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Mais do que uma bijuteria, este pingente é um botão de emergência criado para salvar mulheres de situações de perigo

Luiza Vieira / 16 jan 2023
Juliana Ladeira, cofundadora da Têssa.
Luiza Vieira - 16 jan 2023
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À primeira vista, parece um pingente ou um simples chaveiro. Na verdade, o acessório de 4 centímetros, formato ovalado e design charmoso, com linhas onduladas, funciona como um botão de emergência. 

O BIJU — esse é o nome do dispositivo — foi desenvolvido por duas amigas, as mineiras Juliana Ladeira, 37, e Carolina Campos, 37, sócias da Têssa. O objetivo? Proporcionar segurança ao público feminino combinando estilo e discrição.

Por morar sozinha e viajar com frequência, Juliana percebeu que a insegurança é uma questão para muitas mulheres como ela.

“Notei uma demanda reprimida de mulheres que, assim como eu, levam uma vida que exige uma certa independência e autonomia, mas às vezes sentem receio de fazer algo pelo simples fato de serem mulheres

Para o BIJU funcionar, a usuária deve estar a uma distância máxima de 15 metros do seu celular (com a localização do telefone ativada); o passo seguinte é conectar o dispositivo, via bluetooth, ao aplicativo da Têssa.

Daí, basta pressionar o botão por 3 segundos e um alerta com a localização será enviado para até cinco contatos registrados pela usuária na plataforma.

Não é necessário ter acesso à internet: mesmo sem sinal de dados, os avisos são enviados via SMS.

SÓCIAS E AMIGAS, ELAS MIGRARAM DE ÁREA E HOJE SE DIVIDEM ENTRE O EMPREGO E O EMPREENDEDORISMO 

Amigas há duas décadas, Juliana e Carolina estudaram na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) — a primeira, biologia; a segunda, arquitetura e urbanismo

Anos depois, ambas trabalharam juntas na Quero Educação, edtech baseada em São José dos Campos (SP). Quando teve a ideia para montar o negócio, Juliana logo lembrou da amiga:

“Eu sou criativa, tenho experiência com tecnologia e inovação, mas precisava de alguém que cuidasse da operação e me ajudasse nos processos, que são tão importantes quanto. Por isso pensei na Carol. Além disso, confio muito nela”

Ao longo de suas carreiras, as duas se afastaram de suas áreas de formação e tiveram experiências que, segundo a fundadora, auxiliaram na construção da startup, bem como no desenvolvimento da solução. 

Apesar de bióloga, Juliana atuou no comercial e em tecnologia, com passagens por MRV Engenharia e RD Station. Hoje, paralelamente à Tessa, ela desempenha o papel de gerente de produto no iFood. 

Como PM [gerente de produto], sei trabalhar rápido, com o mínimo, para ver se está dando certo. Tem toda essa questão do Método Ágil: você testar rápido, errar rápido, montar uma estratégia, se planejar, saber aonde quer chegar e o que é preciso fazer para atingir esse objetivo. E levei isso pra Tessa

Carolina, por sua vez, trocou a arquitetura pelo marketing em 2015. De lá para cá, ocupou o cargo de head de mídias sociais na Quero Educação e hoje se divide entre a Têssa e a função de gerente de marketing no Sistema de Ensino Poliedro.

Na Têssa, Juliana é encarregada pelas áreas de vendas, parcerias e divulgação; Carol cuida do estoque e faz o acompanhamento e planejamento financeiro.

DEPOIS DE APRIMORAR O HARDWARE, ELAS CONTRATARAM UMA DESIGNER PARA DEFINIR O VISUAL

Quando questionada sobre o maior desafio enfrentado desde a fundação da startup, em outubro de 2020, Juliana é assertiva: “O mesmo que qualquer negócio passa: fazer tudo acontecer, com tempo e dinheiro mínimos”. 

Por isso, as empreendedoras preferem agir com cautela. Foram seis meses até chegar à versão final da bijuteria, lançada em julho de 2022.

A primeira versão era “feia”, não passava de um protótipo; na época, não importava a aparência do aparelho — o crucial era testar se o hardware estava funcionando:

“Naquele momento, não estávamos preocupadas com a forma, só com o botão. Ela era enorme, brincávamos que se a pessoa não conseguisse apertar o botão, ela poderia jogar a bijuteria no chão para acioná-lo”

Numa segunda etapa, aí sim o lado estético entrou no foco das empreendedores — até porque, como se trata de artefato de moda (além de segurança), definir a aparência era fundamental. Assim, a dupla contratou uma designer para ajudá-las a criar o conceito. 

Foram diversas idas e vindas a fim de encontrar um material que não interferisse na qualidade do sinal, que pudesse ser impresso em 3D e que fosse esteticamente agradável.

“O formato ovalado do BIJU, o nó na ponta, as linhas; todos esses detalhes não foram ao acaso”, diz Juliana. “Existe um conceito por trás do design, porque era importante ter a nossa personalidade, transmitir o nosso propósito e, além de tudo, ser bonito.”

AS SÓCIAS TESTARAM O DISPOSITIVO COM DEZENAS DE MULHERES ANTES DE LANÇAR O PRODUTO NO MERCADO

Em seguida veio a etapa mais desafiadora: embutir o hardware no BIJU. 

“O design estava lindo, o hardware funcionando, mas conectar os dois foi complicado”, diz Juliana. “Cada vez que nós encaixávamos o hardware, dava algum problema.”

Segundo a empreendedora, elas tiveram que refazer esse processo pelo menos quatro vezes. 

Antes de disponibilizar o acessório no mercado, as sócias realizaram um teste com cerca de 30 mulheres para garantir que o dispositivo estava funcionando corretamente. 

“Não dá para pegar o produto, entregar na mão da pessoa e dizer ‘confia que vai dar tudo certo’. Se eu vender uma caneta quebrada, o máximo que vai acontecer é o cliente ficar bravo, mas eu não posso brincar com item de segurança”

Como era esperado, houve percalços. Alguns BIJUS descascaram, outros quebraram e um botão saiu do lugar. Juliana enxerga esses problemas com bom humor.

“Isso não me abala, para mim é isso mesmo, é bater cabeça. Tudo que tinha que dar errado, deu, para nós percebermos e fazermos os ajustes finos necessários.”

LANÇADO EM JULHO DE 2022, O BIJU SEGUE EM ATUALIZAÇÃO PERMANENTE

Depois de dois meses de aprimoramento, a sexta versão do BIJU começou enfim a ser comercializada em julho de 2022, por 189 reais. 

Feito de resina, o acessório está disponível em três cores: branco neve, bordô ou bordô perolado.

O produto é a materialização de um sonho antigo e em comum das duas amigas-empreendedoras, o de trabalhar por uma causa. Segundo Juliana:

Sempre existiu uma vontade de trabalhar com impacto social, pois isso sempre esteve presente nas nossas vidas de alguma forma. De repente, entendemos que a Têssa poderia nos dar isso. O empreendedorismo é o meio, não o fim”

O negócio ainda está começando. Por enquanto, cem pessoas adquiriram o BIJU. O aplicativo da Têssa conta com 245 usuários cadastrados, dos quais 90% são mulheres.

Nos últimos três meses, foram 1 975 pedidos de ajuda enviados, considerando testes realizados com a rede de confiança.

Há três meses, a desenvolvedora Ana Caroline Rodrigues entrou para o time como responsável pela parte de tecnologia. Atualmente, elas estão trabalhando na sétima versão do hardware. 

ELAS ESTÃO REMODELANDO O NEGÓCIO PARA COMBATER DE FORMA MAIS EFETIVA A VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES

Desde o segundo semestre de 2022, a Têssa vem sendo apoiada pela Semente Negócios.

Carolina Campos (à esq.) e Juliana Ladeira, cofundadoras da Têssa.

As sócias receberam im investimento do braço de venture building da aceleradora (focado em soluções de impacto social) e contam com acompanhamento semanal de mentores da rede da Semente.

Esse suporte deve ajudá-las a pivotar a startup para atuar de forma ainda mais efetiva no combate à violência contra as mulheres.

Só no primeiro semestre de 2022, a Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos (ONDH) registrou 31 398 denúncias de violência doméstica e familiar contra mulheres. Isso significa cerca de 174 registros por dia. 

Além de vender as bijuterias para o consumidor final, como já ocorre, a Têssa quer adotar um modelo B2B2C, cobrando uma assinatura mensal e passando a cooperar com instituições de proteção a mulheres vítimas de violência. Em vez de um disparo para a rede de confiança da usuária, o sinal seria enviado diretamente para a Patrulha da Maria da Penha

Esse novo modelo vai exigir ajustes. No momento, segundo Juliana, a startup está em fase de negociação com prefeituras do Ceará e de Minas Gerais, e com duas ONGs para desenvolver o projeto. 

“Esperamos que essas parcerias sejam firmadas até o [fim do] primeiro quarter [trimestre] de 2023. Além disso, em seis meses queremos estar atuando com pelo menos dez órgãos diferentes.”

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: Têssa
  • O que faz: Bijuteria com botão de emergência para auxiliar mulheres em situação de perigo
  • Sócio(s): Juliana Ladeira e Carolina Campos
  • Funcionários: 3
  • Sede: Florianópolis
  • Início das atividades: 2020
  • Contato: juliana@tessaemrede.com.br
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