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Humildade funciona. Na WallJobs, o fundador abriu mão de ser CEO para ganhar maturidade – e mercado

Italo Rufino / 7 jun 2018Henrique Calandra, fundador da WallJobs, ao lado do CEO Alexandre Sande e do terceiro sócio, o CFO William Kina.
Henrique Calandra, fundador da WallJobs, ao lado do CEO Alexandre Sande e do terceiro sócio, o CFO William Kina.
Italo Rufino - 7 jun 2018
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No último 13 de abril, 50 estudantes se reuniram no InovaBra Habitat, espaço de co-inovação mantido pelo Bradesco na capital paulista, para participar do 1º Encontro Clube do Estágio. O objetivo do evento era proporcionar aos jovens conteúdo sobre carreira e empreendedorismo, contato com executivos e consultores e troca de experiências ente os próprios estudantes. O encontro foi uma iniciativa da WallJobs, startup de recrutamento, seleção e gerenciamento de estagiários. O pequeno negócio, que conecta estudantes e empresas, foi tema de reportagem no Draft em junho de 2016.

A história da WallJobs saiu no Draft pela primeira vez em 2016. Clique na imagem para ler.

A história da WallJobs saiu no Draft pela primeira vez em 2016. Clique na imagem para ler.

Na época, a WallJobs ainda era um grande mural de empregos, que disponibilizava vagas para universitários. Quase dois anos depois, o foco da startup continua ser um aliado dos graduandos. No entanto, assim como um estudante que passa pelo TCC e precisa encarar novos obstáculos no mercado, a WallJobs também passou por desafios – e amadureceu.

“O modelo de negócio está mais complexo”, conta Henrique Calandra, de 28 anos, fundador da WallJobs. “A plataforma de anúncios de vagas foi aprimorada para deixar o trabalho do gestor de recursos humanos das empresas mais fácil.”

As funcionalidades iniciais da WallJobs continuam as mesmas. É possível buscar candidatos utilizando filtros (como faculdade, curso e proficiência em idiomas). Também dá para ter acesso as notas de avaliações de testes realizados em processos seletivos anteriores, que mensuram competências, como liderança, comunicação e raciocínio analítico. Depois, o próprio sistema ranqueia os estudantes mais adequados para preencher a vaga. Aí, basta a empresa fazer testes e entrevistas — que podem ser feitos dentro da própria plataforma —, e escolher o melhor candidato.

Era assim, simples e efetivo. Mas o trabalho da WallJobs não acaba aí. A grande inovação, segundo o fundador, é que nos últimos anos a startup pivotou e passou também a atuar como gerenciadora de contratos virtuais. Sua nova plataforma dá mais agilidade aos trâmites burocráticos, como criação de documentos e assinatura digital.

Além disso, a WalJobs é quase que uma “cuidadora” do estagiário dentro da empresa, disponibilizando aos gestores de RH ferramentas para avaliar os jovens ao longo do contrato. Caso o desempenho do estudante comece a cair, a WallJobs entra em contato com o jovem e gestor para entender os motivos e ajudar no problema. Também leva puxão de orelha os gestores que não realizam feedbacks contínuos (queixa comum dos estudantes).

Do ponto de vista do candidato, houve inovações incrementais, como a integração de uma ferramenta de geolocalização que, com base no endereço do estudante, da empresa e da faculdade, fornece as melhores opções de transporte e o tempo médio do trajeto. Desgastes com transporte costumam ser causa de desistência nos primeiros meses do estágio.

Com o novo modelo, a WallJobs conquistou grandes clientes, como Itaú, Tecnisa, Ban & Company, 99 e Loggi, que pagam uma taxa mensal de 90 reais por estagiário contratado.

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À lista de novas contas se somam as cerca de 2 000 empresas que startup já atendeu. Em três anos, são mais de 2 milhões de usuários, graças à parceria em 600 universidades, e a intermediação de mil estágios. Atualmente, são realizados 100 novos contratos por mês, que devem render faturamento de 2 milhões de reais este ano.

A WallJobs começou como um painel de estágios na faculdade. Hoje, é uma plataforma com múltiplas funções para facilitar a contratação e acompanhamento de estagiários nas empresas.

A WallJobs começou como um painel de estágios na faculdade. Hoje, é uma plataforma com múltiplas funções para facilitar a contratação e acompanhamento de estagiários nas empresas.

De 2016 para hoje, o time da WallJobs também cresceu: de nove para 20 pessoas — e dois novos sócios engrossaram o quadro. William Kina, 32, entrou como CTO, responsável pelo desenvolvimento técnico, e Alexandre Sande, 52, assumiu a função de CEO. Aqui, vale destacar que não é comum o movimento de Henrique, pois em geral os fundadores têm apego ao que criaram e muitas vezes confundem isso com a obrigação de serem CEOs de suas startups. Não foi o caso.

Profissional com mais 30 anos de experiência, Alexandre trabalhou 16 anos em bancos, como Garantia, Unibanco e BMC. Posteriormente, atuou na Bombril, na Tivit e foi diretor comercial do Grupo DMRH, consultoria de recursos humanos. Ele chegou à WallJobs no final de 2016, indicado por um investidor que ajudou Henrique durante a fundação da startup, e a ideia era que ficasse apenas uma semana na empresa, sendo os “olhos” do anjo. No entanto, devido à afinidade com os jovens, e sentindo potencial no negócio, acabou adquirindo parte da empresa. Assim, Henrique ganhou um sócio e mentor. O fundador resume:

“Tive que deixar o ego de lado, deixar de ser CEO e pensar no bem da empresa. Precisávamos de uma equipe complementar, que alinhasse tecnologia, espírito jovem e experiência”

Com trânsito entre executivos de RH, Alexandre tem sido um catequizador, mesmo navegando em um mar desbravado. Entre os principais concorrentes da WallJobs estão o Nube e o CIEE, focados em estágios. Há também o Vagas.com, que atende todos os níveis hierárquicos.

De acordo com o CEO, o desafio é mostrar como o serviço de uma pequena empresa emergente pode agregar valor ao cliente e convencê-lo a trocar de fornecedor. “Hoje, falo diretamente com diretores de empresas para realizar essa transição”, afirma Alexandre. “Minha imagem acaba trazendo credibilidade num negócio formado por jovens cheios de entusiasmo”.

HOJE HÁ GRANA, MAS OS SÓCIOS JÁ FICARAM UM ANO INTEIRO SEM SALÁRIO

Em janeiro deste ano, a WallJobs recebeu um aporte de um grupo de investidores formados por executivos de grandes empresas e fundadores de startups de sucesso. O valor não foi relevado, mas  os recursos têm sido utilizados com pessoas, marketing e desenvolvimento tecnológico. Em março, a plataforma passou a contar com uma ferramenta de eSocial, programa do governo que unifica informações referentes à escrituração das obrigações fiscais, previdenciárias e trabalhistas das empresas.

Até o começo de 2019, a WallJobs pretende integrar serviços baseados em inteligência artificial. A ideia é combinar candidatos e vagas de acordo com o desempenho dos estagiários que foram contratados anteriormente pela empresa. “Vamos entender os motivos que fazem com que um estagiário se dê bem na empresa e poderemos indicar candidatos com características similares para vagas específicas”, conta Henrique.

A empresa também pretende internacionalizar os negócios em 2019. Já há conversas com empresas do Chile, Argentina, Colômbia e México. “Mas o foco será chegar nos Estados Unidos e Europa”, diz Alexandre.

O momento atual, de grana extra vinda dos investidores, destoa da fase de vacas magras que a empresa passou em 2016. Na época, a crise do emprego fez com que muitas empresas demitissem e postergassem novas contratações – sem contar aquelas que fecharam as portas.

A WallJobs também teve dificuldades para encontrar investidores early stage. Vale lembrar que em 2016, a taxa de crescimento de investimento-anjo recuou cinco pontos percentuais, de 14% para 9%, e o número de investidores caiu 3%, de acordo com pesquisa da Anjos do Brasil. A situação vez com que os três sócios da WallJobs ficassem um ano sem salário.

Para continuar marcando presença dentro das empresas, a WallJobs expandiu sua produção de conteúdo. Além do Blog do Estagiário, que aborda temas sobre carreira e é mantido desde o primeiro ano, a startup criou o Blog do RH, com conteúdo exclusivo voltado para profissionais do setor. O canal publica entrevistas com executivos e fornece orientações sobre produtividade, técnicas de avaliação de funcionários, legislação, entre outros.

De olho no espírito dos tempos contemporâneos, a WallJobs tem feito alterações em sua plataforma em prol da diversidade: é possível destacar sexo, gênero, etnia, cor, religião e orientação sexual e utilizar nome social. Em junho, a empresa lançará uma cartilha educativa, que inclui um glossário, para ser distribuída nas empresas. Também haverá treinamentos para estagiários e profissionais de RH. Recentemente, a WallJobs intermediou a contratação de um estagiário transgênero numa empresa de logística. Alexandre explicar o conceito:

“Muitas empresas falam de diversidade, mas contratam sempre pessoas das mesmas faculdades, cor e cultura. Se todos vêm do mesmo lugar, a chance de pensarem iguais é maior e os resultados serão sempre os mesmos. E isso inibe a inovação”

Se 2017 foi o ano de corrigir o modelo de negócio e este 2018 tem sido o período de estabilização, ano que vem o fundador e CEO esperam iniciar uma fase de crescimento exponencial. O objetivo? Impactar em 10 anos 1 milhão de jovens e alçar os profissionais a cargos de liderança. Resiliência e vontade eles já mostraram que têm. Agora, é correr atrás da nota 10.

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