Se um dia você estiver em dúvida sobre o que fazer num final de semana, o manaura Gabriel Benarrós, 26, pode te ajudar a encontrar o passeio que melhor combina com o seu estilo. Ele conhece os principais eventos que estão rolando de norte a sul do país – do mainstream ao undergroud, do brega ao cult. Pode ser uma balada sertaneja com Michel Teló na casa de show Woods, uma exposição do artista surrealista Salvador Dalí no museu Tomie Ohtake ou uma peça infantil da chapeuzinho vermelho num teatro de Manaus.
Se a memória de Gabriel falhar, não tem problema. O jovem indica o site que ele mesmo desenvolveu: a Ingresse, plataforma online de compartilhamento de eventos e vendas de ingressos que reúne centenas de atrações em todas as regiões do país.
“Vender uma experiência é mais nobre do que vender um produto. A Ingresse oferece para os clientes passeios para serem aproveitados junto com as pessoas queridas”
O funcionamento da plataforma é bem simples. Qualquer pessoa pode fazer um cadastro no site e criar gratuitamente um evento. O organizador é responsável por definir a data, o local e o preço dos ingressos. Também é possível descrever a atração e usar fotos para ilustrar. O processo é semelhante à criação de eventos no Facebook, e o organizador pode optar por integrar a plataforma da Ingresse em seu próprio site e página de redes sociais. Dessa forma, as vendas não precisam necessariamente acontecer por meio do site da Ingresse.
Do outro lado, os usuários que acessam a Ingresse visualizam uma relação de eventos programados em sua cidade ou região. Após escolher a atração, a compra do ingresso é feita por boleto bancário ou cartão de crédito. O usuário paga uma taxa de conveniência de 10% em média – o valor pode variar de acordo com o preço do ingresso (os mais caros têm taxas menores). Após a confirmação da compra, um bilhete digital é enviado por e-mail, via SMS ou através do aplicativo mobile da Ingresse disponível para Android e iOS.
A plataforma também oferece interação entre os compradores via redes sociais, como mostrar quais amigos do Facebook vão ao mesmo evento. Em atrações com assentos numerados, é possível visualizar previamente o perfil da pessoa que vai sentar em cada cadeira.
No dia do evento, o organizador valida os bilhetes usando um smartphone ou tablet com um aplicativo da Ingresse que lê os QRCodes dos ingressos – que podem estar impressos ou na tela do celular. O organizador também consegue acompanhar em tempo real os dados do público, tais como gênero, idade, local de residência e hora de entrada no evento. Em até dois dias úteis após a realização do evento, o valor dos ingressos é repassado aos organizadores. “A tecnologia pode ser usada em eventos de 50 ou 50 000 pessoas”, diz Gabriel.
Este ano, a Ingresse deverá vender 400 000 ingressos. O valor total de bilhetes vendidos será de cerca de 45 milhões de reais – seis vezes mais do que em 2013. As receitas da empresa são provenientes da taxa de conveniência pega pelos clientes.
A startup está inserida em um mercado promissor. De acordo uma pesquisa da consultoria inglesa PwC, o mercado de shows no Brasil movimentou 357 milhões de reais em 2013 – e poderá chegar a 496 milhões em 2018. Gabriel acredita que o mercado nacional está em uma fase de transição. Eventos grandes com apenas um artista muito conhecido, como as apresentações de Paul McCartney, passaram a dividir cada vez mais espaço com eventos intimistas, de menor porte, que são patrocinados por grandes empresas, como Gabriel conta:
“O público está se interessando mais em festivais ao ar livre, com arte e performances. Esses eventos costumam ter um público fiel, com tíquete médio mais alto que eventos populares, e isso despertou interesse nos patrocinadores”
Um exemplo desse tipo de evento é o Meca Festival, que terá a sua 5ª edição em janeiro, em São Paulo e no Rio de Janeiro. Cada dia do festival deve receber cerca de 6 000 pessoas, que assistirão shows da banda inglesa La Roux e outras atrações internacionais. O evento é patrocinado pela marca de cerveja Skol e pela Youcom, rede de lojas de moda jovem do Grupo Renner.
A IDEIA DA EMPRESA NASCEU EM STANFORD
O plano de negócios da Ingresse também nasceu de um pequeno evento. Em 2011, Gabriel era estudante da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. Ele era responsável por organizar os eventos de seu alojamento. Um dia, os amigos de quarto resolveram fazer uma festa para alegrar um companheiro que andava meio triste e solitário, pois sua namorada tinha viajado. No entanto, nas vésperas da festa, um grande grupo de estudantes de um alojamento vizinho decidiu não ir ao evento, o que causaria um prejuízo de 5 000 dólares para os organizadores. “Decidi vender os ingressos que sobraram pela internet. Conseguimos vender tudo em poucas horas”, conta ele.
Ao perceber que a iniciativa tinha dado certo, Gabriel aproveitou para usar o projeto numa aula da disciplina de formação de empresas de tecnologia. A prova final foi apresentar a ideia da startup para um grupo de investidores. “Muitos se interessaram pela ideia e aceitei uma oferta de investimento de 2,5 milhões de reais de um fundo de capital de risco brasileiro”, diz Gabriel. “Um dos meus professores também se tornou investidor-anjo e me motivou a sair da universidade”.
Ainda morando nos Estados Unidos, Gabriel procurava eventos no Brasil para cadastrar na plataforma, enquanto terminava as provas no curso de graduação em economia comportamental. O empreendedor também convidou o colega programador Marcelo Henrique “Bissuh”, 23, para ser seu sócio técnico. “Ele é o arquiteto de toda a tecnologia da Ingresse”, diz. “Também é um cara mais equilibrado que sempre pensa nos riscos que a empresa pode ter no futuro e acaba controlando a minha ansiedade.”
Na mesma época, o Ingresse foi selecionada para participar da 500 Startups, aceleradora de negócios baseada no Vale do Silício. Lá, Gabriel recebeu mentoria de profissionais de empresas como Google, Facebook e Mozilla. A aceleração também rendeu um investimento na empresa de 180 000 reais.
De volta ao Brasil, os sócios passaram um ano vendendo ingressos para eventos locais nos estados do Norte do país, entre eles shows dos rappers Pitbull e Flo Rida e festas tradicionais do Amazonas.
Em janeiro de 2013, a Ingresse se mudaria para a capital paulista. “Iniciamos uma fase de expansão robusta para captar clientes e produtores de eventos no eixo Rio-São Paulo”. Em abril deste ano, a empresa ganharia mais um empurrãozinho para crescer. Numa segunda rodada de investimento, a Ingresse recebeu um aporte de cerca de 8 milhões de reais do e.Bricks Early Stage (fundo de capital de risco do Grupo RBS) e da fabricante de chips para celulares Qualcomm.
APROVEITANDO A FASE DE INVESTIMENTOS E MENTORIA
Os recursos foram usados em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos e na contratação de novos funcionários, que hoje somam 35 colaboradores. “Os investidores também costumam indicar profissionais experientes para trabalhar junto com a Ingresse”, diz Gabriel. Um deles é Camilo Barros, que atuou na Dream Factory, empresa responsável pela produção do Rock in Rio, e que atualmente participa da equipe de mentores da Ingresse.
Com a empresa crescendo com ajuda de outros profissionais, Gabriel está tentando desacelerar a sua rotina. Ele tem procurado dormir mais e fazer atividades físicas.
“Nos primeiros anos da empresa eu era muito estressado, ficava doente com facilidade e, por algumas vezes, cheguei a ser ríspido com pessoas próximas”
Para manter a tranquilidade, ele escuta bandas de indie rock como Modest Mouse e Arcade Fire. E a agitação diminuiu até nos dias de balada. “Agora estou preferindo mais barzinho”. Mas as festas da Ingresse continuam a todo vapor.
Recém-fundada, a Bepass encarou o desafio de instalar a biometria facial no Allianz Parque. Além de agilizar o acesso e combater os cambistas, a solução permitiu identificar o suspeito pela morte da torcedora Gabriela Anelli.
A vida pessoal respinga na profissional e vice-versa. A Theia criou uma solução oferecida por empresas como benefício corporativo: uma plataforma de vídeo atendimento com profissionais essenciais durante a gestação e os primeiros dois anos do bebê.
O carioca Guilherme Cerqueira trocou o Brasil pelos Estados Unidos para empreender desenvolvendo um novo método de pesquisa de mercado. Com uso de inteligência artificial, sua startup gera formulários dinâmicos para tentar descobrir os fatores que impactam as decisões dos clientes.