da Netflix (Minimalism), tornando-se requisitados palestrantes dentro e fora dos Estados Unidos. De tecnologia, porém, pouco falaram no Forum: Joshua e Ryan estavam ali para lembrar a todos de viver a vida com significado. “Um minimalista pensa em um propósito para cada coisa que tem, um valor para cada coisa que possui”, discursou Joshua.
Na entrada do Forum, do lado de fora, uma roda-gigante de 20 metros com a logomarca da SAP intrigava os visitantes que chegavam ao evento. Dentro do Expo Center, uma maquete do brinquedo revelava tratar-se de um showcase sobre parques inteligentes.
“Colocado em uma das cabines da roda-gigante, um sensor coleta dados de vibração, intensidade e movimento e os envia para a plataforma. Se houver um comportamento anormal do equipamento, o aviso é rápido e impede que aconteça algum problema”, contou Cezar Manechini, especialista em soluções de tecnologia e integração da SAP Brasil. “A roda-gigante é um cenário lúdico para demonstrar como essa tecnologia pode ser implementada em equipamentos pesados, como em uma fábrica”, completou.
Vizinho ao estande do parque de diversões, um robô-miniatura atraía os visitantes. Serelepe, o pequenino Cozmo transitava incansável pelo diorama de um pátio de carregamento de carga. Erguendo os pallets com seus braços mecatrônicos, ele transportava os volumes guiado pela leitura à distância dos códigos impressos nas próprias caixas. “Ao combinar as soluções SAP Leonardo e SAP Extended Warehouse Management, todos os processos de execução são enviados para equipamentos de automação, que realizam as tarefas de separação dos artigos, armazenagem e, por fim, de carregamento dos veículos”, explicou Rubens Apostolo Junior, especialista de produto da SAP Brasil.
Se parece futurista, a performance de Cozmo é só o início de um sistema de gestão que continua na estrada. “Nesse painel, toda a nossa frota está localizada no mapa. Em caso de incidente, o próprio sistema vai calcular o atraso nas próximas entregas e sugerir três saídas para o problema”, continuou o especialista da SAP. “Nesse exemplo, o que me dará o menor atraso é carregar um novo caminhão, tarefa que o SAP CoPilot se encarrega de fazer ao gerar outro pedido e um embarque extra. Assim, eu tenho um sensor que me dá um aviso imediato e uma correção rápida. Quando o cliente percebe que está sendo pouco impactado por causa de uma ferramenta poderosa, cresce muito a confiabilidade.”
“É gratificante o quanto esse evento foi se tornando grande e inclusivo, trazendo a tecnologia para o dia a dia das pessoas”, constatou Mauricio Dutra, diretor financeiro da SAP Brasil. As palavras do executivo pareciam ecoar no dashboard do sistema SAP Sports One, onde se via um compacto menu sobre um gramado de futebol. No canto alto da tela, o escudo do Bayern de Munique indicava que a brincadeira era coisa de gente grande.
O Sports One foi feito para integrar áreas de clubes esportivos como a fisiologia, direção tática, gestão financeira e experiência do torcedor. Na parte técnica, a ficha de cada jogador elenca estatísticas como o tempo de sprint em diversas distâncias, todo o histórico de contusões e tratamentos, os batimentos cardíacos e outros dados de performance física obtidos por wearables (tecnologia vestível). Na divisão de finanças, um grande analytics indica números como o faturamento com patrocínios, transmissões de TV e bilheteria.
Na parte de experiência do usuário, as aglomerações em volta do estádio são vistas no sistema como heat maps, uma representação gráfica da concentração de pessoas alimentada pelos smartphones dos próprios torcedores. Essa medição pode ser usada pelo clube tanto para alertar seus fãs e sugerir rotas alternativas (ou criar novos acessos), quanto realizar ações promocionais com o maior público possível fora da arena. Na Alemanha, além do Bayern, a própria seleção se beneficia da plataforma desde a Copa de 2014 (a ferramenta estava em uso quando o time deles massacrou o nosso por 7 x 1…).
Embora muito do que se ouve no SAP Forum remeta às aplicações cotidianas dos ERPs na integração de processos das empresas, desde o controle de estoque ao compliance fiscal, passando por relatórios de gastos e gestão de RH, os exemplos mais lúdicos de soluções envolvendo IoT e machine learning ajudam até o visitante leigo a ver materializadas as inovações tecnológicas da SAP.
“Se eu fizer um curso de chef de cozinha e deixar de ir ao mercado, que é o básico, minha mulher vai brigar comigo. Mas se eu não fizer o curso de chef não vou trazer o diferencial para manter meu casamento”, explicou de forma bem humorada Christian Geronasso, da SAP. “Nós trazemos a inovação do cozinheiro, que é a plataforma SAP Leonardo, sem abrir mão daquilo que fazemos de melhor, o funcionamento perfeito da despensa com a suíte inteligente baseada no SAP HANA.”