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“Éramos ‘estagiárias’ na nossa própria empresa. Fazíamos e aprendíamos tudo ao mesmo tempo”

Marina Audi / 30 jul 2018
Tatiana Pascowitch, da floricultura A Bela do Dia: arranjos não-convencionais entregues de bicicleta
Marina Audi - 30 jul 2018
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Todos os dias, Tatiana Pascowitch, 43 anos, chega feliz para trabalhar. Em entrevista para o Sebraecast, ela não sabe dizer o pior momento vivido na empresa que ajudou a fundar em 2013. O maior orgulho, porém, está na ponta da língua: ter, na equipe, pessoas que amam o que fazem e são felizes.

Há cinco anos, Tatiana deixou de ser uma estressada administradora de empresas com pós-graduação em Marketing para se tornar uma florista realizada. Ela e Marina Gurgel Prado são as sócias d’A Bela do Dia, empresa de arranjos de flores não-convencionais vendidos de forma avulsa ou por meio de assinatura (neste caso, o cliente recebe as flores em casa, toda semana, entregues de bicicleta).

A inspiração para o surgimento da empresa brotou totalmente por acaso, no dia em que um senhor chegou à casa de Tati com uma Kombi cheia de plantas e ofereceu-se para arrumar o jardim. A iniciativa deixou a então futura empreendedora feliz, mas a semente do negócio só germinou de verdade quando ela e Marina se conheceram no Réveillon de 2012, sintonizaram-se na vontade mútua de mudar de profissão – e, juntas, decidiram arriscar.

Duas coisas estavam claras: elas queriam valorizar as flores no dia-a-dia e oferecer arranjos financeiramente acessíveis. O estalo de criar arranjos P, M, G e só usar flores da estação (com o que encontram diariamente de melhor no Ceasa) possibilitou a precificação e o sucesso do modelo.

Acostumada a madrugar para escolher flores, Tati chegou bem cedo ao estúdio para a gravação do Sebraecast. Ainda no camarim, esperando o momento da entrevista com Adriano Silva, publisher do Draft e apresentador da websérie, ela comentou sobre os preparativos para o Dia das Mães, que estava se aproximando.

A data é extremamente movimentada e lucrativa para as floriculturas. Tati, porém, explica que A Bela do Dia mantém os preços dos arranjos nessa ocasião: tudo em nome da coerência com sua proposta de oferecer flores de forma acessível, todos os dias.

A postura é reforçada durante a entrevista, por meio de uma declaração singela: “Você não pode montar um negócio pensando em dinheiro. Isso não existe. Pelo menos não um negócio com propósito.”

Propósito à parte, Tati conta que ainda não conseguiu equiparar a retirada financeira de sócia ao salário do emprego corporativo que tinha antes. E “tudo bem”, diz ela.

“Coloco na conta do que eu ganho o prazer de levar minha filha à escola, de almoçar em casa. Eu acho que tenho uma retirada bacana para uma florista. No mundo corporativo você larga a caneta. Eu largo a tesoura às 17h e vou embora. Isso sim é luxo.”

Foi justamente com a maternidade que ela decidiu se tornar empresária. Para estar mais perto da filha, hoje com 7 anos, trocou a zona de conforto por uma zona de insegurança, aventurando-se em um mercado que não conhecia.

Após um curso de arranjo floral em Holambra (cidade paulista de colonização holandesa, conhecida como a “capital das flores”), ela e a sócia compraram duas bicicletas-cargueiro e saíram pedalando para tentar vender as flores – sem experiência alguma, mas com coragem de sobra.

Sabe a história de não saber que era impossível, ir lá e fazer? É um pouco isso! Eu e a Marina éramos ‘estagiárias’ na nossa própria empresa. Fazíamos tudo e aprendíamos tudo ao mesmo tempo”.

Ela relembra um momento no começo da empresa. Marina, a sócia, pedalava por uma rua movimentada de Pinheiros (não havia ciclovias), com a bicicleta lotada de entregas, quando parou no semáforo. De repente, surgiu uma fiscal de trânsito. Sem nem saber por que motivo, Marina temia levar uma bronca ou multa… Em vez disso, ouviu: “Nossa, são dálias? Eu amo dálias. É minha flor preferida”. O farol ficou verde e as entregas foram todas realizadas.

Além do site, A Bela do Dia tem uma loja física na Vila Madalena. A empresa começou pequena, cresceu organicamente e hoje, além das sócias, conta com oito colaboradores: duas pessoas responsáveis pelos arranjos, outra que cuida da parte administrativa, um consultor financeiro e quatro ciclistas. Tati e Marina precisaram escolher o que delegar à equipe e hoje pegam as bicicletas com bem menos frequência.

“Achamos que as três coisas mais legais n’A Bela do Dia são: comprar flores, montar arranjos e entregar de bicicleta. A gente então se concentrou na montagem de arranjos de flores.”

Exercitar o desapego é uma questão. No começo, o dono faz tudo; dali a pouco, para crescer e fazer melhor, tem quede delegar algumas funções a outras pessoas. Tati diz que foi difícil ensinar à equipe a técnica de montagem dos arranjos do jeito que ela e a sócia fazem. Por outro lado, reconhece que as atuais compradoras da matéria prima são mais serenas e eficientes do que ela própria.

“Eu tenho a ansiedade da dona do negócio. Sei que tenho de vender para pagar as contas… E se eu não tenho [dinheiro] para pagar hoje, tenho de puxar do cartão de crédito. Elas são muito mais calmas do que eu. Então, compram melhor.”

Para quem namora a ideia de ter seu próprio negócio criativo, Tati dá algumas dicas preciosas:

Comece no fundo do seu quintal. Vá aos poucos. Acho que esse é o grande segredo de um negócio, porque as coisas podem mudar muito no meio do caminho.”

***

Sebraecast apresenta uma série de entrevistas com empreendedores sobre startups, negócios criativos, negócios sociais, inovação corporativa e lifehacking. Confira a websérie em youtube.com/sebrae e o podcast em soundcloud.com/sebrae!

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